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Crítica

Ouvimos: Luapsy – “I met the devil in a dream”

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No álbum I met the devil in a dream, feito ao lado de Marcio Lomiranda, Luapsy explora climas eletrônicos, sombrios e até fantasmagóricos

RESENHA: No álbum I met the devil in a dream, feito ao lado de Marcio Lomiranda, Luapsy explora climas eletrônicos, sombrios e até fantasmagóricos

Texto: Ricardo Schott – Foto: Amanda Aguiar/Divulgação

Nota: 7,5
Gravadora: Atabaque
Lançamento: 25 de setembro de 2025

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Luapsy soa melhor em seu novo álbum, I met the devil in a dream, quando adota uma persona mais experimental. Feito em parceria com o produtor Marcio Lomiranda, o disco da cantora e compositora carioca tem seus maiores destaques em faixas sombrias, eletrônicas e até meio fantasmagóricas. A faixa-título tem uma vibe de metal gótico no começo, substituída por uma noção trevosa de música pop, que lembra Nine Inch Nails. Like a wave soa como um soft rock em negativo – uma viagem musical sexy que abre com um teclado quase silencioso.

Nesse clima desafiador, surgem as melhores músicas de I met the devil in a dream, como o eletrorock Melancholia fish, o rock celestial Choker e a esparsa Light (That’s why they never stay). Esta, um jazz-pop que deixa no ar uma certa sensação de perigo, e que também mexe com vibrações discretas e etéreas, passando um bom tempo à base de beat, baixo, vocal e alguns sons de teclado. Superstition, tecnopop que é a cara do fim dos anos 1980 (lembrando Information Society e Erasure), também chama a atenção no todo do álbum.

  • Ouvimos: Adeusaturno – Reticências três pontos (EP)

No fim, a ótima Why do I even try? aposta num pop introspectivo ao piano, com raízes no soul e no gospel, evocando Elton John e os Rolling Stones. Já as faixas mais eminentemente roqueiras – como o folk grunge Scarlet, o rock-country-blues eletrônico It’s not New York it’s not the cool breeze it’s just the frog in the end (que lembra Chappell Roan) e o heartland gótico de Bloom, com Drenna nos vocais – se afastam um pouco do que I met the devil in a dream tem de mais forte: a capacidade de imprimir personalidade própria a estilos que vêm sendo praticados no pop lá de fora.

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Ouvimos: Beige Walls And No Roof – “Dual liquid hands”

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Shoegaze psicodélico e melódico dos australianos Beige Walls And No Roof cria paisagens líquidas e lisérgicas em Dual liquid hands.

RESENHA: Shoegaze psicodélico e melódico dos australianos Beige Walls And No Roof cria paisagens líquidas e lisérgicas em Dual liquid hands.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Shore Dive Records
Lançamento: 3 de outubro de 2025.

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A banda australiana Beige Walls And No Roof faz um shoegaze derretido, do tipo que dá a impressão de estar no meio de uma viagem de LSD em que o céu se torna líquido – as guitarras voadoras e cheias de efeitos tocadas pelos irmãos Ethan e Jeremy Clark são nessa onda. As canções do álbum Dual liquid hands são bastante melódicas e acessíveis, nada feito para assustar quem não curte guitarras emparedadas. Cocoon, a faixa de abertura, tem algo que evoca as linhas melódicas de Aerial, do System Of A Down (!) – é uma referência estranha que vai surgindo lá de longe e não responde pelo todo da música, ou do disco.

  • Ouvimos: Algernon Cadwallader – Trying not to have a thought

Seguindo no álbum, faixas como I know you’re the master, o instrumental Vellichor e a ensolarada e quase progressiva Frosty viscosity dão uma sensação quase uterina, como se quem ouve estivesse submerso nas guitarras. Climas dream pop aparecem em Realisations e Walking to the museum. I am not here ameaça um prog de FM oitentista na abertura, até que as guitarras ganham peso, e sensação de afunilamento.

Essa mescla de guitarras em nuvens, senso melódico apurado e psicodelia é a marca de Dual liquid hands, seguindo em faixas como The same days e a extensa Pushing through. Outra marca são as faixas curtas e instrumentais que praticamente dividem cada música do álbum, e que levam a lisergia do disco para um universo de sonhos e vertigens: rola na já citada Vellichor, em Freak junk accident, e em Frigid ensemble.

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Ouvimos: Superstar Crush – “Way too much”

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Superstar Crush une pop barroco, power pop e indie com emoção à flor da pele em Way too much, um disco teatral, divertido e cheio de surpresas sonoras.

RESENHA: Superstar Crush une pop barroco, power pop e indie com emoção à flor da pele em Way too much, um disco teatral, divertido e cheio de surpresas sonoras.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 5 de agosto de 2025

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Vindo de Hamilton, Ontário (Canadá), o Superstar Crush deveria estar sendo mais reconhecido como uma grande banda de pop barroco – justamente numa época em que o estilo parece virar referência até mesmo para artistas pop com pretensões camerísticas. Way too much, o primeiro álbum, une vários estilos musicais em torno dessa receita sonora. Como o som de girlgroup ruidoso de U fold, I fold, o power pop distorcido de Venus in the drywall, o afrobeat-pós-punk de Trublu e a “coisa” latina de Silk’n sleeze, música em que os metais dão um ar quase ska, e em que vocais e batidas soam como se o grupo estivesse tentando fazer um samba. Ou o lance ABBA da alegria de Disco heartbreak.

  • Ouvimos: Lightheaded – Thinking, dreaming, scheming!

Com influências confessas de Blondie, Pulp e Arcade Fire, e um saxofone que dá um ar bem maluco a várias músicas, o Superstar Crush dão uma invadida na área noturna do rock gótico em Do what U wanna, com um quê de Joy Division e Placebo, e unem décadas na ótima Only the foolish remain – vocal de Elvis Presley, atmosfera punk herdada de Ramones, vibe sessentista misturada. Como não podiam faltar climas herdados de bandas como The Hollies e Left Banke, estão aí o vocal com tremolo e o som baladeiro de They keep calling, e a baladinha triste de This night has been unwind – que ainda tem também muito Pixies e Pretenders.

As letras de Way too much vão do empoderamento à tristeza, passando por temas como necessidade de conexão, amores cagados e irritações do dia a dia. Tanto letras quanto músicas caem no melodrama e na emoção desmedida quanto a banda bem entende, e têm nessa emoção desavergonhada uma boa marca, e um lado bem positivo. Aliás, encerrando o disco, tem Your next mistake, com vocais celestiais e clima que, de levinho, vai lembrando algum hit da Electric Light Orchestra. Ouça correndo.

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Ouvimos: Peter Gabriel – “Live at WOMAD 1982” / “In the Big Room” (ambos ao vivo)

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Peter Gabriel recorda em lançamentos dois shows históricos: a apresentação na estreia do festival WOMAD, em 1982, e o show que deu em seu próprio estúdio, em 2003.

RESENHA: Peter Gabriel recorda em lançamentos dois shows históricos: a apresentação na estreia do festival WOMAD, em 1982, e o show que deu em seu próprio estúdio, em 2003.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10 pra ambos os discos
Gravadora: Real World
Lançamento: 8 de agosto de 2025 (WOMAD) e 27 de junho de 2025 (Big Room)

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A primeira edição do WOMAD (World of Music, Arts and Dance), festival criado por Peter Gabriel, rolou em 16 de julho de 1982, no Bath & West Showground, em Somerset. Artisticamente, o evento foi uma maravilha, com um elenco que unia rock e world music (rótulo então dado a artistas de países fora do eixo Inglaterra-EUA). Entre outros, tocaram por lá Echo and the Bunnymen, Royal Drummers of Burundi e o próprio Peter, que se concentrou no material de seu ainda inédito quarto disco solo – aquele que tem Shock the monkey, conhecido como Peter Gabriel 4, lançado só em 10 de setembro daquele ano.

Já em termos de grana… Bom, o primeiro WOMAD honrou a velha tradição dos festivais que marcam época, mas deixam um baita rombo no orçamento dos realizadores. Gabriel descobriu que o montante arrecadado não dava para pagar todos os envolvidos, viu-se às voltas com um monte de dívidas, e mesmo tendo mais seis sócios, foi quem mais ouviu pragas e xingamentos dos funcionários (“as pessoas me viam como o único rico que valia a pena espremer”, contou ao jornal The Guardian certa vez).

Na época, não faltou quem comentasse que Gabriel tinha abusado da autoconfiança, que ele deveria ter consultado empresários mais experientes, etc etc. Surgiu a hipótese de sair um disco do festival para saldar dívidas, coisa que nunca aconteceu. Gabriel pediu a ajuda de seus ex-companheiros do Genesis, e eles toparam interromper uma turnê de 40 datas para fazer uma série de shows ao lado do seu ex-vocalista. Ninguém entendeu nada, já que o Genesis estava firme no prog de FM e estava cada vez mais distante musicalmente de Peter – mas os shows aconteceram, foram um sucesso, Peter pagou os atrasados e a vida seguiu.

Seja como for, o show de Peter no festival acabou sendo um dos mais importantes de sua história – e agora, finalmente, sai na íntegra no pacote Live at WOMAD 1982. Por sinal, quase ao mesmo tempo em que Peter disponibiliza outro ao vivo, In the Big Room, gravado em 2003 no seu estúdio Real World. Os dois álbuns são marcados por valores iguais: viagens sonoras que misturam estilos, e uma noção de música como política, algo que pode mudar vidas.

  • Ouvimos: The Who – Live at The Oval 1971

No WOMAD, acompanhado por David Rhodes (guitarra), Peter Hammill (vocais), John Giblin (baixo), Larry Fast (teclados) e Jerry Marotta (bateria), além das percussões do grupo afro-caribenho Ekomé, Gabriel apesentou o material de seu quarto disco fora da ordem, começando com a maravilhosa San Jacinto. Shock the monkey surge numa versão ainda rascunhada, em que os teclados soam meio repetitivos e tudo parece meio experimental.

Mais: I have the touch surge bem menos robótica que na gravação em estúdio, e soa como um posto avançado do próprio Genesis, mas com a vibe meditativa de Gabriel. Kiss of life e I go swimming ganham poder ao vivo com as percussões. No final, aplausos e animação na plateia quando surge o hit anti-apartheid Biko. Gabriel ainda se apresentou no último dia do primeiro WOMAD, mas o show ainda permanece inédito, pelo menos oficialmente – lançamentos piratas sempre circularam por aí.

O Peter Gabriel de 2003, por sua vez, já estava cada vez mais estabelecido como artista solo, e já tinha ate lançado discos hoje clássicos como So (1986) e Us (1992). Above, seu álbum de 2002, acabou rendendo sua primeira turnê em dez anos – rendeu também algumas críticas meio negativas, já que muita gente achou o disco mais pretensioso do que o normal de Gabriel. Seja como for, em meio ao circuito de Above, cem fãs fiéis do cantor puderam assistir a uma apresentação especial de Peter no Big Room de seu estúdio Real World, em 23 de novembro de 2003.

Foi desse show que vieram as gravações de In the Big Room, que por sinal não são inéditas – o material saiu em 2004 numa plataforma de downloads chamada OD2, criada pelo próprio Peter, e anos depois foi disponibilizado temporariamente no Bandcamp. O site Genesis-news conta que o repertório é um meio-de-campo entre o começo da Growing Up Tour, que divulgava Above, e a segunda parte do giro, Still Growing Up Tour. Canções explosivas e boas de público como Shock the monkey e San Jacinto reaparecem com uma vibe levemente (mas só levemente!) intimista, lado a lado com clássicos mais recentes como Secret world, Father, son e Mercy street.

Ao contrário da vibe de arena de Live at WOMAD 1982, In the Big Room é como aqueles shows para assistir sentado, na calma – ate porque, de fato, era assim que a plateia havia assistido a apresentação. Duas explosões sonoras diferentes, cada uma com seus hits e sua época. Na dúvida, ouça as duas.

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