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Crítica

Ouvimos: Milton Nascimento e Esperanza Spalding, “Milton + Esperanza”

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Ouvimos: Milton Nascimento e Esperanza Spalding, “Milton + Esperanza”

Primeira coisa que você vai notar a respeito de Milton + Esperanza, disco que reúne o cantor e a jazzista: sim, Milton Nascimento está cantando muito bem. Mesmo que sua voz não seja mais a dos anos 1970 e 1980, ele se adaptou otimamente ao barítono atual, e segue a vida. O fim das turnês é providencial para o sossego do homem de 81 anos, mas o artista vai bem.

A segunda coisa que você provavelmente vai perceber é a principal: a dupla fez um disco que, quando relê clássicos, não se limita a reler – reimagina as músicas de acordo com uma noção bastante livre e até cinematográfica de jazz. Não foi por acaso que Milton e Esperanza releram A day in the life, dos Beatles. É o território de Milton (fã dos quatro de Liverpool), e a turma recria o universo psicodélico de efeitos e de sons orquestrais do original, tratando o estúdio como um palco. Como é permitido sonhar, lá vai: Naná Vasconcellos (1944-2016), velho colaborador de Milton, faria o diabo nessa versão. Infelizmente não foi possível.

Em meio a vinhetas que mostram como andava o clima no estúdio durante as gravações (Outro planeta traz risadas e conversas da dupla, e Milton fala em inglês como se sua voz viesse, de fato, de um universo bem distante), do repertório antigo de Milton, emocionam a versão calma e quase cinematográfica de Cais, Esperanza parecendo soar como uma Elis Regina mais jazzística em Outubro, e o espetáculo acústico de Saudade dos aviões da Panair. Um detalhe é que Esperanza e os músicos deram um ar bem alegre e tranquilo a esse repertório, mesmo ao que parecia mais melancólico e sisudo no original (a própria Cais, por exemplo).

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O disco é repleto de participações – em Saudade, aparecem Maria Gadú, Lianne La Havas e Tim Bernardes, por exemplo. Morro velho, com a Orquestra Ouro Preto, perde em exuberância se comparado ao original – manteve o aspecto contemplativo da música, mas soa como se algo já consagrado não devesse ser mexido. Em Um vento passou, talvez por estar cantando em português, o convidado Paul Simon dá uma desaparecida básica diante do anfitrião Milton Nascimento. Saci, com o co-autor Guinga no violão, mexe muito bem no território do jazz influenciado por vibes brasileiras.

Passada a hora de audição de Milton + Esperanza, fica a impressão de um disco que é mais que um disco. É um lugar no qual todo mundo gostaria de estar, uma sessão de gravação que todo mundo gostaria de visitar (um vislumbre disso foi conseguido com o Tiny Desk da dupla). Os sorrisos largos na capa refletem muito bem tudo o que foi feito no álbum, enfim.

Nota: 9
Gravadora: Concord.

Crítica

Ouvimos: Gabriel Ventura – “Pra me lembrar de insistir”

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Ouvimos: Gabriel Ventura - "Pra me lembrar de insistir"

RESENHA: Gabriel Ventura mistura MPB, vibes grunge e climas experimentais em Pra me lembrar de insistir, disco ruidoso e inventivo feito pra ouvir com atenção.

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Músico fluminense, um dos fundadores da banda Ventre – que revelou também Larissa Conforto, do projeto musical Aiye, e Hugo Noguchi – Gabriel Ventura faz MPB com uma cara bem diversa em seu segundo disco solo, Pra me lembrar de insistir. Por mais que você consiga ver emanações de Milton Nascimento e até de Geraldo Azevedo no som de Gabriel, o principal ali é que se trata de um disco ruidoso, onde percussões e violões parecem ranger, e sons fantasmagóricos surgem por todo o lado.

Essa busca por um design sonoro menos formal acontece em todo o álbum – como em Lamber os dentes, no jazz silencioso de Acalento, na ambientação musical selvagem de Trovejar e no curioso drum’n bass orgânico de O que quiser de mim, que vai tendo modificações no ritmo e destaca justamente o som da bateria. O enfeite do não e do sim traz som percussivo e quase concretista, Toda canção soa quase esculpida em torno do violão – e muita coisa no álbum parece emanar uma MPB grunge, ou uma música brasileira que foi ouvir Caetano e Gil, mas não deixou de ouvir Velvet Underground e PJ Harvey.

Viagens sombrias aparecem também entre os rangidos de Cor de laranja, na estileira grunge-jazz-MPB de Fogos e na guitarra estilingada de Brusco. Pra me lembrar de insistir surge numa época em que fones são pequenos e plataformas achatam o som – mas soa como um disco da era do CD, em que havia aquela vontade de fotografar musicalmente o estúdio.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Balaclava
Lançamento: 6 de maio de 2025

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Crítica

Ouvimos: Matthew Nowhere – “Crystal heights”

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Ouvimos: Matthew Nowhere - "Crystal heights"

RESENHA: Matthew Nowhere homenageia os anos 1980 no álbum Crystal heights, com ecos de David Sylvian, Japan e Ultravox.

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Músico de San Francisco (CA), Matthew Nowhere não está muito preocupado em parecer inovador. Seu primeiro álbum, Crystal heights, é uma homenagem sincera à música dos anos 1980 e aos teclados da época. Também brinca com uma chuva de referências eletrônicas dos anos 1980, como o clima Jean Michel Jarre da vinheta Transmission, a evocação da fase tecnopop do Ultravox em Love is only what we are e da faixa-título, o clima sombrio e kraftwerkiano de Have you ever known, e a vibe de trilha de série do interlúdio Stellar enfoldment.

Crystal heights une várias vertentes tecladeiras da época, do mais pop ao mais experimental, passando pelo rock eletrônico. A elegância e o estilo de Transforming lembram David Sylvian e o Japan, enquanto Echoes still remain une climas tecnopop e ambient. Ruby shards tem violão e guitarra limpa, solar – remetendo ao disco Technique, do New Order (1989) – enquanto Everything’s true, mesmo com ritmo eletrônico demarcado, traz lembranças de Echo and The Bunnymen. Já Silver glass é uma curiosidade: uma espécie de tecnobrega cool, cuja melodia e arranjo lembram Peter Gabriel.

Persist3nce, no final do disco, é música eletrônica com pegada forte, mais próxima do hi-NRG, e clima de sonho darkwave dado pela participação da dupla de shoegaze voador Lunar Twin. Um momento em Crystal heights que traz memória e reinvenção misturadas.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Nowhere Sound
Lançamento: 23 de maio de 2025.

  • Relembrando: Ultravox – Systems of romance (1978)
  • A fase inicial do Ultravox no podcast do Pop Fantasma
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Crítica

Ouvimos: Krustáceos – “Bicho bruto” (EP)

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Ouvimos: Krustáceos - "Bicho bruto" (EP)

RESENHA: Krustáceos estreia com o EP Bicho bruto, que mistura pós-punk, tecnopop e zoeira à la anos 1980 e 1990.

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Krustáceos é o codinome do produtor musical e trilheiro de cinema Pedro Sodré, e Bicho bruto é a estreia em EP do projeto. Um disco de seis faixas que faz um retorno bastante sincero não apenas na musicalidade dos anos 1980 como também no clima de vale-tudo musical e lírico da época. Boa parte do repertório, em letra e música, lembra direto Talking Heads e U2 – só que aí o U2 provocador do começo dos anos 1990, do disco Zooropa (1993). A faixa-título, que abre o disco, tem guitarra em tom funk e letra que inicia lembrando Numb, de Bono & cia.

Na sequência, o pós-punk e os teclados em vibe tecnopop de Kunk, a zoação com a onda de influencers na fantasmagórica Devora-me ou te decifro (“investe tempo em produção sem produzir o conhecimento”, diz a letra) e o tecnopop na cola da Orchestral Manoeuvres In The Dark – com ótima intervenção de metais no final – de E então as luzes…Amor aos litros tem algo de synthpop e algo de R.E.M,. e Não vai ser com medo tem jeito de hino pós-punk, mas com clima zoeiro.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Nous Music
Lançamento: 8 de maio de 2025

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  • Ouvimos: Godofredo – Tutorial
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