Cultura Pop
Leia, descubra, ouça, conteste: um papo com o cara do Floga-se

Não são poucas pessoas que consideram o Floga-se um dos dez melhores espaços para se conhecer música indepedente hoje em dia. Numa época em que interessa a muita gente repetir frases batidas como “o rock morreu”, o site surge com séries importantes como discos da vida (onde convidados falam sobre os álbuns mais marcantes de suas discotecas e cabe tudo quanto é tipo de música), ou listas de discos para ouvir de graça, ou entrevistas com nomes nacionais e internacionais.

O lema do site
No POP FANTASMA, a gente tem conversado com gente que vem criando conteúdo pop: youtubers, donos de gravadoras, criadores de sites. Fomos conhecer um pouco do trabalho do Fernando Augusto Lopes, que criou o blog, e descobrimos que a motivação dele ao criar o Floga-se foi bastante parecida com a nossa: escrever o que a gente gostaria de ler
POP FANTASMA: Como começou sua relação com a música? Você é jornalista? Era do tipo que curtia ler revistas e escrever em cadernos sobre o assunto?
FERNANDO AUGUSTO LOPES: Minha família sempre foi de ouvir muita música e não necessariamente música “popular”. Meu pai sempre foi do jazz e do blues, e curtia desde nomes consagrados até discos obscuros. Um dos passatempos dele era fazer fitas-cassete de todos os seus discos e dos nossos também. Esse lance meio de colecionador, de garimpeiro e de organizador acabou passando pra mim. Meu irmão é jornalista e herdou esse lance de garimpar, a gente ia às lojas do centro de SP buscar os discos que víamos e líamos na Bizz, na Melody Maker e na New Music Express, quando a gente conseguia uma banca que tivesse essas publicações gringas pra vender, senão era só a Bizz mesmo. E era um programa bacana de final de semana ir a essas lojas procurar LPs e descobrir outras coisas. Acabei me formando em Cinema e indo trabalhar com marketing, de modo que escrever sobre música virou um hobby que uniu toda essa história.
O que te motivou a criar o Floga-se? Você diria que sentia falta de algo e criou o que você gostaria de ler? Basicamente isso. Acho que é padrão nas histórias de nascimento de zines e blogues e sites. A pessoa quer escrever e publicar exatamente aquilo que gostaria de ler por aí e geralmente não encontra. O Floga-se nasceu em 2006 e de lá pra cá foi passando por muitos e muitos ajustes editoriais, até chegar ao que é hoje: um site de textos mais elaborados, tentando misturar história e lançamentos, bandas minúsculas e subterrâneas com bandas consagradas e populares. Dar o mesmo peso de importância pra bandas nacionais que ninguém dá bola e bandas que habitam a grande mídia. Mas o básico é: informar, dar opinião e contar histórias.
Você era daquela geração que montou blog lá por 2001, 2002? Como resolveu investir no formato? Desde que eu comecei a trabalhar com o marketing below the line, lá em 1996, a gente tentava colocar um site na comunicação das campanhas de incentivo. Era um troço bem moderno naquele momento, quase 100% das campanhas usavam comunicação impressa e a gente procurou esse novo caminho. Mais do que isso: a gente produzia os sites de modo caseiro, em FrontPage. Um troço bem amador e tosco, vendo em perspectiva, agora. Só que era o que tinha e acabou sendo sucesso. Os clientes queriam menos impressos e mais online.
É claro que o avanço da tecnologia e acesso a internet no Brasil ajudaram bastante, mas foi essa nossa insistência num formato não utilizado até então que me fez curtir esse negócio de escrever online. O Floga-se começou como um blogue no UOLblog. Eram textos engraçadinhos, metidos a descoladinhos, algo que parece ter sido feito por um adolescente, e vendo hoje eram até divertidos, embora bobocas. Só em 2010 é que migrei pro WordPress, acho que quase como todo mundo. No WordPress, o mundo de possibilidades aumentou muito e tals, principalmente na parte visual e na facilidade organizacional, o que deu um impulso ao Floga-se.
Hoje, não há uma única campanha ou comunicação que não se utilize de ferramentas online, aplicativos específicos, sites, disparos pra celulares, e-mail marketing, redes sociais etc. Daí que, embora ainda seja redator e criador, o Floga-se é minha única dedicação online específica hoje. Há muita, muita, muita, muita gente boa e especializada em tocar esse ferramental online.
Como você descobre músicas novas? Você costumeiramente descobre mais sons novos ou antigos? Isso é curioso, porque depende da fase. Por conta do Floga-se, recebo centenas de e-mails e indicações toda semana. Deve acontecer o mesmo no POP FANTASMA. Rola uma obrigação minha de ouvir tudo o que recebo. Acho que é o mínimo de consideração, mesmo que a pessoa que enviou não faça ideia que eu esteja ouvindo. Como o volume é grande, é difícil você apreciar música como se apreciava nos anos 80 e nos anos 90. A dedicação exclusiva à música ou ao álbum, qualquer álbum, requer que você deixe de ouvir uma outra novidade, porque o tempo é um só, afinal de contas. Então, eu provavelmente sou como qualquer pessoa nesse sentido, até mesmo pela idade e falta de tempo: acabo voltando àqueles discos que significaram alguma coisa na minha vida e esses discos estão ficando mais velhos, é inevitável. Os novos são raros de bater no coração, mas de vez em quando acontece. Um bom exemplo é a Aldous Harding. Vi um show dela numa fase muito boa pra mim e aquela música significou algo. Hoje, ela parece uma velha companheira.
Você escuta mais música depois das plataformas digitais? No que tua relação com as novas descobertas mudou? Você fica com mais discos acumulados? Faz tempo que parei de comprar discos. Ainda recebo CDs de bandas brasileiras e tals, mas sempre que posso, peço pra assessoria ou pra banda não mandar o disco físico. Sei que é caro pro artista, então prefiro que me mandem o link. Assim, vou ouvir, pelo menos uma vez. Minha ferramenta ainda é o iPod, embora isso pareça bem antigo hoje em dia. Como infelizmente ele quebrou, acabei, com bastante contrariedade, assinando uma dessas plataformas digitais. Então, acho que em questão de volume de música que eu escuto segue a mesma coisa do iPod pro streaming.
Não houve mudança de comportamento nesse caso. A única coisa que alterou foi que é um negócio a menos pra carregar no bolso, já que agora é só o celular. O que eu quero dizer é que as “indicações” das plataformas digitais não me atingem. Eu prefiro as indicações do Bandcamp, por exemplo, que parecem muito mais orgânicas e despretensiosas. Na página principal do Bandcamp eu acabo entrando em contato com muita novidade que não recebo no e-mail, muita coisa mesmo. Curiosamente, quando o disco é gratuito, eu baixo. Então, nesse sentido, sigo sendo um acumulador de MP3.
O Floga-se tem listas bem legais, como a das capas criadas por Peter Saville. Qual lista você está adiando há anos para fazer e nunca faz? Eu não curto muito listas, tirando aquelas de final de ano, de melhores álbuns do período, porque acho um belo serviço pro ouvinte vasculhar e descobrir coisas que deixou passar batido durante o ano. São listas úteis. As que eu coloco no Floga-se são mais por tiração de sarro, passatempo. Têm vida curta. Exceto quando elas são bem informativas, como essa do Peter Saville, ou aquela de dez resenhas que foram desmentidas pela história. Como a ideia delas vem de supetão, depois de ler algum artigo, depois de alguma conversa de bar, então não tem nada que eu esteja adiando.
Qual tua relação com o público do site? Muita gente comenta sobre discos que conheceu lá? Tem gente assídua no site, o que eu acho bizarro. Tenho um público fiel e isso é uma delícia. Eu escrevo pra esse público, não mais pra mim. Não é que eu faça concessões e tals – eu sempre vou escrever sobre um assunto que eu queira escrever, mas a forma é que deve ser pensando no público. Por “forma”, entenda a seriedade com que a coisa é feita, o apuro, o tão ético quanto possível, sem ofender minorias, sem ofender por ofender, algo que fui aprendendo e moldando com o tempo.
Nada contra quem faz blogue só pra conseguir ingressos de graça. Nada contra quem fica pedindo favores pra assessorias de imprensa, pra artista, pra casa de shows, pra produtores. Cada um faz o seu caminho, mas eu prefiro manter a distância mais razoável possível. Justamente porque o público percebe uma falsidade naquilo. O leitor sabe se você tá escrevendo sobre um disco que não ouviu, mas acabou escrevendo pra agradar o artista ou o selo ou a assessoria. Fujo ao máximo desse troca-troca de cliques e compartilhamentos.
Não me importo nem um pouco se escrevi sobre um disco e a banda não compartilhou meu texto. Não escrevo pra banda. Escrevo pra quem dedica alguns minutinhos do seu tempo pra ler o que escrevi. Essa pessoa merece meu esforço de fazer algo que considero de qualidade. E eu vejo que funciona quando as pessoas comentam que foram atrás de tal obra só porque leram no Floga-se. É gratificante poder funcionar como filtro pra algumas pessoas. São bem poucas, mas vale. E recebo também muita dica, o que são dicas mais preciosas do que e-mails oficiais. Se uma obra tocou a mente de alguém, tem possibilidade de tocar a minha, a sua, a de mais alguém.
Podcasts, webradios e rádios significam algo pra você hoje em dia? Sim. Acho um negócio legal ouvir gente falando, principalmente sobre música ou futebol ou política. Mesmo assim, ouço menos podcasts do que gostaria. É a tal falta de tempo… Já rádio, ainda ouço bastante, mas só de notícias. Escutar música nas rádios brasileiras é um suplício.
Em 2019, teve algum disco que especificamente chamou sua atenção? Eu citei a Aldous Harding e o disco novo dela, Designer, é ainda melhor do que o anterior. Vale demais. Achei interessante o novo Corrupted data, do Cadu Tenório. Tem o New atlantis, do Efdemin, o Motor activity, do Swiss Magnetic, cuja faixa-título é uma das mais legais e viciantes do ano. E tem o novo do Jair Naves, o Rente. A lista é grande.
Você já escuta música pensando em escrever sobre ela? Costuma ficar com muito material acumulado? Não costumo ouvir pensando em escrever. Até porque me daria palpitação no coração o desespero de não conseguir fazer a fila andar. É justamente o contrário, escrevo bem menos do que gostaria e o material só não acumula porque simplesmente deixo passar. E porque criei mecanismos pra atender certa demanda própria. Um delas é uma lista semestral com cinquenta discos nacionais no Bandcamp pra pessoas ouvirem, conhecerem, baixarem de graça. Discos de banda que saem do eixo Rio-SP, mostrando que tem muita coisa sendo produzida no Brasil afora, mas que não recebe a atenção mínima. Mesmo assim… sim, fica muita coisa sem eu dar a atenção que gostaria. Infelizmente. Eu precisaria de uma equipe muito grande pra dar vazão. E gostaria de pagar pra essa equipe, o que evidentemente é impossível.
Pensa em mais algo além do site? Tem vontade de criar um canal no YouTube ou algo assim? Não. Já tive um podcast com a Amanda Mont’Alvão, do Sounds Like Us, e com o Elson Barbosa, da gravadora Sinewave. Era o O Resto É Ruído, mas o podcast entrou numa hibernação prolongada e era a única coisa fora do Floga-se pra falar de música. Faria outro podcast, mas tem que ser com as pessoas certas, gente bacana como a Amanda e o Elson, e sobre mais do que música, sobre política também. O Floga-se é um site que fala muito sobre política, tentando analisar obras por um olhar político-social atual e tem funcionado com muito gosto pra mim. Só que acho essa pegada de um cara falando pra câmera , derramando opiniões, um negócio muito egocêntrico, sei lá, não funcionaria jamais comigo. Sou do bate-papo, do debate, da discussão.
4 discos
4 discos: Elvis Presley no final

Ainda que o mercado de álbuns estivesse bastante fortalecido desde o fim dos anos 1960, isso não chamava a atenção de Elvis Presley (1935-1977), e muito menos a de seu empresário, o Coronel Tom Parker (1909-1997). O cantor não parecia se interessar muito por LPs, apesar de ter tido grandes vendagens de álbuns desde o começo. Muitas vezes, Elvis apenas gravava o que tinha vontade, e deixava que a RCA, sua gravadora, escolhesse capas, repertório e (o principal) como e de que maneira cada gravação seria aproveitada.
Nos anos 1970, com Elvis enclausurado em sua mansão e cada vez mais descontrolado (no apetite, nas drogas, na violência etc), o cantor ficou também cada vez mais desinteressado em gravar regularmente. Seus álbuns começavam a se tornar compilações de gravações, quase sempre feitas em etapas diferentes. Não era nem preciso que as sessões passassem pelos mesmos esquemas de produção, embora os álbuns pós-1966 do cantor tivessem todos o mesmo produtor. Era o ex-cantor Felton Jarvis, que chegou a lançar em 1959 um single cujo lado B era um tributo chamado Don’t knock Elvis.
O álbum That’s the way it is (1970), por exemplo, foi feito a partir de oito faixas gravadas do estúdio da RCA em Nashville, mas também entraram quatro faixas gravadas ao vivo em Las Vegas. Por sua vez, o restante dessas sessões de Nashville foi lançado gradativamente em singles e rendeu também o álbum Elvis country, de 1971. Era como se os álbuns do cantor, com raras exceções, já fossem compilações de out takes. E o que não falta é crítico de rock apontando para esse clima “alhos com bugalhos” na parte final da discografia de Elvis.
Pois bem, resolvemos revisitar quatro álbuns dessa última década da carreira de Elvis Presley – que, você talvez saiba, teria completado 90 anos no dia 8 de janeiro. E pode crer: quem deixou esses discos para trás perdeu muita coisa. Mesmo os mais alheios à obra do cantor, que o conhecem apenas pelos grandes hits, podem encontrar surpresas agradáveis. Porque, sim, por trás daquela fachada de decadência, havia música pulsante. Se você nem sequer desconfiasse que a vida de Elvis andava uma zona daquelas, poderia acabar achando que ele já estava rico o suficiente e havia resolvido só gravar o que quisesse, para quem quisesse ouvir, e problema dele.
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- Este texto foi inspirado por um outro texto, da newsletter do músico Giancalrlo Rufatto
“ELVIS NOW” (1972). O nome desse álbum de Elvis podia indicar que se tratava de um disco ao vivo, de uma coletânea, de um álbum de sobras, de um cata-corno musical – enfim, Elvis now, como título, não quer dizer lá muita coisa. De qualquer jeito, é um dos mais brilhantes lançamentos do cantor em sua última década. Numa época em que Elvis parecia ter entendido mais ou menos para que serviam os álbuns e estava adotando estilos musicais diferentes em cada lançamento (gospel, country, baladas, etc), seu décimo-sexto LP era o que mais se aproximava de um “programa de música” (digamos assim), cabendo vários estilos musicais de maneira equilibrada.
Para manter um hábito do cantor na época, Elvis now não era um disco de “agora”. Havia uma faixa gravada em 1969 (a versão dele para Hey Jude, dos Beatles, feita nas sessões que geraram o disco Elvis in Memphis, daquele ano) e gravações de 1970 e 1971. Ou seja: era basicamente um cozidão de sobras com material ainda sem destinação. De qualquer jeito, lá você ouve, além de Hey Jude, Elvis interpretando canções de Kris Kristofferson (Help me make it through the night), da ativista e cantora Buffy Sainte-Marie (a canção de amor classe-operária Until it’s time for you to go), de Gene McLellan (Put hand in the hand), Gordon Lightfoot (Early mornin’ rain) e até um clássico gospel tradicional que, poucos anos depois, Raul Seixas e Paulo Coelho fariam questão de chupar (I was born ten thousand years ago).
“RAISED ON ROCK/FOR OL’ TIMES SAKE” (1973). Mais uma vez uma capa de Elvis traz uma foto praticamente idêntica dele (Elvis proibia que o fotografassem fora do palco), e o título lembra o de um álbum pirata ou coletânea caça-níqueis. Mas esse disco é tido como o último álbum de estúdio verdadeiramente rocker de Elvis, e tem quem o considere o melhor álbum dessa fase. O repertório veio de sessões no Stax Studios (Memphis, Tennessee), em julho de 1973, além de outras gravações feitas na casa de Presley em Palm Springs, Califórnia, em setembro de 1973.
Raised on rock tem esses dois títulos porque aproveitou os nomes dos lados A e B de um single de sucesso do cantor – o que dá a impressão também de “single expandido para álbum” e feito às pressas. Uma ouvida distraída revela pérolas como as próprias músicas-título, além de Three corn patches (da dupla Leiber e Stoller), Just a little bit (sucesso do cantor Rosco Gordon) e Find out what’s happenin’ (country gravado em 1968 por Bobby Bare). Muita gente implicou bastante com aquele papo de “criado no rock”, ate porque a canção fala de uma pessoa que foi criada ouvindo hits como Johnny B. Goode, de Chuck Berry, e nada menos que Hound dog, gravada pelo próprio Elvis (!) em 1956. Mas pula essa parte porque a gravação é ótima.
“ELVIS TODAY” (1975). A capa e o título não dizem muita coisa, mas Today é um dos discos mais saidinhos dessa fase final da carreira do cantor. O som une música pop e country, em vez de se concentrar apenas num estilo. E fica claro, pela escolha de repertório, que o álbum foi um esforço grande de Elvis em tentar entender o que estava acontecendo ao seu redor na música.
Havia o rock country de T-R-O-U-B-L-E, um dos últimos hits do cantor no estilo que o havia consagrado. Tinha uma regravação de Fairytale, das Pointer Sisters, indicando que a transição do soul à disco já tinha sido devidamente observada por Elvis e sua turma. E havia algumas regravações bem bacanas de faixas recentes, como I can help, de Blly Swan, e Pieces of my life, de Troy Seals – muito embora, justamente por causa disso, ficasse a impressão de que Today, mais do que resultado de uma gravação em estúdio, era o resultado de uma mexida em várias demos. Ainda assim, era uma mostra de que Elvis ainda se reinventava. Da maneira dele, mas rolava sim.
“FROM ELVIS PRESLEY BOULEVARD, MEMPHIS, TENNESSEE” (1976). O título desse disco lembra o de um álbum póstumo ou coletânea. É apenas o vigésimo-terceiro álbum de Elvis, feito numa época em que o cantor nem sequer queria sair de casa para gravar, e a RCA mandou instalar um estúdio na casa dele. Foi lançado pouco após a excelente coletânea The Sun sessions, e, diz o site oficial do cantor, trouxe músicas “comercializadas como se Elvis estivesse finalmente emitindo um convite aos seus fãs para entrarem pelos portões de Graceland”. Inclusive vendeu mais do que a coletânea, embora tenha custado mais aos cofres da RCA do que Sun sessions.
A capa informa que se trata de um “disco ao vivo”, mas a realidade é bem diferente: não há palmas, e basicamente o material foi feito “ao vivo” dentro da própria mansão de Elvis. O repertório é de uma força impressionante, com destaque para a balada blues Hurt, a romântica Never again e as baladas country Dany boy e Bitter they are, harder they fall, além da grandiosa The last farewell. From Elvis Presley Boulevard não é apenas um disco: é um retrato do Rei em um momento de fragilidade e reclusão, mas ainda capaz de emocionar como poucos.
Cultura Pop
Grammy 2025: as apostas do Pop Fantasma

Informações básicas sobre o Grammy 2025, que vai rolar neste domingo (2 de fevereiro), às 21h30, horário de Brasília, nos Estados Unidos. Vamos por partes:
- É a 67ª edição da premiação.
- Uma porrada de gente vai fazer show na premiação. Entre os confirmados, Stevie Wonder, John Legend, Janelle Monáe, Chris Martin, Cynthia Erivo, Brittany Howard, Brad Paisley, Herbie Hancock, Jacob Collier, Lainey Wilson, St. Vincent e Sheryl Crow. A Academia afirmou também que estarão no palco nomes como Benson Boone, Sabrina Carpenter, Doechii, Raye, Chappell Roan, Teddy Swims, Shakira e Charli XCX.
- O comediante sul-africano Trevor Noah vai apresentar o prêmio – ele comanda o palco do prêmio desde 2021.
- Tem Brasil na premiação, já que Anitta concorre a melhor álbum de pop latino com Funk generation.
- O canal de TV TNT e o serviço de streaming Max vão transmitir a premiação aqui no Brasil.
- Após discussões iniciais, foi decidido que os incêndios em Los Angeles não causariam o adiamento do evento – e decidiu-se também que o Grammy será um instrumento para angariar fundos para ajudar a cidade.
E enfim, ninguém convidou o Pop Fantasma para votar lá, mas nós resolvemos mostrar nossas apostas, divididas em quem a gente acha que leva os prêmios, e quem a gente adoraria que ganhasse. Confira aí e faça suas apostas. Não votamos em todas as categorias, claro – são 94 e não nos sentimos capazes de opinar em várias delas.
(na foto, Charli XCX, que a gente gostaria que ganhasse numas três categorias).
Música do Ano
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
Billie Eilish, Birds of a feather
Lady Gaga and Bruno Mars, Die with a smile
Taylor Swift featuring Post Malone, Fortnight
Chappell Roan, Good luck, babe!
Kendrick Lamar, Not like us
Sabrina Carpenter, Please please please
Beyoncé, Texas hold ‘em
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Taylor Swift
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar
Revelação do Ano
Benson Boone
Sabrina Carpenter
Doechii
Khruangbin
RAYE
Chappell Roan
Shaboozey
Teddy Swims
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappell Roan
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Ficamos contentes se a Chappell ganhar, mas enfim, tem o Khruangbin
Melhor Performance Solo Pop
Beyoncé, Bodyguard
Sabrina Carpenter, Espresso
Charli XCX, Apple
Billie Eilish, Birds of a feather
Chappell Roan, Good luck, babe!
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Sabrina Carpenter é a campeã de audiência em algumas plataformas digitais, e tem grandes chances,
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX
Melhor Performance Dupla ou Grupo Pop
Gracie Abrams Featuring Taylor Swift, Us
Beyoncé Featuring Post Malone, Levii’s Jeans
Charli XCX & Billie Eilish, Guess
Ariana Grande, Brandy & Monica, The boy is mine
Lady Gaga & Bruno Mars. Die with a smile
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Grandes chances para o dueto de Lady Gaga e Bruno Mars
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX e Billie Eilish
Melhor Álbum Pop Vocal
Sabrina Carpenter, Short’n sweet
Billie Eilish, Hit me hard and soft
Ariana Grande, Eternal sunshine
Chappell Roan, The rise and fall pf a midwest princess
Taylor Swift, The tortured poets department
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappel Roan? Taylor Swift? Billie Eilish? Aí parece que TODAS podem ganhar.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Billie Eilish
Melhor Álbum de Country
Beyoncé, Cowboy Carter
Post Malone, F-1 Trillion
Kacey Musgraves, Deeper Well
Chris Stapleton, Higher
Lainey Wilson, Whirlwind
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé
Melhor Performance Country Solo
Beyoncé, 16 Carriages
Chris Stapleton, It takes a woman
Jelly Roll, I am not OK
Kacey Musgraves, The architect
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton ou Shaboozey
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé (ou, vá lá, também o Shaboozey)
Melhor Gravação Dance/Eletrônica
Madison Beer, Make you mine
Charli XCX, Von Dutch
Billie Eilish, L’amour de ma vie (Over Now Extended Edit)
Ariana Grande, Yes, and?
Troye Sivan, Got me started
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: talvez, quem sabe, Billie Eilish
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX
Melhor Álbum de Pop Latino
Anitta, Funk generation
Luis Fonsi, El viaje
Kany García, García
Shakira, Las mujeres ya no lorran
Kali Uchis, Orquídeas
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Talvez a Kali Uchis
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Fernanda Torres no Oscar e Anitta no Grammy, já pensou? (mas Kali Uchis ganhando ia ser legal, Orquideas é um disco bacana).
Melhor Álbum de Rock
The Black Crowes, Happiness bastards
Fontaines D.C., Romance
Green Day, Saviors
Idles, TANGK
Pearl Jam, Dark matter
The Rolling Stones, Hackney diamonds
Jack White, No name
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Algo me diz que o primeiro álbum dos Stones lançado após a morte de Charlie Watts vai mexer com os jurados.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Jack White.
Melhor Performance de Rock
The Beatles, Now and then
The Black Keys, Beautiful people (Stay high)
Green Day, The american dream is killing me
Idles, Gift horse
Pearl Jam, Dark matter
St. Vincent, Broken man
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Beatles.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Em tempo de Trump na presidência dos EUA, Green Day cantando que “o sonho americano está me matando” seria um sonho (sem trocadilho). Mas dificilmente vai rolar.
Melhor Performance de Música Alternativa
Cage the Elephant, Neon pill
Nick Cave & The Bad Seeds, Song of the lake
Fontaines D.C., Starbuster
Kim Gordon, Bye bye
St. Vincent, Flea
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Nick Cave & The Bad Seeds
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon, com certeza.
Melhor Álbum de Música Alternativa
Nick Cave & Bad Seeds, Wild god
Clairo, Charm
Kim Gordon, The collective
Brittany Howard, What now
St Vincent, All born screaming
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: estou entre Clairo e Nick Cave
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon
Melhor Álbum de Rap
Common & Pete Rock, The Auditorium Vol. 1
Doechii, Alligator bites never heal
Eminem, The death of Slim Shady (Coup de grâce)
Future & Metro Boomin, We don’t trust you
J. Cole, Might delete later
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Se bobear, Eminem leva essa. Ou o trapper Future.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Common & Pete Rock, que ainda por cima têm samples bem criativos de música brasileira (pegaram trechos de faixas de Chico Buarque, Ivan Lins & Vitor Martins e até uma faixa da banda de rock progressivo brasileira Karma).
Melhor Performance de Rap
Cardi B, Enough (Miami)
Common & Pete Rock Featuring Posdnuos, When the sun shines again
Doechii, Nissan altima
Eminem, Houdini
Future, Metro Boomin & Kendrick Lamar, Like that
Glorilla, Yeah glo!
Kendrick Lamar, Not like us
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR e QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar
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Crítica
Ouvimos: Bad Bunny, “Debí tirar más fotos”

Benito Antonio Martinez Ocasio, o popular Bad Bunny, não veio ao mundo pop a passeio. Debí tirar más fotos, seu novo disco, é um passeio pela musicalidade e pela identidade portorriquenhas – e esfrega na cara do mercado fonográfico que ele não tem nenhuma vontade de soar mais “americano” (estadunidense, enfim) para bombar nas paradas.
Já era uma prerrogativa de Bad Bunny desde os primeiros tempos, até porque ele é um dos nomes mais conhecidos do rap de idioma hispânico, mas Debí, mergulhado no reggaeton e em sons caribenhos, é um disco de memórias e sensações. Nuevayol, uma referência à pronúncia hispânica de “Nova York”, traz BB requerendo sua posição de rei do pop, e homenageando a comunidade latina que vive na megalópole. Baile inolvidable, que parece uma trilha sonora, cita as diversões calientes de Porto Rico e traz alunos da Escuela Libre de Música Ernesto Ramos Antonini, de San Juan, tocando salsa. Weltita tem cara de samba-rap e narra uma proposta de date praiano, com as falas do homem (Bunny) e da mulher (Lóren, da banda portorriquenha Chuwi) na história.
Com duração de mais de uma hora, Debí soa irregular em alguns momentos, mas compensa no storytelling (cabendo momentos em que o discurso de Bad Bunny é interrompido para uma mudança rítmica ou a entrada de uma gravação) e na variedade. E em especial no lado mobilizado, definido pelo próprio Bad Bunny como sendo “uma carta a Porto Rico”. A bebaça e doidaralhaça Cafe com ron é pura variação rítmica, cabendo pelo menos três estilos caribenhos, e no fim, um house cubano.
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La mudanza é orgulho portorriquenho purinho (“fala pra ele que essa é a minha casa, onde nasceu minha avó/daqui ninguém me tira, eu não saio daqui”), com letra falada no início e destaque para a percussão (que ganha alguns segundos só dela no final). Lo que le paso a Hawaii é som marolado e cigano, com vocal grave, e letra pregando que não quer que Porto Rico torne-se mais dominada ainda pelos Estados Unidos. A romântica e praguejadora Bokete (que traz encartado na letra um protesto bizarríssimo contra os buracos nas ruas de Porto Rico) abre em clima meio psicodélico, graças a uma gravação de guitarra ao contrário, como num sampling invertido. Não falta diversão em Debi tirar más fotos, e não falta raiz musical.
No lado mais descontraído e menos mobilizado das letras, Debí é um disco que aponta para dois lados, er, complementares. Ou Bad Bunny encarna o fodão que apronta todas nas boates e ganha as gatas, ou ele está chorando pelos cantos – geralmente de arrependimento por alguma merda que fez. El club abre em clima de trap, falando de boates, mulherada, drogas, bebedeira, até que… “mas o que minha ex está fazendo?’. “Os caras acham que estou feliz/mas não, estou morto por dentro/a discoteca está cheia e ao mesmo tempo, vazia/porque meu bebê não está lá”, choraminga.
Se você acha que parou por aí, tem mais. Pitorro de coco, repleta de violões ciganos (e cujo título faz referência a um drinque popular em Porto Rico), é dor de corno etílica das boas. Turista, cheia de cordas e sons acústicos, é… Bom, haja sofrimento: “na minha vida você era turista/você só viu o melhor de mim e não o que eu sofri/você foi embora sem saber o motivo das minhas feridas” – embora o rapper esclareça que a letra fala também dos turistas que vão à Porto Rico e saem de lá sem conhecer os problemas locais. E tem a quase faixa-título, DTMF, um reggaeton que vira algo parecido com funk carioca logo depois, e que traz Bad Bunny chorando pitangas pelo leite derramado (é a do verso-meme “devia ter tirado mais fotos quando tinha você/devia ter te dado mais beijos e abraços quando pude”).
Nota: 8,5
Gravadora: Rimas.|
Lançamento: 5 de janeiro de 2025.
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