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Cultura Pop

Os clipes mais estranhos da música pop (Parte II, anos 1990)

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Os clipes mais estranhos da música pop (Parte II, anos 1990)

Os clipes dos anos 1980 foram politicamente incorretos e tiveram exageros nos figurinos e cenários. Já nos 1990… Bom, a década destacou-se pelas produções um tanto mais minimalistas, mas não menos estranhas. Os clipes eram cheios de provocações e de excesso de permissividade – este, bem proposital. Nos anos 1990, a MTV aterrissava no Brasil em 20 de outubro de 1990 – o primeiro vídeo foi um clipe da cantora Marina Lima, a versão dela para Garota de Ipanema.

Ao contrário dos clipes dos ingênuos anos 1980 que só mostravam “peitcholas” ou insinuavam homossexualidade, na década de 1990 os momentos políticos e sociais – com o fim das eras Reagan e Thatcher, somados com os ventos da democracia no Brasil – permitiram mensagens explícitas nas letras e clipes. Tudo a ver com uma nova sociedade, bem mais liberal. Ou não?

“HE’S MY THING” – BABES IN TOYLAND (1990): A cena grunge sempre foi marcada pela despretensão: no figurino, nos arranjos musicais. Mas foi um período inegavelmente criativo. Mesmo tendo baixo orçamento, uma das melhores bandas de rock alternativo de Minneapolis – composta somente por garotas – conseguiu fazer um vídeo memorável, de uma música extraída de seu primeiro álbum Spanking machine.

Mas, atenção: Se você sofre de automatonofobia – medo ou aversão a bonecos, ventríloquos etc. – este clipe não é para você! Dirigido pelos diretores Phil Harder e Mark Etoll, a energia dos vocais de Kat Bejlland parece transpor-se pelos inúmeros bonecos macabros que aparecem neste clipe, com direito a momentos a la “Chucky” com faca e tudo. Também, pudera, a letra fala sobre proteger o que é meu (no caso, o homem) das concorrentes… Este clipe foi muito exibido pela programação da MTV Brasil, no programa Lado B, apresentado pelo jornalista Fábio Massari. Que estes bonecos do clipe dão um medinho, isso é fato.

“PURE MORNING” – PLACEBO (1998): Este clipe tem uma temática bastante forte. Nos dias de hoje com certeza seria considerado pesado demais para ser exibido na MTV. Filmado em Londres, na região da Savoy Street e dirigido por Nick Gordon, o enredo retrata um jovem suicida (o vocalista Brian Molko) no parapeito de um prédio, indeciso entre se jogar ou não. Vestido de preto, maquiado, descalço e com unhas pintadas de preto, o potencial suicida é observado por bombeiros, policiais, jornalistas e transeuntes que assistem – perplexos – ao seu salto para a morte.

Entretanto, um final surpreendente: o vocalista anda pelas paredes. Embora tenha um, er, final feliz, o clipe é deveras soturno e, muito provavelmente, seria banido, editado ou até modificado atualmente uma vez que poderia induzir os jovens ao suicídio. Entretanto, na época de lançamento, ele foi aclamado pela crítica e exibido normalmente pelos canais musicais como MTV e VH1.

“HAPPINESS IN SLAVERY” – NINE INCH NAILS (1992): Uma das bandas mais “banidas” da MTV Americana, Nine Inch Nails teve seu estranho clipe exibido na íntegra pelo programa Lado B na MTV Brasil. Dirigido por Jon Reiss, ele foi inspirado em um romance francês do século 19, Os jardins dos suplícios, de Octave Mirbeau. A obra tratava de um período decadente e crítico da literatura e da arte francesa, em que a sociedade da época e o colonialismo eram postos em xeque com enredos e pinturas que descreviam belos cenários – porém com personagens mutilados, empalados e ensanguentados.

Com uma inspiração destas, não poderia ser surpresa um clipe rodado em preto e branco cujo protagonista – o artista performático Bob Flanagan – entra em uma sala com um altar cheio de flores e velas, passa por uma espécie de esteira mecânica em queas máquinas começam a despi-lo e, também, a retirar sua pele! Enquanto isso, o vocalista, Trent Reznor, faz a performance cantando no interior de uma cela. Ao sair, vai parar na mesma sala e, embora não haja repetição do mesmo ritual, subentende-se que ele também será despido e esfolado vivo…

Questionado pela imprensa da época sobre o estilo violento da gravação, Trent Reznor garantiu que nunca quis chocar com a violência, mas chamar a atenção para os problemas da sociedade da época, que continuavam incomodando. Infelizmente, o clipe é considerado tão violento que foi banido do YouTube definitivamente, mas um canal fez o upload do clipe. Bastante editado, por sinal. Só quem viveu os anos 1990, parece, é que pode tirar as conclusões ainda hoje. Como eu fui espectadora do Lado B MTV e assisti ao clipe em seu lançamento neste icônico programa, posso dizer que sim, era um clipe violento e algumas pessoas mais sensíveis realmente ficariam bem chocadas.

“SENDING ALL MY LOVE” – LINEAR. Filmado em Fort Lauderdale, Flórida, no início de 1990, o clipe do Linear, uma banda de freestyle (aquele tipo de som que rolava direto em bailes funk entre os anos 1980 e 1990), é aquele típico de baixo orçamento. Além de muito, mas muito cafona.

Os integrantes Charles Pennachio, Joey Restivo e Wyatt Pauley eram todos trabalhados no mullet – o corte de cabelo, aliás, era de deixar Chitãozinho e Xororó verdes de inveja. Com muitos passinhos pra frente, passinhos pra trás, um lado e para o outro, jaquetas de couro e faixas no cabelo, camiseta branca, umbiguinho (masculino) de fora, dancinhas coreografadas, piruetas e mortaizinhos, o clipe vai se desenrolando com cenas românticas. E muita interação do vocalista Charles com uma modelo, fazendo caras e bocas deitado sobre muitas cartas de amor. Filmado em praias da Flórida, o clipe foi dirigido e financiado pelo produtor da banda, Tolga Katas, em conjunto com Charlie – assim como o LP de lançamento do Linear.

Duas curiosidades sobre Sending all my love: 1) a música ganhou uma versão indiana, feita para Ishq, filme de Indra Kumar; 2) esteve na trilha de Mico preto, novela da Globo.

“THE BAD TOUCH” – BLOODHOUND GANG (1999). Pense em um vídeo escatológico e de contexto puramente sexual, politicamente incorreto ao extremo. Pois é, provavelmente foi The bad touch, que fez um baita sucesso por aqui há vinte anos, que veio na sua mente. Embora a música seja bem dançante, a banda americana da Pensilvânia é considerada de rock alternativo. Foi formada no começo dos anos 1990 por James Moyer Franks e Michael Bowe, com o acréscimo do baixista Jared Hennegan em 1994. O grupo passou a tocar no lendário clube CBGB, em Nova York, Sem muitas pretensões, a Bloodhound Gang sempre alegou que era 100% influenciada pelo grupo nova-iorquino Beastie Boys.

A escatologia e o mau gosto correram soltos nesta música e também no clipe. Lançado em maio de 1999 e dirigido por Richard Reines, o vídeo começa com os integrantes da banda fantasiados de ratos gigantes, com orelhas desproporcionais. Gravado em locais turísticos de Paris, o vídeo sem censura já mostra dois macacos “copulando” e dois integrantes da banda fazendo a mesma representação de um sexo gay selvagem. Depois, o nonsense de modelos caminhando em vestidos pretos e curtos, desmaiando quando são atingidas por zarabatanas e depois carregadas pelos integrantes da banda.

Os músicos fazem gestos meio obscenos, subentendendo que vai rolar sexo selvagem com aquelas mulheres desacordadas. Ah, sim, tem a letra: “let’s do it like they do it on the Discovery Channel” (“vamos fazer sexo como os animais fazem no Discovery Channel”). Se não bastasse o fim da picada de representar mulheres como presas, o clipe ainda traz dois atores com boinas típicas francesas num restaurante em Paris – como se representassem um casal gay, que é atingido por dois integrantes da banda com salames!

Hoje em dia isso seria considerado homofobia nível hard, claro. Mas, calma: não para por aí. No final, dois dos músicos simulam uma diarreia e despejam nas caras um do outro um material mole e marrom. Na época em que o clipe foi exibido pela MTV Brasil, os integrantes da banda disseram que o tal material era só chocolate. Vendo o clipe, é bom a gente pensar assim.

Diante de tanta polêmica, o clipe e a música fizeram sucesso estrondoso na Europa, sobretudo no Reino Unido, Noruega, Bélgica, Suécia e na Alemanha. O clipe é censurado até hoje mundialmente e a música tem uma versão com uma letra mais polida para se tocar nas rádios mais conservadoras. Nos dias de hoje, não há dúvidas que seriam criticados à exaustão pelas feministas e pelo público LGBT (na época, inclusive, choviam críticas).

“SMACK MY BITCH UP”- PRODIGY (1997): Um dos vídeos mais controversos de todos os tempos, feito em primeira pessoa, como se fosse um youtuber numa noitada daquelas – com direito a muita bebida, drogas pesadas, sexo, violência e baixaria. Dirigido por Jonas Akerlund, o clipe foi rodado em várias locações em Londres, mais especificamente na região do Soho. O clipe começa pela perspectiva de alguém que acorda muito tarde, levanta da cama, vai ao banheiro, troca de roupa, dá uma cafungada na cocaína e sai pra balada. E sai causando por onde passa: toma todas, assedia as mulheres arrumando briga numa casa noturna, destrói as pick-ups do DJ. Não satisfeita, a personagem em primeira pessoa vomita no banheiro, local onde também dá um pico de heroína.

Achou demais pra você? O comportamento antissocial continua. Noiado e vomitando as tripas para todos os lados como se não houvesse amanhã, o personagem segue para uma casa de strip tease. Começa a molestar as strippers. Uma delas (uma atriz pornô que curiosamente se chama Teresa May – sem o “h”) é seduzida e começa a putaria, ainda na casa noturna. Seguem em direção ao carro. Bebendo todas e dirigindo, a personagem principal do clipe ainda atropela uma pessoa no caminho sem prestar socorro! De volta ao quarto, a possibilidade é de muito rala e rola, só que (um escândalo na época), a personagem que fez aquele tumulto todo não é um homem. Foi uma mulher que causou todo aquele fuzuê!

O clipe é maravilhosamente bem executado, muito bem dirigido, fotografia impecável. O roteiro está dentro do contexto da música, que repete apenas um refrão o tempo todo: “change my pitch up/smack my bitch up”. Talvez por isso tenha rendido tantos prêmios, apesar das polêmicas e acusações de que a música e o clipe são misóginos, violentos, induzem os jovens às drogas e a comportamentos antissociais, etc. Smack my bitch up foi banido da MTV americana e, nos demais países (como o Brasil), só era exibido depois das 23 h. Volta e meia ele some do YouTube, mas por enquanto podemos ver a versão sem cortes.

https://www.youtube.com/watch?v=79iqeItl4SE

44 anos. Gosta de Cultura Pop, Moda, Literatura, Sociologia, Cinema, Fotografia e é movida à Música desde que se entende por gente. Bacharel em Direito, enveredou-se para as Relações Internacionais e atualmente encontra-se em fase de mudanças profissionais.

Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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4 discos

4 discos: Elvis Presley no final

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4 discos: Elvis Presley no final

Ainda que o mercado de álbuns estivesse bastante fortalecido desde o fim dos anos 1960, isso não chamava a atenção de Elvis Presley (1935-1977), e muito menos a de seu empresário, o Coronel Tom Parker (1909-1997). O cantor não parecia se interessar muito por LPs, apesar de ter tido grandes vendagens de álbuns desde o começo. Muitas vezes, Elvis apenas gravava o que tinha vontade, e deixava que a RCA, sua gravadora, escolhesse capas, repertório e (o principal) como e de que maneira cada gravação seria aproveitada.

Nos anos 1970, com Elvis enclausurado em sua mansão e cada vez mais descontrolado (no apetite, nas drogas, na violência etc), o cantor ficou também cada vez mais desinteressado em gravar regularmente. Seus álbuns começavam a se tornar compilações de gravações, quase sempre feitas em etapas diferentes. Não era nem preciso que as sessões passassem pelos mesmos esquemas de produção, embora os álbuns pós-1966 do cantor tivessem todos o mesmo produtor. Era o ex-cantor Felton Jarvis, que chegou a lançar em 1959 um single cujo lado B era um tributo chamado Don’t knock Elvis.

O álbum That’s the way it is (1970), por exemplo, foi feito a partir de oito faixas gravadas do estúdio da RCA em Nashville, mas também entraram quatro faixas gravadas ao vivo em Las Vegas. Por sua vez, o restante dessas sessões de Nashville foi lançado gradativamente em singles e rendeu também o álbum Elvis country, de 1971. Era como se os álbuns do cantor, com raras exceções, já fossem compilações de out takes. E o que não falta é crítico de rock apontando para esse clima “alhos com bugalhos” na parte final da discografia de Elvis.

Pois bem, resolvemos revisitar quatro álbuns dessa última década da carreira de Elvis Presley – que, você talvez saiba, teria completado 90 anos no dia 8 de janeiro. E pode crer: quem deixou esses discos para trás perdeu muita coisa. Mesmo os mais alheios à obra do cantor, que o conhecem apenas pelos grandes hits, podem encontrar surpresas agradáveis. Porque, sim, por trás daquela fachada de decadência, havia música pulsante. Se você nem sequer desconfiasse que a vida de Elvis andava uma zona daquelas, poderia acabar achando que ele já estava rico o suficiente e havia resolvido só gravar o que quisesse, para quem quisesse ouvir, e problema dele.

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  • Este texto foi inspirado por um outro texto, da newsletter do músico Giancalrlo Rufatto

“ELVIS NOW” (1972). O nome desse álbum de Elvis podia indicar que se tratava de um disco ao vivo, de uma coletânea, de um álbum de sobras, de um cata-corno musical – enfim, Elvis now, como título, não quer dizer lá muita coisa. De qualquer jeito, é um dos mais brilhantes lançamentos do cantor em sua última década. Numa época em que Elvis parecia ter entendido mais ou menos para que serviam os álbuns e estava adotando estilos musicais diferentes em cada lançamento (gospel, country, baladas, etc), seu décimo-sexto LP era o que mais se aproximava de um “programa de música” (digamos assim), cabendo vários estilos musicais de maneira equilibrada.

Para manter um hábito do cantor na época, Elvis now não era um disco de “agora”. Havia uma faixa gravada em 1969 (a versão dele para Hey Jude, dos Beatles, feita nas sessões que geraram o disco Elvis in Memphis, daquele ano) e gravações de 1970 e 1971. Ou seja: era basicamente um cozidão de sobras com material ainda sem destinação. De qualquer jeito, lá você ouve, além de Hey Jude, Elvis interpretando canções de Kris Kristofferson (Help me make it through the night), da ativista e cantora Buffy Sainte-Marie (a canção de amor classe-operária Until it’s time for you to go), de Gene McLellan (Put hand in the hand), Gordon Lightfoot (Early mornin’ rain) e até um clássico gospel tradicional que, poucos anos depois, Raul Seixas e Paulo Coelho fariam questão de chupar (I was born ten thousand years ago).

“RAISED ON ROCK/FOR OL’ TIMES SAKE” (1973). Mais uma vez uma capa de Elvis traz uma foto praticamente idêntica dele (Elvis proibia que o fotografassem fora do palco), e o título lembra o de um álbum pirata ou coletânea caça-níqueis. Mas esse disco é tido como o último álbum de estúdio verdadeiramente rocker de Elvis, e tem quem o considere o melhor álbum dessa fase. O repertório veio de sessões no Stax Studios (Memphis, Tennessee), em julho de 1973, além de outras gravações feitas na casa de Presley em Palm Springs, Califórnia, em setembro de 1973.

Raised on rock tem esses dois títulos porque aproveitou os nomes dos lados A e B de um single de sucesso do cantor – o que dá a impressão também de “single expandido para álbum” e feito às pressas. Uma ouvida distraída revela pérolas como as próprias músicas-título, além de Three corn patches (da dupla Leiber e Stoller), Just a little bit (sucesso do cantor Rosco Gordon) e Find out what’s happenin’ (country gravado em 1968 por Bobby Bare). Muita gente implicou bastante com aquele papo de “criado no rock”, ate porque a canção fala de uma pessoa que foi criada ouvindo hits como Johnny B. Goode, de Chuck Berry, e nada menos que Hound dog, gravada pelo próprio Elvis (!) em 1956. Mas pula essa parte porque a gravação é ótima.

“ELVIS TODAY” (1975). A capa e o título não dizem muita coisa, mas Today é um dos discos mais saidinhos dessa fase final da carreira do cantor. O som une música pop e country, em vez de se concentrar apenas num estilo. E fica claro, pela escolha de repertório, que o álbum foi um esforço grande de Elvis em tentar entender o que estava acontecendo ao seu redor na música.

Havia o rock country de T-R-O-U-B-L-E, um dos últimos hits do cantor no estilo que o havia consagrado. Tinha uma regravação de Fairytale, das Pointer Sisters, indicando que a transição do soul à disco já tinha sido devidamente observada por Elvis e sua turma. E havia algumas regravações bem bacanas de faixas recentes, como I can help, de Blly Swan, e Pieces of my life, de Troy Seals – muito embora, justamente por causa disso, ficasse a impressão de que Today, mais do que resultado de uma gravação em estúdio, era o resultado de uma mexida em várias demos. Ainda assim, era uma mostra de que Elvis ainda se reinventava. Da maneira dele, mas rolava sim.

“FROM ELVIS PRESLEY BOULEVARD, MEMPHIS, TENNESSEE” (1976). O título desse disco lembra o de um álbum póstumo ou coletânea. É apenas o vigésimo-terceiro álbum de Elvis, feito numa época em que o cantor nem sequer queria sair de casa para gravar, e a RCA mandou instalar um estúdio na casa dele. Foi lançado pouco após a excelente coletânea The Sun sessions, e, diz o site oficial do cantor, trouxe músicas “comercializadas como se Elvis estivesse finalmente emitindo um convite aos seus fãs para entrarem pelos portões de Graceland”. Inclusive vendeu mais do que a coletânea, embora tenha custado mais aos cofres da RCA do que Sun sessions.

A capa informa que se trata de um “disco ao vivo”, mas a realidade é bem diferente: não há palmas, e basicamente o material foi feito “ao vivo” dentro da própria mansão de Elvis. O repertório é de uma força impressionante, com destaque para a balada blues Hurt, a romântica Never again e as baladas country Dany boy e Bitter they are, harder they fall, além da grandiosa The last farewell. From Elvis Presley Boulevard não é apenas um disco: é um retrato do Rei em um momento de fragilidade e reclusão, mas ainda capaz de emocionar como poucos.

 

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Cultura Pop

Grammy 2025: as apostas do Pop Fantasma

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Grammy 2025: as apostas do Pop Fantasma

Informações básicas sobre o Grammy 2025, que vai rolar neste domingo (2 de fevereiro), às 21h30, horário de Brasília, nos Estados Unidos. Vamos por partes:

  • É a 67ª edição da premiação.
  • Uma porrada de gente vai fazer show na premiação. Entre os confirmados, Stevie Wonder, John Legend, Janelle Monáe, Chris Martin, Cynthia Erivo, Brittany Howard, Brad Paisley, Herbie Hancock, Jacob Collier, Lainey Wilson, St. Vincent e Sheryl Crow. A Academia afirmou também que estarão no palco nomes como Benson Boone, Sabrina Carpenter, Doechii, Raye, Chappell Roan, Teddy Swims, Shakira e Charli XCX.
  • O comediante sul-africano Trevor Noah vai apresentar o prêmio – ele comanda o palco do prêmio desde 2021.
  • Tem Brasil na premiação, já que Anitta concorre a melhor álbum de pop latino com Funk generation.
  • O canal de TV TNT e o serviço de streaming Max vão transmitir a premiação aqui no Brasil.
  • Após discussões iniciais, foi decidido que os incêndios em Los Angeles não causariam o adiamento do evento – e decidiu-se também que o Grammy será um instrumento para angariar fundos para ajudar a cidade.

E enfim, ninguém convidou o Pop Fantasma para votar lá, mas nós resolvemos mostrar nossas apostas, divididas em quem a gente acha que leva os prêmios, e quem a gente adoraria que ganhasse. Confira aí e faça suas apostas. Não votamos em todas as categorias, claro – são 94 e não nos sentimos capazes de opinar em várias delas.

(na foto, Charli XCX, que a gente gostaria que ganhasse numas três categorias).

Música do Ano
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
Billie Eilish, Birds of a feather
Lady Gaga and Bruno Mars, Die with a smile
Taylor Swift featuring Post Malone, Fortnight
Chappell Roan, Good luck, babe!
Kendrick Lamar, Not like us
Sabrina Carpenter, Please please please
Beyoncé, Texas hold ‘em
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Taylor Swift
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar

Revelação do Ano
Benson Boone
Sabrina Carpenter
Doechii
Khruangbin
RAYE
Chappell Roan
Shaboozey
Teddy Swims
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappell Roan
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Ficamos contentes se a Chappell ganhar, mas enfim, tem o Khruangbin

Melhor Performance Solo Pop
Beyoncé, Bodyguard
Sabrina Carpenter, Espresso
Charli XCX, Apple
Billie Eilish, Birds of a feather
Chappell Roan, Good luck, babe!
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Sabrina Carpenter é a campeã de audiência em algumas plataformas digitais, e tem grandes chances,
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX

Melhor Performance Dupla ou Grupo Pop
Gracie Abrams Featuring Taylor Swift, Us
Beyoncé Featuring Post Malone, Levii’s Jeans
Charli XCX & Billie Eilish, Guess
Ariana Grande, Brandy & Monica, The boy is mine
Lady Gaga & Bruno Mars. Die with a smile
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Grandes chances para o dueto de Lady Gaga e Bruno Mars
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX e Billie Eilish

Melhor Álbum Pop Vocal
Sabrina Carpenter, Short’n sweet
Billie Eilish, Hit me hard and soft
Ariana Grande, Eternal sunshine
Chappell Roan, The rise and fall pf a midwest princess
Taylor Swift, The tortured poets department
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappel Roan? Taylor Swift? Billie Eilish? Aí parece que TODAS podem ganhar.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE:
Billie Eilish

Melhor Álbum de Country
Beyoncé, Cowboy Carter
Post Malone, F-1 Trillion
Kacey Musgraves, Deeper Well
Chris Stapleton, Higher
Lainey Wilson, Whirlwind
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé

Melhor Performance Country Solo
Beyoncé, 16 Carriages
Chris Stapleton, It takes a woman
Jelly Roll, I am not OK
Kacey Musgraves, The architect
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton ou Shaboozey
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé (ou, vá lá, também o Shaboozey)

Melhor Gravação Dance/Eletrônica
Madison Beer, Make you mine
Charli XCX, Von Dutch
Billie Eilish, L’amour de ma vie (Over Now Extended Edit)
Ariana Grande, Yes, and?
Troye Sivan, Got me started
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: talvez, quem sabe, Billie Eilish
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX

Melhor Álbum de Pop Latino
Anitta, Funk generation
Luis Fonsi, El viaje
Kany García, García
Shakira, Las mujeres ya no lorran
Kali Uchis, Orquídeas
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Talvez a Kali Uchis
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Fernanda Torres no Oscar e Anitta no Grammy, já pensou? (mas Kali Uchis ganhando ia ser legal, Orquideas é um disco bacana).

Melhor Álbum de Rock
The Black Crowes, Happiness bastards
Fontaines D.C., Romance
Green Day, Saviors
Idles, TANGK
Pearl Jam, Dark matter
The Rolling Stones, Hackney diamonds
Jack White, No name
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Algo me diz que o primeiro álbum dos Stones lançado após a morte de Charlie Watts vai mexer com os jurados.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Jack White.

Melhor Performance de Rock
The Beatles, Now and then
The Black Keys, Beautiful people (Stay high)
Green Day, The american dream is killing me
Idles, Gift horse
Pearl Jam, Dark matter
St. Vincent, Broken man
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Beatles.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Em tempo de Trump na presidência dos EUA, Green Day cantando que “o sonho americano está me matando” seria um sonho (sem trocadilho). Mas dificilmente vai rolar.

Melhor Performance de Música Alternativa
Cage the Elephant, Neon pill
Nick Cave & The Bad Seeds, Song of the lake
Fontaines D.C., Starbuster
Kim Gordon, Bye bye
St. Vincent, Flea
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Nick Cave & The Bad Seeds
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon, com certeza.

Melhor Álbum de Música Alternativa
Nick Cave & Bad Seeds, Wild god
Clairo, Charm
Kim Gordon, The collective
Brittany Howard, What now
St Vincent, All born screaming
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: estou entre Clairo e Nick Cave
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon

Melhor Álbum de Rap
Common & Pete Rock, The Auditorium Vol. 1
Doechii, Alligator bites never heal
Eminem, The death of Slim Shady (Coup de grâce)
Future & Metro Boomin, We don’t trust you
J. Cole, Might delete later
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Se bobear, Eminem leva essa. Ou o trapper Future.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Common & Pete Rock, que ainda por cima têm samples bem criativos de música brasileira (pegaram trechos de faixas de Chico Buarque, Ivan Lins & Vitor Martins e até uma faixa da banda de rock progressivo brasileira Karma).

Melhor Performance de Rap
Cardi B, Enough (Miami)
Common & Pete Rock Featuring Posdnuos, When the sun shines again
Doechii, Nissan altima
Eminem, Houdini
Future, Metro Boomin & Kendrick Lamar, Like that
Glorilla, Yeah glo!
Kendrick Lamar, Not like us
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR e QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar

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