Crítica
Ouvimos: Dimy, “… eu sei que eu disse…”

RESENHA: Dimy estreia com …eu sei que eu disse…, disco lo-fi e psicodélico que transforma um pendrive perdido em crônicas musicais de amor e caos.
A história de …eu sei que eu disse…, primeiro álbum do Dimy, é pitoresca. Lucas Olivra, músico baiano, ex-integrate de bandas como Ricardo Elétrico, já tinha alguns dos riffs do disco prontos desde 2011. Só que em 2016, andando pela rua, esbarrou num pendrive perdido e resolveu ver o que tinha nele, e esbarrou com um monte de fotos e documentos que narravam o início e o fim de um relacionamento.
Lucas/Dimy nunca encontrou o dono do pendrive, mas decidiu juntar todas as histórias que viu no pendrive com os riffs que já vinha compondo no violão de nylon. Basicamente, o material do Dimy consiste em pérolas bizarras do lo-fi, do jazz psicodélico e do antipop – ainda que o violão de Lucas dê uma amaciada nas canções – e certo clima desencantado herdado do emo.
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Os títulos das canções soam como trechos de cartas, diários e tweets desencontrados: Nove da manhã, o Exorcista, uma ressaca da desgraça é a primeira faixa, Vejo flores em você é a segunda, e por aí vai. Alguns trechos de letras são inacreditáveis: “de hoje a oito é o seu aniversário / e eu fui convidado / garrafas espalhadas pela casa / e eu não consigo enxergar / você toda vomitada / cheia de cachaça / dormindo na mesa”, “você puxou uma calcinha da mochila / Yasmin deu falta enquanto a mesa ria / fugimos do bar enganados fomos pra igreja / minha amiga armou pra nos converter / o jovem pastor cheirava na bíblia”.
As melodias abrem com um clima quase MPBístico dado pelo violão de Lucas e prosseguem com mudanças rítmicas e vocais falados, às vezes ríspidos – quase sempre lembrando Fred Zero Quatro, do Mundo Livre s/a. Inverno, valorizada pelos metais e pelas cordas, é a canção mais próxima de um blueprint emo, no disco, enquanto Nove da manhã… abre o disco soando como várias abas sonoras abertas. Como o disco é uma linha do tempo, do amor ao nada, o encerramento é com a tristeza sem fim de A guerra fria (“e pra você / mil desculpas / mil desculpas / por tudo”).
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Fazenda Elétrica
Lançamento: 4 de abril de 2025
Crítica
Ouvimos: Optic Sink – “Lucky number”

RESENHA: Pós-punk afiado: no novo álbum, o Optic Sink mistura baixo frontal, bateria robótica e synths em faixas tensas, frias e cheias de energia.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Feel It Records
Lançamento: 31 de outubro de 2025
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Tem pós-punk estranho lá em Memphis. O Optic Sink parece com aquelas bandas que você descobre em coletâneas antigas da Factory – grupos para os quais o Joy Division chegou a abrir shows mas que ficaram no passado, ou que chegaram a ser considerados mais promissores que o New Order por alguns minutos. Claro que nada disso significa que o Optic Sink vai ficar para trás: no terceiro disco, Lucky number, eles vêm com músicas pontiagudas e altas habilidades no uso dos melhores truques dos estilos da “família” pós-punk.
- Ouvimos: Anika, Jim Jarmusch – Father, mother, sister, brother (trilha sonora do filme)
Natalie Hoffmann, Ben Bauermeister e Keith Cooper usam e abusam de baixo na frente, batera robótica, riff de guitarra combinados com riffs de synth, heranças do krautrock, vibes repetitivas e bacanas, vocais que dão certos sustos no/na ouvinte – tudo isso surge em faixas como Laughing backwards, Lucky number, Don’t look down. Já Construction abre com algo que (opa) pode se parecer com a fase tecnopop do Queen, mas também pode não parecer – e que logo se torna algo mais próximo de bandas como Magazine e Stranglers.
O lado mais frio e ritmado do grupo continua dando as cartas em músicas como How can I help you? e Kinetic world, duas canções que constroem atmosferas urbanas e musicais na frente de quem ouve o disco. Já Golden hour, um duelo entre baixo e guitarras funciona como se pusesse Joy Division e New Order lado a lado. Luxury of honesty, encerrando o álbum, tem curiosamente algo de raggamuffin na batida, e chega a lembrar a mania do Public Image Ltd pela exploração de ritmos em meio ao instrumental frio.
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Crítica
Ouvimos: Alan James – “Solar/Sonhar”

RESENHA: Solar/Sonhar, novo álbum de Alan James, junta Beatles, sunshine pop e Clube da Esquina em faixas psicodélicas e sessentistas, com toques de Skank, Guilherme Arantes e Elton John.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 7 de novembro de 2025
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Fã de Beatles, de Roberto Carlos, do já saudoso Lô Borges, de Todd Rundgren e de nomes do chamado sunshine pop (estilo musical mais ou menos popular na Califórnia no fim dos anos 1960, gerado por fãs de Beach Boys e The Mamas and The Papas como a banda The Millennium), o carioca radicado em SP Alan James faz a junção de tudo isso em seu segundo álbum solo, Solar/Sonhar.
- Ouvimos: Julian Lennon – Because… (EP)
Solar/Sonhar começa juntando Todd Rundgren e The Who na psicodélica Não precisa mais – que ganha duas partes no disco, a segunda encerrando o álbum numa onda meio britpop, meio Guilherme Arantes. Luz da manhã, na sequência, tem toques herdado tanto do Clube da Esquina quanto de sensações pop sessentistas como The Cowsills. A onda sunshine pop toma conta de faixas puramente sessentistas como Não se prenda ao medo, Pra ver o sol e Olha, enquanto a vinheta Por que isso aconteceu comigo? (cuja letra é apenas o seu título) tem muito de bandas como High Llamas.
Perto do final, Solar/Sonhar ganha uma cara parecida com a fase Maquinarama / Cosmotron do Skank, em Sobrevivo e Graciosa ilusão, e junta Guilherme Arantes, Elton John e Carpenters na bela Aquela que brilha.
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Crítica
Ouvimos: Scarlet Rae – “No heavy goodbyes” (EP)

RESENHA: Scarlet Rae estreia com No heavy goodbyes, EP indie/alt-rock noventista, intimista e ruidoso, que mistura Smashing Pumpkins, shoegaze e folk para tratar de luto e confissão.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Bayonet Records
Lançamento: 19 de setembro de 2025
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Scarlet Rae é uma cantora de Los Angeles que hoje vive em Nova York, e que após trabalhar em vários projetos na adolescência, começou a lançar faixas solo em 2020. Seu meio de origem é o indie folk – ela chegou a cantar numa banda do estilo, a Rose Dorn, que gravou pelo selo Bar None Records.
No heavy goodbyes é o EP solo de estreia, e é mais uma prova audível de que os Smashing Pumpkins (que há poucos meses atrás não pareciam ser uma banda tão “seguida” por artistas novos) virou referência maníaca. Músicas como The reason I could sleep forever são tão reverentes ao grupo de Billy Corgan quanto o disco de estreia do Rocket, R is for rocket. Não apenas isso: A world where she left me out vai na onda shoegaze, e tem mais do que apenas uma ou outra referência dos SP e também do Joy Division. É um rock barulhento com o pé no radiofônico – coisa que tem se tornado comum nos dias de hoje, aliás. Não por acaso, volta e meia você vai lembrar dos Cardigans e do Placebo ouvindo o EP, o que já insere Scarlet num corredor noventista.
Apesar das influências de Smashing Pumpkins e da vocação para fazer barulho, o som de Scarlet – vale dizer – é bem baixos teores nesse sentido. O foco de No heavy goodbyes é na demonstração dos talentos de uma ótima cantora e compositora ligada a climas mais introspectivos e a letras confessionais – o idioma do soft rock traduzido para sons “alternativos”. Bleu, primeiro single de Scarlet, vem na sequência com ruídos eletrônicos, vocais gravados “lá atrás” e clima hipnótico. No fim do disco, Light dose e Call of the day são as canções mais aprochegadas do “indie folk” – trazendo violões com senso rítmico e melódico, e um certo ardidinho grunge.
As letras de Scarlet, por sua vez, trazem bem mais do que tristeza e pé na bunda. O material de No heavy goodbyes foi fortemente influenciado pela morte de irmã da cantora – e além do luto, a própria pulsão de morte do ser humano entra em discussão nas letras (daí o EP ter uma faixa chamada The reason I could sleep forever). Um disco que pede imersão, ainda que por um curto tempo.
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