Connect with us

Cultura Pop

Moe Tucker detestou “Heroin”

Published

on

No Velvet Underground, era assim: Lou Reed podia ser o principal compositor, John Cale dava o toque especial com sua viola elétrica e suas invenções de estúdio, Sterling Morrison podia… podia… bom, podia completar o time. E Nico era a chanteuse da turma. Já Moe Tucker, a baterista, era o coração do Velvet Underground. Tocava em pé, num kit diferenciado, com baquetas de ponta de feltro, e dava uma sonoridade bem diferente para a banda. Por causa dela, mesmo em momentos experimentais como Heroin, o Velvet nunca deixou de soar como uma banda punk produzida por Phil Spector (opa, os Ramones foram uma banda punk produzida por Phil Spector, mas soaram bem diferentes do VU).

Moe, vale citar, é uma pessoa cheia de detalhes meio bizarros na biografia. Na última década, ela voltou à mídia por ter sido vista dando apoio ao Movimento Tea Party, uma espécie de hub de ultradireitismo nos Estados Unidos. As ações dessa turma vêm sendo acompanhadas de perto desde 2009, e muita gente interpreta a galera que dá apoio ao atual presidente da república do Brasil como uma tradução torta do Tea Party. Seja como for, alguns jornais acompanharam o que parecia ser um apoio explícito de Moe ao movimento, até que em 2010 ela topou dar suas impressões sobre o assunto.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Quando Nirvana gravou Velvet Underground

Enquanto você medita sobre o assunto, vai aí mais uma informação interessante sobre Moe Tucker: ela não gostou de Heroin. Ou melhor, não gostou da gravação da faixa que está no disco The Velvet Underground and Nico, de 1967. A declaração dela apareceu em What Goes On, revistas da Velvet Underground Appreciation Society, fã-cliube da banda. O site Dangerous Minds levantou a história faz um tempinho, e lembrou da história da publicação, que era lançada lerdamente (um número aqui, outro ali).

O número 4, lançado em 1990, saiu bem depois que a sociedade foi fundada. E foi ele que trouxe uma entrevista com Moe, que havia lançado um disco solo em 1989, Life in exile after abdication. O álbum, por sinal, trazia ninguém menos que Lou Reed tocando guitarra, ao lado de nomes como Jad Fair (Half Japanese) e de todo mundo do Sonic Youth. Moe lembrou que ficou animadaça quando encontrou o LP do Velvet na loja que costumava frequentar. Mas a animação passou quando ela chegou em casa, ligou o toca-discos e pôs o álbum para roletar…

>>> Veja também no POP FANTASMA: Loaded: 50 anos do esforço para tirar o Velvet Underground do underground

“Não fiquei muito entusiasmada com a produção. Naquela época, isso não me incomodava tanto quanto agora, mas por algum motivo maluco, o resto da banda deve ter pensado: ‘Bem, isso é o melhor que podemos fazer com o tempo disponível, então vamos aceitar como ficou’. Mas eu odeio isso. Heroin é uma bagunça. Tínhamos feito o álbum em oito horas no estúdio, e o produtor era… Andy Warhol (risos). Então, não sabíamos o que diabos estávamos fazendo. Ele certamente também não sabia, como você pode ouvir no álbum”, revelou a baterista.

Apesar do “produced by Andy Warhol” que sempre surgiu colado no nome do disco, o crédito de produtor de The Velvet Underground and Nico é mais furado que a defesa do Ibis. As primeiras sessões do disco, feitas em 1966, são atribuídas extraoficialmente aos técnicos de som, Norman Dolph e John Licata. Dolph, por sua vez, acredita que o produtor tenha sido John Cale, já que o músico fez boa parte dos arranjos.

Cale e Lou Reed sempre disseram que quem vinha trabalhando com o VU desde o começo já tinha sido Tom Wilson, que finalizou os trabalhos quando a banda já estava no selo Verve. E tem quem defenda que Warhol produziu tudo sim. Mas que (oh deus) a grande vantagem dele como produtor foi… não fazer nada e deixar a banda fazer o disco como queria.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Isso sim é que é rolé aleatório: quando os Yardbirds tocaram Velvet Underground

Moe põe mais lenha na fogueira lembrando que a banda, após conseguir uma vaga no selo MGM (antes, Elektra, Columbia e Atlantic ouviram e não gostaram), pôde entrar em um estúdio bem melhor (o TTG, em Hollywood) para consertar algumas das músicas. A baterista lembra que foram apenas três horas para refazer Venus in furs, I’m waiting for the man e Heroin. Ainda assim ficou, ó… uma merda – pelo menos no entendimento dela.

“Mas foi rapidamente e sem tempo para dizer: ‘Bem, vamos fazer isso’ ou ‘vamos fazer aquilo’. Simplesmente não tínhamos tempo. Heroin me deixa louca. É uma música tão boa, lembro-me de sentir arrepios sempre que a tocávamos e ouvi-la no álbum é muito deprimente. Principalmente quando penso em alguém que ouve isso e nunca nos ouviu tocar ao vivo. E eles pensam que isso é Heroin. É uma pilha de lixo registrado”, afirmou.

Moe põe a culpa nos amplificadores baixinhos do estúdio, e diz que por causa do som baixo, não conseguiu acelerar direito junto com a banda (de fato, lá pela metade a canção vira uma maçaroca de bateria). “Eu não conseguia ouvir nada. Não pude ver Lou, observar sua boca para ver onde ele estava na música. E eu simplesmente parei. E eles continuaram andando”, disse ela, afirmando que de qualquer jeito considera Heroin o maior trunfo de composição da banda.

Bom, se quiser conferir, tem Heroin ao vivo aí em quatro momentos diferentes.

A versão do autor: Lou Reed canta Heroin.

A versão do rival: John Cale toca a canção, ao lado do ator, rapper e escritor Saul Williams e de uma turma de orquestra.

>>> Saiba como apoiar o POP FANTASMA aqui. O site é independente e financiado pelos leitores, e dá acesso gratuito a todos os textos e podcasts. Você define a quantia, mas sugerimos R$ 10 por mês.

Cultura Pop

Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Published

on

Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

Continue Reading

Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Published

on

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Published

on

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

Continue Reading
Advertisement

Trending