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Crítica

Ouvimos: Cleozinhu – “Cle01”

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Ouvimos: Cleozinhu - "Cle01"

RESENHA: Mistura de slowcore, trap, dream pop e pós-punk, Cle01 mostra a versatilidade lo-fi e emotiva de Cleozinhu em 17 faixas gravadas entre 2022 e 2024.

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Tá aí um disco que escutamos com atraso: Cle01, estreia solo de Cleozinhu, saiu há quase um ano e só agora brotou da caixa de e-mails. O paulistano Cleozinhu faz parte da verdadeira árvore cheia de galhos que é a banda Duo Chipa, um trio com integrantes que vêm de lugares diferentes do país, e que se espalha por projetos como Manobra Feroz, Guandu, akaStefani e Elvi, além de participações em outros discos e bandas.

Cle01 soa como uma mistura de todos esses projetos, e como uma mescla de todos os períodos pelos quais essas bandas (e o próprio músico) passaram, já que são 17 faixas gravadas entre2022 e 2024. O disco usa uma programação bem rudimentar de bateria, põe vibes de baixa-fidelidade em boa parte do repertório, e soa às vezes próximo do slowcore do Guandu (Receio do futuro…, Com o vento) e das misturas entre sons violeiros e rock promovidas pelo Duo Chipa recentemente (a paraguaia Visão noturna).

O álbum também invade bastante a grande área do pós-punk, às vezes com guitarra limpa lembrando The Smiths, ou com climas que soam como um esqueleto do New Order ou dos Pixies, em faixas como Segredos e fagulhas, Bolsa e Olho pro céu sem medo (parte 2). Um detalhe é que Cleozinhu insere autotune e vocais de trap até mesmo quando a vibe está mais para a Legião Urbana de 1986 (Será q vc sente falta de mim), shoegaze (Com o vento) e dream pop (Dentre tantas palavras… algumas verdades).

Em Cle01 tem também climas quase radioheadianos (O último a esquecer), dream pop violeiro ($) e até um samba lo-fi (Triste final), com guitarra, violão e entorno melancólico, mesmo que esperançoso (“nem todos os que choram / precisam ter um triste final”, diz a letra).

Texto: Ricardo Schott.

Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 22 de agosto de 2024

Crítica

Ouvimos: Mundo Livre S/A – “Sessões Selo Sesc #15” (ao vivo)

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Mundo Livre S/A lança álbum ao vivo pelo Selo Sesc, celebrando 40 anos de banda e 30 da estreia Samba esquema noise. Histórico.

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No ano passado, a banda pernambucana Mundo Livre S/A fez comemoração dupla: trinta anos de sua estreia Samba esquema noise (1994) e quarenta anos de existência – o grupo foi formado em 1984 e já havia aparecido em seções de notinhas da revista Bizz anos antes da publicação dar espaço generoso para seu primeiro álbum).

O álbum ao vivo do grupo lançado pelo Sessões Selo Sesc #15 traz uma apresentação do Mundo Livre S/A no Sesc Ipiranga, em 16 de agosto do ano passado. Na comemoração, boa parte do repertório da estreia foi tocada e gravada ao vivo, em versões extensas e repletas de histórias contadas pelo vocalista Fred Zero Quatro – que chega a pedir desculpas aos funcionários do local por esticar o show com os bate-papos. Sem problemas: por causa das histórias, show e disco se transformam em documentos, com direito a Fred avisando que estava para sair “uma biografia da banda escrita pelo jornalista carioca Pedro de Luna” (e que não apenas já saiu como está à venda).

  • Ouvimos: Jangada Pirata – Sal de casa
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De principal, o disco ao vivo mostra como a fórmula musical do Mundo Livre S/A serviu de modelo para várias bandas de sucesso entre os anos 1990 e 2000. O balanço samba-rock do grupo foi chupado pelo Charlie Brown Jr em várias músicas, a obsessão por beats jorgebenianos virou uma obsessão do Planet Hemp e do Rappa, a estranhice herdada de Talking Heads e Tom Zé rendeu vários trabalhos indies vários anos depois de Samba esquema noise sair. Homero o junkie abre nessa onda, unindo peso herdado do Clash e vibe pós-punk. O clima galante, sacana e praieiro de Musa da Ilha Grande, e o balanço de A bola do jogo (“a alma do trabalhador é como um carro velho / só dá trabalho”) mantêm esse clima.

O Mundo Livre S/A recorda causos bancários do tempo do talão de cheques em Saldo de aratu, une samba e anti-psiquiatria na psicodélica Terra escura, lembram antigos impérios televisivos em O mistério do samba (“o samba não é do Gugu / o samba não é do Faustão”) e releem o hino Manguebit unindo rock, reggae e um trecho adaptado de London calling, do Clash. A praieira, outro hino, só que de Chico Science e Nação Zumbi, vira brega-dub-psicodélico nas mãos deles, com ruídos e alguns segundos de algazarra no final. Histórico.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10
Gravadora: Selo Sesc
Lançamento: 22 de agosto de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Ebony – “KM2”

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KM2, de Ebony, mistura rap, funk, R&B e protesto em um retrato cru da Baixada, entre traumas, empoderamento e batidões.

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Casca-grossa é pouco: oscilando entre funk e rap, KM2, disco da rapper Ebony, é um suco cruel da realidade. Com nome fazendo referência à violenta Queimados, na Baixada Fluminense (chamada por ela e amigos de “KM-dois”), o disco une sexo, beats pesados, tiros, machismo, abusos, crueldades e desigualdades do dia a dia.

A viagem começa pelas gravações de telejornais na faixa-título, e segue com a mescla de protesto e ostentação sexy e empoderada de Parte do mundo (“como eu não ia querer fazer algo pro mundo? / no tempo total, a gente vive e morre em um segundo”), Gin com suco de laranja e Festas e manequins (“eu nunca fui essas meninas tipo manequim / por isso é estranho elas querendo ser iguais a mim”). Ebony, você deve lembrar, foi a rapper que peitou o machismo no rap com a música Espero que entendam, que chamava pro pau artistas como Baco Exu do Blues, L7, Filipe Ret e Orochi.

O som de KM2 tem vocal rápido, referências de r&b, batidões, e às vezes, uma vibe próxima da MPB e até do jazz, como em Triplex e Hong he (“Rita Lee, agora eu gosto de MPB / a gente ia ser amiga que eu sei”). Mandando a real, Ebony fala de porradas reais e psicológicas em faixas tensas como Vale do silício, com Black Alien (“e o que é correr perigo na mão de falsos amigos / se pra cada rima minha é um trauma? / e ninguém liga pros seus traumas”) e o peso familiar de Não lembro da minha infância (“não tenho medo de monstros, quando os meus tios chegavam / eu dormia embaixo da cama / eu fiquei amiga das aranhas / o que Jesus faria nessa circunstância?”). E sai por cima no batidão perigoso de Kia e Roubando livros.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 12 de maio de 2025

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Crítica

Ouvimos: MC Hariel – “É noiz ki tá”

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MC Hariel mistura funk, trap e brasilidades em É noiz ki tá, disco direto, com raiva, superação, críticas sociais e feats de peso.

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Tendo uma parceria com Gilberto Gil no currículo (A dança, gravada pelos dois), o paulista MC Hariel volta em É nóiz ki tá unindo funk, trap, rap e até vibes praieiras e baianas, que surgem no funk-samba-reggae Beira do mar. Uma mistura de climas que basicamente regula o disco. O repertório de Hariel, que foi feito – segundo o próprio – em meio a encontros e festas com os amigos, aponta, na real, para a mesma onda que embala discos recentes de rappers como Klisman e Djonga.

Ou seja: a raiva, o terror, as raízes e as histórias bizarras das quebradas são contrabalançadas com discurso de superação (em XT2, interpolada com Fazendo música, jogando bola, de Pepeu Gomes, tem um verso ótimo: “sempre acreditei que a fase ruim vira frase / e frase encaixa na base”) e com histórias de quem já viu a vida do avesso. Em meio aos beats frenéticos de Aston Martin, Hariel lembra, indo direto no nervo: “antes de se cobrar, cobra quem te deve primeiro / na sua mente tem uma máquina de dinheiro / cuida bem dela pra deixar teu filho herdeiro”.

Falando direto com seu público, Hariel e seus convidados (ele chamou MC Cabelinho, Rael, Major RD, Neguinho da Kaxeta, AJuliaCosta, entre outros) pedem paz, sucesso, menos racismo e menos cobiça na vinheta O que eu quero pro mundo, batem cabeça em batidões como Conta forrada, Limite do extremo (“arte eu faço é com a vida vivida / sempre foi isso mermo”) e Bloco de notas (“quero mais saber de nada / só distância dos fardados / e a conta toda engordada”) e expõem contradições pessoais em faixas como Sal grosso e Sem sentir saudade.

Sede de vencer, no final, fecha o ciclo trazendo o violão de Duani e os vocais do pagodeiro Ferrugem, falando sobre pequenas diferenças que moram onde ninguém enxerga, mas que definem a aceitação e o lugar de cada um no mar de egos (“quem viveu na pele sabe reparar”, diz).

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Warner Music Brasil
Lançamento: 21 de agosto de 2025.

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