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Um papo com Flavio Tris sobre novo álbum, gravações à distância, amor e perdas

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Flavio Tris, cantor e compositor paulista, tem um hiato de quatro anos entre cada disco – era algo que ele não sabia explicar porque acontecia, mas que denota muita reflexão entre cada lançamento, ainda mais numa época em que todo mundo pisca o olho e saem vários novos álbuns e singles.

Vela, o terceiro disco, sai pelo selo Pequeno Imprevisto e tem participações de Monica Salmaso e Lenna Bahule. E é marcado, segundo o próprio Flávio, pela “interferência mínima dos arranjos instrumentais sobre o núcleo das canções”, como já acontecia com o disco anterior.

Batemos um papo com Flavio sobre a história musical dele, o novo disco e, claro, sobre como têm sido esses tempos de volta dos shows (foto: Guta Galli/Divulgação)

No release, diz que você não sabia direito porque havia uma diferença de quatro anos entre cada disco seu. Você diria que é isso tem a ver com a vontade de fazer com que seu som seja devidamente absorvido, a cada disco? Chegou a pensar sobre isso com o disco lançado?

Possivelmente tem a ver com isso sim, até porque tenho de fato percebido que minha música é de absorção lenta. Pode bater – e bate – de primeira em alguns ouvintes, mas em muitos casos as camadas de entendimento vão sendo assimiladas aos poucos, inclusive por mim mesmo. É comum eu receber feedbacks de ouvintes que vão gostando mais das canções depois de anos da primeira escuta. Mas esse aspecto, acho eu, parece ser só uma das explicações possíveis para esse lapso regular entre os discos.

Existe também um aspecto prático, por exemplo na distância entre Sol velho lua nova (2017) e Vela (2021), que aqui se revela nas circunstâncias que me impediram de gravar esse último disco em 2019, como de início era a ideia. A doença e morte do meu pai, a falta de condições financeiras mínimas para realizar o disco. Mas justo aí reside o mistério, pois essas circunstâncias e o adiamento da gravação acabaram dando forma ao disco. Algumas canções que estão no disco nasceram depois de 2019, ou seja, não era para o disco ser gravado naquele momento, o disco veio mesmo quando tinha que vir. Aí portanto a sensação de que esse lapso era necessário e que não aconteceu por acaso, mas por razões de certa forma enigmáticas que talvez algum dia eu venha a decifrar.

Como você vê essa coisa da modernidade, de bandas e artistas lançarem singles e EPs um atrás do outro? E essa onda que chegou a rolar, de músicas bem curtas?

A onda das músicas curtas eu atribuo a certa superficialidade das novas gerações, em grande parte resultante de uma tendência de comportamento mais ansioso, menos reflexivo. Tem muito a ver com a dinâmica das redes sociais, certamente. E é claro, em termos absolutos não tenho nada contra músicas curtas, aliás a história da canção popular brasileira está cheia delas e muitas são joias indiscutíveis. Em Vela mesmo há uma canção com 2 minutos cravados. O problema não é a música ser curta, é ela ter que ser curta para atender a uma demanda mercadológica, ou pior, a uma involução geracional.

Sobre singles e EPs, sobre serem lançados a todo tempo, não vejo problema. Essa mudança na dinâmica dos lançamentos, apesar de refletir também, em certa parte, esse mecanismo “fast food” de consumir música, me parece legítima. O artista independente de hoje tem que estar trazendo atenção para a sua obra quase diariamente (o que é uma grande distorção, mas é o que é) e portanto é razoável que esses artistas estejam parando de lançar discos apenas a cada dois, três, quatro anos. Eu particularmente gosto de escutar discos inteiros e gosto de gravar discos inteiros, com dramaturgias mais complexas. Imagino que devo continuar a lançar discos inteiros, quem sabe a cada quatro anos, mas me vejo também entrando na dança e lançando singles, EPs, mergulhando em projetos paralelos.

Você acredita que o fato de ter um espaço bom entre cada disco ajudou bastante no seu amadurecimento como compositor, cantor e criador de discos?

Eu certamente amadureci como ser humano desde o lançamento do meu primeiro disco. Imagino que isso tenha repercussão na minha obra, sobretudo considerando que minhas canções são relatos íntimos e muito verdadeiros de como eu vejo o mundo.

Como foi o processo de gravação? Foi tudo à distância?

De início gravei sozinho, em voz e violão, retirado no interior de SP, as prés do que seriam as canções do disco. Fui compartilhando tudo com o Gui Augusto, que era meu parceiro desde o início do projeto. Depois chamamos César Lacerda para a direção e concordamos em chamar novamente o Elisio Freitas para assinar a produção musical junto comigo, além de criar as guitarras e baixos do disco. Fomos para estúdio gravar o núcleo duro das canções: eu gravando violão, Gui Augusto gravando percussão, César na direção. A partir disso, exceto pela gravação das minhas vozes em estúdio alguns meses depois, tudo foi concebido, arranjado e gravado à distância. Elisio estava no RJ e todas as demais participações vocais e instrumentais foram gravadas pelos próprios músicos/cantores em suas casas ou em estúdio nas cidades onde estavam. Mixagem, masterização e arte gráfica, tudo também foi executado à distância, sempre sob a minha supervisão.

Como foi ter a Monica Salmaso no disco? O convite partiu de você?

O convite foi ideia do César Lacerda e eu, admirador da Mônica, achei ótimo. Portanto foi nosso o convite. Mônica foi além do programado, gravou contracantos e vocalizes incríveis que não tínhamos imaginado. Abrilhantou a canção com sua musicalidade serena e potente. É um grande privilégio tê-la junto conosco em Vela.

Aliás, como foi trabalhar com o Cesar Lacerda no disco?

César é um amigo querido de longa data, um cantor/compositor extraordinário e um produtor/diretor competentíssimo. Já tínhamos trabalhado juntos em Sol velho, lua nova e o diálogo ao longo da realização de Vela fluiu de modo muito harmonioso. César foi importantíssimo em diversos momentos-chave da feitura do disco, sempre muito preciso e seguro quanto aos caminhos que devíamos seguir nas encruzilhadas com que nos deparamos ao longo do processo.

Você perdeu seu pai e tornou-se pai no meio da gravação. No que isso influenciou nas letras? Músicas como Saudade e Outras manhãs virão vem desses acontecimentos, certo?

Considerando que minhas canções são retratos das coisas que eu vivo e vejo, não havia como esses fatos não influenciarem as canções. A morte de meu pai sobretudo, pois o nascimento da minha filha aconteceu quando já estávamos finalizando as gravações. Saudade é uma canção feita para ele, após sua morte, do jeito mais franco possível. Dia da morte parece ser um tanto a voz dele mais até do que a minha, só que a canção foi criada enquanto ele ainda era vivo. Outras manhãs virão é um pouco anterior a essa vivência, nascida mesmo do meu sentimento diante da tragédia de termos eleito um presidente perverso, desumano, autoritário e incompetente, e num nível mais amplo diante da frustração de ver a ascensão do neo-fascismo no Brasil.

Essa última música, por sinal, é a segunda mais ouvida no Spotify, do disco. O título da canção, que é bem esperançoso, deve estar atraindo muita gente para ouvi-la, não?

Essa canção acaba sendo uma provocação para lembrarmos sempre do caráter impermanente da realidade, para percebermos, mesmo dentro do olho do furacão, que muito já aconteceu antes e muito ainda vai acontecer, distante disso que estamos vivendo agora. Essa “esperança” nasce dessa percepção. E estamos quase todos precisados dessa esperança, dessa possibilidade de ver um futuro mais feliz, mais humano, mais generoso.

Fale um pouco da Lenna Bahule, que canta com você no disco.

Lenna é também uma amiga muito querida já há muitos anos. Cantora maravilhosa, compositora maravilhosa, pessoa maravilhosa. Sua participação no disco é uma imensa honra. Ela compreendeu perfeitamente o sentido da canção e sua interpretação é impecável.

Como você se envolveu profissionalmente com a música?

Faço música desde muito cedo, pois tive aulas de piano quando criança. Pude ver um caminho como profissional da música quando comecei a compor, perto de 2004. Mas estava me formando em Direito, então ainda houve uma transição entre a advocacia e a música. No meio disso fiz um mestrado em Filosofia do Direito, cheguei a dar aulas em universidade, e enfim deixei tudo para me dedicar apenas à música. Gravei um primeiro EP em 2009, pude perceber que minha música tocava as pessoas, e soube ali que seria o primeiro de muitos. Não pretendo fazer outra coisa da vida até meu último dia.

Muita gente já está voltando a sair, a ir a shows, a reencontrar amigos. Como tem sido esse processo para você? Isso chegou a animar você a marcar shows do disco?

Eu imaginei que os shows presenciais só voltariam a acontecer em 2022, portanto estou um tanto atrasado no processo de marcar os shows da turnê de lançamento de Vela. Mas estou animado para isso sim, sempre acompanhando a evolução da pandemia, a circulação das novas cepas. Talvez ainda tenhamos que dar um passinho para trás na flexibilização das medidas de prevenção, mas estou esperançoso que, com a cobertura vacinal avançada que temos, a tendência é a volta a certa normalidade ao longo desse próximo ano.

Por conta sobretudo da nossa filha, eu e minha companheira estivemos bem rigorosos no confinamento durante esse último ano e meio, e ainda por causa dela seguimos tendo um cuidado acima do normal. Mas algum relaxamento já está sendo possível, sobretudo aqui em SP onde o vírus tem circulado menos. Ainda não me sinto seguro para sentar num boteco ao lado de desconhecidos, mas já tenho me permitido estar perto dos amigos e fiz um show recentemente nos arredores de Belo Horizonte para um público de aproximadamente 50 pessoas, com as pessoas seguindo os protocolos de prevenção. Tenho confiança de que em breve vai ser possível lançar o disco em SP. Se puder ser com sorrisos e abraços, tanto melhor.

Lançamentos

Radar: Lisa SQ, Julie Neff, Louse, Messiness, Atomic Fruit

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Na foto, a canadense Lisa SQ

Uma cantora do Canadá (Lisa SQ), uma outra cantora do mesmo país, mas com relações com o Brasil (Julie Neff), bandas dos Estados Unidos e da Itália influenciadíssimas pelo rock britânico e pela psicodelia (Louse e Messiness), e uma outra banda radicada na Alemanha (o Atomic Fruit) cuja formação une três países. E tá aí um Radar REALMENTE internacional pra abrir a semana. Ouça em alto volume.

Texto: Ricardo Schott – Foto (Lisa SQ): Martin Reis/Divulgação

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LISA SQ, “MAKE IT UP TO YOU”. Lisa Savard-Quong, a popular Lisa SQ, vem do Canadá, e faz um som que une pós-punk, elementos pop e loucuras musicais – com influências que vão de David Bowie a Edith Piaf. O novo single, Make it up to you, é uma canção tranquila que ganha uma musicalidade de videogame da Nintendo, graças aos teclados tocados por Simeon Abbott.

A letra, por sua vez, fala do autossabotador que existe em cada um de nós. A musa inspiradora da canção foi uma vizinha de Lisa que vive contando histórias de mancadas pessoais, volta por cima e resiliência. Bastou isso, além de algumas conversas sobre heróis trágicos e mártires com Tyler Kyte (parceiro dela na música), para Make it up to you aparecer. “A música surgiu disso e do meu próprio ritmo, devaneios e composições no sótão”, conta ela.

JULIE NEFF, “FINE!?”. Mais uma canadense no Radar de hoje — mas com fortes laços com o Brasil. O álbum de estreia de Julie Neff, previsto para o ano que vem, tem produção da brasileira Cris Botarelli (Far From Alaska, Ego Kill Talent, Swave). A cantora já passou algumas vezes por aqui — em 2018, inclusive, fez seu primeiro show no país, no festival Coma, em Brasília. A sessão de fotos do novo single, Fine!?, foi realizada em São Paulo, durante uma de suas visitas. Com uma sonoridade que cruza o blues e o pop, a faixa aborda o esforço de fingir que está bem enquanto se enfrenta uma crise de depressão e ansiedade.

“Em inglês, fine tem muitos significados e estou brincando um pouco com isso. Essa música, assim como todo o álbum, trata de reparação, de encontrar cura e beleza nas partes quebradas que temos dentro de nós”, conta. “Depois de anos lidando com dores crônicas e doenças, depressão e ansiedade, descobri que essa percepção de ‘ter tudo sob controle’ pode ser bastante perigosa. Significa que você provavelmente não vai pedir ajuda quando precisar e seus amigos não saberão o que está se passando realmente com você”.

LOUSE, “SUGAR IN THE WOUND” / “MADE OF STONE”. Vindo de Cincinatti, Ohio, esse grupo – que faz parte do elenco da gravadora Feel It Records – tem um som que une referências de The Cure e Dinosaur Jr: guitarras ótimas e ruidosas, vocais desesperados e melodias sonhadoras. Passions like tar, o primeiro álbum, saiu no ano passado, e de lá para cá já sairam dois outros singles: a intensa Sugar in the wound e a ótima releitura para Made of stone, dos Stone Roses. Sugar, a única inédita a sair até o momento, surgiu uma ou duas semanas após o álbum ter sido concluído, e dá um passo adiante do som majoritariamente emparedado e reverberado do álbum.

“A música despertou alguma hesitação na banda. Mas, à medida que camadas foram adicionadas e a música foi ensaiada cada vez mais, a música começou a fazer sentido”, avisa o grupo no comunicado de lançamento. “Olhando para o futuro, é mais provável que você ouça músicas mais pop como Sugar in the wound”.

MESSINESS, “ETERNITY UNBOUND”. Vindo de Milão, Itália, o Messiness pode se tornar a próxima banda preferida de quem curte não apenas a psicodelia, como os movimentos que a atualizaram – incluído aí o britpop. O novo single do projeto liderado pelo músico Max Raffa, Eternity unbound, traz de volta a loucura do fim da era psicodélica, quando algumas bandas começaram a migrar para o rock progressivo – com direito a uma citação de Light my fire, dos Doors.

Eternity unbound fala de vida, morte e de um estado de espírito que separa uma coisa da outra: “Eternidade sem limites / deixe as areias do tempo te afogarem no som (…) / aqui estou eu em um estado obscuro / estou realmente presente ou estou na retaguarda?”. “Essa letra lida com a alienação, a identidade fragmentada e a implacabilidade do tempo, transformando a abstração em algo visceral. O resultado é uma viagem de bolso: febril, desorientadora e impossível de definir”, conta Max, animadão com a nova música.

ATOMIC FRUIT, “HIT THE GROUND”. Preparando um terceiro disco para o ano que vem, essa banda radicada em Berlim, Alemanha (mas com integrantes vindos da Suécia, França e Itália) une estilos diferentes em seu som: pós-punk, psicodelia e krautrock juntam-se numa receita bastante sombria e viajante. O clipe do single Hit the ground é pura lisergia, com figuras e fotos da banda recortadas e animadas à maneira do Monty Python’s Flying Circus.

“Essa música é sobre a bagunça que se acumula na sua cabeça quando se vive na cidade. Um ruído infinito de desejos, prazos e ambições passando pela mente como o trânsito. Você sonha com uma vida mais simples – em meio à natureza, sonhando acordado, estudando as trajetórias de abelhões e pássaros migratórios”, conta a banda.

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Lançamentos

Radar: Zuriak, Welcome To The Outside, Disco Partisan, 61 OHMs e mais sons do Groover

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Na foto, o Zuriak

O Pop Fantasma tá na Groover! Por lá, artistas independentes mandam seus sons pra uma rede de curadores – e a gente faz parte desse time. Fizemos hoje uma relação do que tem chegado de legal até a gente por lá – começando com o punk introspectivo do Zuriak,

O que tem chegado até nós? De tudo um pouco, mas, curiosamente (ou nem tanto), uma leva forte de bandas e projetos mergulhados no pós-punk, darkwave, eletrônico, punk, experimental, no wave e afins.

Texto: Ricardo Schott – Foto (Zuriak): Divulgação

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ZURIAK, “CREE EN TÍ”. Punk introspectivo da Espanha, com clima sombrio, às vezes meio próximo do metal e do hardcore, mas bastante herdado do lado mais sensível das bandas de três acordes. Tanto que Cree em tí, um dos singles do grupo, parece uma versão mais deprê do som dos Buzzcocks. Lançaram em julho o primeiro álbum, La era artificial.

WELCOME TO THE OUTSIDE, “ONLY (DANCE OF THE LONELY ONES)”. Projeto de música eletrônica dark de Los Angeles, capitaneado pelo músico Gadi Murciano, o Welcome To The Outside contou com os vocais de Norelle neste single, uma música que fala sobre caos e solidão no dia a dia. Mesmo sendo um projeto eletrônico, a faixa tem uma guitarra meio blues que dá um ar progressivo à música.

DISCO PARTISAN, “FUEL”. O Disco Partisan é um projeto de punk-reggae-ska vindo dos Estados Unidos, e que parece ter muita, mas muita influência do Clash, além de referências de uma gama de grupos que vai de Smash Mouth a Specials. Conforme Fuel, novo single do grupo, vai crescendo, ganha peso e vai parecendo ficar mais próxima do punk que do ska. O refrão é ótimo.

61 OHMS, “THE SONG REMAINS THE SAME”. O 61 Ohms é um quinteto de Orange County que diz ter referências de Coldplay e U2, e… ei, espere, volte aqui! Pode acreditar que essa banda tem memória para lembrar do U2 quando ele ocupava lugar no espaço, e do Coldplay quando era ainda uma banda inovadora e criadora de excelentes melodias. Em todo caso, vão com força na identificação do grupo: The song remains the same, novo single, fala sobre resistência, ciclos da vida. Momentos decisivos.

MOSQUITO CONTROL MUSIC, “IN THIS PARADOX”. Combinando referências de darkwave, de grupos como The Prodigy e The Chemical Brothers , e uma sonoridade eletrônica e suja que vem lá dos anos 1980, esse projeto musical norte-americano retorna com seu novo single. Para divulgá-lo, fizeram um demo-clipe com cenas do filme O dia em que a Terra parou – o originalzão, de 1951, dirigido por Robert Wise. Detalhe: o Mosquito usa a icônica bateria eletrônica TR-808 em suas músicas.

DUPLEXITY, “LOVE IN REVERSE”. Vinda dos Estados Unidos, essa dupla de irmãos segue numa linha de som pesado e pop, mas dessa vez tem um lance meio trevoso surgindo lá de longe. A voz de Savannah Jude (a “irmã” da dupla) toma conta de toda a faixa, e o clima é de balada feita para acompanhar momentos mais tristes da vida: dores de cotovelo, relacionamentos que chegam no fim, a descoberta de que aquela pessoa que você amava não era tão amável assim, etc.

DREAM BODIES, “RUN”. “Essa música é Cocteau Twins encontra The Doors”, define Steven Fleet, o criador do Dream Bodies. Faz sentido, mas não é só isso: as guitarras esparsas e os teclados têm uma baita cara de Joy Division – e o vocal grave de Steven lembra tanto Jim Morrison quanto Ian Curtis, simultaneamente. “É uma jornada eletrizante e onírica rumo ao desconhecido. Correr para ou de alguma coisa”, completa ele.

HALLUCINOPHONICS, “HAZE OF TIME” / “C’EST LA VIE”. Essa banda britânica se diz inspirada por Pink Floyd e Tame Impala e tem como missão operar “na intersecção entre consciência e som, criando paisagens sonoras psicodélicas imersivas que desafiam os limites entre realidade e devaneio”. Um som que fica entre o pós-punk e o progressivo, e que revela canções como a sombria Haze of time e a viajante C’est la vie, singles mais recentes.

DEAD AIR NETWORK, “THE FIFTH OF OCTOBER”. Banda punk de Nova Jersey montada por dois músicos experientes da região, o Dead Air Network só quer saber de som pesado, briga e enfrentamento, oferecendo seu novo single The fifth of october como resposta ao “lixo higienizado” do Spotify. O som lembra uma mescla de Motörhead, Killing Joke e GBH, com riffs pesados, clima pesado e vocais que narram o caos urbano.

ROSETTA WEST, “TOWN OF TOMORROW”. Rios de tristeza e outras coisas meio duvidosas estão no seu caminho em Town of tomorrow, a música futurista dessa misteriosíssima banda dos Estados Unidos, que já tem vários anos de carreira, fora de qualquer esquema comum. O Rosetta West faz blues-rock predominantemente acústico, em clima quase punk. Essa é do álbum novo, God of the dead.

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Lançamentos

Radar: Lara Klaus, Inseton, Monobloco, Marisa Monte, Iorigun

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Na foto, Lara Klaus

Sai da frente que o Radar nacional chega atrasado, mas chega cheio de lançamentos: Iorigun, Lara Klaus, Marisa Monte, Inseton, Monobloco… Tudo que não foi lançado hoje foi lançado bem perto de hoje. Ouça tudo no último volume para mostrar que você está ligado/ligada em sons novos – pode acreditar, isso dá sorte.

Texto: Ricardo Schott – Foto (Lara Klaus): Rodrigo Sotero/Divulgação

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LARA KLAUS, “DE SE IMAGINAR”. Pernambucana radicada no Canadá, Lara – que também é uma das fundadoras da banda Ladama – já havia lançado o single Qual sabor a paixão tem?, feito em parceria com o conterrâneo Jr Black, morto em 2022. Uma parceria com jeito de homenagem, enfim – que se repete agora com o forró-folk De se imaginar, também fruto do trabalho em dupla de Lara e Jr.

“A canção nasceu com a cadência do xote, ritmo do universo do forró, mas recebeu um novo arranjo a partir dos bandolins e da guitarra baiana de Rafael Marques”, conta ela, que gravou o clipe em Montreal, ao lado da diretora Tarsila Schott. “Ele combina imagens que gravei em 8mm, são paisagens, natureza, momentos íntimos e de introspecção, com cenas do presente. É um fio poético que conecta o vivido ao agora, lembrando que são as memórias que nos fazem vivos e nos sustentam na invenção e criação do que queremos ser”.

INSETON, “FILTRO”. Oscilando entre punk, metal e sons eletrônicos, essa banda capixaba fez de sua nova música, Filtro, um protesto contra a busca por padrões inalcançáveis. O clipe da música, dirigido por Rayan Casagrande – com roteiro dele e Jeff Chicão, vocalista e guitarrista da Inseton – une live action e animação, e traz uma boneca sendo produzida a partir de partes de outros bonecos. Traz também o dia a dia de um boneco que é moldado por um “Criador de Filtros”, uma metáfora para as pressões sociais e a indústria da estética. Letra direta, som pesado, imagens que falam bastante do nosso dia a dia e das pressões que todo mundo sofre.

MONOBLOCO, “LUCRO/DESCOMPRIMINDO” (AO VIVO). O bloco liderado pelo sambista carioca Pedro Luís tem uma parceria de duas décadas com a Fundição Progresso – que envolve vários shows e noitadas na casa. Agora essa parceria virou lançamento musical, já que o Monobloco lança um single pelo selo Fundisom, criado pela Altafonte ao lado da Fundição em 2022.

Lucro/Descomprimindo, música do repertório do Baiana System (lançada no disco Duas cidades, de 2016), foi composta por Russo Passapusso e Mintcho Garrammone, e foi a escolha da banda para integrar o projeto Ao vivo na Fundição – sim, a versão foi gravada pelo Monobloco num show dado no local. Já a letra de Lucro fala de um pesadelo bem real, em que a especulação imobiliária avança e as coisas só interessam se gerarem dinheiro. Uma letra de protesto que Pedro canta ao lado de dois outros integrantes do bloco, Mariá Pinkusfeld e Igor Carvalho, em meio à massa de percussão.

MARISA MONTE, “SUA ONDA”. Fã da ideia de lançar singles de surpresa – seja para marcar o início de turnês, complementar registros ao vivo ou apenas compartilhar um novo momento com o público – Marisa Monte apresenta Sua onda, já disponível com lyric video. A faixa, uma toada serena e meditativa, é parceria com Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, e tem produção do argentino Gustavo Santaolalla – o mesmo que tocou os violões no sucesso Ainda bem. Sua onda também é a novidade que Marisa vai incluir na turnê Phonica, prestes a estrear.

“Gustavo sugeriu a Budapest Scoring Orchestra, tocou quase todos os instrumentos e fez o arranjo. Fizemos uma gravação remota, ele em Los Angeles, eu no Rio e a orquestra em um estúdio na Hungria, numa experiência que a tecnologia nos proporcionou de conexão, compartilhamento e sintonia”, conta Marisa.

IORIGUN, “PUDESSE”. O som ágil dessa banda baiana volta em forma no novo single, Pudesse – uma das músicas que anunciam o primeiro álbum do Iorigun, planejado para o primeiro semestre de 2026, e que vai ter em seu repertório faixas gravadas de 2024 e 2025, no home studio da banda. A nova música traz uma cara mais ligada ao pós-punk, entre riffs e toques marcantes na guitarra – um tipo de sonoridade que já surgiu em parte no single anterior, Não vai valer a pena.

O clipe da faixa, dirigido por Samara Reis , faz referência simultaneamente às filmagens nas antigas câmeras analógicas, e também às gravações verticais dos stories. Foi feito durante a participação do Iorigun no Circuito Nova Música, projeto que leva bandas novas para tocar por todo o Brasil – Crystal, vocalista do Vera Fischer Era Clubber, banda que também participava do circuito, aparece de relance em algumas cenas. Já a letra fala sobre “as nuances de se relacionar com o outro. É uma música sobre amores efêmeros, projeção e desejo. Mas a sonoridade é como uma cama que você deita confortável pra pensar sobre tudo”, conta o vocalista e guitarrista Iuri Moldes.

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