Lançamentos
Radar: onze sons que chegaram até a gente pelo Groover #2

O Pop Fantasma já tem perfil na plataforma Groover, em que artistas independentes podem mandar suas músicas para vários curadores – nós, inclusive. O time de artistas que vem procurando a gente é bem variado, mas por acaso (ou talvez não tão por acaso assim) tem uma turma enorme ligada a estilos como pós-punk, darkwave, eletrônico, punk, experimental, no wave e sons afins.
Abaixo, você fica conhecendo mais onze nomes do Groover que já passaram na nossa peneira e foram divulgados pela gente no site. Ponha tudo na sua playlist e conheça.
TZUCASA. Nascida em Tókio e criada em Londres, essa artista (cujo nome é uma brincadeira com a expressão “mi casa, tu casa”, misturado com suas raízes japonesas) tem três singles lançados e prepara um álbum chamado 222, inspirado por uma viagem ao Japão em 2024, durante a qual ela descobriu a história de um de seus parentes, Shuu-u Kimura, um policial que virou monge e poeta. Miracle that you’re here, single mais recente, mostra uma espécie de indie soft rock, que tem referências tanto de Pixies e Bjork quanto de Sade.
Ouça: Miracle that you’re here.
VASES. Não é uma banda: é o nome que um músico chamado Ty Baron, morador de Los Angeles, escolheu para o seu projeto, que já tem sete singles lançados e une estilos como industrial, shoegaze e darkwave. Strange mathematics anuncia o EP Pure heat, que está vindo aí. “Essa música fala sobre quando você vê, sem esperança, o fracasso de um relacionamento – tudo por causa de uma pessoa que se destroi e deseja que você possa fazer a dor dela parar”, avisa.
Ouça: Strange mathematics.
VALE CINZA. Do clima calmo de Nova Friburgo (RJ) emerge uma banda de darkwave e pós-punk. “Inspirados pelos vales verdes e cinzentos da região serrana, o grupo captura a essência bucólica, fria e única da cidade em sua música”, contam. O EP epônimo do grupo, para combinar, saiu numa sexta-feira 13 (em dezembro) e tem as faixas Flecha nos olhos, Silêncio e Vale neblina, duas delas produzidas por Dennis Guedes (The Outs).
Ouça: Flecha nos olhos.
THE MC2 PROJECT. Essa banda só tem dois integrantes: Larisa Gorodinski (piano) e Anthony A-man (guitarra). Os não-oficiais Alex Bityutskih e Matt Skellenger colaboram com bateria e baixo, respectivamente. A ideia dos dois é fazer um som que opere entre o metal e o progressivo. O clima do som é a quase ficção científica de bandas como Rush e Dreram Theatre – embora as músicas sejam instrumentais. Larisa e Anthony são também bastante produtivos: de 2022 até agora já foram três álbuns, um por ano.
Ouça: Rising.
STRAIGHT RAZOR. “Uma mistura de synthwave e dark wave com uma batida forte e vocais temperamentais”. Essa definição clínica é dada por Omar Doom, criador do Straight Razor e ator e músico norte-americano de 48 anos – ele interpretou o soldado Omar Ulmer no filme Bastardos inglórios, de Quentin Tarantino. Também atuou em dois outros filmes do diretor, Death proof e Era uma vez em Hollywood. O primeiro álbum do projeto, Casualty, saiu numa sexta feira 13 (em dezembro).
Ouça: The end.
SWAMP MUSIC PLAYERS. “Somos um coletivo musical retrô futurista apaixonado por swamp rock, swamp blues e cosmic americana”, dizem eles no Groover. Antes que você comece a se perguntar o que significa esse último estilo musical, vale informar que o som dos Swamp Music Players parece um sonho que Neil Young teve na época do malucaço disco Trans (1983), aquele álbum que unia eletrônica, new wave, vanguarda e folk–rock (!). As músicas têm andamentos tortos, influências de blues e country e vocais distorcidos. Nuclear bogeyman, um dos singles mais recentes, fala de uma espécie de “homem do saco” da guerra nuclear.
Ouça: Nuclear bogeyman, claro.
MAGIC ROOM ECHOES. Vamos deixar essa banda do Colorado, Estados Unidos, explicar o próprio som. “Nosso álbum Kingdoms é muito experimental, mas acessível. Nero foi a última música que escrevemos e gravamos. Sua vibe é bem tranquila e há influências muito fortes de dream pop e shoegaze. Você também notará toques de psicodélico, lo-fi e space rock”. Kingdoms, que ganhou também uma simpática edição em vinil, tem outras músicas tão legais e pesadas quanto essa, como New world vulture, Across hare e Feeding snakes, numa onda musical-lírica que une shoegaze e magia.
Ouça: Nero.
DUSTY LUCITE. O som dessa banda de Portland, Estados Unidos, é uma psicodelia relaxante, lembrando um pouco grupos como Pink Floyd, mas com um certo toque de pós-punk em arranjos e andamentos musicais. The rate of change of the rate of change, single mais recente, é uma espécie de valsa neopsicodélica cuja letra fala de temas muito importantes. “A letra é sobre o incômodo desconforto sentido por um mundo onde as emergências climáticas estão aumentando, e os gritos literais dos cientistas do clima estão sendo amplamente ignorados. O clipe revela alguns dos impactos devastadores que as mudanças climáticas infligiram ao mundo ao longo do verão de 2024”, contam no Groover. Overdose de lucidez, enfim.
Ouça: The rate of change of the rate of change.
DIMA ZOUCHINSKI. Se você procurava por um som de rock de garagem cantado por um vocalista que lembra uma mistura de Lemmy Kilmister (Motörhead) , John Lydon (PiL) e Ian Dury, seus problemas acabaram. O britânico Dima, que lançou em agosto o álbum Later fate, é bem próximo disso aí. Ele diz ser um compositor bem produtivo: “escrevo músicas desde os 15 anos, tenho mais de cem composições e praticamente escrevo músicas a cada quinze dias desde então”, afirma no Groover.
Ouça: Drug dealer.
INDIE DOG. O som desse quarteto de Johannesburgo, África do Sul, é basicamente rock clássico com uma certa aparência adulta-contemporânea (um “mix de rock, blues, funk e folk”, como se definem). O grupo começou em 2018 e já gravou dois álbuns (Theory of emotion, o mais recente, saiu em 2023), além de mais dois singles em 2024.
Ouça: Nothing but day.
HAGA187. O som dessa one man band francesa é bem estranho: Peter dos Santos, único integrante do grupo, compõe tudo a partir de linhas de baixo intermitentes, e vai inserindo ruídos, alguns barulhos de guitarra e vocais sempre em tons graves, às vezes lembrando um Serge Gainsbourg bem louco. Todos os álbuns do Haga187 tem a mesma capa, com algumas (poucas) variações – em dezembro saíram Don’t worry I’m only psychotic e A clockwork for breakfast, repletos de uma psicodelia pós-punk (musicalmente, o som de Peter localiza-se entre Wire, Suicide e PiL).
Ouça: Alice follows the rabbit (into a new world).
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Lançamentos
Radar: Melody’s Echo Chamber, Dry Cleaning, Jay Feelbender, Dust, Tortoise

Tem muitas bandas e artistas que deixam uma cordilheira de fãs saudosos – seja porque deram um tempinho, seja porque seus discos se parecem com aquelas novelas que todo mundo quer acompanhar, com evoluções, mistérios e plot twists. O Dry Cleaning é uma dessas bandas, o Melody’s Echo Chamber é outra, e o Tortoise, mais uma delas. E olha só que máximo, todas estão no Radar internacional de hoje com sons novos. Ouça e aproveite.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Melody’s Echo Chamber): Diane Sagnier/Divulgação
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MELODY’S ECHO CHAMBER, “IN THE STARS”. Seus problemas acabaram: a francesa Melody Prochet, criadora do projeto musical Melody’s Echo Chamber, vai lançar um álbum novo sob o codinome. Unclouded está previsto para sair dia 5 de dezembro pelo selo Domino. Mais pop etéreo e influenciado pelos anos 1960 a caminho, então – ainda mais se levarmos em conta o single In the stars, que acaba de sair e já ganhou clipe, dirigido por Diane Sagnier e repleto de cenas enevoadas.
O disco que vem aí tem coprodução de Sven Wunder (Danny Brown) e participações de Reine Fiske (Dungen), além de Daniel Ögen e Love Orsa (Dina Ögon). Melody, falando sobre o disco, conta que sua música “habita, de forma incomum, a zona liminar entre o realismo e as fábulas. Mas quanto mais experiência de vida tenho, mais profundamente amo a vida e menos preciso escapar”, filosofa.
DRY CLEANING, “HIT MY HEAD ALL DAY”. Pelo jeito, a banda londrina vem disposta a mudar muita coisa em seu som no terceiro disco, Secret love, previsto para dia 9 de janeiro de 2026, com produção de Cate Le Bon. Florence Shaw (vocal), Tom Dowse (guitarra), Nick Buxton (bateria) e Lewis Maynard (baixo) voltam num clima que mistura Talking Heads e Rolling Stones no novo single, Hit my head all day. Sly & The Family Stone e seu sucesso There’s a riot going on também foram grandes inspirações para a faixa, como diz Florence.
“A música fala sobre a manipulação do corpo e da mente. A letra foi inicialmente inspirada pelo uso de desinformação nas redes sociais pela extrema direita. Existem pessoas poderosas que buscam influenciar nosso comportamento em benefício próprio: para comprar certas coisas, para votar de determinada forma. Tenho dificuldade em ler as intenções das pessoas e decidir em quem confiar, até no dia a dia. É fácil cair sob a influência de um estranho sinistro que parece um amigo”, conta ela.
JAY FEELBENDER, “BENNY’S SLEEPOVER”. Voltado para uma mescla de power pop, folk e sons ruidosos que aparecem de repente, o músico canadense Jacob Switzer montou o projeto musical Jay Feelbender e acaba de lançar o EP Benny’s sleepover – um daqueles lançamentos que basicamente tratam de temas agridoces em meio a sons melódicos e barulhentos. A faixa-título fala de uma situação estilo Garotinha Ruiva do Charlie Brown: aquele momento em que a garota que você ama vai parar no radar sentimental do seu melhor amigo. O som é formado por três minutos de catarse emocional.
DUST, “RESTLESS”. “Uma figura proeminente vagueia vagarosamente como um espectador das atrocidades de um mundo pós-capitalista”, afirma o release desse single novo do grupo pós-punk australiano Dust – e que adianta o lançamento da estreia Sky is falling, prevista para o dia 10 de outubro. Restless é uma faixa tensa, depressiva, cheia de saxofones que operam na mesma atmosfera maníaca das primeiras canções dos Psychedelic Furs – mas que vão sendo trilhados num corredor melódico bacana. Os vocais são o mais puro desespero controlado, com versos como “preciso do seu ombro / só quero ser livre”, e diálogos poéticos que parecem confortar o/a ouvinte lá pelas tantas.
TORTOISE, “WORKS AND DAYS”. Lá vem de volta um dos maiores nomes do post-rock: o Tortoise lança Touch, seu primeiro álbum em nove anos, no dia 24 de outubro. Oganesson e Layered presence já sairam em single, e agora é a vez de Works and days sair em single e também em clipe. Uma música de psicodelia leve e estileira fina, em que rock, ambient e climas eletrônicos vão se alternando – já o vídeo mostra várias cenas urbanas por um viés bem louco e despersonalizado, em que pessoas caminham pelas ruas à procura de seus próprios destinos, mas os rostos delas não são mostrados.
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Crítica
Ouvimos: Nova Twins – “Parasites & butterflies”

RESENHA: No terceiro álbum Parasites & butterflies, Nova Twins misturam rap-metal, r&b e peso noventista em faixas cheias de atitude.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Marshall Records
Lançamento: 29 de agosto de 2025.
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Tem quem já tenha falado que Nova Twins é a mistura perfeita de Spice Girls e Rage Against The Machine – até faz sentido, mas o lance ali é mais assustador que essa combinação, em termos de norte atitudinal e peso musical. No terceiro álbum, Parasites & butterflies, há uma combinação de beleza e susto no título, e uma receita sonora própria do metalcore em faixas como Glory, Piranha e Parallel universe, além do jungle de Drip.
- Ouvimos: The New Eves – The New Eve is rising
Aliás, quase todo o disco é baseado numa receita certeira de rap-metal para rodas de pogo. Que rende também proximidades com o r&b nas ótimas Soprano (pop do mal, pesado e distorcido, que lembra o peso dos anos 1990), Monster e Sandman. Ou em Hide & seek, um dos raros momentos não tão interessantes do álbum, marcada pelo empoderamento e pelos versos espertos na letra (“você não pode me pegar / eu corro, você me segue”).
Das experimentações realizadas por Amy Love e Georgia South, as que mais chamam a atenção são a vibe Body Count de N.O.V.A., o metal-gospel de Hummingbird (a melhor do disco) e a auto-homenagem do funk-house-metal Black roses. Tudo é feito com tanta personalidade que em vários momentos de Parasites & butterflies, as duas poderiam descambar para o nu-metal ou algo parecido. Acaba não rolando porque, no rolé das Nova Twins, só vale peso quando tem memória e balanço. Felizmente.
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Crítica
Ouvimos: David Byrne – “Who is the sky?”

RESENHA: David Byrne lança Who is the sky?, disco irregular mas envolvente, entre boas histórias, ecos de XTC e Beatles e momentos de otimismo.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Matador
Lançamento: 5 de setembro de 2025
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Falando em primeira pessoa: tive sentimentos conflitantes ouvindo este Who is the sky?, novo disco de David Byrne gravado ao lado da Ghost Train Orchestra. Vi isso consultando minhas anotações (sim, eu ouço discos anotando, à mão). Por exemplo: não pude deixar de exclamar um animado “caralho, que foda isso!” ao lado de I met the Buddah at a downtown party, uma canção bonitinha que Byrne fez contando a história de um sujeito que viu Buda cometendo excessos numa festa.
David Byrne sempre foi bom contando histórias, desde o comecinho dos Talking Heads – e sempre foi bom em achar o melhor caminho para fazer com que elas chegassem ao público. Só que lá pelas tantas bateu um certo ranço: será que Who is the the sky? é tudo isso aí mesmo? E o “pensa bem” veio acompanhado de algumas constatações. Uma delas é a de que mesmo o que há de bom em Who is the sky? soa meio repetido: Byrne parece ter se inspirado MUITO em Day in, day out, do XTC, para fazer When we are singing, e juntou elementos de She’s leaving home, dos Beatles, em A door called no. O tipo de coisa que você talvez desculparia no Oasis, mas aqui não rola.
Tem as letras: Who is the sky?, na real, varia entre o otimismo e o papo de coach. Isso rola quando Byrne fala sobre as portas fechadas da vida (A door called no), sobre como a criatividade das pessoas vai sendo podada (Don’t be like that) e até sobre como as paredes de um apartamento podem contar histórias (My apartment is my friend). Na real, fica até a expectativa de que Byrne aprofunde o discurso de boa parte dessas letras em algum outro canto – numa entrevista, numa newsletter, ou sei lá o quê – porque são histórias que, ao jogarem a bola para o/a ouvinte concluir, soam incompletas. Aliás, essa incompletude é comum a vários discos de Byrne, com boas ideias que atiram para vários lados.
- Ouvimos: The Who – Live at The Oval 1971
Como artista solo, Byrne nunca perdeu a vibe maníaca que ele desenvolveu na época dos Talking Heads – uma coisa de brincar com os próprios sentimentos, sensações e constrangimentos, e jogar tudo nas músicas. É o que surge na vibe comemorativa de Everybody laughs, e também nas lembranças de Beatles e Wings de When we are singing e The avant garde. O ragga The truth mexe numa ferida aberta universal (“a verdade é a última coisa que um homem quer ouvir”, diz a letra) e acaba deixando o otimismo de lado para bater forte. Tem ainda o folk beatle-beachboy She explain things to me e a latinesca What’s the reason for it? (com Hayley Williams), que mantêm o astral do disco – e funcionam bem.
Byrne é sempre um bom encantador de serpentes: você passa até por cima das falhas de Who is the sky?, e de um certo ranço pessoal com a figura proeminente-àààà-beça dele, porque fica bem difícil resistir a um disco que, em 2025, tem evocações do XTC. Ou porque o clima pastoril de algumas músicas acaba ganhando. E isso tudo, ainda que você estivesse esperando ver alguma estrutura sendo abalada com um disco novo dele – aliás, vale citar que o próprio Byrne, no release de lançamento, explica que o principal assunto de Who is the sky?, é ele próprio, suas circunstâncias e trabalhos colaborativos.
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