Destaque
Dibob relança ópera-rock em clima de punk melódico

A ópera do cafajeste, segundo disco da banda carioca de punk melódico Dibob (2007), teve um trio básico de influências: Beatles, Guns N’Roses e ninguém menos que Chico Buarque. O disco está de volta às plataformas digitais (por intermédio do selo Olga Music). E pela sonoridade do grupo, seria até mais fácil imaginar que o conceitual American idiot, do Green Day (2004), teria vigorado entre as referências. Mas Gesta (voz e baixo) esclarece que não foi bem assim.
“Por mais distante que o som do Chico esteja do nosso, a Ópera do malandro (1979) acabou tendo mais influência no nosso disco do que o American idiot“, recorda o músico, que divide a banda com Dedeco (voz, guitarra), Miguel (guitarra, backing vocal) e Faucom (bateria). A história do disco, repleta de picardias estudantis (fala sobre um sujeito que acabou de descobrir a solteirice e se envolve com várias mulheres ao mesmo tempo) surgiu quando a banda começou a escrever o repertório do segundo álbum, e viu que as letras tinham uma ligação.
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“O que começou meio como coincidência se tornou a espinha dorsal do projeto. Passamos a escrever pensando em completar uma história com início, meio e fim. Para ajudar a conectar todos os pontos do enredo, fizemos o encarte como uma história em quadrinhos”, recorda o músico. Mas o disco acabou mais popularizado pelas músicas em separado do que pela história – aliás, Bang-bang entrou na trilha de Malhação.
“Essa, Já era, De repente e Hino do covarde são as preferidas do público. O pessoal sempre pedia nos shows e nunca ficava fora do nosso repertório. Foi a primeira vez que pisamos fora do pop punk também, trazendo novas influências pro nosso som. No geral, o saldo foi bem positivo em termos de recepção”, recorda. O segundo disco trouxe outras mudanças na sonoridade: mais peso, mais velocidade e alguns passos além do início da banda.
Originalmente, Ópera do cafajeste foi o primeiro (e último) disco do contrato da banda com a Som Livre. O Dibob vinha da BMG (hoje Sony) pela qual gravara o primeiro disco, O fantástico mundo dibob. Gesta lembra que o projeto do segundo disco foi apresentado já finalizado para a nova gravadora.
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“A gente acreditava muito no projeto da Ópera e gravamos o disco de forma independente”, recorda. “Já tínhamos emplacado música em novelas da Globo e com a Ópera rolou também. Acho que a gente sempre deu muita sorte nessa questão de relacionamento com a gravadora e a ida para Som Livre se encaixou muito bem com o que a gente estava buscando na época”, diz o músico.
O contrato com a BMG, por sinal, não havia sido renovado, numa época particularmente tenebrosa para as gravadoras, com mudanças drásticas no mercado. “Pegamos o auge do momento ruim das gravadoras em relação ao MP3”, conta Gesta, que não se lembra nem se Ópera foi um disco bem sucedido, mercadologicamente.
“A gente nunca enxergou o Dibob como um negócio, e isso é muito estranho olhando hoje. Se eu disser que não sei se o Ópera vendeu, não vou estar mentindo. Mas a gente, como banda, surgiu junto com o boom do MP3 e nossa base de fãs estava muito acostumada a baixar nossas músicas de graça. Foi uma fase onde as gravadoras não sabiam muito para onde ir, época bem conturbada pra música como negócio, fora as exceções que sempre venderam muito bem”, conta.
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O Dibob começou em 2001 mas gravou bem pouco. Foram três álbuns (o independente Resgate, só com regravações de pop nacional, saiu em 2010 e foi o último) e um EP (Markebra, de 2003). A banda seguiu até 2011, quando se separou – depois voltou a tocar em 2015. Gesta lembra que o grupo entrou em crise após o primeiro disco: todo mundo ficou de saco cheio da rotina de músico, e quis viver outras coisas. “Então, nos separamos por um momento. O Dibob sempre foi algo leve pra gente, o fato de virar profissão se tornou um fardo. Não soubemos lidar muito bem”, diz. Mas tem música nova vindo aí, como ele afirma.
“Ficamos muito tempo sem gravar nada novo e estávamos morrendo de saudade de tudo: gravar, ensaiar e fazer shows. Conseguimos reencontrar o sentimento que fez a gente se juntar lá em 2001. Parece que nada mudou. Mas na verdade mudou pra melhor, pois estamos mais maduros e com aquela sensação boa que só o rock dá”, conta. “Estamos finalizando uma música nova em estúdio que a gente está querendo lançar o quanto antes. Essa música nova reflete bem essa sensação de alegria de estarmos fazendo o que amamos, com quem amamos e sem nenhuma cobrança externa”.
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Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
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Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
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A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
>>> POP FANTASMA PRA OUVIR: Mixtape Pop Fantasma e Pop Fantasma Documento
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