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Cultura Pop

Fizeram a playlist definitiva de boogie brasileiro

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Fizeram a playlist definitiva de boogie brasileiro

Desdobramento da disco music, o boogie ficou famoso entre o fim dos anos 1970 e o começo dos 1980. Tem um texto do excelente site Music Non Stop que explica como se desenvolveu esse tipo de som, e vale a leitura. Mas vamos dar um histórico em poucas linhas: com a retração da disco music, lá por 1978/1979, vários artistas do estilo buscaram novos caminhos. E o boogie foi um deles.

O Earth, Wind and Fire, por exemplo investiu, em muitos de seus hits, numa sonoridade que unia instrumentos eletrônicos, metais, cordas e uma batida que soava como uma disco music mais avançadinha e tecnológica, ainda que orgânica. O som adiantava as novidades da house music, que surgiria pouco depois. Isso era o boogie, que eles fizeram em músicas como Spread your love e In the stone.

Quem curtia bandas como o Chic, por exemplo, já estava mais do que acostumado com a linguagem musical do boogie. Mas com as mudanças e trocas de guarda no pop, quem queria falar direto com o público que sentia falta da sonoridade da disco, adotava o boogie – estilo musical que comportava grandes músicos (gente do jazz e do funk, por exemplo) e fazia surgir grandes hits. George Benson, por exemplo, aderiu rapidamente, com Give me the night.

Nessa época, roqueiros como os Doobie Brothers, o Queen e até os Rolling Stones deram lá suas namoradas com o público de boogie. What a fool believes, dos DB, e Start me up, dos Stones, não fazem feio se tocadas junto de hits do estilo, não – a mesma coisa valendo para Another one bites the dust, da banda de Freddie Mercury e Brian May.

No Brasil do fim dos anos 1970, com o arranjador e tecladista Lincoln Olivetti na linha de frente, esse tipo de som fez a ponte entre a disco music das Frenéticas e o que se estabeleceria como o rock nacional dos anos 1980.

A subcultura boogie acabou se confundindo (por intermédio das novelas e da linha de entretenimento da TV brasileira) com um comecinho da onda fitness no Brasil, com gente andando de patins na praia, fazendo “teste de Cooper” (eternamente confundido com o ato de correr na praia e grande gerador de trocadalhos do carilho, tratava-se do método de condicionamento físico das forças armadas americanas) e usando fita de tenista na cabeça.

O clássico pornô-soft Rio Babilônia, de Neville de Almeida (com trilha de, adivinhe só, Lincoln Olivetti e Robson Jorge) saiu em 1982 e tem tantas referências boogie-tropicalistas que dá para passar o dia inteiro catando. Divirta-se aí, mas não cheguei nem na metade do texto.

Praticamente tudo o que fez sucesso do pop nacional entre 1978 e 1982 no Brasil tinha lá suas raízes no boogie. Isso com raras exceções, já que a música nacional vivia uma febrinha micra de reggae (por intermédio de A Cor do Som, Gilberto Gil e Moraes Moreira), e baladas (como Abre coração, de Marcelo) iam bem. Mas a música dançante ainda vendia muitos discos, aí incluídos Marcos Valle (com Estrelar), Lady Zu, Banda Black Rio, Rita Lee, Tim Maia, Junior Mendes (do mais belo hit da era boogie, Rio sinal verde) e até mesmo os popularíssimos Sergio Mallandro, Dudu França e Gretchen.

Em 1982, o SBT chegou a botar no ar um programa “jovem” chamado Vamos nessa, apresentado pelo “gatão das gatinhas” Dudu França, que trazia artistas dublando os maiores hits da época, no maior clima “alto astral”. Dê só uma olhada no tema de abertura.

“Só tenho tempo para ouvir um hit do boogie, tô com o dia cheio hoje, o que faço?”. Ok, resolvo seu problema: esse é a música que mais representa o boogie nativo. O clipe é uma imersão no imaginário e na iconografia do boogie tropicalizado.

E esse intróito todo é só pra avisar que um sujeito chamado Freddy Jazz fez a mais completa playlist de boogie brasileiro que você vai achar na internet.

Primeiro porque ele não se limitou a incluir só faixas de boogie e foi lá atrás nas raízes do estilo musical no Brasil. Redescobriu pepitas das quais possivelmente ninguém lembra, como o namoro dos Incríveis com o soul (Paz e amor), o balanço de Tom Zé em Jimmy, renda-se, o disco de Zeca do Trombone e Roberto Sax (que leva só o nome da dupla e saiu em 1976) e o peso do álbum Meu balanço, de Waltel Branco (1975). Também incluiu uma música que mostrou bem como o boogie impactou a MPB, A gente precisa ver o luar, de Gilberto Gil. E ainda tem nada menos que Não empurre, não force, com o grupo infantil A Patotinha – versão infantil de Don’t push, don’t force it, de Leon Haywood.

Pega aí e ouça no volume máximo.

 

Ricardo Schott é jornalista, radialista, editor e principal colaborador do POP FANTASMA.

Crítica

Ouvimos: Bad Bunny, “Debí tirar más fotos”

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Benito Antonio Martinez Ocasio, o popular Bad Bunny, não veio ao mundo pop a passeio. Debí tirar más fotos, seu novo disco, é um passeio pela musicalidade e pela identidade portorriquenhas – e esfrega na cara do mercado fonográfico que ele não tem nenhuma vontade de soar mais “americano” (estadunidense, enfim) para bombar nas paradas.

Já era uma prerrogativa de Bad Bunny desde os primeiros tempos, até porque ele é um dos nomes mais conhecidos do rap de idioma hispânico, mas Debí, mergulhado no reggaeton e em sons caribenhos, é um disco de memórias e sensações. Nuevayol, uma referência à pronúncia hispânica de “Nova York”, traz BB requerendo sua posição de rei do pop, e homenageando a comunidade latina que vive na megalópole. Baile inolvidable, que parece uma trilha sonora, cita as diversões calientes de Porto Rico e traz alunos da Escuela Libre de Música Ernesto Ramos Antonini, de San Juan, tocando salsa. Weltita tem cara de samba-rap e narra uma proposta de date praiano, com as falas do homem (Bunny) e da mulher (Lóren, da banda portorriquenha Chuwi) na história.

Com duração de mais de uma hora, Debí soa irregular em alguns momentos, mas compensa no storytelling (cabendo momentos em que o discurso de Bad Bunny é interrompido para uma mudança rítmica ou a entrada de uma gravação) e na variedade. E em especial no lado mobilizado, definido pelo próprio Bad Bunny como sendo “uma carta a Porto Rico”. A bebaça e doidaralhaça Cafe com ron é pura variação rítmica, cabendo pelo menos três estilos caribenhos, e no fim, um house cubano.

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La mudanza é orgulho portorriquenho purinho (“fala pra ele que essa é a minha casa, onde nasceu minha avó/daqui ninguém me tira, eu não saio daqui”), com letra falada no início e destaque para a percussão (que ganha alguns segundos só dela no final). Lo que le paso a Hawaii é som marolado e cigano, com vocal grave, e letra pregando que não quer que Porto Rico torne-se mais dominada ainda pelos Estados Unidos. A romântica e praguejadora Bokete (que traz encartado na letra um protesto bizarríssimo contra os buracos nas ruas de Porto Rico) abre em clima meio psicodélico, graças a uma gravação de guitarra ao contrário, como num sampling invertido. Não falta diversão em Debi tirar más fotos, e não falta raiz musical.

No lado mais descontraído e menos mobilizado das letras, Debí é um disco que aponta para dois lados, er, complementares. Ou Bad Bunny encarna o fodão que apronta todas nas boates e ganha as gatas, ou ele está chorando pelos cantos – geralmente de arrependimento por alguma merda que fez. El club abre em clima de trap, falando de boates, mulherada, drogas, bebedeira, até que… “mas o que minha ex está fazendo?’. “Os caras acham que estou feliz/mas não, estou morto por dentro/a discoteca está cheia e ao mesmo tempo, vazia/porque meu bebê não está lá”, choraminga.

Se você acha que parou por aí, tem mais. Pitorro de coco, repleta de violões ciganos (e cujo título faz referência a um drinque popular em Porto Rico), é dor de corno etílica das boas. Turista, cheia de cordas e sons acústicos, é… Bom, haja sofrimento: “na minha vida você era turista/você só viu o melhor de mim e não o que eu sofri/você foi embora sem saber o motivo das minhas feridas” – embora o rapper esclareça que a letra fala também dos turistas que vão à Porto Rico e saem de lá sem conhecer os problemas locais. E tem a quase faixa-título, DTMF, um reggaeton que vira algo parecido com funk carioca logo depois, e que traz Bad Bunny chorando pitangas pelo leite derramado (é a do verso-meme “devia ter tirado mais fotos quando tinha você/devia ter te dado mais beijos e abraços quando pude”).

Nota: 8,5
Gravadora: Rimas.|
Lançamento: 5 de janeiro de 2025.

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Cultura Pop

No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

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No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

No começo de sua carreira solo, John Lennon era um artista brigão, politizado, dado a excessos, que estava de cara virada para seus ex-colegas de Beatles, e que havia encontrado um pouco de paz em seu relacionamento com a artista asiática Yoko Ono. Em meio a isso, alternava protestos, álbuns experimentais (ambos feitos com a nova esposa) e seus primeiros singles, com músicas guerrilheiras como Cold turkey e Instant karma!

Entre 1969 e 1970, parecia que acontecia de tudo na vida dos Beatles. E por tabela, na vida de John, que vivia um dia a dia de brigas, entrevistas malcriadas, gravações novas, ameaça de falência, problemas no novo casamento e um processo de autodescoberta que aconteceu depois que um certo livro apareceu na sua caixa de correio… A gente termina a temporada de 2024 do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, recordando tudo que andava rolando pelo caminho de Lennon nessa época. Termine de ouvir e ataque a super edição turbinada de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que chegou às plataformas em 2020. E, ei, não esqueça de escutar Yoko Ono/Plastic Ono Band, que saiu junto do disco de John.

Século 21 no podcast: Juanita Stein e Caxtrinho.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

(temos dois episódios do Pop Fantasma Documento sobre Beatles aqui e aqui).

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Crítica

Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

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Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

Sério que Songs of a lost world, álbum novo do The Cure, já ganhou rapidamente uma edição deluxe com um registro ao vivo de todas as faixas do álbum? Sim, ganhou essa edição acrescida do rabicho Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV. Até porque se o disco já fez bastante sucesso, a noite de lançamento do álbum foi inesquecível – com um show da banda em 1º de novembro no Troxy London, tocando todo o repertório do começo ao fim, além de vários hits. E é justamente o repertório do disco executado nessa noite, ao vivo, que surge como “disco 2” do álbum.

O Cure, redescoberto por novas gerações e por uma turma que não necessariamente é fã deles, mas curte os hits e gosta de curtir uma fossa, meio que vai tentando dar uma de U2: além de oferecer mais um mimo para os fãs, a banda vai doar todos os royalties deste lançamento para a instituição de caridade War Child. Na loja online do grupo existe um hotsite (ainda se usa esse termo?) só para as diferentes versões de Songs of a live world e para duas edições diferentes em vinil vermelho de Songs of a lost world: uma deles apenas com o disco original, e outra em formato duplo, trazendo as músicas em versões instrumentais no disco 2 (reparem bem: Songs tem músicas em que o vocal começa quase no fim da faixa, e que já são quase instrumentais, mas aí vai quem quer).

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  • Resenhamos Songs of a lost world aqui.

O show inteiro daquela noite possivelmente você já viu no YouTube (se não viu, veja lá embaixo deste texto). E possivelmente você ficou impressionado/a como o The Cure voltou disposto a se transformar num espetáculo. Só que sem as presepadas do Coldplay e sem os truques de mágica do U2: é só a banda, num cenário escuro e esfumaçado, com muito peso e imponência visual e auditiva. As músicas do álbum transportadas para o “ao vivo” soam um pouco mais humanizadas, especialmente no caso de canções que, no disco, eram torrentes de ruído, como Warsong e Alone.

And nothing is forever destaca a magia dos teclados que, rearranjados, poderiam estar até num disco do Péricles – esse lado popularzão sem deixar de ser “dark” sempre foi uma das grandes forças do Cure. A ambiência do Troxy deixou músicas como I can never say goodbye (feita por Robert com o pensamento na morte de seu irmão mais velho Richard) e Endsong bem menos robóticas e desprovidas de qualquer traço de frieza. Se o disco novo do Cure é triste, a contrapartida ao vivo é a prova de que o show é feito para fãs que curtem chorar baldes ouvindo música. E tá tudo bem.

Nota: 9
Gravadora: Fiction/Polydor

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