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Um papo com Júlio Andrade (Baggios) sobre Tupã-Rá, Nordeste, política e esperança em 2022

Fato: Tupã-Rá, quinto disco de estúdio da banda The Baggios, é um dos melhores álbuns de 2021. Gabriel Perninha (bateria), Júlio Andrade (voz e guitarra) e Rafael Ramos (piano, órgão e baixo), vindos do Sergipe, deram outras dimensões, bem mais variadas, ao termo “rock brasileiro”. Isso rolou em escolhas musicais, como em faixas como Chegança, Clareia trevas e Avia menino!. E também, claro, nos temas das letras, como a overdose de lucidez e protesto de Espelho negro e Barra pesada, essa com participação de Cátia de França e Chico César. No geral, um disco pesado, variado, esperançoso e muito bonito.
Em dezembro, batemos um papo com Julio – cuja carreira solo rendeu uma estreia excelente em 2020, Ikê maré, que assinou usando o apelido Julico. Na época do papo com o guitarrista, a banda estava lançando o novo disco, ocupada em divulgar as músicas e já estava botando um pouco a cabeça para fora, após quase dois anos de isolamento. De lá para cá, saiu até um single novo, Brilhou, feat com a Ferve.
Como está sendo pra vocês lançar um disco bastante esperançoso numa época tão bizarra e perversa como a que estamos vivendo no Brasil atualmente?
Então, acho que a música vem como uma forma até de bater de frente com a realidade, muitas vezes. E como a nossa fase já é muito difícil, já é um momento muito delicado de lidar, que mexe muito com nossa cabeça, nossa auto-estima, nossa esperança… Quis ir pelo caminho contrário, até para me animar também (rindo). A música acaba sendo uma forma de terapia em plena pandemia. Escolhi as músicas mais pra frente, dançantes, vibrantes, justamente por isso. Quis contrastar mesmo com esse momento e não mergulhar nesse breu que a pandemia e o atual governo vêm trazendo pra gente. E pra mim foi muito satisfatório foi muito prazeroso conseguir ter feito isso, fugir dessa névoa obscura e entrar no portal do Tupã-Rá.
A ideia de encerrar a trilogia iniciada com Brutown com um som mais “pra cima” já vinha de antes ou foi algo que veio por uma observação de vocês, dos tempos em que estamos vivendo? Aliás, vale observar que o clima do disco é bem alegre, mas as novas letras vêm carregadas de denúncias, como a letra de Espelho negro…
É curioso porque só agora me dei conta que Sun Rá, última música do disco, é a última música de uma trilogia, que é algo que já vinha do Brutown, mas a gente não aproveitou nem no Brutown nem no Vulcão. São coisas que acontecem sem a gente perceber, se você não citasse nem iria reparar muito nesse detalhe. Não é pensado o repertório do começo ao fim quando estou compondo. Penso nas nuances, na narrativa do álbum.
O lado A tem uma coisa mais crítica, com esse tom ainda do Brutown, mas um pouco da introspecção do Vulcão. O lado B é mais solar, mais resolvido, mais prafrentex, dançante, temas um pouco mais leves… As músicas têm uma coisa leve, mas tem realmente Espelho negro, que fala de desigualdade, racismo.
E tem Barra pesada, que fala de um tema um pouco mais ligado a esse lance da desigualdade, da ganância do homem. Aqui onde eu moro era uma ilha de pescadores que virou um ponto turístico, e virou a chave, porque os nativos viraram empregados dos grandes empresários. Isso acontece em vários lugares do Brasil, não só no lugar que me inspirou, que foi Barra Grande. Mas eu percebi também que vários outros lugares se tornaram algo similar. Isso pode ser relacionado a um garimpo, a um outro tipo de empresa que envolve esse tipo de exploração.
Digaê foi a primeira música composta à distância? Como foi compor assim?
É a música mais diferentona do álbum, mas você vê que devido a essa personalidade de cada um impressa ali na música… O Gabriel tinha um groove de bateria de estudo dele, e eu comecei a provocar os caras, porque são ótimos músicos, mas a gente nunca tinha composto uma música juntos, assim do zero. Eu sempre chegava com uma composição semipronta. A gente fez duas outras músicas e só entrou uma nesse álbum.
A partir da bateria de Perninha, o Rafa colocou o arranjo de teclado. Isso foi enviado para mim e aqui em casa, no meu homestudio, eu montei uma canção para aquilo, picotei um pouco, coloquei texturas. E de repente a gente tinha ali uma faixa de dois minutos, troncha, que foge um pouco do som dos Baggios. Nunca nos rendemos a um segmento linear, sempre tivemos em cada disco a ideia de agregar novos ritmos e novos sons, e essa música tá aí, como uma forma de se reinventar. E foi mágico, velho, foi uma musica que surgiu de maneira mágica.
O disco leva o samba para o som de vocês, em Espelho negro. Vocês já haviam feito outras tentativas de levar o ritmo para a sonoridade dos Baggios?
O samba tem me conquistado a cada ano, sim. Eu lancei o Ikê maré, que tem muito de samba rock, samba soul, o som que era feito por Tim Maia, Di Melo, Cassiano. É um lance que me pegou em cheio. Sempre achei Tim Maia, o próprio Jorge Ben, grandes influências pra mim. Sempre foram referências sonoras, de como construir letra em português, de colocar uma verdade, uma originalidade no som. E eu tento colocá-los de alguma maneira nas minha lista de inspirações prioritárias, na música brasileira. Então naturalmente uma hora ia sair algo assim.
Mas enfim, essa música Espelho negro, eu tenho o maior carinho por ela, por retratar um tema urgente, necessário e que tem o meu ligar de fala ali também. E ao mesmo tempo explorando uma sonoridade nova, misturando samba com baião no meio. E é um som que representa muito o que é a Baggios hoje em dia, uma representação massa do que a gente é hoje.
O disco tem uma chuva de referências legais: música de países africanos, manifestações populares… Vocês diriam que o som de vocês envolve muita pesquisa musical, ou são sonoridades e referências que sempre fizeram parte do dia a dia musical de vocês?
Tudo isso tá impregnado na gente. Afinal de contas toda música brasileira é afrodescendente no final das contas. Se você for rebobinar a fita, a gente tá sempre bebendo da fonte da música africana. Isso me fez chegar no Mali, no Deserto do Saara, para ouvir o blues do deserto, o afrobeat, a música do congo, a música da Etiópia. É uma música que tem grooves que batem com outros sons que eu curto que vêm dos Estados Unidos, da Inglaterra… E vamos conectando os pontos, a cada ano eu vou descobrindo coisas novas. Faz parte de uma pesquisa musical, mas é uma pesquisa que não tem um propósito definido, é uma pesquisa de prazer, de descobrir coisas novas. E quando chega na hora de compor, essas inspirações vão colando em mim.
Como você viu a receptividade a seu disco solo?
O Ikê maré já me trouxe bastante felicidade de ter sido lançado (rindo). Produzir algo na pandemia não é fácil. A gente tenta se superar, nem artisticamente mas humanamente falando. Tentamos não nos deixar levar por esse clima tenso, que deixa a gente pra baixo. É uma notícia ruim atrás da outra, a gente sempre super mal representado pelo presidente, que só traz o regresso… A gente não vê o cara falar nada que traga um passo a frente, né, velho? É só caos, o cara é o senhor do caos.
O Ikê maré veio nesse tumulto, mas foi quando começou a pandemia e eu me vi com vários instrumentos. Só pensei: “Vamos lá gravar!” Foi sem muita pretensão, de ser um disco que soasse grandioso, foi algo mais caseiro. Mas foi muito boa a recepção. Todo mundo que chegou a ouvir, viu uma direção musical diferente do que a Baggios tava trazendo. Claro que minha guitarra e minha voz estão ali presentes, mas minha intenção era valorizar mais esse segmento do samba-soul, da própria soul music. Essa brasilidade não era tão explorada com a Baggios. E isso me trouxe muita realização pessoal como compositor, produtor, ver as pessoas descobrindo um disco massa ali me deixou feliz.
É comum que discos solo de integrantes de bandas sirvam para abrir os horizontes do grupo, trazer novas influências, dar uma arejada. Como foi isso com os Baggios no caso do seu disco?
Ele foi um laboratório muito positivo nesse sentido, de trazer um segmento novo para o que a Baggios costuma fazer. Abriu mais um portal de referência musical, de produção. Acredito que a cada trabalho que eu vá fazendo paralelo, vá abrir um outro horizonte para um trabalho da Baggios, também. Ano que vem devo gravar um outro álbum solo, já tentando fugir um pouco do que foi o Tupã-Rá e trazendo outras coisas.
Para mim é um laboratório. A todo momento eu estou aprendendo coisas. Estou com meu estúdio aqui, num momento massa de desenvolvimento, de estar produzindo outros artistas sergipanos. Fico feliz de estar sendo identificado como um produtor musical, podendo contribuir com sons que fogem da minha percepção de música, do meu lugar comum. O ruim é ficar parado e venho me mantenho em movimento.
Como foi feita a capa do disco? Houve alguma referência de alguma capa clássica?
Ela veio de um insight que eu tive, lendo uma matéria sobre o Marku Ribas, que tinha lançado um álbum pela revista Noize. Um álbum que era bem difícil de ser encontrado, porque foi um disco independente, que foi redescoberto depois de muito tempo. E aí eu tive a felicidade de comprar uma cópia pra mim. Sou muito fã dele. Soube que foi um disco trabalhado sem grana, com os brothers que tinham parceria com ele, contribuindo como músicos… Ele prensou o disco e foi vendendo de mão em mão nos shows. O Marku era um artista que tinha lançado discos muito bons nos anos 1970, zerou ali e voltou a ser um artista independente, fazendo shows, vendendo disco dessa forma.
Isso me fez refletir muito sobre o artista independente mesmo, que muitas vezes tarda a ser descoberto. Isso me trouxe uma imagem de alto desértico na cabeça e a Baggios estaria sendo redescoberta no futuro, já com o desgaste aparente (rindo), com bastante história para contar, mas de uma maneira tardia. Eu gosto de mexer muito com imagens que tragam essa reflexão do tempo e veio esse insight junto com essa obra do Marku Ribas. Trouxe o deserto, a areia, o sair do underground, do subsolo. Foi uma forma de refletir um pouco essa redescoberta. Uma coisa que me veio também foi representar a redescoberta da música brasileira, esses artistas da vanguarda paulista, as bandas underground de rock, como Perfume Azul do Sol – que trazia muita coisa nordestina mesmo sendo de São Paulo.
E é um disco com um clima Nordeste, eu queria um clima mais árido também. Uma coisa que me lembrasse o barro. As cabeças são feitas de barro. O disco tem participações só de nordestinos, uma influência da música nordestina muito forte. É um conjunto de ideias que me veio para chegar nessa conclusão. A foto foi do Marcelinho Hora, que é um parceiro antigo nosso, fotografa a gente de dez anos pra cá e é um grande nome da fotografia sergipana.
Como surgiu a ideia de trazer Cátia de França e Chico Cesar para cantar em Barra pesada, e como foi o contato com eles?
O contato com a Cátia de França pintou através do Ruan, que até então era o produtor dela. A gente estava no festival Psicodália em 2017, ele tinha acabado de deixar a Cátia no aeroporto, só que a gente não encontrou com ela. Ele estava precisando voltar para o festival e ele estava com a van. Oferecemos uma carona para ele, ele comentou que o show do dia anterior foi massa, que era o produtor da Cátia… E todo mundo aqui curte o trabalho dela. Ele começou a manter contato com a gente, foi num show nosso no Rio. Eu vi através dele essa possibilidade e fiquei muito feliz. Sem dúvida é a música que mais trouxe um peso de participação. Ela com Chico César foi uma participação dobrada.
Já o Chico, a gente já se encontrou algumas vezes no aeroporto, ele já tinha vindo algumas vezes para Sergipe, foi no nosso show em São Paulo. Saímos depois, conversamos bastante sobre música, vida, política e ele deixou telefone com a gente. Falei: “A hora é agora”. Tivemos em 2019 essa cartada e no final de 2020 mandei uma ideia para ele, já falando da Cátia, achando que era massa ter os dois na mesma música. Tem o lance do baião aguçado ali… mas com um rock da pesada. E ele é um ótimo instrumentista, vejo ele como um cara muito guitarreiro também! É uma referência musical.
Como surgiu Baggios encontra Siba? É uma música feita em quarteto? O nome é um “título de trabalho” que acabou ficando?
Com o Siba, desde 2017, a gente vem fazendo alguns encontros em shows. Em Vulcão (disco de 2018) já tem uma música que era mais rascunhada para fazer com ele, mas não botei para a frente porque já estava com repertorio fechado e com pouco tempo de finalizar. E acabou que ele fez participação em outro show da gente. Falei: “Nesse disco, que vai ter o Nordeste como um dos fios condutores, tem que ter o Siba!!” Ele é um ótimo poeta, letrista, guitarrista e toca rabeca.
Lembrei da rabeca, sugeri a ele botar rabeca em vez da guitarra para ser um elemento novo. Fiz grande parte da música e separei um trecho ali – uns 40 segundos da faixa – para ele improvisar na rabeca e ficar livre para fazer os versos. Isso aconteceu com Chico também, falei que tinha um trecho da música para ele fazer o que quisesse: um poema, uma narração, qualquer coisa. Isso foi muito massa porque eles contribuíram na faixa, como letristas e arranjadores também. Eles deixaram a impressão deles com mais propriedade na faixa!
Além da própria eleição do Bolsonaro, qual foi a maior tragédia que o Brasil teve desde 2018?
Cara, eleger Bolsonaro foi a principal tragédia mesmo… De todas as coisas que aconteceram de 2018 para cá, ele tem culpa. Quando o cara foi eleito, a gente já sabia que a cultura e a arte não iriam ser valorizadas. É um cara de extrema-direita, que vai valorizar um nicho diferente da economia, olhar menos para a desigualdade, porque economistas querem saber de lucros, de grana, que os pobres dependam ainda mais dos ricos… Que sirvam mais para os ricos, enfim.
A fala do cara já dizia isso. Tava na testa. E aí no fim das contas, o Brasil sofreu com a ideologia do Bolsonaro. A gente não tem esperança nenhuma de melhorar nada até o fim do ano. Perdemos bastante força dos incentivos à cultura, à educação, nas vias que trariam uma força popular. Porque para essas pessoas o poder popular significa construir um inimigo. Eles não querem as pessoas mais inteligentes, consumido arte. Querem as pessoas na rédea, que sigam as leis e vontades deles. Claro que a pandemia já foi outra tragédia mais mundial, não foi só no Brasil. Mas seguimos aí nesse luto até o fim de 2022.
Nenhuma esperança mesmo em 2022?
Em 2022 eu espero que o povo brasileiro tenha enxergado os quatro anos de regresso, e que tirem esse cara do poder. Temos muitos candidatos aí, né? O Lula para mim é uma força grande que pode tirar o Bolsonaro do poder. Deposito uma esperança grande no Lula para ele tirar esse atraso de quatro anos e botar o país no eixo novamente. Que não vire uma chacota mundial como tem sido, uma vergonha onipresente, né, velho? Onde o cara vai, ele passa vergonha, e as pessoas não valorizam. A gente tem um poder máximo na política brasileira, que é a presidência, que não representa ninguém, só aquele nicho dele. Infelizmente é isso que a gente tem para oferecer nesse momento. Mas minha esperança vai estar nas eleições desse ano.
Como está sendo esse período de retorno ao mundo “fora de casa” para vocês, como pessoas e como profissionais? Já conseguiram encontrar amigos? Os shows começaram a rolar?
Esse momento de retorno tem sido revigorante. A Baggios mesmo já tem ganhado força novamente, voltou a ensaiar, tem promessas de show, voltei a fazer show solo de voz e violão… Isso já está trazendo uma alimentação para minha alma que estava um pouco mais para baixo, mais triste. O contato com o público é revigorante. Voltamos a abraçar pessoas, a ter contato físico. A gente estava há dois anos numa jaula. Todos os que eu ando estão vacinados. Infelizmente tem quem siga outra rota. Essa coisa de não acreditar na ciência, de seguir os passos de um presidente como Bolsonaro… Mas estamos bem nesse momento. Aos poucos o disco vai chegando na galera.
Lançamentos
Radar: Stereolab, Retail Drugs, False Advertising, Lianne La Havas, Strawberry Alarm Clock

Chegamos ao fim de semana e… sim, teve muita música boa nos últimos dias. Sexta é dia de novos lançamentos, então ainda tem muita coisa aí para ser ouvida. Chamamos a atenção em especial para os novos clipes do Stereolab, que transformou seu novo single em dois vídeos. E para a volta triunfal do Strawberry Alarm Clock, um clássico da psicodelia sessentista. Ouça e passe adiante.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Stereolab): Divulgação
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STEREOLAB – “FED UP YOUR JOB” / “CONSTANT AND UNIFORM MOVEMENT UNKNOWN”. Se você acha que o single lado A duplo lançado recentemente pelo Stereolab precisava de clipes… Não precisa mais, porque a banda já lançou clipes para ambas as faixas. O single duplo Fed up with your job / Constant and uniform movement unknown, que chegou às plataformas no dia 12 de setembro. A primeira faixas é uma mescla perfeita de pop elegante e krautrock, a segunda carrega mais ainda nas referências de pop francês e música dos anos 1960. Já os clipes são um primor de psicodelia, sobreposição de imagens, desenhos e… perigo para pessoas fotossensíveis (cuidado ao assistir).
RETAIL DRUGS, “ANTI-LONELY”. Projeto ruidoso criado pelo artista nova-iorquino Jake Brooks, o Retail Drugs tem um álbum novo pronto para sair, Factory reset (dia 5 de dezembro pela Angel Tapes / Fire Talk). Anti-lonely, single do álbum, ganhou também um clipe, daqueles que dão nervoso por mostrar a realidade de forma bem desorientadora. Na prática, é só Jake acordando, escovando os dentes e ficando de olho em tudo que acontece na internet, com o celular na mão. “Ele foca em como é difícil seguir as tendências online. A internet é um anjo que, no final, arranca minhas cordas vocais da garganta, levando minha voz embora”, conta Jake, que encheu a faixa de gritos e de climas perturbadores.
FALSE ADVERTISING, “THE SORRY WINDOW”. O que acontece se uma banda unir rock britânico dos anos 1980 e um certo clima grunge? No caso do False Advertising, de Manchester, o que surge é beleza e introspecção, além de muita nostalgia não apenas do passado, mas de chances que surgiram e foram perdidas com o tempo – tudo isso no single novo, The sorry window. Destaque para a voz celestial da vocalista Jen Hingley, e para o clipe da faixa, cheio de escapismo e saudade.
LIANNE LA HAVAS, “DISARRAY”. “Essa música me pareceu muito íntima, quase como um segredo só meu. Ela fala sobre vulnerabilidade, honestidade e sobre permitir que as pessoas tenham um vislumbre de um momento da minha vida”, conta Lianne sobre seu novo single, Disarray. E já que a música era uma experiência íntima, a britânica Lianne decidiu gravar tudo ao vivo, só ela e a guitarra, e nada mais, num clima de jazz e pop sofisticado. O lançamento inaugura o selo da cantora, Kalo Mina, expressão grega que significa “mês bom” e se refere a uma crença local de que a pessoa se renova no começo de cada mês.
STRAWBERRY ALARM CLOCK, “MONSTERS” / “WHITE LIGHTS”. Lenda nem sempre tão lembrada da psicodelia californiana dos anos 1960, marcada pelo hit Incense and peppermints, o Strawberry resiste até hoje, e – detalhe – com uma formação tão fiel às origens quanto possível. O grupo circula por aí com quatro integrantes que tocaram na gravação do primeiro álbum, também chamado Incense and peppemints (1967). Até mesmo Mark Weltz, principal compositor, vocalista e tecladista, ainda está à frente do grupo. E voltam agora com um single triplo, puxado pela música Monsters – um tema gotico-psicodélico que lembra uma mescla de George Harrison e Beach Boys com a fase Phantasmagoria do grupo punk The Damned.
O disquinho sai pelo selo Big Stir Records. Outro detalhe interessante: a faixa faz parte também de uma coletânea de Halloween do selo, Chilling, thrilling hooks ans haunted harmonies, cheia de temas assustadores e zoeiros. E o lado B do single, além do radio edit de Monsters, ainda tem uma espécie de progressivo stoner, a maravilhosa White lights.
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Lançamentos
Urgente!: Sex Noise tem sua primeira demo resgatada nas plataformas digitais

RESUMO: Selo Caravela Records lança demo de 1993 do Sex Noise nas plataformas, e vai reeditar aos poucos a discografia do grupo.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Eliane Bittencourt/Divulgação
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Os anos 1990 no Brasil eram uma época muito, mas muito louca – diria que assustadora de tão louca e ousada. Está aí a existência do Sex Noise, uma das bandas mais representativas do punk carioca da época, que não deixa ninguém mentir.
Franzino costela, único hit do grupo, acabou sendo também um raro hit do punk do Rio (era aquela do “meu pai me batia / com vara de vergalhão / vara de araçá e cabo de vassoura”). E o início da história da banda chega às plataformas, com o lançamento digital da demo Pultanovinzona, gravada em outubro de 1993 e vendida originalmente apenas no formato K7. O relançamento é do selo carioca Caravela Records, que pôs a demo no ar nesta sexta (3), e resgatou até a arte original da fita. E vai disponibilizar aos poucos a discografia da banda nas plataformas.
Pultanovinzona, cujo título é exatamente isso que você está pensando (e que refletia a maneira como o grupo se via naquele universo indie carioca), foi gravada pela formação inicial do grupo: Larry Antha (voz, letras), Alex Dusky (guitarra, e também autor do desenho usado na capa da demo), Mario Jr (baixo) e Henrique Santos (bateria). O repertório, além de Franzino, inclui músicas como Sacrossanto saco, Papai não me dava papá, O porco, Vovô Hemetério e Dia sem sol – esta, incluída depois apenas na coletânea de bandas novas Paredão, lançada pela EMI em 1996.
“Essa é primeira demo oficial da Sex Noise. Antes rolou uma demo-ensaio com quatro canções, que foram regravadas na Pultanovinzona, por isso a banda considera esse registro nosso debut”, conta Larry. Numa época em que não havia CD-R e o K7 era o único suporte para banda novas que ainda não haviam sido contratadas, o cantor recorda que o Sex Noise chegou a perder o controle das vendas das fitinhas.
“Lembro-me que fizemos num primeiro momento 200 cópias. Elas esgotaram rapidamente. E depois acho que ficamos fazendo cópias em casa mesmo. Havia também uma demanda de demos para resenhas em fanzines e revistas – Rock Brigade, Bizz, Roll – pelo Brasil”, conta ele. A banda começou a receber cartas de vários lugares do país, de gente querendo comprar a fita. “Tempos depois soube pelo Duda, ex-baterista da Pitty, que ele vendeu centenas de demos da Sex Noise em sua loja em Salvador”.
O Sex Noise era uma banda mais do que distante dos grandes centros: surgiu entre 1990 e 1991 em Inhoaíba, bairro da Zona Oeste do Rio, localizado entre Cosmos e Campo Grande. Os shows eram dados em lugares como Bangu e São João de Meriti, além do mitológico Garage Art Cult – este mais pertinho, na região da Praça da Bandeira. A gravação de Pultanovinzona foi feita em Vaz Lobo, bairro da Zona Norte do Rio. As cópias iniciais da fita foram feitas numa copiadora de K7s “que, se eu não me engano, era no Campinho, em Madureira”, conta Larry.
”Fizemos tudo em dois finais de semana no estúdio Quadrante, por indicação do Ronaldo Chorão, da (banda) Gangrena Gasosa. Na época todas as bandas da cena gravaram nesse estúdio”, conta o vocalista, lembrando que o processo de composição do grupo sempre foi bastante democrático. A única quase-regra era a de que a banda faria as melodias e ele as letras – mas segundo Larry, até isso surgiu por acaso.
“Nosso lance era tirar um som o mais sujo e cru possível, mas que tivesse ritmo e potência musical. Éramos totalmente influenciados por bandas como Joy Division, Bauhaus, Alien Sex Fiend, The Cure, Sisters of Mercy, Cocteau Twins, etc. Eu trouxe para a Sex Noise minha influência de bandas nacionais como DeFalla, Vzyadoq Moe, Smack, Mercenárias, Fellini. E isto fez a Sex Noise começar a ter uma cara própria”, conta.
Pulando de buraco em buraco no Rio, o Sex Noise acabou indo parar no Circo Voador, a convite de Marcelo D2 e do falecido Skunk, ambos em plena atividade com o Planet Hemp. Detalhe: a banda foi gritar “eu apanhava todo dia!” (refrão de Franzino costela) num show em homenagem a Jim Morrison, vocalista dos Doors. “Ninguém curtia The Doors. As bandas fizeram um show de massacre a banda. Eu xingava a plateia hostil com a pérola ‘The Doors de cu é rola!’. O Planet Hemp quebrou um quadro com a imagem do Jim Morrison que estava no palco”, conta.
Larry lembra que há anos ouvia de um amigo querido (justamente BNegão, do Planet Hemp e dos Seletores de Frequência) que deveria jogar a demo na web. “Ouvi-la hoje será quase uma viagem numa cápsula do tempo”, diz. O grupo lançou um álbum pelo selo indie Tamborete, de Rafael Ramos (hoje Deck) e Leonardo Panço, Uno palmo d’lacraya (1997) e depois fez outros álbuns independentes, mas acabou se separando. Franzino costela foi regravada pela banda punk paulistana Inocentes no álbum O barulho dos Inocentes, só de covers de punk brasileiro (2001).
Dudv Oliveira, um dos sócios do selo Caravela, lembra que conheceu a fita ainda nos anos 1990. “Acho que algum amigo do Colégio Pedro II me emprestou”, diz. Disponibilizar o material do Sex Noise é mais um passo da gravadora no resgate de material raro e inédito de artistas independentes. “Fizemos parecido com a demo da minha banda Fora De Lado (Demotape ‘93) e com um LP do paraibano Naldinho Freire, Lapidar (1995)”, conta ele, adiantando que no fim de outubro sai outra demo do Sex Noise. “Vamos relançar Psychedelic congolo, lançada originalmente em 1995”, diz.
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Lançamentos
Radar: Os Fugitivos, Rafa Militão, Lorena Moura, Janine Mathias, Abajur Always On

Hoje o Radar nacional está cheio de vozes femininas. Coincidência? Ou será que não? Talvez tenha sido, já que só fomos reunindo as melhores músicas que ouvimos durante a semana, e por acaso, todas apresentam mulheres cantando – até mesmo no caso de duplas ou grupos, como Os Fugitivos e Abajur Always On. Mas ainda tem as vozes solo de Janine Mathias, Rafa Militão e Lorena Moura na nossa seleção. Não ouça sozinha/sozinho: passe adiante.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Os Fugitivos): Thiago Mata e Nayane Ferreira/Divulgação
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OS FUGITIVOS, “ONDE ESTÁ VOCÊ”. Soul como antigamente, lembrando as primeiras gravações de Cassiano e Tim Maia, coisas da Motown e antigos grupos vocais – mas com texturas que você quase consegue pegar com a mão, e um ou outro detalhe que atualiza as gravações. É a onda da dupla alagoana Os Fugitivos, formada por Nayane Ferreira e Thiago Mata.
“Espero que as pessoas aproveitem ao lado de uma bela taça de vinho e um fondue de queijo”, brinca Thiago. Já Nayane destaca o solo de piano Rhodes: “É a minha parte favorita da música”, conta ela. Onde está você é um som romântico e caloroso, sobre amores e perdas, e que anuncia o próximo álbum da dupla, Sonhos & traumas, previsto para o ano que vem.
RAFA MILITÃO feat MARCIA SIQUEIRA, “HERANÇA”. “O Norte está vivo / O Norte é forte!”, sussurra a cantora, rapper, DJ e produtora cultural Rafa Militão, num tom que impõe movimento e foco a Herança, seu novo single. A faixa se abre como um rap pesado e veloz, mas logo se expande, absorvendo camadas de boi-bumbá, maracatu e guitarrada.
“Essa música nasceu do cruzamento das nossas vivências. É sobre mulheres reais, do Norte, que constroem com resistência e afeto. Me permito experimentar, cruzar linguagens e afirmar com ainda mais clareza quem sou e o que carrego comigo”, afirma Rafa, que divide a composição da faixa com a cantora amazônica Marcia Siqueira, cuja voz também surge na gravação. E Herança também ganha um curta-metragem com direção de Keila-Sankofa – que será exibido apenas presencialmente, em sessões com intérprete de Libras e público limitado, para que todo mundo viva a experiência junto, de verdade.
LORENA MOURA, “CARINHO”. Carioca, Lorena Moura apresenta hoje, pelo selo Cavaca Records, seu single de estreia, Carinho. A faixa transita entre o blues e o indie rock, equilibrando vocais delicados e solos de guitarra, romantismo e saudade, MPB e apelo pop. O resultado ganha ainda mais textura com as participações de Guilherme Lírio (guitarra) e Marcelo Costa (percussão).
A melodia de Carinho é de Lorena; a letra, dos poetas Luca Fustagno e Paula Reis Vianna. Parceiros desde 2020, Lorena e Luca iniciaram o trabalho em dupla justamente em Carinho. “Já era uma das favoritas entre os mais próximos e continuou assim nos shows”, conta a cantora. “Acho que representa bem meu trabalho. E é uma coincidência bonita nossa primeira composição em parceria ser também a primeira a ganhar o mundo”.
JANINE MATHIAS, “UM MINUTO”. O novo single da brasiliense Janine Mathias traz ecos da musicalidade de João Bosco, do início da carreira de Emílio Santiago e de João Donato. Um minuto é um samba que poderia embalar tanto um baile de samba-rock quanto uma gafieira: tem alma soul, guitarra marcante, piano cheio de balanço e um ritmo sustentado pelo diálogo entre voz, baixo e bateria. A faixa, composta e produzida por Rodrigo Campos, inclui ainda o histórico prato-e-faca na percussão. O single antecipa o próximo álbum de Janine, O rap do meu samba, previsto para 7 de outubro.
“Um minuto é sobre nossa vulnerabilidade amorosa, que também pode ser felicidade. Dor de amor é para ser reconhecida. A separação, com o tempo, desata os nós e transforma lembranças em um minuto capaz de traduzir a eternidade dos sentimentos que desejamos romper”, explica Janine, cuja voz amplifica a força poética da letra.
ABAJUR ALWAYS ON, “NO ALCANCE DE MIM”. Virgínia Perê (voz, guitarra, violão), Luís Feitoza (baixo, sintetizador) e Renato Marciano (bateria) vêm de Goiânia e fazem um art-rock delicado, que une belezas e sombras, entre a música brasileira, climas jazzísticos e detalhes do pós-punk e do post rock, trazendo emanações de bandas como Radiohead e Porridge Radio. As letras falam sobre “a complexidade do ser mulher e gente no mundo”.
O Abajur Always On é um grupo bem novo: o trio estreou nos palcos em setembro, na edição de 30 anos do festival Goiânia Noise, e lançou por lá seu introspectivo primeiro single, No alcance de mim. “Essa música reúne muito bem o que queremos fazer: uma música autoral disruptiva, com atmosfera própria, talvez indie, talvez pop, talvez rock”, diz a banda. Virgínia, na voz e na guitarra, soa às vezes como uma versão feminina de Jeff Buckley, com vocais surpreendentes e fantasmagóricos.
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