Crítica
Ouvimos: Jon Batiste – “Big money”

RESENHA: Jon Batiste mistura pop, blues e rock clássicos em Big money, celebrando amor, justiça social e música que conecta e transforma vidas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Verve/Interscope
Lançamento: 22 de agosto de 2025.
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O otimismo anda meio fora de moda em tempos bizarros como os de hoje – mas Jon Batiste consegue restaurar os, digamos, sentimentos nobres acrescentando a eles um pouco de ironia e realidade. Big money, basicamente um disco de pop clássico, blues e rock, fala sobre apoiar quem precisa de ajuda, fazer de tudo pela pessoa amada, cultivar valores que o dinheiro não compra (“você pode comprar uma casa, mas não pode comprar um lar / você pode estar cercado e ainda estar sozinho”, diz a letra da faixa-título). Mas também espalha brasa para falsos amigos (At all), empregos arrombados (“talvez eu esteja perdendo meu tempo / ou tudo isso seja parte de um projeto estranho”, em Maybe) e um rolé de injustiças sociais (em Petrichor).
Musicalmente, Big money é um disco bem diferente do habitual de Jon – ou, pelo menos, bem diferente das imagens que sua música costumeiramente evoca. Abre com Lean on my love, pop de FM dos anos 1970 na cola de Al Green, mas com bateria eletrônica minimalista, quase lo-fi, e os vocais da cantora e atriz Andra Day. Segue com o gospel + rock anos 1950 da faixa-título, com vibe entre Bo Diddley e Eddie Cochran, e traz Randy Newman para dividir o jazz blues dramático de Lonely avenue. Petrichor e Pinnacle (essa última parecendo uma trilha de filme) unem sonoridades afro e country, Do it all again tem a mesma magia das baladas blues de Elton John, At all chega a lembrar a pegada de JJ Cale, tanto na guitarra como nos vocais – e pouca coisa em Big money existiria sem que Ray Charles tivesse existido.
Big money vai chegando ao fim em clima ligeiramente experimental com os loops de piano e voz da balada Maybe (ainda assim, uma música filiada a Elton John e Queen), e com Angels, reggae ruidoso e psicodélico que tem muito de Wings, e cuja letra avisa que “o mundo precisa de um anjo nos dias de hoje”. Um dos álbuns mais variados já feitos por Jon até hoje, e um disco que do começo ao fim soa como uma homenagem às possibilidades da música – aquela coisa que muda vidas, estimula conversas e une pessoas, você sabe.
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Crítica
Ouvimos: Bryan Adams – “Roll with the punches”

RESENHA: Bryan Adams lança Roll with the punches, rock sólido e otimista que mistura power pop, blues e baladas no melhor estilo clássico.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Badams Music Limited
Lançamento: 29 de agosto de 2025
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Olha só que coisa: quando aparecerem as listas de melhores discos de 2025, provavelmente um certo disco não vai estar lá – e não porque mereça estar fora delas, mas porque o silêncio de vários resenhistas diz tudo. Bryan Adams está longe de ser um artista cool, e parece sempre ter desfrutado do mesmo status que Elton John andava desfrutando lá por 1986-1987: o cara que seus pais e avós gostavam, e que você nem sequer considerava a hipótese de ouvir com atenção.
Tá bom: quem ficar nessa vai deixar Roll with the punches, novo disco de Bryan, passar batido – e vai perder um disco de rock bem realizado, e feito com o olhar voltado para o universo pop, da mesma maneira que discos como Get a grip (1993), do Aerosmith, foram feitos. Por sinal, o grupo liderado por Steve Tyler parece pairar sobre momentos decisivos do novo álbum de Bryan. Como o soul metal pop da faixa-título, o blues-rock How’s that workin’ for ya e o rhythm’n blues chique de A little more understanding – esta faixa, também na cola de Rolling Stones.
Bryan também trilha Roll with the punches no corredor do power pop, em faixas simples como Make up your mind e o rock despressurizado de Never ever let you go. Otimismo é algo que anda fora de moda e pode pegar mal, mas Adams parece não ligar, já que ele louva as coisas simples da vida no gospel Life is beautiful e na balada Love is stronger than hate, recomenda que você seja a razão do sorriso de alguém no power pop Be the reason… E faz baladas na estileira de seu hit Heaven em Two arms to hold you e Will we ever be friends. Algumas coisas nunca mudam, e às vezes isso é bom.
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Crítica
Ouvimos: Obongjayar – “Paradise now”

RESENHA: Obongjayar mistura afrobeats, soul, reggae e som etéreo em Paradise now, disco diverso e luminoso que opera em nome do chamber pop.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: September
Lançamento: 30 de maio de 2025
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Alguns atrasos para ouvir certos discos são compreensíveis, outros são imperdoáveis. Steven Umoh, o popular Obongjayar, é um cantor nigeriano cujo som pode ser definido basicamente como pop de câmara, recheado com referências de reggae, r&b, afrobeats e climas etéreos. Seu trabalho inicial era lançado no Soundcloud, até que Richard Russell, dono da XL Records, o convocou para seu projeto Everything Is Recorded. Isso chamou a atenção para seu trabalho e abriu caminho para seus primeiros EPs, além do álbum de estreia Some nights I dream of doors (2022).
Paradise now, seu segundo álbum, insere mais e mais positividade na música e no ideário de Obongjayar, por intermédio de faixas como o soul alternativo de It’s time, com clima operístico e letra falando em começos e recomeços (“chega de desculpas / eu sei que consigo fazer isso”). Life ahead tem beat dado por batidas na porta, e embica num pop experimental, basicamente afrochamberpop. Peace in your heart tem ar etéreo garantido até pela percussão, além dos vocais. Holy mountain, com percussão e violão arpejado, ameaça um high life folk, enquanto Jellyfish envereda pelo reggaeton pesado.
Isso é só o começo de Paradise now, disco cuja variedade inclui o hip hop rápido e texturizado de Talking olympics (com Little Simz), os climas gospel de Prayer, Born in this body e Happy head, e também a vibe meio Lou Reed meio metal de Instant animal (quase um momento de afropsicodelia no disco), o afropoppunk de Not in surrender, a alegria de Sweet danger, que lembra um samba de Jorge Ben transformado em algo proximo do afropop. Entre um extremo e outro, há faixas como o soul erudito Moon eyes, lembrando uma música antiga de cinema, além do clima disco e minimalista de Just cool. Um “agora” que se transforma rapidamente num paraíso sonoro.
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Crítica
Ouvimos: Memórias de Ontem – “Translúcido”

RESENHA: Translúcido, estreia da banda mineira Memórias de Ontem, mistura shoegaze, emo e dream pop em faixas melancólicas e luminosas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 23 de setembro de 2025
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Identificados com o chamado “rock triste” – ou com uma cena que costuma ser chamada de “emo caipira”, feito em cidades fora do eixo Rio-SP ou longe das capitais – a banda mineira Memórias de Ontem estreia impressionando. Translúcido vai na mesma onda dos conterrâneos Lupe de Lupe e adiciona camadas diferentes a canções com elementos proeminentes de shoegaze e emo.
A abertura, com Pra gente se beijar e esquecer a dor tem guitarras emparedadas, vibração power pop e algo de bossa nova não só nos vocais como também no relacionamento dele com a guitarra. A voz de Gabriel Campos (voz, guitarra), que divide a banda com as irmãs gêmeas Alice Eskinazi (bateria) e Camila Nolasco (baixo), parece pairar acima do arranjo talvez como estratégia para não ficar soterrada em meio às guitarras, como rola costumeiramente no shoegaze. Já Cortando mato inverte as polaridades, com bateria e guitarra bem pesadas e na frente, e um clima que chega a lembrar o pós-hardcore, com quebras rítmicas. Há guitarras mais ruidosas e atmosféricas, mas elas não chegam a colocar a música no corredor do noise rock.
Aliás, Translúcido, antes de tudo, é um disco mais contemplativo do que propriamente ruidoso. As nuvens de ruídos guitarrísticos dividem espaço com um certo olhar no horizonte, combustível de músicas como a balada Impulso pra tentar, a delicada Quase lá (que lembra bandas recentes como The Beths), a sonhadora faixa-título e a balada acústica Memória ruim – esta, com lembranças do drama grunge e parecendo combinar o senso melódico de Lô Borges ao de bandas como Red Hot Chili Peppers e Nirvana. Aroma, por sua vez, tem elementos de Pixies e guitarras fortes e altas.
Com participações de Marília Jonas (Jonabug), João Carvalho (El Toro Fuerte), Clara Bicho (irmã gêmea de Gabriel) e Clara Borges (Paira), Translúcido encerra com a tristeza alegre do dream pop Cores pelo ar – música de arranjo “cheio” e espaços muito bem ocupados – e Pela primeira vez, com lembranças do rock britânico dos anos 1980. Um disco com melancolia e luminosidade lado a lado.
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