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Um papo com Flavio Tris sobre novo álbum, gravações à distância, amor e perdas

Flavio Tris, cantor e compositor paulista, tem um hiato de quatro anos entre cada disco – era algo que ele não sabia explicar porque acontecia, mas que denota muita reflexão entre cada lançamento, ainda mais numa época em que todo mundo pisca o olho e saem vários novos álbuns e singles.
Vela, o terceiro disco, sai pelo selo Pequeno Imprevisto e tem participações de Monica Salmaso e Lenna Bahule. E é marcado, segundo o próprio Flávio, pela “interferência mínima dos arranjos instrumentais sobre o núcleo das canções”, como já acontecia com o disco anterior.
Batemos um papo com Flavio sobre a história musical dele, o novo disco e, claro, sobre como têm sido esses tempos de volta dos shows (foto: Guta Galli/Divulgação)
No release, diz que você não sabia direito porque havia uma diferença de quatro anos entre cada disco seu. Você diria que é isso tem a ver com a vontade de fazer com que seu som seja devidamente absorvido, a cada disco? Chegou a pensar sobre isso com o disco lançado?
Possivelmente tem a ver com isso sim, até porque tenho de fato percebido que minha música é de absorção lenta. Pode bater – e bate – de primeira em alguns ouvintes, mas em muitos casos as camadas de entendimento vão sendo assimiladas aos poucos, inclusive por mim mesmo. É comum eu receber feedbacks de ouvintes que vão gostando mais das canções depois de anos da primeira escuta. Mas esse aspecto, acho eu, parece ser só uma das explicações possíveis para esse lapso regular entre os discos.
Existe também um aspecto prático, por exemplo na distância entre Sol velho lua nova (2017) e Vela (2021), que aqui se revela nas circunstâncias que me impediram de gravar esse último disco em 2019, como de início era a ideia. A doença e morte do meu pai, a falta de condições financeiras mínimas para realizar o disco. Mas justo aí reside o mistério, pois essas circunstâncias e o adiamento da gravação acabaram dando forma ao disco. Algumas canções que estão no disco nasceram depois de 2019, ou seja, não era para o disco ser gravado naquele momento, o disco veio mesmo quando tinha que vir. Aí portanto a sensação de que esse lapso era necessário e que não aconteceu por acaso, mas por razões de certa forma enigmáticas que talvez algum dia eu venha a decifrar.
Como você vê essa coisa da modernidade, de bandas e artistas lançarem singles e EPs um atrás do outro? E essa onda que chegou a rolar, de músicas bem curtas?
A onda das músicas curtas eu atribuo a certa superficialidade das novas gerações, em grande parte resultante de uma tendência de comportamento mais ansioso, menos reflexivo. Tem muito a ver com a dinâmica das redes sociais, certamente. E é claro, em termos absolutos não tenho nada contra músicas curtas, aliás a história da canção popular brasileira está cheia delas e muitas são joias indiscutíveis. Em Vela mesmo há uma canção com 2 minutos cravados. O problema não é a música ser curta, é ela ter que ser curta para atender a uma demanda mercadológica, ou pior, a uma involução geracional.
Sobre singles e EPs, sobre serem lançados a todo tempo, não vejo problema. Essa mudança na dinâmica dos lançamentos, apesar de refletir também, em certa parte, esse mecanismo “fast food” de consumir música, me parece legítima. O artista independente de hoje tem que estar trazendo atenção para a sua obra quase diariamente (o que é uma grande distorção, mas é o que é) e portanto é razoável que esses artistas estejam parando de lançar discos apenas a cada dois, três, quatro anos. Eu particularmente gosto de escutar discos inteiros e gosto de gravar discos inteiros, com dramaturgias mais complexas. Imagino que devo continuar a lançar discos inteiros, quem sabe a cada quatro anos, mas me vejo também entrando na dança e lançando singles, EPs, mergulhando em projetos paralelos.
Você acredita que o fato de ter um espaço bom entre cada disco ajudou bastante no seu amadurecimento como compositor, cantor e criador de discos?
Eu certamente amadureci como ser humano desde o lançamento do meu primeiro disco. Imagino que isso tenha repercussão na minha obra, sobretudo considerando que minhas canções são relatos íntimos e muito verdadeiros de como eu vejo o mundo.
Como foi o processo de gravação? Foi tudo à distância?
De início gravei sozinho, em voz e violão, retirado no interior de SP, as prés do que seriam as canções do disco. Fui compartilhando tudo com o Gui Augusto, que era meu parceiro desde o início do projeto. Depois chamamos César Lacerda para a direção e concordamos em chamar novamente o Elisio Freitas para assinar a produção musical junto comigo, além de criar as guitarras e baixos do disco. Fomos para estúdio gravar o núcleo duro das canções: eu gravando violão, Gui Augusto gravando percussão, César na direção. A partir disso, exceto pela gravação das minhas vozes em estúdio alguns meses depois, tudo foi concebido, arranjado e gravado à distância. Elisio estava no RJ e todas as demais participações vocais e instrumentais foram gravadas pelos próprios músicos/cantores em suas casas ou em estúdio nas cidades onde estavam. Mixagem, masterização e arte gráfica, tudo também foi executado à distância, sempre sob a minha supervisão.
Como foi ter a Monica Salmaso no disco? O convite partiu de você?
O convite foi ideia do César Lacerda e eu, admirador da Mônica, achei ótimo. Portanto foi nosso o convite. Mônica foi além do programado, gravou contracantos e vocalizes incríveis que não tínhamos imaginado. Abrilhantou a canção com sua musicalidade serena e potente. É um grande privilégio tê-la junto conosco em Vela.
Aliás, como foi trabalhar com o Cesar Lacerda no disco?
César é um amigo querido de longa data, um cantor/compositor extraordinário e um produtor/diretor competentíssimo. Já tínhamos trabalhado juntos em Sol velho, lua nova e o diálogo ao longo da realização de Vela fluiu de modo muito harmonioso. César foi importantíssimo em diversos momentos-chave da feitura do disco, sempre muito preciso e seguro quanto aos caminhos que devíamos seguir nas encruzilhadas com que nos deparamos ao longo do processo.
Você perdeu seu pai e tornou-se pai no meio da gravação. No que isso influenciou nas letras? Músicas como Saudade e Outras manhãs virão vem desses acontecimentos, certo?
Considerando que minhas canções são retratos das coisas que eu vivo e vejo, não havia como esses fatos não influenciarem as canções. A morte de meu pai sobretudo, pois o nascimento da minha filha aconteceu quando já estávamos finalizando as gravações. Saudade é uma canção feita para ele, após sua morte, do jeito mais franco possível. Dia da morte parece ser um tanto a voz dele mais até do que a minha, só que a canção foi criada enquanto ele ainda era vivo. Outras manhãs virão é um pouco anterior a essa vivência, nascida mesmo do meu sentimento diante da tragédia de termos eleito um presidente perverso, desumano, autoritário e incompetente, e num nível mais amplo diante da frustração de ver a ascensão do neo-fascismo no Brasil.
Essa última música, por sinal, é a segunda mais ouvida no Spotify, do disco. O título da canção, que é bem esperançoso, deve estar atraindo muita gente para ouvi-la, não?
Essa canção acaba sendo uma provocação para lembrarmos sempre do caráter impermanente da realidade, para percebermos, mesmo dentro do olho do furacão, que muito já aconteceu antes e muito ainda vai acontecer, distante disso que estamos vivendo agora. Essa “esperança” nasce dessa percepção. E estamos quase todos precisados dessa esperança, dessa possibilidade de ver um futuro mais feliz, mais humano, mais generoso.
Fale um pouco da Lenna Bahule, que canta com você no disco.
Lenna é também uma amiga muito querida já há muitos anos. Cantora maravilhosa, compositora maravilhosa, pessoa maravilhosa. Sua participação no disco é uma imensa honra. Ela compreendeu perfeitamente o sentido da canção e sua interpretação é impecável.
Como você se envolveu profissionalmente com a música?
Faço música desde muito cedo, pois tive aulas de piano quando criança. Pude ver um caminho como profissional da música quando comecei a compor, perto de 2004. Mas estava me formando em Direito, então ainda houve uma transição entre a advocacia e a música. No meio disso fiz um mestrado em Filosofia do Direito, cheguei a dar aulas em universidade, e enfim deixei tudo para me dedicar apenas à música. Gravei um primeiro EP em 2009, pude perceber que minha música tocava as pessoas, e soube ali que seria o primeiro de muitos. Não pretendo fazer outra coisa da vida até meu último dia.
Muita gente já está voltando a sair, a ir a shows, a reencontrar amigos. Como tem sido esse processo para você? Isso chegou a animar você a marcar shows do disco?
Eu imaginei que os shows presenciais só voltariam a acontecer em 2022, portanto estou um tanto atrasado no processo de marcar os shows da turnê de lançamento de Vela. Mas estou animado para isso sim, sempre acompanhando a evolução da pandemia, a circulação das novas cepas. Talvez ainda tenhamos que dar um passinho para trás na flexibilização das medidas de prevenção, mas estou esperançoso que, com a cobertura vacinal avançada que temos, a tendência é a volta a certa normalidade ao longo desse próximo ano.
Por conta sobretudo da nossa filha, eu e minha companheira estivemos bem rigorosos no confinamento durante esse último ano e meio, e ainda por causa dela seguimos tendo um cuidado acima do normal. Mas algum relaxamento já está sendo possível, sobretudo aqui em SP onde o vírus tem circulado menos. Ainda não me sinto seguro para sentar num boteco ao lado de desconhecidos, mas já tenho me permitido estar perto dos amigos e fiz um show recentemente nos arredores de Belo Horizonte para um público de aproximadamente 50 pessoas, com as pessoas seguindo os protocolos de prevenção. Tenho confiança de que em breve vai ser possível lançar o disco em SP. Se puder ser com sorrisos e abraços, tanto melhor.
Lançamentos
Radar: Cali, Alessandra Leão e Liniker, Atalhos, Lua Dultra, ABQNE, SANJ

Semana encerrada e hoje ainda por cima tem podcast – e fim de semana distante do trabalho pra gente (finalmente!). O Radar nacional de hoje começa com a criatividade do clipe da paulista Cali, que ainda por cima foi um clipe surgido de várias demandas dos fãs. Mas tem bem mais na nossa lista de hoje, do rock progressivo à MPB safadinha, passando pelo folk. Ouça e repasse!
Texto: Ricardo Schott – Foto (Cali): Luiza Meneghetti / Divulgação
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CALI, “FOME” (CLIPE). Cantora vinda de Porto Ferreira (SP) e radicada em Campinas, Cali viu que os fãs estavam pedindo bastante um clipe para Fome, música sua lançada em agosto. Postou um vídeo falando a respeito disso, e no mesmo dia, foi procurada por duas diretoras, que mostraram seu trabalho para ela. Foi assim que Giovana Padovani (co-direção e direção de fotografia) e Calu Zete (co-direção e produção) acabaram fazendo o clipe do single, divulgado nesta semana no YouTube, e traz Cali assumindo três personas que representam fases emocionais de um artista. As personas passam pela ansiedade e exaustão iniciais, pelo confronto com o próprio lado sombrio e, por fim, pela conquista de uma versão confiante e madura.
Detalhe: a concepção do clipe também foi sugerida por um fã, que sugeriu o filme Cisne negro, de Darren Aronofsky, como referência. “Agora, eu me vejo madura o suficiente para trazer também o meu próprio lado sombrio… Desde nova adoro suspense psicológico e drama. Pensei, por que não me inspirar nisso para construir essa parte da minha estética também?”, comenta Cali, que tem referências em Rita Lee e Rosalía – e fez de Fome um baita batidão pop.
ALESSANDRA LEÃO feat LINIKER, “TATUZINHO”. Tatuzinho é uma música que tem (bastante) história: surgiu como instrumental no álbum Brinquedo de tambor, estreia de Alessandra lançada em 2006. E foi uma música feita enquanto Alessandra colocava o filho para dormir. Depois, ela foi regravada por Alessandra no EP Pedra de sal, só que com uma letra bem sacana feita por Kiko Dinucci. E dando início às comemorações de duas décadas de seu primeiro disco, Alessandra refez a música, mas com alguns diferenciais: ela ganhou produção musical de ChicoCorrea e a voz da convidada Liniker, além de uma proximidade maior com os universos do arrocha e do brega.
Detalhe da coincidência: Liniker havia compartilhado a música nas redes, e foi a partir daí que o encontro das duas rolou. “Era ela que eu estava procurando para cantar junto”, conta Alessandra. “É uma delícia abrir as comemorações dos 20 anos do meu primeiro disco revisitando essa música ao lado de parceiros de longa data como ChicoCorrea e Kiko Dinucci – e com a presença luminosa de Liniker. É lindo vê-la voar”.
ATALHOS, “A FORÇA DAS COISAS” (SESSION). Banda de art rock com origens no interior paulista (vieram de Birigui), o Atalhos une som, literatura e profecias em seu novo disco, A força das coisas (resenhado pela gente aqui). O álbum de Gabriel Soares e Conrado Passarelli demonstra orgulho por soar próximo do dream pop, do indie rock mais recente e do pós-punk dos anos 1980 – numa nuvem de referências que inclui de The Smiths a Arctic Monkeys. E agora saiu uma session com o repertório do disco, tudo ao vivo, em preto e branco.
A session aparece quando a banda anuncia turnê pela Europa – entre os meses de fevereiro e março, passando por países como Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Espanha, Dinamarca e Suíça. Também anunciam e o lançamento de A força das coisas em vinil, que vai rolar assim que os dois voltarem do giro.
LUA DULTRA, “MENINA”. Pop alternativo e folk alternativo cruzam-se na nova música da Lua, Menina – um som tranquilo e viajante que também carrega as referências da união entre folk e MPB (Sá & Guarabyra, Nando Reis, Lô Borges). E cujo clipe, com direção e roteiro dela e de Sofia Rojas, mexe com o imaginário do sertanejo, trazendo a cantora, compositora e instrumentista tocando violão na porta de uma igreja, andando a cavalo e sossegada numa casa no campo, tocando com sua turma.
ABQNE (A BANDA QUE NUNCA EXISTIU), “O OUTRO NOVO EU”. HL (Humberto Lyra) e LP (Luiz Pissutto) são os integrantes da A Banda Que Nunca Existiu – na verdade uma dupla com alguns colaboradores, que vão de Alexandre Fontanetti (produção e violão), Paulo Zinner (bateria), Edu Gomes (guitarra), Adriano Magoo (piano) e até Zeca Baleiro, que solta um assovio numa faixa. O maxi-single O outro novo eu na sala de estar, com quatro faixas – uma delas é um radio edit da primeira música, O outro novo eu – é definido pelos dois como uma “ópera rock psicodélica”, cheia de sinais escondidos.
A faixa original, que dura oito minutos, soa bastante inspirada em Mutantes (especialmente no disco da banda creditado a Rita Lee, Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida, lançado em 1972). A radio edit da faixa traz a música num releitura mais pinkfloydiana do que propriamente psicodélica. O conceito da faixa é citado nas outras duas músicas, Antes do outro eu e Sala de estar do outro eu. Uma viagem sonora.
SANJ, “MÁQUINA DE SOL”. SANJ, assim mesmo, com maiúsculas, é o novo projeto do músico Leonardo Sandi, de Caxias do Sul (RS), que integra a banda Catavento. Em Máquina de sol, o primeiro single, estilos como hip hop, drum’n bass e trip hop (pelo menos no clima enevoado do arranjo) unem-se na criação de uma canção que, diz Leonardo, “fala muito sobre tentar criar um mundo melhor também para um amor, uma paixão”, conta. “Sempre imaginei essa imagem de um cientista solitário em um porão, tentando criar uma máquina de sol. E um dia, quando ele finalmente consegue, tudo explode em luz”.
Outra ideia passada pela música é a de sempre seguir em frente. “Essa música é o meu recomeço, mas também é um lembrete para todo mundo que já sentiu o tempo escapar, que ainda dá para correr atrás dos sonhos”, conta ele, que para fazer Máquina de sol, se juntou a Murilo Vitorazzi, o mrl (beat, pianos, produção e co-autoria), e Francisco Maffei, o Chigo (mixagem e masterização).
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Lançamentos
Radar: Flea, Water From Your Eyes, Malammore, Atomic Fruit, Wheobe, Wuzy Bambussy

Flea, baixista dos Red Hot Chili Peppers, está para lançar um disco solo – em clima de jazz psicodélico, pelo que dá pra perceber pelo primeiro single, A plea, lançado ontem. Ele abre o Radar internacional de hoje e puxa uma seleção que tem sons experimentais, rap, psicodelia e muitas novidades. Ouça e repasse.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Flea): Divulgação
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FLEA, “A PLEA”. Você provavelmente se perguntava porque é que o talentoso baixista dos Red Hot Chili Peppers não lançava logo um disco solo. Pois bem, ano que vem, finalmente, sai a estreia solo de Flea, pelo selo Nonesuch – e o que vem por aí, aparentemente, é um disco arraigado nas experimentações jazz-psicodélicas. A plea, o primeiro single, tem quase oito minutos de duração, e ganhou um clipe dirigido pela filha do músico, a fotógrafa Clara Balzary. No vídeo, Flea surge trajando uma camiseta onde se lê “dub” na mesma grafia do logotipo da banda Public Image Ltd, e fazendo passos que unem dança e ginástica. Lá pelas tantas, ele aparece correndo pelas ruas.
O tal disco solo é definido por ele como “uma banda dos sonhos de visionários do jazz moderno” – Flea, aliás, volta ao trompete, instrumento que marcou seu início na música (em A plea, quem toca o instrumento é a contrabaixista Anna Butterss). A letra é um exercício de spoken word, em que Flea diz coisas como “viva pela paz, viva pelo amor” e “quem é seu vizinho, quem é seu amigo?/ ah, há ódio por toda parte/ eu não me importo com a sua maldita política/ eu não quero ouvir falar da sua política”.
No comunicado de lançamento do single, ele foi além: disse que há um lugar transcendental acima da política, “onde há um diálogo que pode realmente ajudar a humanidade e nos ajudar a viver de forma harmoniosa e produtiva, de uma maneira saudável para o mundo. Existe um lugar onde nos encontramos, e esse lugar é o amor”. Psicodélico, digamos.
WATER FROM YOUR EYES, “DRIVING CLASSICS, PLAYING CARS”. O WFYE já havia lançado o álbum It’s a beautiful place neste ano (resenhamos aqui) e volta com o EP It’s beautiful, contendo três faixas do disco reimaginadas. Born 2, Nights in Armor e Playing classics foram remexidas pelo músico e produtor Nate Amos para enfatizar de forma diferente os vocais da cantora Rachel Brown. Playing classics, das três escolhidas, foi a que mais teve modificações: retorna com o nome de Driving classics, playing cars, com dez minutos de duração e efeitos sonoros de carros – daí o nome.
“As novas versões de Born 2 e Nights in Armor são, na verdade, mais próximas de como as músicas eram originalmente”, explica Amos. “As pessoas me perguntavam sobre a versão original de mais de dez minutos de Playing classics, e eu não conseguia mais encontrá-la, então fiz uma nova. Achei que seria engraçado se fosse mais rápida também. Adicionei efeitos sonoros de carros porque carros são rápidos”.
MALAMMORE, “TUDO PASSA”. “Dou conselhos a quem ouve, mas também olho para dentro e me englobo também nos conselhos que dou”, conta o poeta, ator e músico português Sandro Feliciano, que usa o codinome de Malammore e em Tudo passa, seu novo single, protesta contra a falta de sensibilidade do mundo – e contra a apatia patrocinada pelos donos do poder. A faixa, um hip hop alternativo narrado com agilidade, mas com melodia voadora e relaxante, puxa Aurora, disco de Malammore que está pra sair, e tem clipe dirigido por ele e por Miguel Zêgo Cebola.
Tudo passa foi inspirada na famosa foto de William Klein em que há duas crianças – uma delas aponta uma arma para a câmera, enquanto a outra está surpreendentemente calma. O rapper Mick Jenkins e seu single-clipe Brown recluse foram inspirações para o clipe.
ATOMIC FRUIT, “MEDICINE”. Esse trio psicodélico mezzo italiano, mezzo alemão (e radicado em Berlim) tem bem mais do que lisergia para oferecer: o som deles lembra um encontro ácido entre Joy Division, Killing Joke e Mudhoney, todo mundo com o cérebro lotado de alguma substância estranha. A música é tão psicodélica quanto pós-punk, graças ao clima hipnótico da melodia e do arranjo, e à voz de baritono de Martin Lundfall, que também toca synths e guitarra. Nomes como Massive Attack e SUUNS são citados no release, só para você ter uma ideia básica do peso e da intensidade dessa turma.
Medicine, de acordo com a banda, trata de um tema muito especial para músicos e artistas em geral: “Ela começou como uma música sobre bloqueio criativo, mas se transformou na consciência de como é difícil sentir aquela primeira faísca novamente”. Além do lyric video da faixa, o grupo soltou também uma session ao vivo pelo Platte:X, uma espécie de Tiny Desk arrumadinho de Berlim.
WHEOBE, “SORE”. Preparando um álbum de estreia, A strained ocean, para abril de 2026, esse grupo francês puxa o álbum com Sore, quase um progressivo dream pop, de seis minutos – e uma música que chega a ganhar ares mais pesados depois. O clipe, dirigido por Kim Fino e Camilia Penagos, mostra um verdadeiro balé urbano, de pessoas sendo basicamente elas mesmas pelas ruas. As cenas surgem como se fossem imaginadas pelos integrantes do grupo.
WUZY BAMBUSSY, “LITTLE LION”. Uma surpresa musical entre a house music e os climas herdados do jazz: o grupo britânico Wuzy Bambussy fala do reencontro com um amor perdido em Little lion e acaba conseguindo fazer uma das faixas mais deliciosamente nostálgicas do ano. Destaque para os vocais da cantora Kat Harrison e para a vibe de filme antigo do clipe, todo gravado em pret e branco. The ghost & the rhythm, o primeiro álbum, sai em abril de 2026.
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Lançamentos
Radar: Baque!, Jota 3 e BNegão, Siso, Fitti, Mat, Look Into The Abyss

O experimentalismo da banda Baque! volta ao Radar – eles já estiveram por aqui – com um single duplo que é pura poesia proto-punk. Mas a seleção do Radar nacional de hoje tem também som pesado, hyperpop, reggae-rap e MPB para ouvir no último volume. Ouça e repasse.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Baque): Divulgação
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BAQUE!, “OZYMANDIAS” / “NOITES NO OCIDENTE”. Essas duas novas músicas, segundo a banda paulistana Baque!, formam “um convite para um rolê, um cartão-postal sonoro na forma de single duplo”. Normalmente voltado para uma mescla inusitada de psicodelia e punk (ou protopunk, como a própria banda define seu próprio trabalho), o grupo retorna agora influenciado por estilos como krautrock, post-rock e synthwave.
Ozymandias e Noites no Ocidente, contam eles, foram músicas que nasceram ao vivo e vêm sendo desenvolvidas há um ano nos shows, com direito ao coral dos fãs. A primeira soa como uma imagem da sessão de gravação, com vários efeitos sonoros e percussões, além da declamação da letra – que na verdade, é um poema do britânico P. B. Shelley (1792-1822) traduzido pelo grupo.
A segunda une canto gritado a la Iggy Pop, declamações com vibe Jim Morrison, e clima meio protopunk, meio groovy, direto dos anos 1960 para 2025. “Todas as canções desse lado foram gravadas em fita no correr de 7 dias de imersão em Campinas (SP)”, conta a banda, avisando também que a dupla de faixas encabeça o lado B do álbum que está sendo produzido.
JOTA 3 feat BNEGÃO, “FLORES E ERVAS” (REMIX VIBRONICS). Vinda direto da cultura soundsystem, Flores e ervas acaba de ganhar um remix assinado pelo produtor britânico Steve Vibronics, nome conhecido do UK dub. E o remix também ganhou um clipe, com imagens da apresentação do artista no festival Delírio Tropical, que rolou em Vila Velha (ES) em janeiro. BNegão, que participou do show, contribui com sua voz na nova versão.
“Ter um remix do Vibronics é surreal! Me faz voltar no tempo em que morei na Inglaterra há mais de 10 anos. Lá, tive contato com a cena através do próprio Vibronics e de muitos outros artistas e pude me aprofundar e viver realmente a cultura dos sound systems britânicos / jamaicanos, muito representativos”, conta Jota 3.
SISO, “QUEBRA-MUNDO”. “Se o mundo não se quebrasse, quem quebrava era eu”, canta Siso em Quebra-mundo, música em clima de alt-jazz e alt-pop feita em parceria com Luiza Brina, e que fala de sua reconstrução pessoal, num momento em que tudo parecia estar em ruínas. “Quando as expectativas e as premissas prévias se quebram, o que é realmente importante se revela de maneira muito límpida, permitindo que tudo o que é falso e acessório seja descartado em prol de uma energia nova, ainda que com alguma trepidação”, detalha Siso, que é de Belo Horizonte (MG), como Luiza.
Quebra-mundo ganhou um clipe em preto e branco dirigido por Tatyana Schardong, e filmado nas ruas do Centro do Rio. “A ideia era explorar visualmente o simbolismo de instabilidade e transitoriedade que a canção evoca, com cortes rápidos e cenas muito contrastantes. Acabamos mostrando um lado quase ‘Gotham City’ da cidade maravilhosa, de uma maneira bem diferente de como ela geralmente é retratada, tangenciando também muitas camadas de história dos lugares pelos quais passamos”, conta.
FITTI, “POSTAL DE AMOR”. Não é comum que intérpretes sejam homenageados em tributos – mas o cantor pernambucano Fitti, ao preparar o álbum Fitti canta Ney, em homenagem a Ney Matogrosso, evoca a época em que o próprio Ney homenageou Angela Maria com o disco Estava escrito (1994).
Fitti procurou escolher apenas músicas que ninguém conseguiria ouvir sem lembrar de Ney – daí a escolha por Postal de amor, balada introspectiva composta por Raimundo Fagner, Ricardo Silva e Fausto Nilo, gravada por Ney num compacto em 1975 (ao lado de Fagner) e depois no disco Pecado (1977). Fitti canta Ney vai virar turnê no ano que vem, com shows dirigido por Marcus Preto (que dividiu a produção do álbum com Pupillo).
MAT, “YEAH I LIKE U”. Cofundador do selo indie paulista Lazy Friendzzz e músico das bandas Dramma e Babyycult, Matt já havia lançado o EP I think I love you neste ano – e retorna agora com Yeah I like U, uma mescla de indie rock, synth-pop e hyperpop, com teclados tomando conta, ritmo dançante e vocais processados. Mat conta que a ideia da letra é falar “da atração imediata, da euforia e da ansiedade que acompanham os relacionamentos”.
LOOK INTO THE ABYSS, “WORDS”. Essa banda de Curitiba tem referências de estilos como emo e grunge, e no novo single, o peso surge à toda: Words tem vocais guturais, guitarras sombrias e pesadas, e uma letra sobre autoconhecimento e autossabotagem, sobre promessas quebradas e seguir adiante – bem na temática comum do grupo, que costuma abordar temas psicológicos e vibes bem trevosas nas letras. Words serve de batedor para o álbum que sai no começo de 2026.
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