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Um papo com Júlio Andrade (Baggios) sobre Tupã-Rá, Nordeste, política e esperança em 2022

Fato: Tupã-Rá, quinto disco de estúdio da banda The Baggios, é um dos melhores álbuns de 2021. Gabriel Perninha (bateria), Júlio Andrade (voz e guitarra) e Rafael Ramos (piano, órgão e baixo), vindos do Sergipe, deram outras dimensões, bem mais variadas, ao termo “rock brasileiro”. Isso rolou em escolhas musicais, como em faixas como Chegança, Clareia trevas e Avia menino!. E também, claro, nos temas das letras, como a overdose de lucidez e protesto de Espelho negro e Barra pesada, essa com participação de Cátia de França e Chico César. No geral, um disco pesado, variado, esperançoso e muito bonito.
Em dezembro, batemos um papo com Julio – cuja carreira solo rendeu uma estreia excelente em 2020, Ikê maré, que assinou usando o apelido Julico. Na época do papo com o guitarrista, a banda estava lançando o novo disco, ocupada em divulgar as músicas e já estava botando um pouco a cabeça para fora, após quase dois anos de isolamento. De lá para cá, saiu até um single novo, Brilhou, feat com a Ferve.
Como está sendo pra vocês lançar um disco bastante esperançoso numa época tão bizarra e perversa como a que estamos vivendo no Brasil atualmente?
Então, acho que a música vem como uma forma até de bater de frente com a realidade, muitas vezes. E como a nossa fase já é muito difícil, já é um momento muito delicado de lidar, que mexe muito com nossa cabeça, nossa auto-estima, nossa esperança… Quis ir pelo caminho contrário, até para me animar também (rindo). A música acaba sendo uma forma de terapia em plena pandemia. Escolhi as músicas mais pra frente, dançantes, vibrantes, justamente por isso. Quis contrastar mesmo com esse momento e não mergulhar nesse breu que a pandemia e o atual governo vêm trazendo pra gente. E pra mim foi muito satisfatório foi muito prazeroso conseguir ter feito isso, fugir dessa névoa obscura e entrar no portal do Tupã-Rá.
A ideia de encerrar a trilogia iniciada com Brutown com um som mais “pra cima” já vinha de antes ou foi algo que veio por uma observação de vocês, dos tempos em que estamos vivendo? Aliás, vale observar que o clima do disco é bem alegre, mas as novas letras vêm carregadas de denúncias, como a letra de Espelho negro…
É curioso porque só agora me dei conta que Sun Rá, última música do disco, é a última música de uma trilogia, que é algo que já vinha do Brutown, mas a gente não aproveitou nem no Brutown nem no Vulcão. São coisas que acontecem sem a gente perceber, se você não citasse nem iria reparar muito nesse detalhe. Não é pensado o repertório do começo ao fim quando estou compondo. Penso nas nuances, na narrativa do álbum.
O lado A tem uma coisa mais crítica, com esse tom ainda do Brutown, mas um pouco da introspecção do Vulcão. O lado B é mais solar, mais resolvido, mais prafrentex, dançante, temas um pouco mais leves… As músicas têm uma coisa leve, mas tem realmente Espelho negro, que fala de desigualdade, racismo.
E tem Barra pesada, que fala de um tema um pouco mais ligado a esse lance da desigualdade, da ganância do homem. Aqui onde eu moro era uma ilha de pescadores que virou um ponto turístico, e virou a chave, porque os nativos viraram empregados dos grandes empresários. Isso acontece em vários lugares do Brasil, não só no lugar que me inspirou, que foi Barra Grande. Mas eu percebi também que vários outros lugares se tornaram algo similar. Isso pode ser relacionado a um garimpo, a um outro tipo de empresa que envolve esse tipo de exploração.
Digaê foi a primeira música composta à distância? Como foi compor assim?
É a música mais diferentona do álbum, mas você vê que devido a essa personalidade de cada um impressa ali na música… O Gabriel tinha um groove de bateria de estudo dele, e eu comecei a provocar os caras, porque são ótimos músicos, mas a gente nunca tinha composto uma música juntos, assim do zero. Eu sempre chegava com uma composição semipronta. A gente fez duas outras músicas e só entrou uma nesse álbum.
A partir da bateria de Perninha, o Rafa colocou o arranjo de teclado. Isso foi enviado para mim e aqui em casa, no meu homestudio, eu montei uma canção para aquilo, picotei um pouco, coloquei texturas. E de repente a gente tinha ali uma faixa de dois minutos, troncha, que foge um pouco do som dos Baggios. Nunca nos rendemos a um segmento linear, sempre tivemos em cada disco a ideia de agregar novos ritmos e novos sons, e essa música tá aí, como uma forma de se reinventar. E foi mágico, velho, foi uma musica que surgiu de maneira mágica.
O disco leva o samba para o som de vocês, em Espelho negro. Vocês já haviam feito outras tentativas de levar o ritmo para a sonoridade dos Baggios?
O samba tem me conquistado a cada ano, sim. Eu lancei o Ikê maré, que tem muito de samba rock, samba soul, o som que era feito por Tim Maia, Di Melo, Cassiano. É um lance que me pegou em cheio. Sempre achei Tim Maia, o próprio Jorge Ben, grandes influências pra mim. Sempre foram referências sonoras, de como construir letra em português, de colocar uma verdade, uma originalidade no som. E eu tento colocá-los de alguma maneira nas minha lista de inspirações prioritárias, na música brasileira. Então naturalmente uma hora ia sair algo assim.
Mas enfim, essa música Espelho negro, eu tenho o maior carinho por ela, por retratar um tema urgente, necessário e que tem o meu ligar de fala ali também. E ao mesmo tempo explorando uma sonoridade nova, misturando samba com baião no meio. E é um som que representa muito o que é a Baggios hoje em dia, uma representação massa do que a gente é hoje.
O disco tem uma chuva de referências legais: música de países africanos, manifestações populares… Vocês diriam que o som de vocês envolve muita pesquisa musical, ou são sonoridades e referências que sempre fizeram parte do dia a dia musical de vocês?
Tudo isso tá impregnado na gente. Afinal de contas toda música brasileira é afrodescendente no final das contas. Se você for rebobinar a fita, a gente tá sempre bebendo da fonte da música africana. Isso me fez chegar no Mali, no Deserto do Saara, para ouvir o blues do deserto, o afrobeat, a música do congo, a música da Etiópia. É uma música que tem grooves que batem com outros sons que eu curto que vêm dos Estados Unidos, da Inglaterra… E vamos conectando os pontos, a cada ano eu vou descobrindo coisas novas. Faz parte de uma pesquisa musical, mas é uma pesquisa que não tem um propósito definido, é uma pesquisa de prazer, de descobrir coisas novas. E quando chega na hora de compor, essas inspirações vão colando em mim.
Como você viu a receptividade a seu disco solo?
O Ikê maré já me trouxe bastante felicidade de ter sido lançado (rindo). Produzir algo na pandemia não é fácil. A gente tenta se superar, nem artisticamente mas humanamente falando. Tentamos não nos deixar levar por esse clima tenso, que deixa a gente pra baixo. É uma notícia ruim atrás da outra, a gente sempre super mal representado pelo presidente, que só traz o regresso… A gente não vê o cara falar nada que traga um passo a frente, né, velho? É só caos, o cara é o senhor do caos.
O Ikê maré veio nesse tumulto, mas foi quando começou a pandemia e eu me vi com vários instrumentos. Só pensei: “Vamos lá gravar!” Foi sem muita pretensão, de ser um disco que soasse grandioso, foi algo mais caseiro. Mas foi muito boa a recepção. Todo mundo que chegou a ouvir, viu uma direção musical diferente do que a Baggios tava trazendo. Claro que minha guitarra e minha voz estão ali presentes, mas minha intenção era valorizar mais esse segmento do samba-soul, da própria soul music. Essa brasilidade não era tão explorada com a Baggios. E isso me trouxe muita realização pessoal como compositor, produtor, ver as pessoas descobrindo um disco massa ali me deixou feliz.
É comum que discos solo de integrantes de bandas sirvam para abrir os horizontes do grupo, trazer novas influências, dar uma arejada. Como foi isso com os Baggios no caso do seu disco?
Ele foi um laboratório muito positivo nesse sentido, de trazer um segmento novo para o que a Baggios costuma fazer. Abriu mais um portal de referência musical, de produção. Acredito que a cada trabalho que eu vá fazendo paralelo, vá abrir um outro horizonte para um trabalho da Baggios, também. Ano que vem devo gravar um outro álbum solo, já tentando fugir um pouco do que foi o Tupã-Rá e trazendo outras coisas.
Para mim é um laboratório. A todo momento eu estou aprendendo coisas. Estou com meu estúdio aqui, num momento massa de desenvolvimento, de estar produzindo outros artistas sergipanos. Fico feliz de estar sendo identificado como um produtor musical, podendo contribuir com sons que fogem da minha percepção de música, do meu lugar comum. O ruim é ficar parado e venho me mantenho em movimento.
Como foi feita a capa do disco? Houve alguma referência de alguma capa clássica?
Ela veio de um insight que eu tive, lendo uma matéria sobre o Marku Ribas, que tinha lançado um álbum pela revista Noize. Um álbum que era bem difícil de ser encontrado, porque foi um disco independente, que foi redescoberto depois de muito tempo. E aí eu tive a felicidade de comprar uma cópia pra mim. Sou muito fã dele. Soube que foi um disco trabalhado sem grana, com os brothers que tinham parceria com ele, contribuindo como músicos… Ele prensou o disco e foi vendendo de mão em mão nos shows. O Marku era um artista que tinha lançado discos muito bons nos anos 1970, zerou ali e voltou a ser um artista independente, fazendo shows, vendendo disco dessa forma.
Isso me fez refletir muito sobre o artista independente mesmo, que muitas vezes tarda a ser descoberto. Isso me trouxe uma imagem de alto desértico na cabeça e a Baggios estaria sendo redescoberta no futuro, já com o desgaste aparente (rindo), com bastante história para contar, mas de uma maneira tardia. Eu gosto de mexer muito com imagens que tragam essa reflexão do tempo e veio esse insight junto com essa obra do Marku Ribas. Trouxe o deserto, a areia, o sair do underground, do subsolo. Foi uma forma de refletir um pouco essa redescoberta. Uma coisa que me veio também foi representar a redescoberta da música brasileira, esses artistas da vanguarda paulista, as bandas underground de rock, como Perfume Azul do Sol – que trazia muita coisa nordestina mesmo sendo de São Paulo.
E é um disco com um clima Nordeste, eu queria um clima mais árido também. Uma coisa que me lembrasse o barro. As cabeças são feitas de barro. O disco tem participações só de nordestinos, uma influência da música nordestina muito forte. É um conjunto de ideias que me veio para chegar nessa conclusão. A foto foi do Marcelinho Hora, que é um parceiro antigo nosso, fotografa a gente de dez anos pra cá e é um grande nome da fotografia sergipana.
Como surgiu a ideia de trazer Cátia de França e Chico Cesar para cantar em Barra pesada, e como foi o contato com eles?
O contato com a Cátia de França pintou através do Ruan, que até então era o produtor dela. A gente estava no festival Psicodália em 2017, ele tinha acabado de deixar a Cátia no aeroporto, só que a gente não encontrou com ela. Ele estava precisando voltar para o festival e ele estava com a van. Oferecemos uma carona para ele, ele comentou que o show do dia anterior foi massa, que era o produtor da Cátia… E todo mundo aqui curte o trabalho dela. Ele começou a manter contato com a gente, foi num show nosso no Rio. Eu vi através dele essa possibilidade e fiquei muito feliz. Sem dúvida é a música que mais trouxe um peso de participação. Ela com Chico César foi uma participação dobrada.
Já o Chico, a gente já se encontrou algumas vezes no aeroporto, ele já tinha vindo algumas vezes para Sergipe, foi no nosso show em São Paulo. Saímos depois, conversamos bastante sobre música, vida, política e ele deixou telefone com a gente. Falei: “A hora é agora”. Tivemos em 2019 essa cartada e no final de 2020 mandei uma ideia para ele, já falando da Cátia, achando que era massa ter os dois na mesma música. Tem o lance do baião aguçado ali… mas com um rock da pesada. E ele é um ótimo instrumentista, vejo ele como um cara muito guitarreiro também! É uma referência musical.
Como surgiu Baggios encontra Siba? É uma música feita em quarteto? O nome é um “título de trabalho” que acabou ficando?
Com o Siba, desde 2017, a gente vem fazendo alguns encontros em shows. Em Vulcão (disco de 2018) já tem uma música que era mais rascunhada para fazer com ele, mas não botei para a frente porque já estava com repertorio fechado e com pouco tempo de finalizar. E acabou que ele fez participação em outro show da gente. Falei: “Nesse disco, que vai ter o Nordeste como um dos fios condutores, tem que ter o Siba!!” Ele é um ótimo poeta, letrista, guitarrista e toca rabeca.
Lembrei da rabeca, sugeri a ele botar rabeca em vez da guitarra para ser um elemento novo. Fiz grande parte da música e separei um trecho ali – uns 40 segundos da faixa – para ele improvisar na rabeca e ficar livre para fazer os versos. Isso aconteceu com Chico também, falei que tinha um trecho da música para ele fazer o que quisesse: um poema, uma narração, qualquer coisa. Isso foi muito massa porque eles contribuíram na faixa, como letristas e arranjadores também. Eles deixaram a impressão deles com mais propriedade na faixa!
Além da própria eleição do Bolsonaro, qual foi a maior tragédia que o Brasil teve desde 2018?
Cara, eleger Bolsonaro foi a principal tragédia mesmo… De todas as coisas que aconteceram de 2018 para cá, ele tem culpa. Quando o cara foi eleito, a gente já sabia que a cultura e a arte não iriam ser valorizadas. É um cara de extrema-direita, que vai valorizar um nicho diferente da economia, olhar menos para a desigualdade, porque economistas querem saber de lucros, de grana, que os pobres dependam ainda mais dos ricos… Que sirvam mais para os ricos, enfim.
A fala do cara já dizia isso. Tava na testa. E aí no fim das contas, o Brasil sofreu com a ideologia do Bolsonaro. A gente não tem esperança nenhuma de melhorar nada até o fim do ano. Perdemos bastante força dos incentivos à cultura, à educação, nas vias que trariam uma força popular. Porque para essas pessoas o poder popular significa construir um inimigo. Eles não querem as pessoas mais inteligentes, consumido arte. Querem as pessoas na rédea, que sigam as leis e vontades deles. Claro que a pandemia já foi outra tragédia mais mundial, não foi só no Brasil. Mas seguimos aí nesse luto até o fim de 2022.
Nenhuma esperança mesmo em 2022?
Em 2022 eu espero que o povo brasileiro tenha enxergado os quatro anos de regresso, e que tirem esse cara do poder. Temos muitos candidatos aí, né? O Lula para mim é uma força grande que pode tirar o Bolsonaro do poder. Deposito uma esperança grande no Lula para ele tirar esse atraso de quatro anos e botar o país no eixo novamente. Que não vire uma chacota mundial como tem sido, uma vergonha onipresente, né, velho? Onde o cara vai, ele passa vergonha, e as pessoas não valorizam. A gente tem um poder máximo na política brasileira, que é a presidência, que não representa ninguém, só aquele nicho dele. Infelizmente é isso que a gente tem para oferecer nesse momento. Mas minha esperança vai estar nas eleições desse ano.
Como está sendo esse período de retorno ao mundo “fora de casa” para vocês, como pessoas e como profissionais? Já conseguiram encontrar amigos? Os shows começaram a rolar?
Esse momento de retorno tem sido revigorante. A Baggios mesmo já tem ganhado força novamente, voltou a ensaiar, tem promessas de show, voltei a fazer show solo de voz e violão… Isso já está trazendo uma alimentação para minha alma que estava um pouco mais para baixo, mais triste. O contato com o público é revigorante. Voltamos a abraçar pessoas, a ter contato físico. A gente estava há dois anos numa jaula. Todos os que eu ando estão vacinados. Infelizmente tem quem siga outra rota. Essa coisa de não acreditar na ciência, de seguir os passos de um presidente como Bolsonaro… Mas estamos bem nesse momento. Aos poucos o disco vai chegando na galera.
Lançamentos
Radar: Luís Capucho, Bianca and The Velvets, Estranhos Românticos, Vale Cinza, Os Fugitivos

Tem clássico abrindo o Radar nacional de hoje: Luís Capucho (não conhece? cria vergonha nessa cara!) volta com single novo. Ele abre nossa seleção de hoje, mas aqui só tem craque, da turma mais nova à mais experiente. Ouça no último volume e passe adiante hoje mesmo!
Texto: Ricardo Schott – Foto (Luís Capucho): Divulgação
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LUÍS CAPUCHO, “A MASCULINIDADE”. Violão, clima introspectivo, voz grave e vibe de MPB experimental – tanto em música quanto em letra. É a onda de Luís Capucho, capixaba criado em Niterói (RJ), gravado por artistas como Pedro Luis, Cássia Eller, Suely Mesquita e Daúde. Seu novo single A masculinidade foi feito em parceria com Kali C, vai estar no próximo álbum do músico (Homens machucados, previsto para sair em 2026 pelo selo-produtora + Um Hits) e é uma balada folk que faz revelações sobre a fragilidade do masculino. “A masculinidade é cega / a masculinidade é soberba / a masculinidade é mesmo como a flor / a masculinidade é frágil / a masculinidade é de veludo”, explica a canção.
Luís é tido por muita gente como uma espécie de “novo maldito” da MPB – mas ao mesmo tempo tem uma onda sonora que o põe lado a lado com nomes como Lou Reed, pelo jeito despojado com que interpreta suas próprias canções. Além de cantar, ele também escreve e mexe com artes visuais, o que já o põe também na condição de artista múltiplo, do tipo que faz de tudo. “Me expresso livre, de meu ponto de vista, para qualquer um que esteja aberto, que se interesse, que goste ou que se toque”, diz.
BIANCA AND THE VELVETS, “LIKE ON TV”. Punk e indie rock de Belém (PA): Bianca Marinho, Marcel Barretto, Emmanuel Penna e Leonardo Chaves unem referências que passam pelo pós-punk, pelo grunge e pelo som de bandas dos anos 2000 – tendo como detalhe especial a voz grave de Bianca, que muitas vezes soa parecida com a de Dean Wareham (do Luna, lembra?). O EP Reminder destaca faixas como a balada Said you loved me, then you’re gone, o punk Knives e a pesada, robótica e ritmada Like on TV, com recordações de rock inglês da Rough Trade dos anos 1980.
ESTRANHOS ROMÂNTICOS, “POR QUE VOCÊ ME TRATA ASSIM?”. O single novo da banda carioca (Victor Barros, voz; Jr Tostoi, guitarra e produção; Mauk Garcia, baixo; Luciano Cian, teclados; Pedro Serra, bateria) prepara terreno para seu quarto álbum: Por que você me trata assim? é definido por eles como “uma imersão sonora que mescla indie-rock psicodélico, post-rock pesado e James Brown”.
Os vocais, o baixo à frente e os vocais fazem lembrar bandas como Picassos Falsos – o que já traz de volta vários anos de história do rock carioca. O beat quebrado, os teclados e as distorções são pura mescla de pós-punk e psicodelia, tudo junto. E a canção ainda tem uma segunda parte bem garageira e ruidosa. Tem que ouvir.
VALE CINZA, “JÁ NÃO ME CABE ESTE LUGAR”. Essa dupla de pós-punk/darkwave diz fazer música “para quem se identifica com o peso e a beleza do silêncio, gosta de dançar e para quem busca sentido dentro do caos”. Já não me cabe este lugar, som de terror que traz lembranças infantis e recorações de crises de ansiedade, foi gravada na casa do vocalista e guitarrista Maycon Rocha, em Nova Friburgo (RJ). Ele divide a dupla com Marcelo de Souza (baixo).
“As letras falam sobre isolamento, julgamento, falta de perspectiva e a tentativa de encontrar sentido em meio a um mundo apagado e saturado de informações. É um recorte do contemporâneo, um reflexo de um tempo marcado por guerras, crises e pandemia. Apesar da atmosfera sombria, existe beleza na sinceridade e um certo acolhimento em reconhecer essas dores coletivas”, diz Maycon.
OS FUGITIVOS feat WADO E BRANDÃO, “AZUL”. Dupla de Alagoas que já havia aparecido aqui no Radar, Os Fugitivos (Nayane Ferreira e Thiago Mata) haviam composto Azul para entrar no próximo álbum, Sonhos e traumas, previsto para 2026 – mas a música foi ganhando clima diferente e vida própria. Para começar, é uma música repleta de brasilidade, indo além do soul romântico feito pelos dois – o som tem uma certa cara de samba-soul, e até de axé music, com referências confessas de Trio Ternura e Novos Baianos. Além disso, a dupla decidiu convidar dois amigos bem especiais: o também alagoano Wado e o baiano Brandão.
“Lembramos de Azul e sentimos que ela dialogava muito com a fase atual de Wado. Ambos são cantores tão expressivos que foi muito fácil encaixar as vozes. Gravamos todos por inteiro e depois definimos quem cantaria o quê na mixagem”, conta Thiago. “Todos nós temos essa brasilidade no trabalho. Samba-rock, axé, ritmos que vêm da nossa história. A combinação foi muito natural”, completa Nayane.
Lançamentos
Radar: Lights, Peach Blush, Julie Neff, Visceral Design, Schramm

Tem sons cintilantes, dramáticos, densos e pesados no Radar internacional de hoje, com a variedade de sempre – abrindo com o relançamento do disco de Lights, cantora australiana de eletropop, que surge com uma música nova. Ouça e passe pra frente!
Texto: Ricardo Schott – Foto (Lights): Warwick Hughes / Divulgação
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LIGHTS, “LEARNING TO LET GO”. Com uma turnê pronta para começar em fevereiro de 2026 em Edmonton, na Austrália, e seguindo Estados Unidos adentro, a cantora australiana Lights lança em 30 de janeiro a versão estendida de seu álbum A6. Com um som voltado para o eletropop, ela acaba de lançar a faixa Learning to let go, que vai estar na versão deluxe e também acaba de ganhar clipe, dirigida por ela própria.
“Essa música trata essencialmente da transformação emocional. “A forma como nossa percepção de algo pode mudar dependendo do nosso estado de espírito ou de experiências passadas, a ponto de ser difícil enxergar a realidade em uma situação e inferir a verdade. Às vezes, nosso único caminho a seguir é aprender a deixar ir”, conta ela.
PEACH BLUSH, “ERADICATION OF THE MIND”. Noise rock e pós-hardcore da pesada (e da – literalmente – quebrada, no que diz respeito a ritmos), vindo de Little Rock, Arkansas. O grupo é formado por veteranos da região, que são fãs de bandas clássicas como Hüsker Dü, Dinosaur Jr. e Mission of Burma.
No novo EP, Eradication of the mind, o grupo investe em três faixas que se impõem pelo ritmo feroz e pela intensidade nos vocais e arranjos – a faixa-título é a cara do brain rot, com versos como “observações: a comunicação está lenta / o tempo corroeu seu cérebro / você não é mais o mesmo, apenas uma casca de gênio que envelheceu / a erradicação da sua mente está cobrando seu preço”. O disco, lançado pelo selo Sunday Drive Records, é definido por eles como “uma onda de punk rápido e experimental, com temas de decadência e distorção”. E é mesmo.
JULIE NEFF, “FINE!?” (CLIPE). Uma canadense com fortes laços com o Brasil. O álbum de estreia de Julie Neff, previsto para o ano que vem, tem produção da brasileira Cris Botarelli (Far From Alaska, Ego Kill Talent, Swave). Fine!?, faixa com uma sonoridade que cruza o blues e o pop, e que aborda o esforço de fingir que está bem enquanto se enfrenta uma crise de depressão e ansiedade, já havia aparecido aqui no Radar – e dessa vez retorna para o lançamento do clipe da canção, que foi filmado em São Paulo, com direção de Jader Chahine, e tem bastante inspiração no vídeo de Send my love, de Adèle.
“Para o clipe, eu quis incorporar elementos dourados e referências do Kintsugi presentes na capa, mas com um visual mais dramático. A ideia é que você pode usar toda a maquiagem ou roupas sofisticadas que quiser, mas isso não apaga a dor que está acontecendo internamente”, conta Julie.
VISCERAL DESIGN, “GIVE IT TIME”. Projeto dividido entre EUA, Inglaterra e França, criado pelo músico Tyler Kaufman, o Visceral Design faz pop eletrônico com clima denso e meio deprê. Give it time, novo single, traz as perspectivas de um ex-casal sobre o fim do relacionamento de longa data que unia os dois – os versos trazem frases de ambos, abrindo com a perspectiva da mulher, e partindo para as visões do homem. A mensagem é de superação (“seguimos em frente sem parar”), mesmo com a tristeza.
SCHRAMM, “DON’T CALL ME”. Projeto de um alemão só, o Schramm (é justamente o nome do cara) é definido por ele de forma bem interessante: “Eu escrevo músicas muito divertidas e um pouco tristes em inglês e alemão. Eu chamo de indie rock lo-fi e energético com influências de pós-punk e new wave, mas muito bom. Algumas pessoas chamaram de ‘nova new wave alemã’, mas na verdade não é muito alemão. E também não é muito ‘neu’, mas é muito legal”. Seja lá que definição você queira dar, o pós-punk viajante e deprê do single Don’t call me, com recordações de Japan e The Cure, é realmente muito legal – e o EP novo do Schramm, Something smelling funny, sai em fevereiro.
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Lançamentos
Radar: Lia de Itamaracá e Daúde, Silver, Janu, Felipe Neiva, Wills Tevs

A semana começou! Aliás “começou!” me lembra que tem um certo podcast aí que volta nesta semana… Mas teremos a semana para falar disso. Dessa vez, começamos com o Radar nacional, que destaca o novo single de Lia de Itamaracá e Daúde – tem álbum em dupla vindo aí – além de outras novidades. Ouça e repasse!
Texto: Ricardo Schott – Foto (Lia de Itamaracá e Daúde): Ravaneli Mesquitta / Divulgação
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LIA DE ITAMARACÁ E DAÚDE, “QUEM É?” / “A GALERIA DO AMOR”. Histórico é pouco para definir este lançamento. Em breve sai Pelos olhos do mar, unindo Daúde e Lia de Itamaracá – você já leu aqui mesmo no Radar sobre o primeiro single, Florestania. E dessa vez sai um single duplo, com as músicas Quem é? (Maurilio Lopes e Silvinho) e A galeria do amor (Agnaldo Timóteo).
A primeira é um bolero imortalizado pelo co-autor Silvinho, cantado candidamente por Lia – já a Galeria, composta e gravada por Agnaldo em 1975, ressurge transformada numa guarânia blues na voz de Daúde, e é uma música que falava de forma cifrada da Galeria Alaska, ponto de encontro de homens gays em Copacabana. Curiosamente, a veterana Lia recorda ter conhecido Quem é? justamente na gravação de Timóteo, feita em 1978 no álbum Te amo cada vez mais. Pedro Baby (guitarra) e Zé Ruivo (piano Rhodes) participam das duas faixas.
SILVER, “TURN AROUND”. O guitarrista, escritor e jornalista Felipe Machado (Viper) uniu-se ao vocalista Rodrigo Cerveira para recordar o rock pauleira dos anos 1990 no Silver – a ideia é responder perguntas do tipo “como soaria o grunge em 2025?”, e buscar um equilíbrio de influências noventistas com sons mais clássicos do rock. Mesmo com o lado anos 1990 super acentuado, o EP Turn around (selo Wikimetal) destaca a faixa-título, música que faz uma união exata de referências de Led Zeppelin e Black Sabbath, nos solos e no andamento.
A faixa já ganhou um clipe, em preto e branco, dirigido por Raul Machado – e destacando também as participações dos convidados Rodrigo Oliveira (Korzus) na bateria e Rob Machado (Hollowmind) no baixo.
JANU, “DE TODAS AS COISAS”. “Eu poderia viver com você / cuidar d’uns bichos / decidir o que ver na TV / fazer o impossível / pra tu nunca mais parar de rir / mas tu não mereceu”, canta o alagoano Janu em seu novo single, De todas as coisas – uma canção de desamor e superação, bem dançante, que ganhou um lyric video gravado na Ilha do Ferro, lá mesmo em Alagoas. O novo som de Janu, aliás, é uma salsa, cujo nome é referenciado no álbum De todas las flores, da cantora e compositora mexicana Natalia Lafourcade.
E o ciclo da latinidad é fechadíssimo pelos versos em espanhol da parceira Laura Emília, que surge na faixa declamando sua poesia. Laura, vinda de Arapiraca (AL), é doutoranda em Literaturas Hispânicas pela Universidade da Califórnia, e tanto ela quanto Janu são “apaixonados pela cultura latina e com vontade de diminuir a distância entre Brasil e América Latina, onde o que mais afasta é a barreira da língua”, diz o cantor.
FELIPE NEIVA, “BABY”. Em 2026 sai o álbum de Felipe, NiKitsch / PopIshtar, que “explora o que há de kitsch em ser um indie-popstar from Niterói (RJ), agora, vivendo em Portugal”. A ideia de Felipe é ajudar a fazer renascer a soul music nacional – e o single Baby, com lembranças da santíssima trindade do estilo (Tim Maia, Hyldon, Cassiano) adianta a proposta, com melodia e arranjo românticos e voadores. Ao lado de Felipe, os irmãos Alberto Continentino (baixo, guitarra), Jorge Continentino (flauta transversal) e Kiko Continentino (teclados e co-produção ao lado de Felipe). Um lançamento Cavaca Records, em parceria com o selo europeu Concha.
WILLS TEVS, “MENSAGEIRO”. Com um álbum já na agulha para o começo de 2026, Infinitas___lacunas, o paulistano Wills Tevs é um cara do indie rock, mas vem se aproximando do country – aquele mesmo, feito nos Estados Unidos – em novas gravações. Mensageiro, sua nova música, é bem nesse estilo, contando com guitarras slide, violões e a estileira geral do country na produção. O single sai pelo selo Orangeiras.
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