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Qual a sua canção de protesto preferida?

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Qual a sua canção de protesto preferida?

O debate sobre comemoração do golpe de estado de 1964 virou um dos assuntos mais discutidos da internet nas últimas semanas. E também rendeu vários posts musicais nas redes sociais, com pessoas recordando canções nacionais da época da ditadura militar, ou simplesmente tirando do baú músicas de protesto de todos os tempos, nacionais ou internacionais.

Para não deixar a data de hoje (1º de abril é a verdadeira data de nascimento da ditadura no Brasil), o POP FANTASMA saiu perguntando a amigos e celebridades: QUAL A SUA CANÇÃO DE PROTESTO PREFERIDA? Muita gente escolheu uma só música, mas várias pessoas escolheram duas, três. Pega aí a relação e aumente seu repertório. Teve gente que escolheu bandas pouco conhecidas, gente que recorreu a clássicos e até quem pôs músicas instrumentais no repertório.

ABONICO SMITH (jornalista, criador do site Mondo Bacana).Moda do acerto, do Charme Chulo. Traz o caipira sofrendo com a violência da cidade grande. E, através de um pagode de viola quase à capella que culmina numa explosão instrumental psicodélica com guitarra, baixo e bateria, mandando o seu recado direto pros governantes. Que continuam achando que ele, o caipira, além do povo inteiro deste país, continua sendo idiota e passível de ser passado para trás”.

ALAN JAMES (músico): “A minha canção escolhida é Ohio, de Crosby, Stills, Nash and Young. Gosto da urgência e da indignação (elementos fundamentais) que existem nessa musica, composta por Neil Young assim que leu o noticiário sobre o incidente em Kent State em que quatro estudantes foram mortos e outros nove, feridos por policiais. Dá pra sentir essa urgência no vocal de Neil, no riff de guitarra, na letra cortante (que menciona Nixon) e, ao final, nos gritos de David Crosby (que segundo Neil chegou a chorar depois do último take)”.

ANA MARIA BAHIANA (jornalista, crítica de cinema). “Todas as de Bob Dylan. Especialmente Chimes of freedom, que tenho ouvido muito, ultimamente”.

https://www.youtube.com/watch?v=mhGjx7T95lQ

ALINE CANEJO (tradutora e escritora):Jardins da infância, com Elis Regina, composição de Aldir Blanc e João Bosco. Acho que os versos ‘você vive o faz de conta, diz que é de mentira, brinca até cair, chicotinho tá queimando, mamãe, posso ir?’ são a perfeita tradução da verdadeira cegueira que assola muitos dos brasileiros acerca da política. Uma eterna creche, enquanto o país pega fogo. E não é de hoje, vide que a canção é de meados dos anos 1970. Qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência”.

ANDRÉ LUIZ COSTA (radialista, DJ, sócio da webradio Cult FM). “Tenho várias, mas vou ficar com Refuse/Resist do Sepultura, porque foi o primeiro clipe de uma música de protesto que vi, ainda adolescente e sem entender muita coisa de inglês. As imagens me fizeram procurar saber mais sobre aquilo e descobrir letras de outras bandas”.

BENTO ARAÚJO (jornalista e escritor, criador da Poeira Zine e do Poeiracast):Um bolerésio (Para Tenório Jr. no céu), do Fredera. Em 1981, um dos gigantes da guitarra brasileira decidiu saudar a Aurora Vermelha (no LP de mesmo nome) que se prenunciava ‘após 17 anos de sombras e noites tempestuosas da ditadura militar’, como diz o texto de Mario Drumond na contracapa. A homenagem de Fredera ao amigo Tenório Jr., além de emocionante, é também um protesto contra um dos crimes mais covardes da década de 1970. Prova de que a canção de protesto pode ser instrumental e ter o mesmo impacto”.

CÉLIO ALBUQUERQUE (pesquisador e escritor): Cálice, de Chico Buarque e Gilberto Gil. Como boa parte das pessoas só tive conhecimento da música em 1978, quando ela foi lançada com certo sucesso pelo Milton Nascimento e o Chico Buarque. Sabia que existia em algum lugar a versão do Chico com o Gil no Phono 73, mas isso era meio lenda urbana. Alguns anos atrás, surgiu a versão só do Gil na Faculdade de Arquitetura da USP, de 73, que rolava informalmente na grande rede, depois veio a versão em DVD e no YouTube de parte da versão original do Phono 73 com Gil e Chico… Ela é cinematográfica, e quem mora no Rio consegue visualizar ‘ver emergir o monstro da Lagoa’, na Lagoa Rodrigo de Freitas… Claro que Caminhando do Geraldo Vandré era um hino da esquerda, claro que cantei, até com a Simone no Canecão. Outra que me marcou bastante foi Vou renovar, do Sérgio Ricardo, também de 73, que conheci também em 78″.

CHRIS FUSCALDO (escritora, jornalista, cantora, compositora, crítica de música): “Pela atitude, escolheria É proibido proibir e sua apresentação por Caetano Veloso no FIC de 1968. Um ato de coragem naquele momento que acabou engordando a lista de motivos para o pedido de prisão do músico. Mas, pensando em letra e melodia, vou de O bêbado e a equilibrista, composta por Aldir Blanc e João Bosco, e gravada por Elis Regina em 1978: a canção é um verdadeiro hino da anistia, que faz referência às viúvas de presos políticos e aos intelectuais exilados”.

https://www.youtube.com/watch?v=-xkxIpeGVMc

CHRISTOVAM DE CHEVALIER (jornalista, poeta).Eu vivo num tempo de guerra, de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri, com Maria Bethânia. Essa gravação é obscura em se tratando da discografia da Bethânia. Eu a descobri num compacto duplo ali pelos anos 1990 no apartamento da minha mãe (a jornalista e colunista Scarlet Moon) no Jardim Botânico. Acompanhando a carreira dela, nunca vi essa música em CD, ou coletânea, talvez ela tenha sido incluída nessas caixas comemorativas. Essa gravação me impactou pela força da letra, pela força do texto que é dito – tem um texto antes da música e outro dentro da música. Até comparando com Carcará, que é uma música de uma carga dramática enorme, o texto que tem ali é muito relacionado a estatísticas. Ao número de migrantes que sai da Bahia, de Pernambuco, o êxodo rural. A Bethânia mostra a carga dramática que ela tem como atriz. Ela entrou na minha vida em 1990 quando vi o show de 25 anos de carreira dela no Imperator. A partir desse momento falei: ‘Caramba, deixa eu pesquisar sobre essa mulher!'”

https://www.youtube.com/watch?v=FdTn9Cy0SZ4

GILBERTO PORCIDONIO (jornalista, cientista social). “Fiquei tentado em escolher o ska punk Aos fuzilados da CSN, do Garotos Podres, e também a balada rancheira El derecho de vivir en paz, do chileno Victor Jara, que acho de uma melodia absurdamente emocionante e que seria altamente simbólica neste momento em que nosso (des) governo quer exaltar a ditadura que acabou torturando e matando um dos maiores nomes da música sulamericana no Chile. Porém, ficarei com a porradaria de The weapon they fear, dos alemães do Heaven Shall Burn. Além de ser uma deliciosa bigorna na moleira, ela homenageia o próprio Victor”.

JAMARI FRANÇA (jornalista, escritor, tradutor, apresentador do Jam Sessions): “Bob Dylan soube captar bem a revolução dos anos 60 antes que acontecesse. Foi quase um profeta. Quando diz ‘você precisa começar a nadar ou afundará como pedra’ antecipa a resistência às mudanças que ocorreram na década mais importante do pós guerra. Esta e Blowin’ in the wind são hinos da década de 60″.

KAMILLE VIOLA (jornalista, crítica de música): “O período da ditadura no Brasil é cheio de músicas de protesto lindas. É difícil escolher, mas uma que sempre me emocionou muito foi San Vicente, do disco Clube da Esquina (1972). A música foi feita para uma peça que se passa numa cidade fictícia, San Vicente, e fala sobre as ditaduras na América Latina. Também me marcou muito — e à minha geração — A minha alma (A paz que eu não quero), do disco Lado B lado A (1999), do Rappa. Hoje os versos do Yuka (“paz sem voz não é paz, é medo”) viraram slogan. Esse disco é uma crônica muito atual do Brasil, e sobretudo do Rio. Eu já gostava do Rappa desde o primeiro disco (fui uma das poucas pessoas que eu conhecia a comprar quando foi lançado, risos) e, na época, fiquei vidrada nesse! E, por fim, Negro drama, do Racionais MC’s (de Nada como um dia após o outro dia, 2002), que é uma porrada sobre o racismo no Brasil: “Crime, futebol, música/Caraio! Eu também não consegui fugir disso aí”, recita Mano Brown, enumerando os lugares normalmente reservados aos homens negros no país. Sou muito fã”.

LEANDRO SOUTO MAIOR (sócio da Casa Beatles Visconde de Mauá, músico dos Trutas e do Fuzzcas): ” Pode ser dos Trutas? Se puder, seria Homem bom, feita no calor do bolso-momento atual, com versos como ‘dá um medo o que dizem por aí/que agora eles vão começar a proibir’ e ‘até que a gente assiste a morte de um país/enquanto na novela tudo lindo, tudo bem’. Acho legal porque é uma canção nova, e o momento atual é propício ao surgimento de novas músicas de protesto. Mas se eu não puder ser cabotino, e tiver que escolher uma clássica, a primeira que me ocorre é Pra não dizer que não falei de flores, do Geraldo Vandré. Ainda hoje me emociona”.

https://www.youtube.com/watch?v=onbRuVLPDmI

LEO FEIJÓ (jornalista, empreendedor e agitador cultural carioca): “Numa resposta bem objetiva, Apesar de você, do Chico. Mas eu tinha 10 anos na época das Diretas Já e Pra não dizer que não falei de flores, do Geraldo Vandré, me marcou muito (deve ter voltado com força naquele clima político). Eu cantava na escola. Depois o Vandré virou um personagem um pouco controverso, não sei. Que país é esse?, da Legião Urbana, curto também, e Renato Russo a compôs bem antes de ser gravada, ou seja, ainda no período da ditadura”.

LÉO ROCHA (apresentador do programa Discos que Amamos, da Vinil FM). “Tem uma canção de Leonard Cohen chamada The partisan que fala sobre as tropas de resistência italianas que lutavam contra o fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha. Uma letra forte, real e de um herói meu, Mr. Cohen. Mas se quiser uma brasuca eu poria Cálice. Acho genial tudo que cerca essa música. Do vinho, do amargo e da sonoridade com ‘cale-se'”.

LEONARDO PANÇO (jornalista, músico). “Fico com Igreja, tanto a dos Titãs quanto a das Mercenárias (Santa igreja). Sempre tive problemas com religião, imposições, um medo de algo maior, de um ser invisível que te pune”.

LUCAS RANGEL (músico, 335).O drama da humana manada, do El Efecto.
Essa crítica não poderia cair em melhor hora, tendo em vista nosso cenário político. Muitos governantes, ironicamente, possuem o pensamento de que o trabalho enobrece o homem. Acontece que, após a abolição ‘teórica’ da escravidão, percebemos a necessidade em colocar uma roupa nobre no trabalho. Por essa questão ser de difícil percepção para uma consciência distraída, mas extremamente colossal em efeitos nos corpos, a música aposta em um tipo de sabedoria que não se encontra explanada na consciência, mas é extremamente comungada por todos”.  

LUCIANO CIRNE (colaborador do POP FANTASMA): “Quanto vale a liberdade, do Cólera. Redson é uma figura que faz muita falta por sua postura ímpar na cena punk e essa letra, que estava há anos luz de tudo que foi composto na época, é prova cabal. Sempre me emociono quando escuto, diz muito pra mim. De internacional, tem You’re already dead, do Crass. O Crass pra mim sempre foi algo que ultrapassou o conceito puro e simples de música. A melodia chega a ser algo pequeno perto de todo o contexto que representa: A poesia, a arte e sobretudo a postura. Quando ouvi essa pela primeira vez, fiquei impressionado com a letra forte, que dizia tudo que eu sempre quis dizer numa música: “Pacificado. classificado / Mantenha-se na fila, você está indo bem / Perdeu sua voz, não há escolha / Jogue o jogo, quieto e manso / Seja o observador passivo, sente-se e olhe / o mundo que eles destruíram e a paz que eles levaram / Não faça perguntas, não ouça mentiras / E você estará vivendo no conforto do paraíso dos tolos / Você já está morto”. Clássico atemporal. E I was a teenage anarchist, do Against Me. Joga na cara de todos nós o quanto nos tornamos passivos e submissos. É impossível você roqueiro que está na casa dos 30 ou dos 40 ouvir esse som sem botar a mão na consciência e lembrar de, como a letra bem enfatiza, ‘quando éramos jovens e queríamos por fogo no mundo’. Igualmente belo e incômodo”.

LULA ZEPPELIANO (o cara que mais comparece a shows no Rio de Janeiro):Eu quero é botar meu bloco na rua, do Sérgio Sampaio. Essa música de protesto driblou a ditadura. Pelo que a gente está passando aí o povo brasileiro tem que ir pra rua, tem que botar seu bloco na rua, sair da internet. Ainda mais agora que o Bolsonaro resolveu comemorar o golpe de 1964. E fora outras coisas, né, cara? Apesar de que Inútil, do Ultraje A Rigor, também caberia, porque o povo não sabe votar mesmo, não. E Pra não dizer que não falei de flores (Geraldo Vandré), Podres poderes (Caetano Veloso), Que país é esse? (Legião Urbana), Brasil (Cazuza)… Mas fico com o Bloco na rua. Parece que é uma música alegre, mas é triste”.

https://www.youtube.com/watch?v=PiCteoGZf7Q
https://www.youtube.com/watch?v=Hry41C9OiSA
https://www.youtube.com/watch?v=D4GWxVQqV9M

MARCUS VINICIUS LOSANOFF (DJ, jornalista e apresentador do Alt 90, da Rádio Graviola):Latinoamérica, do Calle 13. Uma música cujo ritmo homenageia a dança popular argentina (chacarera), com versos de talentoso rapper porto-riquenho (Residente) e o canto de três grandes divas, uma delas colombiana (Totó la Momposina), outra peruana (Susana Baca) e uma brasileira, ô (Maria Rita). Latinoamérica consegue ser ao mesmo tempo um libelo anticolonialista (explícito no pungente refrão), e também uma libertadora celebração da identidade e cultura latino-americanas (explícitas no belíssimo videoclipe). ‘Soy América Latina. Un pueblo sin piernas, pero que camina'”.

PEDRO SERRA (músico do Estranhos Românticos e O Branco E O Índio, DJ). “A minha canção de protesto preferida é Por que é proibido pisar na grama, do Jorge Ben. Gosto dela por vários motivos. Primeiro, porque é uma música linda de um disco maravilhoso chamado Negro é lindo, de 1971. Na época, Jorge Ben era muito cobrado porque ele não fazia músicas políticas como a maioria dos seus pares. Daí ele fez essa singela e sutil música de um protesto possível para uma pessoa do povo. Pelo menos é assim que eu entendo a letra, posso estar redondamente enganado”.

POSADA (músico, Posada & O Clã): “Golpistas, do Caio Prado. A letra e a interpretação forte do Caio fazem com que Golpistas seja cantada em manifestações nas ruas, shows, escolas, teatros etc… É uma musica viva e atual! Poesia politica de um artista gigante”.

RENATO BIAO (DJ).Farsa nacionalista, do Ratos de Porão. Ser filho de militares sempre foi um dilema: se por um lado tive contato com as duas faces da moeda, meu engajamento político no colégio, (fazia parte de grêmio estudantil) era um problema em casa (risos). Trinta anos depois do disco que contém esta música, vejo que pouca coisa mudou. A letra – assim como todo aquele disco – é uma síntese perfeita dos dias de nosso país, onde as lutas por justiça social e equidade ainda são as mesmas que aquele moleque de 14 anos e membro do grêmio estudantil do colégio começava a travar. Em 2019, temos o agravante do pacto social ter se rompido irremediavelmente, expondo a cara real de certos estratos nacionais e o antes nebuloso fascismo tupiniquim. Num futuro próximo, teremos certamente o separatismo de algumas regiões por aqui. Já são muitos brasis, desde sempre… falta oficializar. Falhamos miseravelmente como nação”.

RICARDO SCHOTT (editor do POP FANTASMA, um site aí). Novo aeon, do Raul Seixas. Inconformismo, liberdades individuais, liberdade de culto, busca de caminhos alternativos, feminismo (‘as mulheres ditas escravas/já não querem servir mais’), o lado escroto da justiça brasileira (‘baseado em quê você pune?/quem não é você?’), direito de ser ateu ou de ter fé, tá tudo ali. Até hoje é uma das músicas mais incômodas já feitas em língua portuguesa”.

THOMAS PAPPON (jornalista, músico do Fellini e The Gilbertos).De terra, de serra e de mar, do Geraldo Vandré. É o cantor querendo trazer alegria com seu canto. Mas o povo sofrido tá tão fodido que ele não consegue. Se bem que tem Sete cenas de Ymira do Taiguara. Taiguara viajando em ideais utópicos de renascimento da nação tupi-guarani. A música é de uma força incrível, o Taiguara muda pro agudo no meio, o que só acentua o ‘protesto’. É do caralho”.

WILL (músico, Carbônica): “Como compositores, a música Comportamento geral, do Gonzaguinha, com certeza está entre as músicas que gostaríamos (os integrantes do Carbônica) de ter escrito. Faz uma critica direta ao cidadão, sobre seu modo de vida e como encarar o mundo. ‘Seu Zé, se acabarem com teu carnaval?’ A pergunta é para o seu Zé, poderia ser para dona Maria ou mesmo ao João de nossa música Lama. Comportamento geral  é um tapa na cara do conformismo e falta de atitude do povo brasileiro.

Cultura Pop

Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

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Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.

O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).

A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.

Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.

“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.

Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de  Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.

Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”

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Cultura Pop

No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

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No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.

Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…

Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!

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Destaque

Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

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Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).

A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã

Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.

Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica

A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.

O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.

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