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Crítica

Ouvimos: Snõõper, “Super Snõõper”

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Snõõper: punk ágil em clipe e single, "Running"
  • O Snõõper é uma dupla de Nashville, fundada pela artista visual Blair Tramel e pelo guitarrista Connor Cummins. Hoje a banda é complementada por mais três músicos.
  • Blair também é professora de educação infantil, por acaso. O Snõõper é fanático por visuais que lembram quadrinhos, games e desenhos animados, tanto que o layout de Super Snõõper é cheio disso. O encarte do álbum é uma mistura de manual de instruções de brinquedo com história em quadrinhos. No palco, Blair leva adereços feitos à mão, e os shows têm público de pessoas de todas as idades.
  • As referências a treinos físicos no som da banda não vêm à toa: Blair disse ao site Post-Trash que quando não sai pra treinar, seu cérebro parece que dá uma travada. “Acho que a chave é encontrar uma atividade física que você goste tanto que comece a malhar. Exercitar-se não deveria ser difícil”, acredita.

Tem algo que faz sentido quando você imagina que o Snõõper, uma banda punk de Nashville, faz parte do selo Third Man, de Jack White, o cara que há alguns anos era parte integrante dos White Stripes. Os WS tinham um lado super infantil na hora de arranjar canções e tocar instrumentos – não pareciam garotos que não sabiam tocar tentando arranhar três acordes, e sim crianças de dez anos soltando os bichos num estúdio ou palco.

O Snõõper (liderado por, adivinhe só, uma professora de educação infantil) de certa forma é filho dessa atitude. Que permite que canções sejam modificadas no meio, como se fosse uma brincadeira que parasse de repente – como na faixa de abertura, Stretching, ou em Fitness. Ou em Fruit fly, cuja velocidade vai diminuindo lá pela metade, como um disco sendo parado com a mão no toca-discos. Tem mais lá, incluindo desde o tom mais experimental, zoeiro e crítico de bandas como Crass (é o que surge em músicas como Bed bugs e Music for spies) ate músicas como Pod e Powerball, que posicionam o grupo na turma dos revisionistas da new wave.

A estreia do Snõõper tem até tons sonoros típicos de bandas que misturam hardcore e elementos de música eletrônica como na curta Inventory e Microbe. E músicas como Defect, punk levado adiante por linhas de baixo (que chamam a atenção no disco, de modo geral). Running, a última faixa, diferencia-se do restante do disco por durar mais de cinco minutos – o álbum todo é composto por canções que não passam dos dois minutos. Une new wave aeróbica, teclados viajantes, riffs de guitarra entre B-52s e Joy Division. Em menos de meia hora de duração, o ouvinte é apresentado a um mundo em que a diversão vale bem mais do que a perfeição, ou a colocação do som em caixinhas e rótulos.

Gravadora: Third Man
Nota: 7

Foto: Reprodução do YouTube

Crítica

Ouvimos: Jup do Bairro – “Juízo final”

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Jup do Bairro estreia com Juízo final, disco apocalíptico que mistura rap, funk e rock para falar de fé, dor, amor e sobrevivência urbana.

RESENHA: Jup do Bairro estreia com Juízo final, disco apocalíptico que mistura rap, funk e rock para falar de fé, dor, amor e sobrevivência urbana.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Meia-Noite FM
Lançamento: 17 de outubro de 2025

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Álbum de estreia de Jup do Bairro – após EPs, faixas soltas e feats – Juízo final mete medo. O disco é tão apocalíptico quanto seu título, voando em meio a uma roda viva de meio ambiente, drogas, preconceito, baixa auto-estima, luta diária pelo pão, poucas oportunidades, lições duras da vida, necessidade de amor e sexo aqui, agora, já. Uma nuvem de tags que circula pelas letras do disco e, somada com a musicalidade de Juízo final, ajuda a criar um ambiente quase cyberpunk, em que vulnerabilidades e limites são descobertos e testados em meio à dureza da cidade grande.

Logo na abertura do disco, Jup pega em fios de altíssima tensão falando sobre deus, genocídios divinos, religiões como controle de massa e pilhas erradas propagadas pela própria Bíblia Sagrada – é o que rola em Intro, que mais do que apenas uma introdução, é uma declaração de guerra. O funk confessional E se não fosse o sonho fala das coisas imateriais que realmente sustentaram seu trabalho nos últimos anos. Brilhos falsos e verdadeiros surgem em Brilho no breu, rap com vocal grave, vibe quase ambient na abertura, e ritmo entre raggamuffin e reggae. tem ares de pagode sombrio, e é seguido pelo quase electroclash de Dói demais, além da dureza sonora e existencial de Vaso ruim, uma crônica escrita por alguém que precisou aprender na marra a lidar com as próprias vulnerabilidades.

  • Ouvimos: Cida Moreira e Rodrigo Vellozo – Com o coração na boca

Entre luzes e sombras sonoras, Juízo final tem rock sombrio (Medo, narrada por Jup de forma grave e esperançosa: “eu quero acreditar na felicidade, acreditar que podemos vencer, mesmo com toda contradição e medo”), rock explosivo (o punk-metal Rockstar, com o Black Pantera), som paraense (Tremedeira), dance-punk (God is my DJ) e tamborzão – em Te amar (Ama, ama). Os batidões reaparecem em A última vez que você f* comigo (com Negro Léo dividindo os vocais com ela) e na provocação de Escolha uma vida, que narra um reencontro cheio de lembranças de sonhos feitos e desfeitos.

Juízo final une rap, rock, spoken word e emoções pra lá de fortes em A gente vive menos que uma sacola plástica, peça vanguardista e sombria que chega a lembrar um Queen demoníaco – e que avisa que “a Inteligência Artificial está bebendo muito mais água que nós”. Um clima mais tenso e denso rola em Fim, aberta com teclados cintilantes e seguida com voz alta, distorções e pressão na música e na letra, que fala em “coragem no passo à frente”. Som para assustar, e acordar.

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Crítica

Ouvimos: Jaguaribe Carne – “Isabel, 7 cirandas negras e um apito”

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Coletivo paraibano criado em 1974, o Jaguaribe Carne mistura tradição e vanguarda em Isabel, 7 cirandas negras e um apito, disco de recomeço.

RESENHA: Coletivo paraibano criado em 1974, o Jaguaribe Carne mistura tradição e vanguarda em Isabel, 7 cirandas negras e um apito, disco de recomeço.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Taioba Music
Lançamento: 27 de setembro de 2025

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O Jaguaribe Carne tem história. Aliás, diria eu que tem tanta história que, se você nunca ouviu falar desse grupo, pode ficar abismado/abismada quando descobrir mais sobre eles (tipo: “como eu nunca tinha escutado falar disso?”). Na real, se trata mais de um coletivo do que um grupo – coletivo este que foi criado em 1974 pelos irmãos Pedro Osmar e Paulo Ró, no bairro Jaguaribe, em João Pessoa (PB). Mas além dos fundadores, muitos artistas cujas carreiras ganhariam tração com o passar dos tempos (Chico César, Totonho, Jarbas Mariz, além do músico e autor de trilhas sonoras Escurinho) fizeram parte do Jaguaribe.

A história do JC inclui muitas demos e gravações de ensaios, poucos discos (o primeiro, Jaguaribe Carne instrumental, saiu apenas em 1993) e trabalhos que não se limitavam à música: tinha poesia, saraus, exibições de filmes, além de apresentações em espaços públicos, escolas e biblioteca. Esse clima de núcleo artístico, sempre misturando tradições nordestinas com novidades musicais, persiste até hoje: o Jaguaribe Carne retorna após 22 anos com seu terceiro álbum, Isabel, 7 cirandas negras e um apito.

  • Ouvimos: Wado – Obstrução samba

Paulo (voz, violão, percussão) e Pedro (voz, percussão) permanecem tomando conta do projeto, recebendo convidados como Marcelo Macedo (guitarra, violão de aço), Totonho (voz) e Téo Filho (trombone), além do Coro das Praias, formado pela esposa de Paulo, Tina Nascimento, e suas filhas Tereza Cristina, Glória Nascimento e Naderdane Uloth. Entre cirandas, cocos, maracatus e vários outros ritmos, o grupo funde lembranças históricas, sons concretistas e experimentais (a base da faixa de abertura, Ciranda na Rua da Paz, com percussão de boca em meio a forte percussão) e algo que chega perto de estilos como reggae e rock, na psicodélica Beca.

Hora certa, música inspirada na morte da mãe de Paulo e Pedro, dona Isabel – cuja ausência acabou motivando as letras do álbum, escritas por Pedro – tem batuque de maracatu e violão que lembra um folk rock sensível e espiritual. Vários estilos e batidas encontram-se em faixas como Caixa de joias, Ecoou e Tambores, faixas marcadas por corais e diálogos rítmicos entre instrumentos – nesta última, um violão que faz lembrar a fase 1970/1971 dos Rolling Stones parece surgir de algum canto.

O final de Isabel, 7 cirandas negras e um apito é um mergulho em lembranças, evocações e celebrações da passagem do tempo. O disco se despede como quem transforma a finitude em festa – alegria pela existência, lembranças boas na travessia. Essa sensação de celebração espiritual atravessa o instrumental sombrio e belo de Ciranda satélica e a delicadeza percussiva de Cocada, que fecham o álbum com força simbólica. Um disco com cara de recomeço.

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Ouvimos: Kardi – “When the lights out” (EP)

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When the lights out é o novo EP do Kardi, uma banda coreana que larga a estética normal do k-pop e abraça o indie rock e o indie pop.

RESENHA: When the lights out é o novo EP do Kardi, uma banda coreana que larga a estética normal do k-pop e abraça o indie rock e o indie pop.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: PlanetK
Lançamento: 10 de setembro de 2025

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Para quem não vive 100% o universo do k-pop, as informações sobre a banda sul-coreana Kardi são meio desencontradas. Mas antes de mais nada, lá vai: ao contrário da grande maioria dos grupos locais, mais voltados para a estética das boy bands ou girl groups, o Kardi é uma banda indie. Aliás, indie pop e indie rock, com estética mais experimental, mas simultaneamente acessível. O grupo se formou a partir de um reality show coreano, o SuperBand 2 – exibido pela emissora de TV a cabo local JTBC – e existe desde 2021.

Singles como o mais recente Not but disco (lançado em maio) unem vibe robótica, vocais criativos, instrumentação sinuosa e pesada a la Yeah Yeah Yeahs, e guitarras que ocupam espaço – além de um instrumento chamado geomungo, cujo som lembra uma mescla de harpa e baixo acústico, e que surge em todas as faixas. Já When the lights out, terceiro EP do grupo, oferece variações entre indie rock e indie dance, e vibrações bem mais eletrônicas que Not but disco (que não está no EP).

Nas quatro faixas, Kim Yeji (voz), Hwang Leen (guitarra), Hwang Inkyu (baixo) e Park Dawool (geomungo) dedicam-se ao eletrorock (Jump off, que tem até um rap, além de ares mais pesado em seguida), a uma mescla de pós-disco e grunge (na inventiva Tokkebi-bull, com refrão pula-pula no estilo de Smells like teen spirit, do Nirvana), a evocações de Prince e Gang of Four – no indie-disco Back!, música boa de pista, e que tem lá suas lembranças de estilos como afrobeat. Wipilapilore encerra o disquinho com certo clima jazzy, vocais fantásticos da cantora Kim e lembranças de Billie Eilish aqui e ali – além de um solo do tal geomungo. Dá vontade de esperar por mais coisas deles.

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