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Crítica

Ouvimos: Brian Dunne – “Clams casino”

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Brian Dunne mistura power pop, folk e rock em Clams casino, com ironia e drama, criando músicas doces e ácidas sobre a vida comum e pessoas complicadas.

RESENHA: Brian Dunne mistura power pop, folk e rock em Clams casino, com ironia e drama, criando músicas doces e ácidas sobre a vida comum e pessoas complicadas.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Missing Piece
Lançamento: 5 de setembro de 2025

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O cantor e compositor novaiorquino Brian Dunne nasceu em 1989. Se tivesse iniciado sua carreira lá por 1972 ou 1973, possivelmente estaria entre os imitadores de Bob Dylan ou os seguidores de Billy Joel – daí teria caído nas mãos de um sujeito tipo Clive Davis, iria para a Columbia, seu nome cairia num rolé violento de jabá e sua gravadora passaria um belo tempo tentando convencer DJs de rádio a tocarem seu disco.

Bom, a realidade não é bem essa. Brian é contratado de um selo independente chamado Missing Piece (que tem menos de mil seguidores no Instagram) e vai lutando com as próprias armas para sobressair num universo lotado de artistas novos e lançamentos às pencas. Clams casino, seu quinto disco, é um excelente álbum herdado justamente de Billy Joe, John Cougar, Tom Petty, Bon Jovi e Big Star – boa parte das dez músicas do disco têm um apelo power pop irresistível, que fornece o traço indie da coisa.

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Mas justamente por estar inserido num contexto bem diferente do que falei lá no início do texto, Brian se sente à vontade para adotar uma persona agridoce e irônica ao escrever canções. Tanto que mesmo em músicas doces e lindas como o power pop Clams casino e os country-rocks Rockland county e Play the hits, o folk de drama adolescente I watched the light e o rock estradeiro Living it backwards, às vezes é complicado saber quando Brian está celebrando antigos valores ou zoando tudo.

Em Fake version of the real thing, um rock tão pop quanto Whisky a go go, do Roupa Nova, ele reclama das pessoas que estão no topo da colina e ainda choramingam pelos cantos. Mas aí é um discurso até bem mais direto que o da faixa título, onde ele se vê como uma pessoa comum que está gastando uma grana violenta (“apostando a casa”) numa garrafa de vinho, e pergunta: “eu só estou tentando me divertir / é tão ruim querer uma coisa boa?”.

Tem também a nada mole vida de Rockland county, em que ele tenta convencer uma namorada a se mudar com ele para lá, falando que ela pode “conseguir um emprego de garçonete” e “viver das gorjetas e ser legal com os policiais por aqui”. Uma curiosidade é o rock ágil de Max’s Kansas City, cujo nome faz referência ao célebre night club de Nova York onde o Velvet Underground gravou um disco ao vivo, e cuja melodia lembra Thin Lizzy – já na letra, Dunne narra uma vida tão desgraçada que “nem Lou Reed poderia nos salvar agora / e ele não iria querer de qualquer maneira”.

The também Play the hits, um rock leve em que a vida dos personagens ganha peso de chumbo – com despejo, falta de grana, amor abusivo e abandono contados de maneira cruel, como se o narrador só quisesse tirar uma da cara de todo mundo e sair fora dali o mais rápido possível. Mais ou menos como certas pessoas fazem com a vida alheia. Essa noção de que tem muita gente escrota espalhada pelo mundo talvez seja o maior combustível de Clams casino.

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Crítica

Ouvimos: Obongjayar – “Paradise now”

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Obongjayar mistura afrobeats, soul, reggae e som etéreo em Paradise now, disco diverso e luminoso que opera em nome do chamber pop.

RESENHA: Obongjayar mistura afrobeats, soul, reggae e som etéreo em Paradise now, disco diverso e luminoso que opera em nome do chamber pop.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: September
Lançamento: 30 de maio de 2025

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Alguns atrasos para ouvir certos discos são compreensíveis, outros são imperdoáveis. Steven Umoh, o popular Obongjayar, é um cantor nigeriano cujo som pode ser definido basicamente como pop de câmara, recheado com referências de reggae, r&b, afrobeats e climas etéreos. Seu trabalho inicial era lançado no Soundcloud, até que Richard Russell, dono da XL Records, o convocou para seu projeto Everything Is Recorded. Isso chamou a atenção para seu trabalho e abriu caminho para seus primeiros EPs, além do álbum de estreia Some nights I dream of doors (2022).

Paradise now, seu segundo álbum, insere mais e mais positividade na música e no ideário de Obongjayar, por intermédio de faixas como o soul alternativo de It’s time, com clima operístico e letra falando em começos e recomeços (“chega de desculpas / eu sei que consigo fazer isso”). Life ahead tem beat dado por batidas na porta, e embica num pop experimental, basicamente afrochamberpop. Peace in your heart tem ar etéreo garantido até pela percussão, além dos vocais. Holy mountain, com percussão e violão arpejado, ameaça um high life folk, enquanto Jellyfish envereda pelo reggaeton pesado.

Isso é só o começo de Paradise now, disco cuja variedade inclui o hip hop rápido e texturizado de Talking olympics (com Little Simz), os climas gospel de Prayer, Born in this body e Happy head, e também a vibe meio Lou Reed meio metal de Instant animal (quase um momento de afropsicodelia no disco), o afropoppunk de Not in surrender, a alegria de Sweet danger, que lembra um samba de Jorge Ben transformado em algo proximo do afropop. Entre um extremo e outro, há faixas como o soul erudito Moon eyes, lembrando uma música antiga de cinema, além do clima disco e minimalista de Just cool. Um “agora” que se transforma rapidamente num paraíso sonoro.

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Crítica

Ouvimos: Memórias de Ontem – “Translúcido”

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Translúcido, estreia da banda mineira Memórias de Ontem, mistura shoegaze, emo e dream pop em faixas melancólicas e luminosas.

RESENHA: Translúcido, estreia da banda mineira Memórias de Ontem, mistura shoegaze, emo e dream pop em faixas melancólicas e luminosas.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 23 de setembro de 2025

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Identificados com o chamado “rock triste” – ou com uma cena que costuma ser chamada de “emo caipira”, feito em cidades fora do eixo Rio-SP ou longe das capitais – a banda mineira Memórias de Ontem estreia impressionando. Translúcido vai na mesma onda dos conterrâneos Lupe de Lupe e adiciona camadas diferentes a canções com elementos proeminentes de shoegaze e emo.

A abertura, com Pra gente se beijar e esquecer a dor tem guitarras emparedadas, vibração power pop e algo de bossa nova não só nos vocais como também no relacionamento dele com a guitarra. A voz de Gabriel Campos (voz, guitarra), que divide a banda com as irmãs gêmeas Alice Eskinazi (bateria) e Camila Nolasco (baixo), parece pairar acima do arranjo talvez como estratégia para não ficar soterrada em meio às guitarras, como rola costumeiramente no shoegaze. Já Cortando mato inverte as polaridades, com bateria e guitarra bem pesadas e na frente, e um clima que chega a lembrar o pós-hardcore, com quebras rítmicas. Há guitarras mais ruidosas e atmosféricas, mas elas não chegam a colocar a música no corredor do noise rock.

Aliás, Translúcido, antes de tudo, é um disco mais contemplativo do que propriamente ruidoso. As nuvens de ruídos guitarrísticos dividem espaço com um certo olhar no horizonte, combustível de músicas como a balada Impulso pra tentar, a delicada Quase lá (que lembra bandas recentes como The Beths), a sonhadora faixa-título e a balada acústica Memória ruim – esta, com lembranças do drama grunge e parecendo combinar o senso melódico de Lô Borges ao de bandas como Red Hot Chili Peppers e Nirvana. Aroma, por sua vez, tem elementos de Pixies e guitarras fortes e altas.

Com participações de Marília Jonas (Jonabug), João Carvalho (El Toro Fuerte), Clara Bicho (irmã gêmea de Gabriel) e Clara Borges (Paira), Translúcido encerra com a tristeza alegre do dream pop Cores pelo ar – música de arranjo “cheio” e espaços muito bem ocupados – e Pela primeira vez, com lembranças do rock britânico dos anos 1980. Um disco com melancolia e luminosidade lado a lado.

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Ouvimos: Vivendo do Ócio – “Hasta la Bahia”

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Vivendo do Ócio evolui no quinto álbum, Hasta la Bahia, misturando pós-punk, afropop, new wave e bossa em só 28 minutos de som vibrante.

RESENHA: Vivendo do Ócio evolui no quinto álbum, Hasta la Bahia, misturando pós-punk, afropop, new wave e bossa em só 28 minutos de som vibrante.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Portal
Lançamento: 19 de setembro de 2025

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Muita gente não percebeu, mas o Vivendo do Ócio é uma das bandas brasileiras que mais evoluíram nos últimos anos – as mudanças no som deles são tão evidentes que é até bem curioso comparar a estreia juvenil e garageira do grupo (Nem sempre tão normal, 2009) com os álbuns mais recentes. De lá pra cá, ficou a vontade de reaproveitar os valores do revival pós-punk dos anos 2000 sob uma ótica brasileira – mas sem deixar de ser rock e pós-punk.

Hasta la Bahia, quinto disco do grupo baiano, só tem um defeito: Jajá Cardoso (voz e guitarra), Luca Bori (baixo e voz), Davide Bori (guitarra) e Gabriel Burgos (bateria) vêm aderindo à mania do álbum curto desde o disco epônimo de 2020 – e dessa vez são só oito músicas em 28 minutos, quase um EP esticado. Não que isso torne menos curtíveis músicas como Baila comigo, música influenciada por Tim Maia e Chaka Khan (segundo a banda) e que, tendo Paulo Miklos nos vocais, também tem a maior cara de Titãs. Ou mesmo o pós-punk estradeiro da faixa-título, que soa como o diário de alguém que está deixando um lugar e partindo para outra vida – sem falar na participação luminosa de Jadsa em Não tem nenhum segredo, que parece tema de novela.

No restante do disco, o Vivendo do Ócio joga o som de bandas como Franz Ferdinand, Arctic Monkeys, Duran Duran e Talking Heads num caldeirão afropop (em Onda do Nepal e Se me deixar eu vou lá), fazem new wave brasileira dos anos 1980 (a animada Eu ainda, que lembra 14 Bis e A Cor do Som) e também se arriscam num som mais gótico, com baixo à frente e guitarra com efeitos – em O lobo da estepe, feita ao lado de Martin Mendonça (Pitty). O final, com a bossa acústica e orquestrada Vai voar, é bastante venturoso. Só faltavam mais umas três músicas.

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