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Radar: Memórias de Ontem, Paira, Bruna Vilela, Hilreli, Personas, Riviera, Pedro Lanches

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Radar: Memórias de Ontem, Paira, Bruna Vilela, Hilreli, Personas, Riviera, Pedro Lanches

Duas bandas com trajetórias entrelaçadas abrem o Radar Nacional de hoje: Memórias de Ontem e Paira, ambas de Minas Gerais. A conexão vai além da cena local – a vocalista do Paira colaborou na arte da capa do novo single do Memórias. Tem mais gente de Minas aqui: Bruna Vilela também é de lá. Poucas coisas fortalecem tanto o senso de comunidade quanto a música. Que esse espaço sirva não só para apresentar novos sons aos ouvintes, mas também para aproximar artistas, provocar encontros e inspirar colaborações.

Texto: Ricardo Schott – Foto Memórias de Ontem: Igor Monte/Divulgação

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MEMÓRIAS DE ONTEM, “TRANSLÚCIDO”. Esse é o último single dessa banda mineira antes do lançamento do álbum. Gabriel Campos (guitarra e vocal) e as irmãs gêmeas Camila Nolasco (baixo) e Alice Eskinazi (bateria) fazem rock triste, com vibes melancólicas e melodias que vão do noise-rock ao tom mais contemplativo. Música e clipe vêm da força da turma do rock mineiro: Clara Borges (do Paira, que por sinal aparece neste mesmo Radar) fez o design do single, e tanto da faixa quanto do clipe, participam Clara Bicho (que é irmã gêmea de Gabriel e faz backing vocals na canção) e João Carvalho (do El Toro Fuerte, toca teclados na faixa). Ambos estão na foto acima, com o trio.

Já as lembranças das quais Translúcido vêm não são nada amigáveis: Gabriel fez a letra pensando nas pessoas que nem davam “oi” pra ele, e que começaram a forçar a simpatia quando descobriram que ele e Clara faziam música. “Até por isso achei legal minha irmã participar da música também. Não é nada direcionado a ninguém específico, é só uma coisa recorrente que aconteceu”, conta.

PAIRA, “CONFISSÃO”. Clara Borges e André Pádua, os dois integrantes da banda mineira Paira, são chegados numa sonoridade que une as vibes dançantes do UK garage, indie rock, emocore, shoegaze e as vibrações do dream pop. Junte tudo isso e dá o som da dupla, que anuncia agora o segundo EP (EP02, continuação do EP01 lançado em 2024 e resenhado pela gente aqui). Confissão, o primeiro single do disco, é uma canção enevoada que fala sobre autodescobertas e recomeços, mesmo diante das dificuldades. “Acho que eu sei / quem sou / faço agora / o meu compromisso / de estar de volta”, diz a letra. Filmado em 16mm e dirigido por Patrick Hanser, o clipe da faixa é tão nebuloso quanto a canção.

BRUNA VILELA, “RIMA DA GLOTE”. Essa cantora, guitarrista e compositora mineira fez parte de bandas como Miêta e Ginge. Iniciando carreira solo, ela aparece com o single-clipe misterioso Rima da glote, buscando uma via sonora que une a improvisação do jazz e do blues, e o som esparso do shoegaze. O vídeo, dirigido por Thaylane Cristina, foca nos braços e nas mãos de Bruna e dos outros músicos, em meio à execução da faixa – vai ter muita gente com olho grudado na tela, tentando pegar todos os riffs, solos e batidas. Já a letra usa várias metáforas para falar sobre o que não falamos – as coisas que travam antes de serem ditas, os limites da fala, o pensamento que não alcança nossa própria vontade de expressar.

HILRELI, “TAGADAH”. “A gente merece existir por inteiro. Com desejo, com dor, com amor, com festa, com voz”, diz o cantor mineiro Hilreli, que celebra a vida, o afeto e a liberdade no disco Dance aqui, cheio de faixas dançantes e de misturas de ritmos. Tagadah, uma das músicas, é um batidão que parece um maracatu, mas que tem seu timão guiado para um quase axé, com percussões e guitarras. Na letra, ele explica didaticamente que quem escolhe nossos caminhos, apesar dos pesares e dos desafios do dia a dia, somos nós mesmos – e que desafiar padrões é tarefa diária. “Inventaram uns trem pra cê seguir que não vai rolar”, avisa em bom mineirês.

PERSONAS, “PRESSA”. Entre estilos como emo e pós-punk, a banda Personas, de São José dos Campos (SP) prepara o disco Qualia. Pressa, primeiro lançamento da banda com Pablo Hanzo nos vocais, adianta o álbum, e fala na letra sobre a necessidade da gente sair da nossa bolha e olhar ao redor. Pablo conta que a música foi insporada num dia em que estava atrasado para o trabalho e, ao passar por uma ponte, viu um rapaz com uma expressão pesada, olhando justamente para a beira da ponte.

“Tomado pela pressa, apenas segui meu caminho. O arrependimento veio depois, quando fiquei pensando sobre o que teria acontecido com aquele rapaz e me questionando até que ponto estamos dispostos a abrir mão de nossa humanidade para cumprir metas, horários e obrigações”, conta.

RIVIERA, “A DOR E A CURA”. A dor às vezes é transformação e “é bem mais que doer”, como diz a letra da música nova do Riviera, que hoje é um projeto solo de Vinicius Coimbra. Com inspiração na música pop brasileira e em som introspectivo na linha de Bon Iver, ele compôs A dor e a cura, cujo clipe mostra o sofrimento de uma mulher – interpretada pela atriz Larissa Bocchino – numa estrada deserta.

“É uma música sobre o instante em que a ferida ainda dói, mas você já começa a perceber sinais de cicatrização. Uma esperança que nasce da vulnerabilidade”, explica Vinícius, que vai adotar uma maneira inovadora para lançar o próximo disco do Riviera: Com o passar dos anos terá duas partes, Passado/Presente e Presente/Futuro. A primeira sai agora mesmo no segundo semestre, a segunda só no começo de 2026.

PEDRO LANCHES, “EU ME LEMBRO DE TUDO”. Esse cantor e compositor lançou no ano passado um álbum de nome irônico, Veio sem maionese. Dessa vez, é hora de Eu me lembro de tudo, seu single mais recente, virar clipe. Entre lembranças angustiadas e paredes de guitarra, o clipe transforma o cenário melancólico da letra em escuridão, luzes diretas e tempestades no céu. No final, a canção fica mais rápida e lembra um pouco o Smashing Pumpkins da época de Siamese dream (1993).

Lançamentos

Radar: Audrey Hobert, Naima Bock, Sistema Nervioso, Messiness, Almareas, Matías Roden, Ark Identity

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AUDREY HOBERT, "BOWLING ALLEY". Essa cantora e compositora norte-americana segue firme no pop confessional com Bowling alley, seu segundo single.

E lá vem mais um Radar internacional – como sempre, unindo nomes pop que com certeza estão próximos do estouro, e outros que fazem sons com os quais as paradas precisam ainda se acostumar. Aubrey Hobert talvez seja uma das próximas sensações do pop com seu primeiro álbum, Messiness volta à psicodelia do rock britânico dos anos 1990, Almareas mete bronca no rock ruidoso, Naima Bock faz folk dolorido e realista quanto aos sentimentos do dia a dia, e vai por aí. Ouça tudo no volume máximo.

Texto: Ricardo Schott – Foto Aubrey Hobert: Divulgação

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AUDREY HOBERT, “BOWLING ALLEY”. Essa cantora e compositora norte-americana segue firme no pop confessional com Bowling alley, seu segundo single. Numa pegada acústica e divertida, a faixa fala sobre inseguranças sociais e o incômodo de ser notada só quando algo seu viraliza. É pop de quarto com alma de diário: sincero, direto e cheio de charme. Audrey já compôs com Gracie Abrams, sua amiga de infância, e começa a marcar presença com um som que mistura vulnerabilidade e sagacidade na medida.

Bowling alley é sobre achar que ninguém quer que você vá à festa deles, mesmo tendo sido cordialmente convidado (um sentimento egocêntrico). E também sobre pessoas que você conhece há anos só te reconhecerem quando você faz algo artisticamente empolgante e aos olhos do público. Eu já passei pelas duas coisas e pensei: ‘Caramba, bota música, garota!”, conta ela. Confira abaixo o clipe da faixa, feito por ela própria, e um daqueles vídeos que você vai querer assistir várias vezes na vida. Who’s the clown?, primeiro álbum de Audrey, sai dia 15 de agosto e traz os três singles: Bowling alley, Sue me e o mais recente, Wet hair.

NAIMA BOCK, “ROLLING”. Saiu single novo dessa cantora britânica de vocais extensos e cheios de variações melódicas. Rolling é uma doce balada folk, que se sustenta na voz e no violão durante quase toda a sua duração (outros instrumentos só aparecem no final) e que, segundo ela, não se encaixou bem em seu álbum anterior, Below a massive dark land (2024), mas valia lançar.

A canção foi escrita durante uma viagem de trem de Glasgow para Londres e Naima tem certeza “de que a letra vai ressoar com algumas pessoas”. Não é por acaso: Rolling é um recado direto para quem não tem compromisso algum com os sentimentos alheios. “Tentar caber num coração quebrado / só faz com que eu mesma seja esquecida”, conta ela na letra.

SISTEMA NERVIOSO, “NUNCA NADA”. Pós-punk direto da Espanha, com riffs distorcidos, vocal falado e tecladeira suja. O Sistema Nervioso fala em Nunca nada sobre a relatividade das escolhas diante do fim, e sobre os caminhos duvidosos da vida (olha o refrão, que fazemos questão de não traduzir: “nunca nada es suficientemente bueno o malo / todo lo horizontal lo verás en vertical /¡ gira la cabeza !”). Bloc Party, Vampire Weekend e ecos da banda espanhola Perro aparecem como referências num som urgente e direto, com menos de três minutos. Um labirinto emocional embalado por um groove tenso e inteligente. E o clipe é um primor de videoarte das antigas.

MESSINESS, “FATALLY”. No fim do ano sai o primeiro álbum desse grupo indie-psicodélico, que une rock, krautrock, hip hop, lisergia, escalas arábicas e ciganas, e coisas que lembram a turma de Madchester, nos anos 1980/1990. E dessa vez, eles voltam numa vibe musical que une power pop grudento, britpop e sons herdados do pop feminino sessentista. Mas o tema de Fatally é grave e sério: dependência química, rehabs e toda a desfragmentação que vem na sequência das internações e recaídas. “É uma introspecção dolorosa sobre o vício, a reabilitação e o peso esmagador do tempo que avança sem parar”, diz Max Raffa, criador do grupo.

ALMAREAS, “ANDY”. Uma banda argentina de shoegaze e rock ruidoso em geral – e que canta em inglês, e é contratada por um selo londrino especializado em bandas do barulho, o Shore Dive. Almareas acaba de lançar o EP One day, e encerram o trabalho com a lenta e sufocante Andy, uma música que abre numa calma quase fúnebre, com guitarra e vocal baixo, até partir para os decibéis altos e para as paredes de guitarra. Tem algo de Velvet Underground e de My Bloody Valentine espalhado na melodia e no arranjo.

MATÍAS RODEN, “ANGELS IN THE NIGHT”. De origem peruana, Matías vive em Vancouver, Canadá, e faz um som que pode entrar tranquilamente na gavetinha do tecnopop, ou daquela junção entre climas oitentistas e rock progressivo que marcou trabalhos de Marillion e Peter Gabriel – ele cita nomes como Depeche Mode e Pet Shop Boys como algumas de suas grandes influências, e suas letras lidam com temas como alienação, saúde mental e sexualidade. Momentos de depressão e dias de glória depois da luta marcam o sensível single Angels in the night, cujo clipe mantém o foco em Matías, sempre iluminado por um spot.

ARK IDENTITY, “STILL IN LOVE”. O som de Noah Mroueh, produtor e compositor canadense que esconde atrás do nome Ark Identity, mistura dream pop, indie e R&B alternativo. E o single Still in love (que adianta o EP Deluxe nightmare, previsto para 14 de outubro) une esses estilos musicais em torno de uma letra que narra o impasse emocional de um amor que não vai embora – mesmo quando já devia ter ido. O clipe da faixa tem o mesmo aspecto vintage e oitentista da música.

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Ouvimos: Wado – “Obstrução samba”

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Com 21 minutos, Obstrução samba, de Wado, impressiona pela completude e reinvenções criativas de faixas feitas com Momo. Um disco breve e denso.

RESENHA: Com 21 minutos, Obstrução samba, de Wado, impressiona pela completude e reinvenções criativas de faixas feitas com Momo. Um disco breve e denso.

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Nem sempre álbuns curtos costumam ser completos – alguns às vezes ficam com uma baita cara de mixtape, de ponte entre um trabalho e outro, ou de EP bem fornido. Pois bem: Obstrução samba, disco novo de Wado, tem 21 minutos (é menor que o lado A de muitos álbuns) e chama a atenção justamente pela completude e pelos universos visitados ao longo da audição.

O conceito de Obstrução samba nasceu do documentário As cinco obstruções, de Lars Von Trier e Jørgen Leth, no qual Lars propõe a Leth a refação de um filme dele. A “obstrução” aqui foi que Wado retrabalhou músicas que havia composto com o músico Marcelo Frota, o popular Momo, para um álbum deste lançado em 2023, Gira. E incluiu outras faixas na lista final.

No caso do primeiro single, o samba-funk Jão, originalmente gravado por Momo, já dava pra sentir as mudanças de cara. A leitura de Wado, que traz a participação de Fábio Trummer (Eddie), é menos afrobeat que o original de Momo e joga na área do samba-rock, com emanações de Mundo Livre S/A e Paralamas do Sucesso (este, nos metais, que têm algo do hit Pólvora).

  • Ouvimos: Vinicius Barros – Cidadela
  • Ouvimos: Beto – Matriz infinita do sonho

Gira, Para e Passo de avarandar estão entre as outras, gravadas com participações especiais (João Menezes, Marina Nemesio e a dupla Priscila Tossan/Janu respectivamente). A primeira é afoxé-pop com metais, orgânico e mântrico. Para, curtinha (1:11), é samba e maracatu com vibe afro e orquestral. Passo de avarandar invade áreas como a do soul e do dub, propondo a observação da natureza e do dia a dia.

Sereia vem na sequência de Jão e continua o som dela, também com Marina Nemesio, enquanto vibes espiritualistas surgem em Atotô Obaluaê, com Alvaro Lancelotti. No final, Moraes Moreira é a sombra que paira sobre os frevos Esse mar e Deixa acontecer – não é por acaso, já que Davi Moraes, filho do compositor baiano, é coautor de ambas.

Esse mar, por acaso, fala do mar como quem fala da vida (“mesmo sem saber nadar, eu fui pro mar / aprendi com as ondas e com a mão de Iemanjá”) – e traz Wado, Davi Moraes, Adriano Siri e Otto, autores da faixa, unindo ritmo, existência e luta, numa das melhores faixas de Obstrução samba.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Lab344
Lançamento: 11 de julho de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Crizin da Z.O. – “ACLR + 6”

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ACLR + 6, EP de Crizin da Z.O., mistura funk, punk e poesia crua pra retratar um cotidiano sufocante, acelerado e cheio de dor — mas também de criação.

RESENHA: ACLR + 6, EP de Crizin da Z.O., mistura funk, punk e poesia crua pra retratar um cotidiano sufocante, acelerado e cheio de dor — mas também de criação.

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ACLR + 6 é a continuação (talvez um bônus) de Acelero, quarto álbum de Crizin da Z.O., projeto criado por Cris Onofre em parceria com os produtores Danilo Machado e Marcelo Fiedler. Num espelho do que fazem grupos como o norte-americano clipping, e os também cariocas Caxtrinho e Disstantes, o lance de Crizin é falar da vida de hoje quase como um meme aterrador, ou um chip indesejado, do qual não podemos fugir. Transporte público incipiente, dia a dia de operário, baixos salários, fome, miséria, miséria existencial, vida acelerada e apertada, remédios prescritos, indignação, racismo geográfico… tudo isso bate ponto na poética e no som de Crizin.

ACLR + 6 acelera, sem trocadilho, com o funk gélido de Repetição zero, entre ônibus e trens lotados, decepções e boletos: “marmita azedou dentro da mochila / enquanto eu sofria den’do busão / o ódio sobe, a lágrima escorre / e assim nóis caneta mais um refrão”. Fatal, com Edgar, é uma pancada meio metal, meio funk 150 bpm, que desfere chicotadas nas big techs, no capitalismo e no jogo sujo disfarçado de limpo. Sem atalho, com Sarine, invade os ouvidos com vocal quase percussivo, enquanto Reflexán di dia é metal, funk, punk e candomblé, tudo junto, com o projeto Scúru Fitchádu levando tudo para a vibe e o idioma de Cabo Verde.

Lcuas Pires e Mbé, igualmente convidados do disco, surgem em Baía, com sons que vão embarcando em outros sons e criam um universo sombrio e belo, que contempla as adversidades (“eu olho pra Baía de Guanabara e penso / essa água é tão preta”) e fala das big techs atravessando nossa vida, pensamentos e gestos. Repetição um encerra o disco com vibração de samba pós-punk: baixo à frente, violão (de Kiko Dinucci) tocado de forma sombria e repetitiva, letra apontando para as mortes do dia a dia e para os apagamentos da memória. Uma ilha de edição musical.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: QTV
Lançamento: 17 de julho de 2025.

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