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Cultura Pop

Meat Loaf: descubra agora!

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O Brasil ainda não descobriu Meat Loaf, um sujeito com mais de 50 anos de carreira artística, morto aos 74 anos no dia 20 de janeiro. Há exceções nesse desconhecimento: muita gente deve lembrar que ele fez um papel importante no filme Clube da luta, de David Fincher (o ex-fisiculturista Bob). A comédia Roadie, de 1980, dirigida por Alan Rudolph e protagonizada por ele, vale um texto inteiro no Pop Fantasma – e possivelmente foi vista por uma turma boa aqui no Brasil. E surpreendentemente, até mesmo o Jornal Nacional fez matéria (rápida) sobre a partida do cantor.

Os fãs brasucas do clássico disco Bat out of hell (1977), debute solo de Meat Loaf, talvez não sejam muitos. Mas são os fieis admiradores de um álbum de muito sucesso, que funciona como o retrato de uma época. E que seguia à risca a mesma cartilha estudada por artistas como Queen, The Who, Pink Floyd e Rick Wakeman a partir de determinado momento dos anos 1970.

Meat Loaf, o compositor Jim Steinman (autor de todas as músicas do álbum, morto ano passado) e o produtor Todd Rundgren compreenderam que a fórmula do rock operístico poderia ajudar a contar histórias fenomenais, propiciando “clássicos” de bolso, prontos para agradar até mesmo quem não ouvia rock – o que geraria espetáculos grandiosos, e de teor altamente democrático, musicalmente falando.

O resultado foi que Bat out of hell vendeu o que ninguém nunca mais vai vender na história do universo (43 milhões de cópias em todo o mundo, disco de platina 14 vezes). Também projetou a carreira de Meat Loaf como ator e cantor, e um profissional possuidor de atributos altamente dramáticos. E ainda gerou continuações – sim, existem Bat out of hell volumes 2 e 3, lançados respectivamente em 1993 e 2006, além de um musical exibido em 2017. Vale só lembrar que a discografia de Meat Loaf não se reduz só a esse disco, e que ele já vinha de antes.

Bat out of hell, que completa 45 anos em 21 de outubro, é assunto para ser discutido em um texto maior aqui no Pop Fantasma – quem sabe num podcast do Pop Fantasma Documento. Por enquanto a gente traz aqui nove músicas para quem quiser começar a entender qual é a de Michael Lee Aday, nome verdadeiro de Meat Loaf (o “bolo de carne” é um apelido do tempo em que ele jogava futebol americano). Vale ouvir em alto volume e esquecer a safra final de declarações negacionistas do cantor – que elogiou Donald Trump e declarou que “continuava abraçando pessoas” em tempos de pandemia.

“WHAT YOU SEE IS WHAT YOU GET” (1971). Após se juntar ao elenco de Los Angeles do musical Hair, Meat Loaf começou a fazer sucesso. A Motown, a partir de sua subsidiária rocker, a Rare Earth (batizada assim porque o maior sucesso do selo era aquele grupo do hit I just want to celebrate), não perdeu tempo: reservou algumas horas de estúdio e juntou o cantor com sua colega no musical, Shaun Murphy, a popular Stoney. Stoney & Meatloaf, o disco da dupla (com Meat Loaf grafado como uma só palavra), foi feito inteiramente por uma equipe de produtores e compositores. A dupla só apareceu na hora de colocar os vocais. Mas gerou boas canções e um bom single.

“MORE THAN YOU DESERVE” (1973). Em 1973, Meat Loaf fez um teste para o elenco do musical More than you deserve, escrito por Jim Steinman e Michael Weller, que ficou em cartaz naquele ano em Nova York. O cantor não apenas passou no teste e participou da peça, como iniciou sua parceria com Steinman aí. O single com a canção-título da peça trazia uma versão de Presence of the lord, do Blind Faith, no lado B. Foi lançado apenas em versão promocional e não deu muito certo.

“ROCKY HORROR SHOW” (1975). Os produtores do musical pensavam alto: chegaram a sonhar com Elvis Presley fazendo o papel de Eddie, na peça. O rei do rock possivelmente deve ter sido uma opção muito cara e lá se foi Meat Loaf interpretar não apenas o motociclista, mas também o mordomo maluco Riff-Raff. No filme dirigido por Jim Sharman, Meat Loaf fez apenas o papel de Eddie – no teste, conseguiu o personagem sendo capaz de interpretar o número Hot Patootie/Bless my soul sem se perder na quantidade de palavras por verso. Na época, ele e Steinman já tinham até começado a trabalhar num rascunho de Bat out of hell.

“STREET RATS” – TED NUGENT (1976). Enquanto Bat out of hell era recusado por praticamente todas as gravadoras existentes nos Estados Unidos, Meat Loaf dava um passo adiante no mercado discográfico fazendo alguns dos vocais principais de Free for all, segundo disco solo do guitarrista reaça Ted Nugent. Derek St Holmes, guitarra base e titular das vozes ao lado de Ted, havia deixado a banda por uns tempos, e Meat acabou soltando a voz em cinco das nove faixas.

“BAT OUT OF HELL” (1977). Pronto: após dois anos de testes, refações e rejeições humilhantes por parte de várias gravadoras (segundo Meat Loaf, Clive Davis, da Arista, chegou a dizer a Jim: “Você não sabe escrever música!”), Bat out of hell estava pronto para conquistar o mundo. Considerado o melhor disco de metal pela Kerrang! em 1989, tem mais que isso: une terror psicológico, histórias românticas, certo humor sombrio e muito, mas muito rock operístico.

“DEAD RINGER FOR LOVE” (1981). Rolou uma separação rápida entre Meat Loaf e Jim Steinman após o sucesso de Bat out of hell, que gerou uma turnê exaustiva e repleta de excessos. Por causa do abuso de drogas, Meat perdeu a voz e o disco que Steinman estava compondo para ele, Bad for good, acabou sendo o primeiro álbum solo do compositor. Só quatro anos após a estreia, Meat Loaf voltaria com Dead ringer, o segundo disco, com Jim compondo todas as faixas – uma delas era este primeiro single.

“BLIND BEFORE I STOP” (1986). A parceria entre Meat Loaf e Jim Steinman acabou após brigas e processos e, durante os anos 1980, o cantor procurou outros compositores – além de ter passado a compor seu próprio material. O quinto disco do cantor – por sinal gravado para a mesma Arista que pisara em Bat out of hell anos antes – trazia Meat Loaf fazendo hard rock, mas aderindo a teclados e programações eletrônicas, como na faixa-título. Curiosidade: Frank Farian, o produtor, era o criador da armação disco Boney M e estava perto de montar o Milli Vanilli.

“I’LL DO ANYTHING FOR LOVE (BUT I WON’T DO THAT)” (1993). Opa: a parceria entre Meat Loaf e Jim Steinman voltou e lá se foram os dois para o estúdio mais próximo. E saiu Bat out of hell II: Bat into hell, continuação do multiplatinado disco de estreia do cantor. O primeiro single (essa música aí) tinha doze minutos. A crítica, em pleno auge do grunge, torceu o nariz – a Spin disse que a faixa era “um movimento ousado para ignorar os quinze últimos anos da história do pop-rock”. Mas o disco vendeu mais de 14 milhões de cópias, e ainda tinha uma atração extra: faixas com nomes estranhos e quilométricos como Life is a lemon and I want my money back e Objects in the rear view mirror may appear closer than they are.

“I’D LIE FOR YOU (AND THAT’S THE TRUTH)” (1995). Com a ajuda de amigos como Sammy Hagar, Steven Van Zandt (E Street Band) e Jim Nevison, lá se for Meat Loaf fazer seu próprio disco conceitual, Welcome to the neighborhood (1995). O álbum tinha duas canções de Steinman, mas o material teve diversas fontes incluindo canções de Diane Warren, Tom Waits (Martha, uma antiga música do compositor) e até mesmo um retrabalho em cima de Good times, da banda australiana The Easybeats, que era Runnin for the red light (I gotta life).

 

 

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Cultura Pop

Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

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O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

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Cultura Pop

Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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Crítica

Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

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Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.

Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.

E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.

Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.

De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.

Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.

O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.

O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.

Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.

Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.

Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025

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