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Crítica

Ouvimos: DITZ, “Never exhale”

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Ouvimos: Ditz, "Never exhale"
  • Never exhale é o segundo álbum do DITZ, banda de “pós-pós-punk” (definição deles) de Brighton, na Inglaterra. “As músicas que formam seu mais novo álbum foram escritas pela Europa, geralmente em dias de folga e em salas de ensaio emprestadas”, afirma o release.
  • A banda é formada por C. A. Francis (vocal), Caleb Remnant (baixo), Anton Mocock (guitarra), Jack Looker (guitarra) e Sam Evans (bateria).
  • “Eu adoro quando as bandas conseguem assustar você com um pouco de música. Isso é legal”, diz C.A. Francis num papo com o site Stereogum. “Essa é uma das coisas que seriam um ingrediente essencial, essa sensação de ameaça. Mas acho que é só encontrar maneiras diferentes de fazer isso”.

Ouvido distraidamente, o som do DITZ lembra bastante o de bandas como Helmet e The Jesus Lizard. Já com uma ouvida mais calma e menos distraída… continua lembrando bastante. Mas de qualquer jeito essa banda de Brighton adiciona tags de rock industrial, vibes de meter medo e um glacê quase eletrônico em cima de seu som pesado, gutural e ruidoso. Em alguns momentos, o som flerta com Depeche Mode, Killing Joke e Ministry, o que já faz a banda criar um caos sonoro próprio.

O segundo disco, Never exhale, é a voz do caos, do pânico e da ansiedade – tudo junto e misturado, em letras, vocais, composições e arranjos. O som, já que falamos em Helmet, é uma versão 2025 do metal-cabeça-incrível dos anos 1980, herdado diretamente do lado mais pesado do pós-punk – mas pode incluir Swans, além de bandas mais recentes como Idles, nessa jogada aí, também. V70, a faixa de abertura, é bem isso, com peso, distorção, abertura com duas notinhas de guitarra, e uma torrente de ruídos no final. Taxi man tem baixo e riff de guitarra à frente, com voz gritada e ríspida. Smells like something died here abre como um heavy metal de filme policial, com um baixo gravíssimo e econômico na abertura.

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Em todo o álbum, o vocal é quase sempre falado, em tom de ameaça ou de ordem. Uma outra tendência de Never exhale são as guitarras apitando, como se fossem buzinas do apocalipse ou de treinamento de incêndio. Esse som toma conta de faixas como Four (uma canção, conforme destaca C.A. Francis, sobre “a mercantilização da cultura queer” e sobre como as grandes empresas estão sendo oportunistas e aproveitadoras em relação ao público LGBTQIAP+), 18 wheeler, God on a speed dial (nesta, há passagens em que as guitarras soam como correntes arrastadas pelos cantos) e Space/smile – esta última, uma faixa cujo som vai se tornando mais gritado e opressivo à medida que a música cresce no ouvindo.

Já em The body is a structure, o grupo encarna um Depeche Mode em preto e branco. E no encerramento, a banda entrega os sete minutos de Britney, uma faixa que começa com vibe mafiosa, carregada de tensão – até se transformar em um trip hop metálico, denso e introspectivo. O DITZ apresenta em Never exhale barulho, tensão e caos organizado. E, no meio disso tudo, canções que prendem pelo impacto e pelo peso. Vale ouvir hoje mesmo.

Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 24 de janeiro de 2025.

Crítica

Ouvimos: Don L – “Caro vapor II – qual a forma de pagamento?”

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RESENHA: Don L une rap, samba, bossa e crítica social em Caro vapor II, com samples raros, feats de peso e beats que traduzem o Brasil de hoje.

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O rapper cearense Don L já vai para o céu só por escapar do tradicional “ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro” e samplear uma música pouco conhecida de Belchior. A faixa Aff Maria, com participação de Giovanni Cidreira – uma das melhores deste Caro vapor II – usa trechos do balanço psych-nordestino Senhor dono da casa, do álbum de 1973 do cantor (o mesmo que tem Todo sujo de batom).

E nem é só isso: Caro vapor II – qual a forma de pagamento?, que continua a saga de Caro vapor – Vida e veneno de Don L (2013), tem um dos melhores sons de rap tirados no Brasil nos últimos tempos, unindo samba, rap, bossa, funk, brasilidades e participações especiais de peso, além de referências que soam como uma crônica dos nossos tempos.

É o que rola na parábola Para Kendrick e Kanye (que abre com trecho de Para Lennon e McCartney, sucesso de Milton Nascimento). A letra mostra que rap no Brasil é outro papo – altas cifras, fotos com Donald Trump, picunhas internas e comportamentos duvidosos, típicos dos rappers norte-americanos, são substituídos por dia a dia bruto e sonhos de malandro. Bossa é o que o próprio título diz: um rap bossa viajante que esfrega na cara a ficção dos reality shows.

  • Ouvimos: Djonga – Quanto mais eu como, mais fome eu sinto!
  • Ouvimos: BK’ – Diamantes, lágrimas e rostos para esquecer
  • Ouvimos: Stefanie – Bunmi

No decorrer do repertório, as participações vão surgindo como partes de um cenário onde as histórias se desenvolvem. O rap pinkfloydiano Saudade do mar traz Alice Caymmi cantando Só louco (do avô Dorival). Dias de verão traz Luiza de Alexandre soltando a voz ao fundo – em meio a versos sobre masculinidade, fragilidade e relacionamentos tóxicos. Tristeza não, samba-funk-rap, abre com os vocais de Anelis Assumpção, e em tempos de IA, avisa “robô, pelo amor, me erra”. O rapper paulistano Terra Preta tira um ragga de dentro do rap-baião orquestral Imigrante.

Caro vapor II desenvolve-se num cenário em que nada vem fácil, o dia a dia é estranho, e na web, ninguém sabe direito onde está o dinheiro e de onde ele vem – temas que pairam sobre todo o álbum, até mesmo quando ele fala de amor. De hit em potencial, tem a sacanagem de Pimpei seu estilo, o rap nordestino da já citada Aff Maria e a dramaticidade de Iminência parda (construída sobre a base de Susto, do cearense Rodger Rogério).

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10
Gravadora: Independente
Lançamento: 16 de junho de 2025

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Crítica

Ouvimos: U.S. Girls – “Scratch it”

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RESENHA: No novo disco do U.S. Girls, Scratch it, Meg Remy abraça o soft rock, evoca Bowie, Velvet, Carly Simon e trata de maternidade, luto e crítica social com emoção.

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Meg Remy, compositora, cantora, musicista e criadora do U.S. Girls, vestiu a capa do soft rock no disco novo – talvez seguindo uma tendência que já vem rolando há um tempinho na música pop, talvez achando que é mesmo hora de serenar, depois de ter passado por estilos como música eletrônica e rock industrial nos discos anteriores.

Scratch it, gravado em fita durante dez dias, abre com um curioso bubblegum, Like james said, que tem lá seus ares de Sugar sugar (o hit dos Archies), mas é uma homenagem à dança de James Brown. É uma música que traz um excelente arranjo de cordas e ainda insere na letra a busca de espaço próprio, usando a imagem da dança solo: “Eu sou a rainha de exorcizar a dor / esta coreografia é só para mim”.

Dear Patti, som sixties com encosto de blues, de Velvet Underground e de girl groups sessentistas, é dedicada a Patti Smith. A letra cita o fato de Meg ter perdido um show da cantora (num festival em que, lembra Meg, “havia apenas duas mulheres no palco”) e credita o furo ao dia a dia de mãe de gêmeos. “Estava me certificando de que meus filhos não caíssem no lago”, canta ela, num tom em que você percebe realmente que, seja lá a importância do que tenha acontecido, ela ficou realmente descacetada de não comparecer ao tal show.

  • Ouvimos: Amy Millan – I went to find you
  • Ouvimos: Kim Deal – Nobody loves you more
  • Ouvimos: Prism Shores – Out from underneath

Um tom mais ligado à música agridoce dos anos 1970 vai se avizinhando aos poucos em Scratch it, e surge com força nas duas únicas covers do disco: Firefly on the 4th of July, composição do canadense Alex Lukashevsky, soa à primeira vista como uma canção ingênua a la Peter, Paul & Mary, ou uma paródia de hino nacional – e a letra fala em medo nuclear e abandono (“estou apenas deitado aqui dividido pelos meus filhos / ninguém virá me encontrar e me salvar”). The clearing, do norte-americano Micah Blue Smaldone, é country rock com estilo de hino, tocado no piano Rhodes e na guitarra, com letra apontando o Toque de Midas reverso dos seres humanos, que “rasgam o que não podem consertar / quebram o que não podem dobrar”.

Esse tom de enfrentamento do poder, de dedo apontado para a realidade, paira sobre quase todo o disco. Até mesmo nos doze minutos de Bookends, som estradeiro lembrando Carly Simon e Joni Mitchell, dedicado ao falecido vocalista do Power Trip, Riley Gale: “Riley estava sempre falando sobre a cruz e quebrando-a”, canta, antes de exclamar que está constantemente se perguntando “para onde Riley foi”. Emptying the Jimador investe no country folk melancólico, com Meg vestindo a capa da pessoa que luta pela própria sanidade num mundo que não dá trégua a ninguém (“eu sou a lenda da minha vida, e isso é muita coisa para segurar / quantas vezes eu derramo tudo”).

Mergulhando no rock de adulto e nas emoções fortes, o U.S. Girls também evoca Steely Dan e Supertramp, mas sem o mesmo balanço, em Walking song, e recorda algo do David Bowie de 1969 no soul-gospel de No fruit, hino da hora da colheita (“você sabe que eu sei que todo mundo pensa que pode crescer com apenas um pouco de água / cara, se você não plantar pensando na lua / você certamente sofrerá com raízes superficiais”).

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: 4AD
Lançamento: 20 de junho de 2025

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Crítica

Ouvimos: Marina – “Princess of power”

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RESENHA: Em Princess of power, Marina mistura estilos como disco music e synthpop com letras que equilibram amadurecimento, nostalgia digital e humor adolescente.

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Princess of power é o sexto disco da galesa Marina – e o terceiro em que ela assina sem usar a continuação “… and the Diamonds” ao lado do nome. De modo geral, a segunda fase tem sido um período de redescobertas e autodescobertas para Marina, que dessa vez volta unindo pop de câmara e vibes herdadas da disco music, estilos que acabam valorizando seus vocais fortes. A faixa-título, que inicia o álbum, é pop com cara de anos 2000, mas herdado de ABBA e Patrick Hernandez (Born to be alive parece ter sido ouvida um trilhão de vezes na hora de arranjar e gravar essa música).

Boa parte das letras de Princess of power fala de amadurecimento – só que do ponto de vista de alguém que ainda se sente mais próxima da adolescência que do mundo adulto. Marina, que faz 40 anos em outubro. Cuntissimo, hi-NRG forte com vocais lembrando Mariska Veras, saudosa vocalista do Shocking Blue, consegue ser meio camerística mesmo lembrando histórias de zorra total pelas ruas, sexo, drogas, bebida e mensagens no estilo “oi sumida” de ex-namorados e ex-maridos. Butterfly, que traz algo da house music dos anos 1990, tem a mesma disposição para dizer “agora chega!” de boa parte das letras de I quit, disco novo das Haim – mas leva esse clima para algo mais próximo do pop atual.

Essa dicotomia entre seriedade cult e desencanação é bem a cara de Marina – e mais ainda a cara de Princess of power. O disco invade a área dos Sparks no tecnopop Cupid’s girl, une disco music e pop feminino sessentista em Metallic stallion, junta pop francês e disco music em Je ne sais quoi. E dá balanço latino à dance music setentista em Digital fantasy – uma música inspirada em aplicativos de relacionamentos, mas que acaba se tornando uma discurseira pop sobre imagens e projeções.

Em alguns momentos parece que a própria Marina, consciente dessa dicotomia adulto/adolescente, não sabe direito para onde vai correr. Mas talvez aí esteja até a graça de Princess of power, já que ele é voltado para quem tem nostalgia de ICQ, mIRC, Bate-papo UOL e Orkut. o disco tem uma baladinha eletropop chamada Hello Kitty (que, diz ela, fala sobre homens que gostam de gatos) e em Cuntissimo, ela chega a se perguntar: “as pessoas ainda dizem YOLO?” (o “you only live once” que virou mania nos chats há alguns anos e volta e meia é ressucitado).

Musicalmente falando, nem tudo em Princess of power é uma surpresa de verdade. Na real, muita coisa ali é apenas bacana, e algumas (poucas) faixas dão sensação de preguiça. Uma delas é a balada tristinha Adult girl, que fala sobre a adolescência que escapou pelos dedos (“e agora sou apenas uma garota adulta”). De memorável, tem a evocação a American boy, de Estelle, na sacudida I <3 you – cuja letra propõe uma ida aos anos 70 e ao clima mais glam da disco music. O synthpop de Final boss, cheio de referências a videogames, leva Princess of power para um ótimo lado antes do fim. Entre erros e acertos, Princess of power pode até tropeçar, mas ainda entrega boas faíscas do brilho pop de Marina.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Queenie/BMG
Lançamento: 6 de junho de 2025.

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