Crítica
Ouvimos: Katy J Pearson, “Someday, now”

- Someday, now é o terceiro álbum da cantora britânica Katy J Pearson. O disco foi gravado no mitológico Rockfield Studios, no País de Gales, e traz Katy acompanhada de uma banda de músicos allstar de sua gravadora, a Heavenly Records. Conhecido pelos trabalhos com Carly Rae Jepsen, Ben Howard, Nilüfer Yanya e Avalon Emerson, o produtor Nathan Jenkins (Bullion) cuidou do álbum.
- “Eu sabia exatamente com quem queria trabalhar, sabia exatamente quem seria minha banda de estúdio, sabia onde queria gravar. Parecia que eu finalmente estava dando as cartas por mim mesma, e isso foi tão fortalecedor”, contou ela, que celebra o disco como sendo uma volta ao pop. No comecinho da carreira, Katy fez parte de uma dupla com seu irmão Rob, o Ardyn. A experiência foi traumática: o selo com o qual a dupla assinou pressionava os dois para fazerem canções de sucesso, e o Ardyn ficou na pista. “Isso me deixou com medo do pop”, conta, dizendo que agora “encontrei meu caminho de volta para mim mesma”.
Se o folk britânico geralmente é esquecido no churrasco quando se fala dos grandes nomes do estilo musical (bom, tem o Fairport Convention), imagina o country feito na terra dos Beatles e do Oasis. Vinda de Bristol, Katy J Pearson chegou a se dizer a “líder da nova cena country” quando lançou o bom disco de estreia Return, em 2020. Parecia mais uma auto-ironia do que uma demonstração de ego enorme, já que falando francamente, não havia muita cena para ela liderar – nomes pop e pós-punk costumam sair da Inglaterra bem mais do que artistas armados de violão e voz.
O fato é que em Someday now, seu terceiro álbum, ela volta armada de excelentes canções, um produtor eficiente (Nathan Jenkins, o popular Bullion) e uma tendência musical mais próxima do indie-folk, combinando belezas como as baladas Maybe, Sky (que lembra um Pavement arrumadinho) e It’s mine now, a canções cortantes como Long range driver (lembrando PJ Harvey, só que bem menos explosiva).
O repertório tem também tristezinhas mais lúgubres e mais próximas dos universos de Laura Nyro e até de Lou Reed, como Constant (levada adiante por bateria e piano), ou Someday, que lembra uma Judee Sill pouco menos melancólica. Rolam as tradicionais influências de Fleetwood Mac na fase Stevie Nicks (comuns em artistas atuais do indie ao pop) em Those goodbyes. Tem ainda a new wave discreta de Grand final e Save me, e a balada hipnotizante Siren song.
Nota: 9
Gravadora: Heavenly Records
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Crítica
Ouvimos: Jovens Ateus, “Vol. 1”

Aguardado com certa expectativa, o álbum da banda paranaense Jovens Ateus é sombrio, opera entre o pós-punk e a darkwave, e pode ser resumido por uma referência: o The Cure de discos sorumbáticos como Seventeen seconds (1980) e Disintegration (1989). O baixo de Bruno Deffune dá a argamassa de boa parte do repertório, e ele caminha, em várias faixas, para algo próximo dos hits mais deprês do grupo britânico, como A forest e Lovesong.
Você encontra essa sonoridade em faixas de Vol. 1 como Espelhos, Cedo demais, Homem em ruínas e Passos lentos, e também na fantasmagórica Introspectro, algo entre The Cure, Joy Division e My Bloody Valentine. Em Mágoas, um riff de guitarra costura aquele que é o pós-punk mais ensolarado do álbum – por sinal num álbum no qual a palavra “ensolarado” não pode ser encaixada com facilidade. Baixo e synth dão a cara de Flores mortas, vibrações eletrônicas marcam a vinheta tamanho-família Twinturbo mixtape e um insuspeito lado metalcore (!) da banda dá as caras em Saboteur got me bloody, que lembra Ministry.
Nota: 8
Gravadora: Balaclava Records
Lançamentos: 10 de abril de 2025.
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Crítica
Ouvimos: Funeral Macaco, “Idade do pássaro” (EP)

Com origens na “cacofonia da favela de Rio das Pedras, Zona Oeste do Rio” (frase tirada do próprio Instagram do grupo), o som do Funeral Macaco une pós-punk e brasilidades, num resultado que lembra tanto o rock pernambucano dos anos 1990 quanto bandas como Black Future e Paulo Bagunça e a Tropa Maldita. A capa do disco, por sua vez, dá uns traços com a de Exuma I, a estreia do Exuma (do hit Exuma, The Obeah Man).
Canicule, a faixa-título, resume tudo: baixo pesado, batuque de umbanda, vocal parecendo um dialeto, guitarra econômica, bateria soando como uma porrada rápida, entre rock e jazz – basicamente uma só nota entendida e transformada em algo pesado e sombrio. Congo e Angola é um samba fantasmagórico, com letra que lembra algo de Luiz Melodia. Frevo é um frevo de vocal furioso e bateria igualmente tensa, uma energia que passa pelo entendimento pós-punk do estilo.
General Candongueiro traz vocal cantado num ponto de umbanda, letra soando como homenagem a uma entidade – algo que ressoa na percussão-e-voz de Morangueira, e no ritmo quase cardíaco, que vai crescendo aos poucos em letra e peso musical, de O tempo do maquinário não é o mesmo e Exu Elégbará. Ao vivo, o Funeral Macaco deve ser uma enorme surpresa – e vale esperar pelos próximos shows.
Nota: 10
Gravadora: Independente
Lançamento: 13 de março de 2025
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Crítica
Ouvimos: Morcegula, “Caravana dos desajustados”

Com formação pouco usual – um duo de guitarra e bateria, sendo que a bateria é tocada em pé e sem uso de pratos – o Morcegula, formado por Badke (Carbona) e Rebeca Li (Pulmão Negro) faz rock de garagem e punk com referências de Ramones, Blondie, B-52s, Cramps e até Rita Lee e Mutantes.
Algo que remete ao grupo paulistano pode ser encontrado nas letras de faixas como Formiga (uma espécie de apologia às formigas, e uma das melhores letras do disco) e Ratazanagem, enquanto um cruzamento com The Hives surge em Jupiter falou. Tomo 13 é punk melódico com lembranças de Strenght to endure (Ramones) e um clima próximo das músicas de Chuck Berry aparece na abertura de R de rei.
O lado Cramps do Morcegula surge não apenas em referências musicais, como também na opção por um rock “de terror” – sempre apontando para o lado das criaturas marginais, como na faixa-título, e em músicas como Noiva cadáver e Causa mortis. Basicamente rock simples e com ganchos que remetem ao punk noturno e rueiro, destinado ao último volume.
Nota: 8,5
Gravadora: Goma Base
Lançamento: 10 de abril de 2025
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