Cultura Pop
Oito músicas em homenagem a Roberto Carlos
Vai aí a pergunta que muita gente se faz há vários anos: Roberto Carlos ainda é rei? E ainda há outro questionamento, geralmente feito por críticos de seu trabalho: num país que tem nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Jorge Ben e Gilberto Gil, dá para dizer que o cantor, que comemora 80 anos nesta segunda (19), é rei de verdade? Ou isso é invenção da mídia?
Resposta do POP FANTASMA: Roberto Carlos é rei e ponto final. O reinado de alguém, às vezes, é criação de uma meia dúzia de pessoas ou uma história repetida que vira verdade (e, aliás, essa mania estúpida do brasileiro com “reis” e “rainhas”, vou te contar…). Mas ele não é rei impunemente – e, enfim, nem todo mundo pode ganhar o privilégio de ser considerado rei da música brasileira. Os fatos que comprovam a liderança de Roberto estão aí: uma cachoeira de hits, um público extremamente fiel, o carisma, os shows lotados, a fidelidade do próprio artista a conceitos pop assumidos há várias décadas (e que sempre dão certo), e a certeza de que há uma canção do Roberto para cada fase da vida.
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O lado, digamos, sombrio de Roberto Carlos tem ficado de fora de algumas reportagens nas últimas semanas. Em seu aniversário de 80 anos, o cantor foi homenageado com reportagens (de todos os grandes jornais) e com lançamentos de novos livros. Ainda que não goste nem um pouco de ver sua história ocupando lugar nas livrarias, o cantor ganhou de presente Roberto Carlos, outra vez (Record), de Paulo Cesar de Araújo, Roberto Carlos: Por isso essa voz tamanha (Todavia), de Jotabê Medeiros, e Querem acabar comigo: Da Jovem Guarda ao trono, a trajetória de Roberto Carlos na visão da crítica musical (Máquina de Livros), de Tito Guedes. Só que desde sempre, ele vem ganhando também músicas em sua homenagem. Aproveitamos a data para recordar oito delas (e ah, Baby, de Caetano Veloso, não está na lista porque essa você já conhece 🙂 ).
“CONVITE A ROBERTO CARLOS” – CHICO DA SILVA. O sambista nascido em Parintins (AM) convidou o rei para “subir até o morro e na viola pegar, o samba incrementar”, nesse sucesso de 1978. Que aliás ganhou até um clipe bem animado no Fantástico, com uma turma de atores em clima psicodélico-jovem-guardista. Além de imagens de Chico descendo a Avenida Niemeyer (Leblon, Zona Sul carioca) sentado no capô de um Rolls Royce, aparentemente sem medo de se despencar lá de cima.
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“GAIVOTAS (PARA ROBERTO CARLOS)” – ANTONIO MARCOS. Roberto Carlos chegou a ter quatro iates de luxo (todos com o nome de Lady Laura, variando apenas a numeração) e é chegado em diversões marítimas, digamos. Esse hábito inspirou essa canção composta e gravada por Antônio Marcos em 1974. A gravação foi bastante inspirada nos efeitos sonoros de (Sittin’ on) The doc of bay, de Otis Redding. O cantor chegou a participar de um dos primeiros especiais de Roberto na Globo apresentando a música.
“DISCO DO ROBERTO” – THE FEITOS. Zoação punk-jovem-guardista sobre a separação de um casal, lançada no único disco da banda niteroiense, o independente Na cabeça da chorona (2007).
“UM MENINO POBRE COMO EU” – RICARDO BRAGA. O cover que deu certo: Ricardo nasceu em Mogi das Cruzes (SP), passou a fazer shows com músicas de Roberto Carlos e, em 1978, gravou um pot-pourri com várias músicas do cantor, que vendeu mais de 400 mil cópias. Sua canção em homenagem ao Rei trazia versos bem sinceros como “eu sou o Roberto Carlos dos pobres/eu sou o menino que te amava e cresceu/eu canto onde você já não pode”. A música aparece numa cena do filme Pixote – A lei do mais fraco, de Hector Babenco, interpretada por um dos garotos do reformatório.
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“ROBERTO CARLOS” – SPACE INVADERS. Homenagem muito louca (e que nada tem a ver com o som do Rei) feita pela banda mineira de pós-punk, que já foi definida como “Red Hot Chili Peppers tocado ao contrário” Saiu em 2001 no disco Nas infecções mais graves, a posologia deve ser aumentada para 100 angstrons (2 comprimidos ao dia).
“DESCULPE ROBERTO” – ALÍPIO MARTINS. Tem muita gente que acha que esse cantor paraense é que deveria ser o rei do brega, e não Reginaldo Rossi. Nesse clássico do estilo, lançado em 1979, Alípio diz que não vai comprar o disco novo do cantor, porque já está sofrendo demais por causa de um pé na bunda.
“ROBERTO MEU AMIGÃO” – ED CARLOS. Lançado no mercado musical por Roberto (daí ele também ter adotado o “Carlos” como sobrenome), Ed voltou a fazer sucesso em 1979 com essa canção delicadamente chupada do hit Amigo.
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“ROBERTO NÃO CORRA” – ANTONIO CARLOS & JOCAFI. Groove pós-tropicalista de primeira linha. O primeiro single dessa dupla baiana, lançado em 1970, pregava: “Roberto, não corra, não/você se trumbica, Roberto, na estrada de Santos”. Participação de Rildo Hora (gaita) e Lanny Gordin (guitarra).
A pesquisa desse texto foi feita no IMMUB.
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Foto lá de cima: Divulgação
Cultura Pop
No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970
No começo de sua carreira solo, John Lennon era um artista brigão, politizado, dado a excessos, que estava de cara virada para seus ex-colegas de Beatles, e que havia encontrado um pouco de paz em seu relacionamento com a artista asiática Yoko Ono. Em meio a isso, alternava protestos, álbuns experimentais (ambos feitos com a nova esposa) e seus primeiros singles, com músicas guerrilheiras como Cold turkey e Instant karma!
Entre 1969 e 1970, parecia que acontecia de tudo na vida dos Beatles. E por tabela, na vida de John, que vivia um dia a dia de brigas, entrevistas malcriadas, gravações novas, ameaça de falência, problemas no novo casamento e um processo de autodescoberta que aconteceu depois que um certo livro apareceu na sua caixa de correio… A gente termina a temporada de 2024 do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, recordando tudo que andava rolando pelo caminho de Lennon nessa época. Termine de ouvir e ataque a super edição turbinada de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que chegou às plataformas em 2020. E, ei, não esqueça de escutar Yoko Ono/Plastic Ono Band, que saiu junto do disco de John.
Século 21 no podcast: Juanita Stein e Caxtrinho.
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
(temos dois episódios do Pop Fantasma Documento sobre Beatles aqui e aqui).
Crítica
Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)
Sério que Songs of a lost world, álbum novo do The Cure, já ganhou rapidamente uma edição deluxe com um registro ao vivo de todas as faixas do álbum? Sim, ganhou essa edição acrescida do rabicho Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV. Até porque se o disco já fez bastante sucesso, a noite de lançamento do álbum foi inesquecível – com um show da banda em 1º de novembro no Troxy London, tocando todo o repertório do começo ao fim, além de vários hits. E é justamente o repertório do disco executado nessa noite, ao vivo, que surge como “disco 2” do álbum.
O Cure, redescoberto por novas gerações e por uma turma que não necessariamente é fã deles, mas curte os hits e gosta de curtir uma fossa, meio que vai tentando dar uma de U2: além de oferecer mais um mimo para os fãs, a banda vai doar todos os royalties deste lançamento para a instituição de caridade War Child. Na loja online do grupo existe um hotsite (ainda se usa esse termo?) só para as diferentes versões de Songs of a live world e para duas edições diferentes em vinil vermelho de Songs of a lost world: uma deles apenas com o disco original, e outra em formato duplo, trazendo as músicas em versões instrumentais no disco 2 (reparem bem: Songs tem músicas em que o vocal começa quase no fim da faixa, e que já são quase instrumentais, mas aí vai quem quer).
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O show inteiro daquela noite possivelmente você já viu no YouTube (se não viu, veja lá embaixo deste texto). E possivelmente você ficou impressionado/a como o The Cure voltou disposto a se transformar num espetáculo. Só que sem as presepadas do Coldplay e sem os truques de mágica do U2: é só a banda, num cenário escuro e esfumaçado, com muito peso e imponência visual e auditiva. As músicas do álbum transportadas para o “ao vivo” soam um pouco mais humanizadas, especialmente no caso de canções que, no disco, eram torrentes de ruído, como Warsong e Alone.
And nothing is forever destaca a magia dos teclados que, rearranjados, poderiam estar até num disco do Péricles – esse lado popularzão sem deixar de ser “dark” sempre foi uma das grandes forças do Cure. A ambiência do Troxy deixou músicas como I can never say goodbye (feita por Robert com o pensamento na morte de seu irmão mais velho Richard) e Endsong bem menos robóticas e desprovidas de qualquer traço de frieza. Se o disco novo do Cure é triste, a contrapartida ao vivo é a prova de que o show é feito para fãs que curtem chorar baldes ouvindo música. E tá tudo bem.
Nota: 9
Gravadora: Fiction/Polydor
Crítica
Ouvimos: Dead Boys, “Live in San Francisco”
A Cleopatra Records, uma gravadora de Los Angeles que se dedica a lançar em edições oficiais-ou-quase antigos discos piratas (boa parte deles de punk rock, psicodelia e pedradas obscuras dos anos 1960) revisita agora o catálogo de bootlegs dos Dead Boys, com esse Live in San Francisco.
O show foi gravado em 2 de novembro de 1977, na época de lançamento da estreia do grupo, Young, loud and snotty (1977) e já esteve nas lojas com vários nomes: Live 1977, Live in Old Waldorf (local em San Francisco onde rolou o tal show), Down in flames, etc. Não muda o fato de que é um piratão legítimo, com qualidade de gravação de demo antiga (foi tirado na verdade de uma transmissão da emissora KSAN-FM) e sem muitos tratamentos. Mostra pelo menos o peso do grupo na época, além de uma seleção de faixas de Young, além de algumas que sairiam só no segundo álbum, We have come for your children (1978).
O material dos Dead Boys seria bastante influente em gerações posteriores do punk, do power pop e até do rock pauleira (Guns N’Roses, por exemplo). A abertura com Sonic reducer e All this and more mostra um estilo de punk rock herdadíssimo de artistas como Alice Cooper, Ramones, David Bowie, Rolling Stones, New York Dolls. Um som que, mesmo antes do vocalista Stiv Bators abrir a boca, já se impunha pela atitude, pelas microfonias e pelo clima descompromissado musicalmente – no nível da desafinação em alguns momentos, como em All this and more, a desbocada Caught with the meat in your mouth e outras, todas aplaudidas por uma plateia audivelmente pequena, mas animada.
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- Stiv Bators: o “outro nome” do punk em documentário
- Entrevista: Frank Secich fala sobre a pouco lembrada (e ótima) carreira solo de Stiv Bators
Flame thrower love, que sairia só no segundo disco, está no álbum ao vivo e já trazia uma diferença em relação ao material anterior: era uma canção punk basicamente construída em cima de um riff pesado, algo bem mais próprio do hard rock. A destrutiva Son of Sam, entre gritos de Stiv e viradas erradíssimas do baterista Johnny Blitz, era formada por uma estranha mescla de pós-punk deprê e acordes poderosos na linha do The Who. No final, a cacofonia de Down in flames, cantada por Bators quase sem voz, e a homenagem aos Stooges com a releitura de Search and destroy, com microfonias no fim.
Os Dead Boys não sobreviveriam, pelo menos inicialmente, ao excesso de drogas, às incompreensões do mercado e a seu próprio comportamento destrutivo. O grupo voltou em 2017 e recentemente anunciou um disco gravado por uma turma all-stars, liderada pelo guitarrista original Cheetah Chrome – disco esse que já causou polêmica porque o vocalista Jake Hout acusa a banda de querer usar a voz do falecido vocalista Stiv Bators em IA. Só vendo, mas o passado, com todos os seus defeitos e qualidades, tá aí.
Nota: 7,5
Gravadora: Cleopatra Records
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