Lançamentos
Radar: Karnak, Luna, Schlop, Black Drawing Chalks, Paulo Metello – e mais

Uma das bandas mais interessantes do Brasil, o Karnak sempre foi uma iniciativa independente – não apenas independente das grandes gravadoras como também do mercado em geral, do tempo e do espaço, das expectativas alheias, das limitações que os próprios seres humanos impõem a tudo. É um prazer enorme abrir esse Radar nacional, o primeiro da semana, com o single novo deles – e o grupo liderado por André Abujamra é só o primeiro de uma lista de artistas e singles ousados.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Karnak): Mauro Nascimento e Fernando Augusto/Divulgação
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.
- Mais Radar aqui.
KARNAK, “EU SÓ NASCI”. Você já se deu conta de que sua vida é determinadíssima pelo lugar onde nasceu? Também já se deu conta de que muita gente nunca conheceu nada além de guerras, fome, violência e brigas políticas só por ter nascido num determinado pais?
O Karnak, banda do ator-cantor-compositor-diretor André Abujamra aborda essas questões em Eu só nasci, single novo do grupo, uma mistura de gêneros e ideias. A faixa já chega com clipe, e adianta o disco Karnak mesozóico, previsto para 3 de setembro. É um disco especial: André tem contado por aí que se trata da primeira fita demo do Karnak, resgatada por ele após ser encontrada em escombros na Alemanha. Vale esperar, e muito.
LUNA, “O FIM”. Preparando disco autoral e já com alguns singles lançados, Luna vem do ABC paulista, tem influências que vão de Amy Winehouse a Beirut e, no single O fim, aposta numa visão pop de MPB, que passa pelo jazz, pelo blues e por surpresas na melodia e no vocal – surpresas estas que, por acaso, lembram Mutantes e Beatles. O fim tem letra e música de Luna e ganhou produção de Dudinha (baixista que tocou com Seu Jorge, Criolo e Gal Costa, entre outros) – e o resultado gruda bastante no ouvido, além de dar vontade de esperar logo por um álbum inteiro.
SCHLOP, “SÃO PAULO, TE AMO MAS TÁ FODA DEMAIS”. Liderado pela cantora Bella Pontes, o Schlop não fica parado: dessa vez, voltam com uma releitura em português de New York, I love you but you’re bringing me down, do LCD Soundsystem. A letra mete o dedo na ferida vivida pelos paulistanos, falando de prédios em excesso, cervejas de 20 reais, “apertamentos” no lugar de apartamentos, gentrificação e prefeitos incompetentes que “vendem a vista como souvenir”. A faixa ganhou também um clipe caseiro, dirigido pela própria Bella. “São Paulo é um caos magnético: dá vontade de fugir, mas é sempre pra onde eu quero voltar. Nada me preenche como essa cidade”, conta ela.
BLACK DRAWING CHALKS, “DATE ON A GRAVE”. O release preparado pela Monstro Discos diz que “a espera acabou” – e é verdade. Com duas décadas de estrada, o grupo goiano Black Drawing Chalks estava há nada menos que sete anos sem gravar. Retornam agora com o rock ganchudo de Date on a grave. Um som bem garageiro, mas do tipo que você sai cantarolando e não esquece mais – punk, mas com pegada quase 60’s. Detalhe: a banda retorna também aos palcos neste ano, no Goiânia Noise Festival, cuja edição comemorativa de 30 anos rola em setembro.
PAULO METELLO, “BEHIND BLUE SKIES”. Conhecido como um cantor e compositor ligado ao pós-punk, o carioca Paulo Metello chega no post-rock em seu novo single, marcado por sons desérticos e perdidos, tirados no sintetizador, e por batidas circulares. A música é sobre a “busca por esperança em meio ao caos contemporâneo” (como ele afirma no release) e sobre todos os mistérios que envolvem a vida. A onda sonora de Behind blue skies sai depois dos singles Tarantula e Guarda la bella luna – e as três faixas adiantam o terceiro álbum de Paulo, Normandia, previsto para sair ainda neste ano. Lançamento do selo Paranoia Musique.
SOBRE A NOITE DE ONTEM, “DISTANTE”. Banda do Guarujá (litoral de São Paulo), o Sobre A Noite de Ontem divide-se entre os climas emocionais do hardcore melódico e as sombras e vibes enevoadas do shoegaze – guitarras altas, por exemplo, dominam o novo single, Distante, uma música sobre estar momentaneamente fora de foco, longe do mundo, mesmo. A banda produziu a faixa no estúdio-de-apartamento do cantor e guitarrista Hugo Alves – o produtor Felipe Vassão finalizou tudo.
QUEM É VOCÊ, ALICE?, “GAMBITO DE BELGRADO”. Achou o nome dessa banda curioso? E o da canção deles, também? O som da banda gaúcha Quem É Você, Alice? também chama bastante a atenção, explorando estados de espírito musicais que residem entre o rock mais ruidoso e o folk – sempre com independência. Com nome tirado de uma jogada agressiva do xadrez, Gambito de Belgrado é uma música que fala sobre tudo aquilo que não volta mais – e que a gente tem que aceitar. A música já virou clipe.
Lançamentos
Radar: Melody’s Echo Chamber, Dry Cleaning, Jay Feelbender, Dust, Tortoise

Tem muitas bandas e artistas que deixam uma cordilheira de fãs saudosos – seja porque deram um tempinho, seja porque seus discos se parecem com aquelas novelas que todo mundo quer acompanhar, com evoluções, mistérios e plot twists. O Dry Cleaning é uma dessas bandas, o Melody’s Echo Chamber é outra, e o Tortoise, mais uma delas. E olha só que máximo, todas estão no Radar internacional de hoje com sons novos. Ouça e aproveite.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Melody’s Echo Chamber): Diane Sagnier/Divulgação
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
- Mais Radar aqui.
MELODY’S ECHO CHAMBER, “IN THE STARS”. Seus problemas acabaram: a francesa Melody Prochet, criadora do projeto musical Melody’s Echo Chamber, vai lançar um álbum novo sob o codinome. Unclouded está previsto para sair dia 5 de dezembro pelo selo Domino. Mais pop etéreo e influenciado pelos anos 1960 a caminho, então – ainda mais se levarmos em conta o single In the stars, que acaba de sair e já ganhou clipe, dirigido por Diane Sagnier e repleto de cenas enevoadas.
O disco que vem aí tem coprodução de Sven Wunder (Danny Brown) e participações de Reine Fiske (Dungen), além de Daniel Ögen e Love Orsa (Dina Ögon). Melody, falando sobre o disco, conta que sua música “habita, de forma incomum, a zona liminar entre o realismo e as fábulas. Mas quanto mais experiência de vida tenho, mais profundamente amo a vida e menos preciso escapar”, filosofa.
DRY CLEANING, “HIT MY HEAD ALL DAY”. Pelo jeito, a banda londrina vem disposta a mudar muita coisa em seu som no terceiro disco, Secret love, previsto para dia 9 de janeiro de 2026, com produção de Cate Le Bon. Florence Shaw (vocal), Tom Dowse (guitarra), Nick Buxton (bateria) e Lewis Maynard (baixo) voltam num clima que mistura Talking Heads e Rolling Stones no novo single, Hit my head all day. Sly & The Family Stone e seu sucesso There’s a riot going on também foram grandes inspirações para a faixa, como diz Florence.
“A música fala sobre a manipulação do corpo e da mente. A letra foi inicialmente inspirada pelo uso de desinformação nas redes sociais pela extrema direita. Existem pessoas poderosas que buscam influenciar nosso comportamento em benefício próprio: para comprar certas coisas, para votar de determinada forma. Tenho dificuldade em ler as intenções das pessoas e decidir em quem confiar, até no dia a dia. É fácil cair sob a influência de um estranho sinistro que parece um amigo”, conta ela.
JAY FEELBENDER, “BENNY’S SLEEPOVER”. Voltado para uma mescla de power pop, folk e sons ruidosos que aparecem de repente, o músico canadense Jacob Switzer montou o projeto musical Jay Feelbender e acaba de lançar o EP Benny’s sleepover – um daqueles lançamentos que basicamente tratam de temas agridoces em meio a sons melódicos e barulhentos. A faixa-título fala de uma situação estilo Garotinha Ruiva do Charlie Brown: aquele momento em que a garota que você ama vai parar no radar sentimental do seu melhor amigo. O som é formado por três minutos de catarse emocional.
DUST, “RESTLESS”. “Uma figura proeminente vagueia vagarosamente como um espectador das atrocidades de um mundo pós-capitalista”, afirma o release desse single novo do grupo pós-punk australiano Dust – e que adianta o lançamento da estreia Sky is falling, prevista para o dia 10 de outubro. Restless é uma faixa tensa, depressiva, cheia de saxofones que operam na mesma atmosfera maníaca das primeiras canções dos Psychedelic Furs – mas que vão sendo trilhados num corredor melódico bacana. Os vocais são o mais puro desespero controlado, com versos como “preciso do seu ombro / só quero ser livre”, e diálogos poéticos que parecem confortar o/a ouvinte lá pelas tantas.
TORTOISE, “WORKS AND DAYS”. Lá vem de volta um dos maiores nomes do post-rock: o Tortoise lança Touch, seu primeiro álbum em nove anos, no dia 24 de outubro. Oganesson e Layered presence já sairam em single, e agora é a vez de Works and days sair em single e também em clipe. Uma música de psicodelia leve e estileira fina, em que rock, ambient e climas eletrônicos vão se alternando – já o vídeo mostra várias cenas urbanas por um viés bem louco e despersonalizado, em que pessoas caminham pelas ruas à procura de seus próprios destinos, mas os rostos delas não são mostrados.
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Crítica
Ouvimos: Nova Twins – “Parasites & butterflies”

RESENHA: No terceiro álbum Parasites & butterflies, Nova Twins misturam rap-metal, r&b e peso noventista em faixas cheias de atitude.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Marshall Records
Lançamento: 29 de agosto de 2025.
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
Tem quem já tenha falado que Nova Twins é a mistura perfeita de Spice Girls e Rage Against The Machine – até faz sentido, mas o lance ali é mais assustador que essa combinação, em termos de norte atitudinal e peso musical. No terceiro álbum, Parasites & butterflies, há uma combinação de beleza e susto no título, e uma receita sonora própria do metalcore em faixas como Glory, Piranha e Parallel universe, além do jungle de Drip.
- Ouvimos: The New Eves – The New Eve is rising
Aliás, quase todo o disco é baseado numa receita certeira de rap-metal para rodas de pogo. Que rende também proximidades com o r&b nas ótimas Soprano (pop do mal, pesado e distorcido, que lembra o peso dos anos 1990), Monster e Sandman. Ou em Hide & seek, um dos raros momentos não tão interessantes do álbum, marcada pelo empoderamento e pelos versos espertos na letra (“você não pode me pegar / eu corro, você me segue”).
Das experimentações realizadas por Amy Love e Georgia South, as que mais chamam a atenção são a vibe Body Count de N.O.V.A., o metal-gospel de Hummingbird (a melhor do disco) e a auto-homenagem do funk-house-metal Black roses. Tudo é feito com tanta personalidade que em vários momentos de Parasites & butterflies, as duas poderiam descambar para o nu-metal ou algo parecido. Acaba não rolando porque, no rolé das Nova Twins, só vale peso quando tem memória e balanço. Felizmente.
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Crítica
Ouvimos: David Byrne – “Who is the sky?”

RESENHA: David Byrne lança Who is the sky?, disco irregular mas envolvente, entre boas histórias, ecos de XTC e Beatles e momentos de otimismo.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Matador
Lançamento: 5 de setembro de 2025
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
Falando em primeira pessoa: tive sentimentos conflitantes ouvindo este Who is the sky?, novo disco de David Byrne gravado ao lado da Ghost Train Orchestra. Vi isso consultando minhas anotações (sim, eu ouço discos anotando, à mão). Por exemplo: não pude deixar de exclamar um animado “caralho, que foda isso!” ao lado de I met the Buddah at a downtown party, uma canção bonitinha que Byrne fez contando a história de um sujeito que viu Buda cometendo excessos numa festa.
David Byrne sempre foi bom contando histórias, desde o comecinho dos Talking Heads – e sempre foi bom em achar o melhor caminho para fazer com que elas chegassem ao público. Só que lá pelas tantas bateu um certo ranço: será que Who is the the sky? é tudo isso aí mesmo? E o “pensa bem” veio acompanhado de algumas constatações. Uma delas é a de que mesmo o que há de bom em Who is the sky? soa meio repetido: Byrne parece ter se inspirado MUITO em Day in, day out, do XTC, para fazer When we are singing, e juntou elementos de She’s leaving home, dos Beatles, em A door called no. O tipo de coisa que você talvez desculparia no Oasis, mas aqui não rola.
Tem as letras: Who is the sky?, na real, varia entre o otimismo e o papo de coach. Isso rola quando Byrne fala sobre as portas fechadas da vida (A door called no), sobre como a criatividade das pessoas vai sendo podada (Don’t be like that) e até sobre como as paredes de um apartamento podem contar histórias (My apartment is my friend). Na real, fica até a expectativa de que Byrne aprofunde o discurso de boa parte dessas letras em algum outro canto – numa entrevista, numa newsletter, ou sei lá o quê – porque são histórias que, ao jogarem a bola para o/a ouvinte concluir, soam incompletas. Aliás, essa incompletude é comum a vários discos de Byrne, com boas ideias que atiram para vários lados.
- Ouvimos: The Who – Live at The Oval 1971
Como artista solo, Byrne nunca perdeu a vibe maníaca que ele desenvolveu na época dos Talking Heads – uma coisa de brincar com os próprios sentimentos, sensações e constrangimentos, e jogar tudo nas músicas. É o que surge na vibe comemorativa de Everybody laughs, e também nas lembranças de Beatles e Wings de When we are singing e The avant garde. O ragga The truth mexe numa ferida aberta universal (“a verdade é a última coisa que um homem quer ouvir”, diz a letra) e acaba deixando o otimismo de lado para bater forte. Tem ainda o folk beatle-beachboy She explain things to me e a latinesca What’s the reason for it? (com Hayley Williams), que mantêm o astral do disco – e funcionam bem.
Byrne é sempre um bom encantador de serpentes: você passa até por cima das falhas de Who is the sky?, e de um certo ranço pessoal com a figura proeminente-àààà-beça dele, porque fica bem difícil resistir a um disco que, em 2025, tem evocações do XTC. Ou porque o clima pastoril de algumas músicas acaba ganhando. E isso tudo, ainda que você estivesse esperando ver alguma estrutura sendo abalada com um disco novo dele – aliás, vale citar que o próprio Byrne, no release de lançamento, explica que o principal assunto de Who is the sky?, é ele próprio, suas circunstâncias e trabalhos colaborativos.
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
- Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
- Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
- Notícias8 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
- Cinema8 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
- Videos8 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
- Cultura Pop7 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
- Cultura Pop9 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
- Cultura Pop8 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?