Cultura Pop
Entrevista: Nicole Laurenne (The Darts) fala sobre carreira e disco novo

Fato: Se você ainda não ouviu falar em Nicole Laurenne, então você não tem nenhum apreço por Garage Rock. Afinal, essa talentosa cantora, instrumentista (e pasmem, juíza nas horas vagas!) já tocou em inúmeras bandas do estilo como o Love Me Nots, Motobunny, Zero Zero que fizeram turnês por várias partes do mundo, e hoje está aí com o The Darts, grupo que conta só com mulheres na sua formação e cujo som enérgico atraiu a atenção de ninguém menos que a lenda do punk rock Jello Biafra, que lançou seu álbum de estreia I like you but not like that pelo seu renomado selo Alternative Tentacles.
Às vésperas de lançar seu mais novo trabalho, intitulado Snake oil, entramos em contato com a simpática Nicole, sem dúvida uma das artistas mais boa praça com quem tivemos a oportunidade de conversar, e trocamos ideia sobre diversos assuntos, inclusive sobre a minha banda Stemphylium (que ela ouviu e, modéstia a parte, adorou!). Divirta-se:
Oi, Nicole! Antes de mais nada, me permita dizer que estou muito feliz por ter a oportunidade de te entrevistar, eu realmente adoro o som do The Darts! Conte-nos por favor sobre seu início na música: Quais foram as suas primeiras influências e qual foi o primeiro show que você viu ao vivo?
Eu cresci estudando piano clássico, sem ter muita exposição ao rock ou ao pop. A primeira canção pop que me deixou doida quando criança foi, estranhamente, Rich girl do Hall & Oates. Hahahahaha, por favor, não conte pra ninguém! Então mais tarde eu cresci e virei fã do Journey. Ccomo pianista que era, achava demais ver aquele piano vermelho de cauda enorme rodando num gigantesco palco… Eu estava assistindo MTV tarde da noite, desci as escadas com o maior cuidado para meus pais não acordarem, acho que foi um momento realmente decisivo pra mim… também mantenha isso entre nós, hahahahaha!).
Então comecei a me apaixonar pelo som da Sinead O’ Connor, The Police, Prince, mas a verdade é que eu continuava muito mais envolvida com a música clássica, tocando Mozart em concertos acompanhada de orquestras sinfônicas e por aí vai. Participei de alguns trios de jazz durante algum tempo e adorava. Eu nunca tinha ido num show de rock até chegar à faculdade em Michigan com meus amigos. Eu sempre amei compor músicas, fossem elas clássicas ou pop, desde muito jovem. Após um bom tempo eu conheci o guitarrista do Love Me Nots e ele me apresentou ao garage rock. Me apaixonei de imediato pela sonoridade, pela vibe e por ser bem aberto ao uso do teclado. As três primeiras grandes influências que me vêm à mente são o The Animals, The Seeds, ? And The Mysterians.
Antes do The Darts você fez parte de várias outras bandas como o Love Me Nots, Zero Zero e o Motobunny. Como foi essa experiência e por que essas bandas acabaram?
O Love Me Nots foi uma experiência incrível, eram músicos maravilhosos! Trabalhamos muito duro e conhecemos o mundo juntos, fomos contratados por um selo europeu e gravamos com Jim Diamond, que também produziu o White Stripes e o Dirtbombs, em Detroit. Vivi um sonho por praticamente uma década! Enquanto o Love Me Nots seguia em frente, eu comecei a me aventurar mais pelo lado da música eletrônica e graças a esse interesse surgiu o Zero Zero. Ao vivo nós usávamos bateria eletrônica e algumas bases pré-gravadas e eu tocava baixo num teclado Moog e tudo o mais num teclado Roland.
Depois colaboramos com nossos amigos de longa data da banda The Wolly Bandits e criamos o Motobunny, meio que um supergrupo que gravou um álbum com Jim Diamond, fez videos muito legais, assinou com uma gravadora nos EUA e teve um forte patrocínio da Roland. Eu até toquei algumas vezes com uma Key tar (o “teclado Roupa Nova” dos anos 1980, que o grupo carioca usava nos programas de TV) que a Roland me deu! Eu fui casada com o guitarrista de todos esses projetos, mas infelizmente nosso casamento não sobreviveu a elas. Entre alguns problemas internos e o fim do meu casamento, essas bandas acabaram chegando ao fim e o The Darts nasceu.
Como você conheceu as outras integrantes da banda?
Christina Nunez, nossa baixista, tocou no Love Me Nots por vários anos, então já tínhamos muitas afinidades, tanto de personalidade quanto musicalmente. Nós sempre conversamos sobre a ideia de ter uma banda só de garotas e, quando o Love Me Nots chegou ao fim, achamos que seria uma excelente oportunidade de fazer isso acontecer. Me aproximei de duas instrumentistas em Los Angeles que achei que seriam boas aquisições; a guitarrista Michelle Balderrama (Brainspoon) e a baterista Rikki Styxx (Dollyrots, Two Tens, Death Valley Girls). Nossos caminhos se cruzaram tantas vezes ao longo dos anos durante minhas turnês que acabou sendo uma escolha óbvia. Em apenas algumas semanas, eu e Michelle já havíamos composto um EP e estávamos prontas pra gravar.
Como vocês conheceram Jello Biafra e acabaram na Alternative Tentacles? Como é trabalhar com ele?
Jello foi DJ num show que o Love Me Nots fez em Los Angeles há alguns anos. Ele tocou nossos discos naquela noite e até subiu no palco pra cantar com a gente, foi completamente surreal! Mais tarde, nessa mesma noite, nós conversamos sobre política e sobre música durante um bom tempo e acho que meio que criamos uma conexão. Alguns anos depois, seu empresário o arrastou para assistir a um show do The Darts em San Francisco, e aparentemente ele não estava muito a fim porque não achou que pudesse ser tão legal quanto o Love Me Nots. Mas no final ele estava conosco na mesa onde vendíamos nosso merchandise dizendo pra gente o quanto amou nosso show e antes que déssemos conta, lançamos um compacto por sua gravadora.
Depois disso, demos a ele um álbum completo e foi assim que I like you, but not like that de 2019 veio ao mundo. Ele nos deixou muito à vontade pra fazermos o disco, o máximo que ele fez foram algumas sugestões de efeitos vocais para o nosso produtor durante a mixagem. Acabamos de terminar também nosso mais novo trabalho, Snake oil, que será lançado em breve. Jello se ofereceu para ajudar nas gravações e claro que aceitamos. Ele esteve conosco durante todo o processo, ajudando a escolher as músicas, fazer ajustes e arranjos diferentes para tornar as músicas as melhores possíveis, ouvindo com atenção cada fase da mixagem e da masterização, até a ordem das músicas ele ajudou a escolher! Ele também adicionou um toque final, mas ele é segredo por enquanto, hahaha! Ele é um verdadeiro artista que sabe do que gosta e que trabalha muito arduamente para chegar ao resultado que imagina. É uma fantástica experiência tê-lo ao nosso lado nesse projeto e eu tenho certeza que Snake oil será nosso melhor disco, fácil!
Como é fazer parte de uma banda só de garotas num mundo tão sexista? Como vocês lidam com isso?
Nós mulheres somos super fortes e resilientes. Não queremos ser conhecidas por sermos uma banda de garotas, mas sim por sermos boas profissionais e competentes no que nos propomos a fazer. As pessoas quando nos veem pela primeira vez pensam todo tipo de coisas (não podemos controlar isso, mas sinceramente nem queremos isso também), porém quando estamos no palco nós sempre surpreendemos. Tentamos sempre ser cuidadosas, responsáveis e todas aquelas coisas as quais muitos músicos não dão a mínima. Nós queremos que o mundo veja que nós somos artistas que devem ser levados a sério e até agora temos conseguido. Após os nossos shows, é muito raro o dono de um clube ou um promotor de eventos não estreitar laços conosco e nos convidar novamente para outros eventos. Mesmo quando fazemos bobagem no palco, nós damos a volta por cima e tudo termina bem. Tenho muito orgulho de todas as integrantes dessa banda!
Você realizou um dos sonhos da minha vida ao fazer uma turnê pelos EUA com o Damned. Como foi essa experiência? E se você tivesse a chance de escolher um artista para uma turnê, quem seria?
Excursionar com o The Damned foi um sonho!! Tocamos com eles por todos os EUA em locais grandes, e nos divertimos muito brincando com a banda e com a equipe nos bastidores. Eles são pessoas muito tranquilas, divertidas e incrivelmente bons no que fazem. Toda noite era como se nós tivéssemos ingressos na primeira fila pra ver o melhor show de todos os tempos! Dave Vanian me convidou várias vezes para subir no palco e fazer backing vocals e dançar com eles, foi realmente algo que nós nunca conseguiremos esquecer e mal podemos esperar pra fazer isso de novo algum dia!
O que você conhece de música brasileira?
Receio que não conheça muita coisa… Mas sei que há várias bandas legais de garage rock na América do Sul e eu estou sempre pronta pra descobrir coisas novas!
Você tem duas filhas, como elas lidam com a distância já que você está sempre em turnê? A propósito, falando nelas, ouvi dizer que as duas também estão envolvidas com música, elas ouvem as mesmas coisas que você? Elas também tem interessem em seguir esse caminho?
Minhas filhas cresceram numa casa grande cercadas de equipamentos de estúdio, piamos, instrumentos e várias pessoas compondo, não tinha como elas escaparem! Desde muito novinhas eu coloquei um piano no quarto delas e ensinei o máximo que pode de teoria musical, aulas de canto, etc. Elas aprenderam rápido s e todas as duas hoje tocam, cantam e compõem maravilhosamente bem. Eu tive muita sorte de ter minha família por perto quando elas eram jovens e, claro, de ter um emprego que me dava auxílio creche quando necessário. Fazer turnês sempre requeriam muito planejamento, mas pra elas era como se eu estivesse saindo a negócios. Sem contar que eu também me programava de modo a evitar ficar longos períodos longe. Elas levaram tudo numa boa e, espero que elas estejam orgulhosas de mim por fazer o que amo fazer.
Elas são gêmeas, porém têm gostos musicais completamente diferentes. Uma curte música clássica e jazz, toca baixo acústico muito bem e canta brilhantemente como uma cantora lounge dos anos 1940. Ah, e também estuda para se tornar uma neurocientista! Já a outra tinha uma banda quando estava no colégio chamada Le Zets (com Bob Hoag, que produziu o The Darts, na bateria!), mas ela entrou na faculdade de psicologia e a música ficou em segundo plano nesse momento da sua vida. Torço muito para que aconteça uma reunião do Le Zets num futuro próximo, eles eram muito divertidos ao vivo, ela como vocalista era super carismática e tinha uma presença de palco incrível! Ela tem uma veia roqueira muito forte, recentemente foi num show do King Gizzard e virou fã da banda de imediato, mas ela é muito centrada na sua carreira e ano que vem deve terminar seu mestrado. Tenho mesmo muito orgulho delas!
Além de ser cantora e mãe, você também trabalha como juíza. Como conciliar coisas tão diferentes?
É uma vida corrida, sem dúvida! Ser funcionária pública tem diversas vantagens e desvantagens quando você tenta ser uma artista profissional, mas não posso reclamar; tenho benefícios generosos e um período de férias muito bom. Contanto que eu planeje minhas turnês e meu tempo livre com bastante antecedência e cuidado, sempre terá alguém querendo trabalhar com a gente. Eu sou uma pessoa muito afortunada e eu nunca dei isso como garantido. Meu salário me permite fazer um pé de meia razoável para realizar meus objetivos, musicalmente falando.
Eu recomendo a todo músico iniciante que organize suas finanças e tenha um plano financeiro que lhes permita ter criatividade e liberdade para fazer o que quiserem pois, na maioria absoluta dos casos, música infelizmente não paga as contas. Ter uma segunda carreira foi um tremendo suporte pra mim, pois não precisei tocar em casamentos ou fazer um som que não curto; economizei e assim consegui criar minhas crianças com tranquilidade, financiar turnês e gravações para minhas bandas sem depender de ninguém e nem me afogar em dívidas. Além disso, sempre é bom para o artista sair um pouco do mundo da música e mergulhar em perspectivas diferentes.
Alguma chance de uma turnê no Brasil? E qual mensagem você gostaria de deixar para os fãs brasileiros?
Nós amaríamos fazer shows na América do Sul. O problema é que todas nossas turnês nos últimos anos foram interrompidas devido a covid. Está sendo trágico para todos na indústria musical, isso é fato. Porém, assim que o mundo voltar à normalidade, vou a todos os lugares possíveis! Rádios e podcasts brasileiros têm sido muito legais com a gente, portanto gostaríamos de ir aí e retribuir pessoalmente a gentileza!
Por último, mas não menos importante, gostaria de saber sua opinião sobre algumas bandas brasileiras, ok? Vamos a elas:
GANGRENA GASOSA – “CAMBONOS FROM HELL”. Não sou fã de hardcore ou heavy metal, infelizmente, mas tenho certeza que nossa baixista Christina vai se amarrar! Ah, o videoclipe é bem legal!
MATANZA – “ELA ROUBOU MEU CAMINHÃO”. Uau, por essa eu não esperava! Soa como algo vindo diretamente daqui do coração dos EUA! Eu também não sou muito fã de música country, mas com certeza essas caras são muito bons no que fazem!
STEMPHYLIUM – “ELA TÁ TLISTE” (sim, leitores, minha banda! Quis fazer um jabazinho, foi mal): Eu realmente gostei, sem brincadeira!
AUTORAMAS – “VOCÊ SABE”. Essa é BEM legal! Adoraria ouvir essa música com uma guitarra mais “envenenada”, mas gostei muito mesmo assim!
DEAD BILLIES – “INVASION OF BODY SNATCHERS”. Essa é bem divertida! E os rapazes são bem bonitinhos! Obrigada por me apresentar a tanta coisa legal!
Cultura Pop
Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.
Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.
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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).
Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).
Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.
Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”
Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.
Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.
“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.
E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).
Cultura Pop
Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.
O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.
Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.
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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.
O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.
Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.
Foro: Keira Vallejo/Wikipedia
Crítica
Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.
Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.
Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.
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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.
É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).
Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.
O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.
Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.
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