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Urgente!: Som de São Paulo – peça sobre Avenida Paulista vira disco

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Urgente!: Som de São Paulo - peça sobre Avenida Paulista vira disco

Para ter a real experiência da trilha sonora da peça Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso, dirigida por Felipe Hirsch, tem que ir lá e assistir ao espetáculo, claro – a peça está em cartaz no Teatro SESI-SP desde fevereiro. Mas se você tiver contato apenas com o disco, já embarca numa verdadeira jornada sonora pela avenida que é o coração da metrópole.

O álbum já está nas plataformas, reunindo composições de Alzira E, Arnaldo Antunes, DJ K, Jéssica Caitano, Juçara Marçal, Kiko Dinucci, Maria Beraldo, Thalin, Cravinhos, VCR Slim, Langelo, Pirlo, Maurício Pereira, Negro Léo, Nuno Ramos, Rodrigo Campos, Rodrigo Ogi, Romulo Fróes e Tulipa Ruiz. No disco, os próprios compositores e o elenco da peça interpretam as faixas, que foram arranjadas e produzidas por Maria Beraldo.

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A peça nasceu inspirada por outra montagem dirigida por Hirsch no mesmo local há duas décadas — Avenida Dropsie, baseada numa obra do artista gráfico norte-americano Will Eisner. O convite partiu do Teatro SESI, e Hirsch trouxe Maria Beraldo para a direção musical. O grupo de compositores se encontrou pela primeira vez no palco do teatro, numa reunião com a direção do espetáculo, e seguiu trocando ideias num grupo de WhatsApp, onde cada compositor enviaria uma canção feita especialmente para a montagem.

Só que — detalhe — a troca foi crescendo, e o repertório também, com canções enviadas por áudio de celular, geralmente em voz e violão. “Era para cada um enviar uma música sobre sua relação particular com a Avenida Paulista, mas muitos enviaram três, quatro canções”, conta Hirsch. Ao vivo, a peça conta com uma banda que toca em todas as apresentações, formada por Negro Leo, Thalin, Lello Bezerra, Heloísa Alvino, Fábio Sá, Julia Toledo e Gui Calzavara, todos revezando-se nos instrumentos.

“Chegou um momento, enquanto estávamos criando a peça, que aquele conjunto de músicas, aquele encontro de pessoas, foi virando algo tão grande, como um tsunami que se erguia na nossa frente, que o Felipe virou pra mim — quase fatalista, mas muito entusiasmado — e disse: ‘vamos ter que gravar isso tudo. E antes de estrear a peça’”, conta Maria Beraldo. “São 26 músicas, 35 pessoas pra entrar em estúdio… pensei que era uma loucura, em tão pouco tempo. Hoje sei que a loucura seria não ter registrado essa preciosidade que caiu em nossas mãos.”

Ou seja, um baita desafio, que Maria levou adiante: em janeiro, a turma toda foi reunida em estúdio para gravar 22 das 26 canções do espetáculo, em sessões ao vivo, com os compositores cantando suas obras. As outras quatro faixas — de DJ K; do quinteto do álbum Maria Esmeralda; de Os Fita (colaboradores frequentes de Hirsch, autores da mixagem e das paisagens sonoras do disco); e um remix de Famozin (Dupla 02) por Os Fita — foram produzidas fora do núcleo da banda, mas também fazem parte do espetáculo e completam a edição final do álbum.

O resultado são 61 minutos de viagem pelo agito urbano da avenida, numa contação musical de histórias que vai do folk ao jazz, passando por partículas de rock, samba e experimentalismos sonoros. Avenida Paulista, da Consolação ao Paraíso, o álbum, sai pelo selo Risco. É música feita com a pressa e a poesia de quem vive — e sente — São Paulo por dentro

Foto: Helena Wolfenson/Divulgação

Crítica

Ouvimos: clipping., “Dead channel sky”

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Ouvimos: clipping., “Dead channel sky”

Quinto álbum do clipping., grupo de rap cyberpunk de Los Angeles, Dead channel sky está mais para uma mixtape muito bem fornida, e repleta de experimentos de estúdio – alguns bem sucedidos, outros nem tanto. É um álbum longo (53 minutos) e que dá nervoso. Na verdade, parece que te amarraram numa cadeira, ligaram uma tela enorme na sua frente e te obrigaram a ver um documentário sobre teorias da conspiração bem estranhas envolvendo grandes corporações, meios de comunicação, internet.

Para aumentar o nervoso, temos aqui a prosódia ágil de Daveed Diggs, o rapper do clipping. – trio formado por ele e pelos produtores William Hutson e Jonathan Snipes. Se você quiser acompanhar as letras do grupo, ainda que leia no encarte (ou em algum site de letras), vai acabar esquecendo de acompanhar tudo para tentar entender como ele faz para falar e rimar tão rápido. Não é uma rima de fôlego: na verdade Diggs parece estar contando tudo sem expressividade alguma no rosto, com falas entrecortadas como se ele dissesse “isto é uma gravação” – mas num tom ameaçador e grave que faz qualquer pessoa parar para ouvir.

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Com título roubado do romance Neuromancer, de William Gibson, Dead channel sky é mais um disco de histórias entrecortadas e frases ríspidas do que um álbum de storytelling. Faixas como Intro, Change the channel (que lembra Prodigy), Scams e Run it criam raps e batidas sobre ruídos de conexão discada (!). Go tem ruídos de ligação e microfonias que chegam a dar vertigem – e lembram mais um experimento pós-punk do que algo ligado ao hip hop. O clima fica mais sombrio em Dodgeer e Malleus, que parecem continuação uma da outra.

Diggs faz questão de lembrar que as perigosas gangues de rua hoje existem na internet, e que a www “é como a rua no sentido de que ainda é uma armadilha”. Change the channel, uma das melhores faixas do disco, diz que, no fim das contas, tudo é guerrilha: “Mire a mira laser, ninguém deveria estar aqui mais / recupere o fôlego, lata de gasolina pronta, isqueiro no chão”. No que é completado pelo convidado Aesop Rock em Welcome home warrior, hip hop quase old school, embora repleto de ruídos à guisa de melodia e beats – e cuja letra enigmática parece transformar seres humanos em robôs que torcem para big techs: “sua dedicação em moldar o dia a dia / para um lugar que combina com a congregação de pixels para a qual você reza / definitivamente faz de você um da tribo”.

O rap, de modo geral, veio para mostrar que só sobrevive quem é cria da rua. O clipping., por sua vez, revela um novo mapa: já não existe uma rua da qual se possa ser cria. E, na imensidão da avenida digital, o perigo nem sempre vem de onde se espera.

Nota: 8
Gravadora: Sub Pop
Lançamento: 14 de março de 2025

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Crítica

Ouvimos: OK Go, “And the adjacent possible”

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Ouvimos: OK Go, “And the adjacent possible”

Pouca gente discorda que o OK Go já causou antipatia numa turma enorme – é algo que, de certo modo, faz sentido. Para muita gente, eles pareciam mais um Blue Man Group sem a tinta azul do que uma banda de rock. Ou uma banda criada apenas para vender iPhone e divulgar aplicativo. Lá pelos anos 2010 “hipster” era xingamento (era o novo “mauricinho”, quem lembra?) – e não parecia haver coisa mais hipster que o clipe das esteiras (Here it goes again), que observando com a distância do tempo, parecia adiantar em uns 15 anos o conteúdo de Tik Tok.

A verdade é que, se você tirasse os clipes, sobrava uma banda de art rock bem bacana, com shows ótimos e uma biblioteca de referências interessantes (Devo, Brian Eno, Talking Heads e David Bowie brotavam por ali). E depois de mais de uma década sem lançamentos, Damian Kulash, Andy Ross, Dan Konpka e Tim Nordwind conseguiram fazer seu melhor disco, o mais interessante e variado.

O detalhe é que And the adjacent possible – cujo título, diz Kulash, é “um conceito da teoria da complexidade, cunhado pelo biólogo evolucionista Stuart Kauffman para descrever como as condições atuais criam bolhas de potencial para o que vem a seguir” – investe mais no lado neo-psicodélico e vintage do OK Go. Um lado que já estava lá, mas talvez ninguém prestasse a devida atenção.

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Tirando a poeira do tal adjetivo “hipster”, que provocava náuseas em tanta gente, o OK Go volta na mesma estileira de sempre, mas investindo em novas vibes – como o indie pop de Impulse purchase, o neo-soul com discreta cara reggae de A stone only rolls downhill e a sonoridade distorcida e psicodélica de Love e A good, good day at last. Essa última, uma canção funkeada (inspirada, segundo a banda, em Eric Burdon & War), e com uma guitarra feroz que lembra Lanny Gordin.

This is how it ends é uma balada blues que mais parece tema de novela antiga – só que em clima ambient e espacial. Balanços lembrando The Cure e Talking Heads dão as caras em Take me with you e Better than this, enquanto um ar beatle surge no bolerinho bregadélico Fantasy vs fantasy. Um lado 60s e 70’s surge mais acentuado entre as referências da banda, do começo ao fim, dando as caras também no tom Queen de Golden devils (feita em parceria com Craig Wedren, que foi vocalista do finado Shudder To Think) e na balada sussurrada Don’t give up now, composta em homenagem a um amigo diagnosticado com câncer.

Adjacent tem lá seus momentos cansativos – de modo geral, o OK Go é uma banda da época em que o “formato CD” (leia-se: discos mais pensados para quem não precisaria levantar para trocar o lado do álbum) já andava desgastado. Só que, em meio a tantas referências e informações (Kulash detalhou o disco para o NME recentemente), vale ouvir devagar e acompanhar detalhe por detalhe do álbum. Inclusive porque, como quem não queria nada, o OK Go sempre foi bom nessa coisa aí, de prever o futuro.

Nota: 8,5
Gravadora: Paracadute
Lançamento: 11 de abril de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Skrillex, “FUCK U SKRILLEX YOU THINK UR ANDY WARHOL BUT UR NOT!! <3”

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Ouvimos: Skrillex, “F*CK U SKRILLEX YOU THINK UR ANDY WARHOL BUT UR NOT!!

Sendo bastante sincero, o disco novo do Skrillex é cansativo. Bastante cansativo, por sinal – FUCK U SKRILLEX tem 34 faixas em 46 minutos e chega um determinado momento em que, mesmo que você seja fanático/fanática por ele, por música eletrônica, por dubstep e estilos afins, o disco dá uma empacada. E começa a se parecer mais com um DJ set do que com um álbum – algo que funciona bem na pista mas que, em casa, chega a desnortear.

Essa sensação de desnorteio é algo que cabe bem no álbum novo de Skrillex, um disco feito para encerrar contrato (com a Atlantic, ex-gravadora do DJ e produtor), e que não está entre as produções mais pop realizadas por ele. FUCK U SKRILLEX já abre brincando com a ideia de que a carreira dele está acabada de verdade (a primeira faixa é a porrada de altas energias Skrillex is dead). E segue até o fim quase como se fosse uma só música, que vai sendo modificada em efeitos, batidas, design musical, e que volta e meia se parece com um vinhetão de rádio, acrescido de locuções, beats e impacto sonoro.

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Boa parte do material varia entre uma espécie de reggae dupstep e sonoridades mais agitadas, com um dedinho de psicodelia ali pelo meio, cabendo batidões entrecortados (Slickman), um soul-hip hop tão lisérgico que se desmancha (Andy), teclados cintilando, sem beats (Korabu) e momentos de total pula-pula (a tríade Zeet noise, Buster, Fricky vip). Tem até um quase eletrorock (Dnb ting). Muita coisa do disco é bem antiga: algumas faixas foram feitas lá por 2011 (ano em que Skrillex teve um disco rígido afanado e perdeu um monte de material inédito) e provavelmente alguns fãs vão identificar sons mais antigos de dance music por aqui – “antigos” no estilo de 2010, 2011, evidentemente.

No final da audição do disco, você não sabe se FUCK U SKRILLEX foi um DJ set ou alguém zapeando trechos de músicas, aproveitando para trollar o DJ – Biggy bap, por exemplo, é o anúncio de um sequestro de Skrillex. Ouça como se fosse uma faixa só, caso resolva encarar.

Nota: 6,5
Gravadora: OWSLA/Atlantic
Lançamento: 1 de abril de 2025

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