Lançamentos
Urgente!: Shame homenageia Lampião. Art D’Ecco perseguido em clipe. Pop nacional em clima punk.

RESUMO: O Shame homenageia Lampião em novo disco, com faixa folk em português. Art D’Ecco lança clipe “de espionagem” da faixa Tree of life. E a coletânea O pop é punk volta com versões punk de hits 90s, de Cássia Eller a Raça Negra.
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Você se lembra quando a banda britânica Shame esteve no Brasil para um show no festival paraense Se Rasgum (foi em 2022) e o vocalista Charlie Steen confessou que adora o Brasil e que sua namorada é brasileira? Pois bem, o namoro continua, e já rendeu casamento com a brasilidade. O próximo álbum da banda, Cutthroat, marcado para sair no dia 5 de setembro pelo selo Dead Oceans, vai teruma faixa chamada… Lampião. Uma canção folk com letra em português sobre o próprio Virgulino Ferreira.
“Minha namorada é brasileira e eu estava em São Paulo com os pais dela. A mãe dela me contou sobre um bandido famoso, o Lampião, e sua esposa, Maria Bonita. Eles são como Bonnie e Clyde lá, e tão famosos quanto”, contou. “Parecia uma loucura como ninguém em Londres parecia saber quem eles eram. Daí eu queria escrever uma espécie de canção folk sobre eles, condensando a história deles. A música que estou cantando no refrão foi escrita por um dos integrantes do bando do Lampião, o Volta Seca”.
Lampião, a música, não saiu ainda. Mas Cutthroat já foi adiantado pela faixa-título, que inclusive ganhou um clipe – dirigido por Ja Humby – em clima de globo da morte, com a banda tocando num circo e um motociclista fazendo manobras radicais. O som tem algo de stoner rock. E o disco, segundo o vocalista, é sobre “os covardes, os babacas, os hipócritas. Sejamos francos, há muitos deles por aí agora”.
É sobre quem a banda é, também, como ele completa. “Nossos shows ao vivo não são performance – são diretos, confrontantes e crus. Essa sempre foi a nossa raiz. Vivemos em tempos loucos. Mas não se trata de ‘coitado de mim’. Trata-se de ‘foda-se’”. E a faixa-título? “Eu lia muitas peças de Oscar Wilde em que tudo girava em torno de paradoxos, diz Steen. Em Cutthroat, a ideia é toda aquela de O leque de Lady Windermere (comédia de Wilde): ‘A vida é importante demais para ser levada a sério’.”
Olha Cutthroat, a música, aí.
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Art D’Ecco, o enigmático artista canadense que mantém sua identidade real em segredo, tem se destacado como um mestre na arte de revisitar o passado com um olhar voltado para o futuro. Dessa vez, ele solta o clipe de uma das melhores faixas de Serene demon, seu álbum mais recente (resenhado pela gente aqui).
O vídeo de Tree of life volta na estética dos clipes de espionagem dos anos 1980 – lembra do vídeo de Owner of a lonely heart, do Yes? – só que com um lance de VHS antigo nas imagens. Art D’Ecco passa o tempo todo fugindo, com uma mala 007 na mão.
A faixa Tree of life faz parte de uma espécie de “sequência pós-punk” de Serene demon, que inclui também outra faixa que já ganhou clipe, The traveller. Por sinal, o novo clipe é a sequência de The traveller – você confere os dois aí embaixo.
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Uma capa inspirada no layout de Dookie, disco ultra bem sucedido do Green Day (1994), estampa a quarta edição da coletânea O pop é punk, que relê a música brasileira pela estética crua do estilo musical. Dessa vez, 25 bandas nacionais recordam hits que marcaram os anos 1990. A seleção é variada a ponto de Los Hermanos, Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Hawaii e Cássia Eller dividirem espaço com Roupa Nova, Oswaldo Montenegro, Raça Negra e Banda Cheiro de Amor. A banda carioca Atox, por exemplo, releu nada menos que Dois, hit da fase romântica de Paulo Ricardo.
“Esse contraste é o que dá vida ao projeto. O maior desafio sempre foi traduzir cada música com personalidade, com verdade, sem cair na paródia. A gente queria que cada releitura tivesse alma própria, e ao mesmo tempo respeitasse a memória afetiva que essas canções carregam”, diz Felipe Medeiros, idealizador do projeto, que sai pela Grudda Records.
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E aqui você confere nomes das faixas e a capa de Cutthroat, o tal disco do Shame do qual falamos lá em cima. A produção é de John Congleton.
01. Cutthroat
02. Cowards around
03. Quiet life
04. Nothing better
05. Plaster
06. Spartak
07. To and fro
08. Lampião
09. After party
10. Screwdriver
11. Packshot
12. Axis of evil
Crítica
Ouvimos: Davido – “5ive”

RESENHA: Com clima de verão, 5ive mostra Davido misturando tendências do afropop em um disco ambicioso e cheio de possíveis hits – mas precisava mesmo fazer um feat com Chris Brown?
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Aquele clima de praia, azaração (ainda se diz isso?), gente bonita e você, portando um drinque com guarda-chuvinha e usando uma camisa de botão no estilo do Magnum. Provavelmente é o que vai ficar na sua mente enquanto você ouve 5ive, quinto disco do popstar norte-americano de ascendência nigeriana David Adedeji Adeleke, ou simplesmente Davido.
Com um número enorme de convidados e um passeio por uma gama de estilos que pode ser definida como afropop (mas abarca reggaeton, trap, kuduro, pop latino, o africano highlife, etc), Davido é um cara cascudo e autoconfiante – a ponto de abrir seu álbum novo com uma vinheta orquestrada e narrada na qual se compara ao Davi da batalha bíblica com o gigante Golias. O repertório de 5ive mistura gastação de onda típica do trap, vibes afrolatinas e, volta e meia, temas de amor, sexo e territórios dominados.
É o que rola em faixas como Anything, Offa me (com Victoria Monet), R&B (que une o estilo ao trap) e Awuke – essa última, uma parceria com YG Marley, o filho de Lauryn Hill e Rohan Marley, e neto de Bob Marley, e uma das músicas em que Davido mostra influências do amapiano, um combinado de estilos e misturas musicais vindo da África do Sul. Essas mesclas dominam também faixas como Lover boy (com os franceses Tayc e Dadju) e With you (com Omah Lay), duas músicas que surgem no finalzinho do disco, e que dariam bons hits no Brasil.
Isso porque algumas coisas de 5ive são, digamos, análogas a muita coisa já testada e aprovada por aqui – só que vêm com uma cara bem diferente. A ótima Lately poderia ser gravada pela Shakira, e Tek (com Becky G), ganha um ar de lambada, e é aberta por um riff de sax que parece um corte feito a gilete no saxofone de Careless whispers, de George Michael. Indica que Davido, provavelmente, em algum momento, pode acabar estourando por aqui. E esse número enorme de convidados, claro, já é um esforço para chegar nos fandoms mais variados, o que também indica que, em algum momento, pode rolar um feat com algum nome brasileiro (Ivete Sangalo, não, pelo amor de deus).
A vontade de variar os feats acabou fazendo alguém da produção de 5ive, talvez o próprio Davido, viajar feio na maionese. O canceladaço Chris Brown surge soltando (mal) a voz em Titanium, uma música nota 2 do disco, e faz vir à mente a pergunta: “quem pediu isso?”. Em compensação, no animado afropop Funds, Davido dá espaço a dois nomes do pop nigeriano, Odumodublvck e Chike, e ele mesmo acaba servindo de ponte para que o afropop surja no mercado norte-americano diretíssimo da fonte. Mesmo com a irregularidade típica dos enormes discos pop de hoje em dia, 5ive vem com cara de território dominado.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: DMW/Columbia
Lançamento: 18 de abril de 2025.
Crítica
Ouvimos: 43duo – “Sã verdade” (EP)

RESENHA: O 43duo mistura pós-punk e psicodelia com naturalidade no EP Sã verdade, unindo grooves, ecos 60s/80s e letras poéticas e instintivas.
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O 43duo é uma dupla-banda de Paranavaí (PR) que toca de maneira bem peculiar: enquanto Hugo Ubaldo faz guitarras circulares, assemelhadas a loops de fita, Luana Santana toca teclados – inclusive synth bass – e bateria ao mesmo tempo (haja coordenação motora!). E os dois dividem os vocais. Com influências assumidas de Tame Impala, Boogarins, The White Stripes e Pink Floyd, mostram no EP Sã verdade uma mescla quase natural de pós-punk e psicodelia, buscando climas e timbres que aludam tanto a The Who, Kinks e Beatles quanto a Echo and The Bunnymen.
A faixa-título abre com um ataque de guitarra e bateria bastante sessentista, mas que logo vai buscando lugar no lado mais garageiro e profundo do rock britânico oitentista – com psicodelia vaporosa e delicada, algum peso, uma guitarra meio The Edge, meio blues-rock e final viajante. Sal e sina tem base forte, som que ocupa espaços e união de sons cavalares e brasilidades. Navio de sonhos une mod rock e vibrações sombrias num espaço repleto de eco e trevas – muito embora as letras do 43duo sejam poéticas e até naturalistas.
Essa sonoridade ganha contornos mágicos na voadora Guabiruba pt. II, um dream pop sobre as mutações do mundo e a força da natureza, unindo punk garageiro e ritmos nacionais. A balançada Cabeça vazia (Chuva cinza) lembra uma versão groovada dos Mutantes e do Som Imaginário. Concreto, aberta por clima desértico, soa quase stoner, lascada, lisérgica no arranjo, punk na execução, enquanto Lispector é um pós-punk com discreta cara beatle.
Uma das principais características do 43duo é que o som deles não parece vir de uma enorme esquentação de mufa. A sonoridade e o clima das letras parecem vir de uma mistura natural, e de uma voz pessoal como compositores e músicos adquirida em ensaios e reuniões de criação. Sã verdade – uma brincadeira poética com a “pós-verdade”, como se fosse o oposto dela – consegue parecer confortável e desafiador ao mesmo tempo, e conquista os ouvidos por causa disso.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 12 de junho de 2025
Crítica
Ouvimos: Beto – “Matriz infinita do sonho”

RESENHA: Em Matriz infinita do sonho, Beto cria uma MPB psicodélica e cinematográfica, misturando rock, ritmos afro-brasileiros e espiritualidade vivida.
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Beto, músico e cantor pernambucano, impressiona pelas texturas e pelo clima quase cinematográfico que imprime às faixas de Matriz infinita do sonho – sempre apontando para os lados da negritude, da espiritualidade e dos conhecimentos que só aparecem com a vivência pessoal. Coração preto, na abertura, é um rock abolerado com metais, guitarra com várias distorções no solo, e melodia com certo ar beatle – uma MPB com clima de rock que evoca Lanny Gordin. Pedra verde traz cordas rangendo, dando um som mágico e forte a uma música cujo violão tem emanações de Gilberto Gil.
Beto também apresenta em Matriz canções marítimas (Never die, Yara do mar), pequenos ritos musicados (Peixa), um tema jazzístico, experimental e percussivo (Marx Mellow, com Vitor Araújo no piano) e um reggae com células rítmicas alteradas pelo piano, que vai se aproximando de um dub (Brinquedo). Dandara é som com cara de Gal Costa e João Donato, e Valsinha, surpresa no disco, é uma valsa selvagem, com bastante percussão no começo e psicodelia injetada pela guitarra.
Texto: Ricardo Schott.
Nota: 8
Gravadora: YB Music
Lançamento: 6 de junho de 2025.
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