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Cultura Pop

Bob Ezrin em doze discos

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Bob Ezrin em doze discos

Imagine a situação: você tem uma banda de rock, está com data agendada para entrar em estúdio, e está arrancando os cabelões porque não acha um produtor do qual goste. Bom, se teu lance é criar no estúdio um clima simultâneo de beleza, tristeza, terror e loucura, com grandes arranjos orquestrais no acompanhamento, seus problemas acabaram: é só chamar o Bob Ezrin.

O produtor canadense está em “Infinite”, disco novo do Deep Purple e, trabalhando com os veteranos roqueiros, até ficou calminho: no estúdio, só tocou teclados, percussão e fez uns vocais de apoio. Mas há uma série de discos em que Ezrin, por trás do aquário, chutou, cabeceou, fez gol e passou por todas as posições. Abaixo, você confere doze discos que tiveram o dedo e a assinatura dele – e alguns, se bobear, você nem associava a Ezrin. Vai vendo.

“LOVE IT TO DEATH” – ALICE COOPER (1971). Convidado para comandar o terceiro disco de Alice, o produtor Jack Richardson (Guess Who) não estava muito interessado no trabalho. Na maior parte do tempo, quem esteve no estúdio foi um garoto de 19 anos chamado Bob Ezrin, enviado pelo próprio Jack para suprir suas faltas. Deu no que deu: a banda conseguiu finalmente condensar seu shock rock teatral em estúdio, lançou épicos da rebeldia (“I’m eighteen”, “Caught in a dream”, “Second coming”) e, por essas e outras, Alice (que vem aí pro Rock In Rio) até hoje chama Ezrin de “meu George Martin”. De 1971 até 1977, foi uma produção feita por Ezrin por ano para o roqueiro, e ele ainda comandou outros LPs de Alice depois disso.

“URSA MAJOR” – URSA MAJOR (1972). Minisupergrupo fomado por Dick Wagner (voz e guitarra, ex-The Frost), Greg Arama (baixo, ex-Amboy Dukes) e Rick Mangone (bateria). Só lançou esse disco, com Ezrin produzindo. Mas Wagner virou parça do produtor e acabou emendando trabalhos com Lou Reed, Alice Cooper, Kiss (foi guitarrista fantasma no disco “Destroyer”, de 1976).

“BERLIN” – LOU REED (1973). O terceiro disco de Lou Reed faz a série “13 reasons why” virar história para ninar crianças – o enredo fala sobre um casal de drogados que se separa, com a mulher perdendo a guarda dos filhos e se suicidando. Ezrin produziu, mixou, tocou piano e fez arranjos. Reed disse em entrevistas que os bastidores do disco foram tranquilos e nada mórbidos. A velha fofoca de que Ezrin teria levado os filhos ao estúdio e dito que a mãe deles havia morrido, para assustá-los e conseguir o choro de crianças de “The kids”, é mentira. O produtor diz ter chegado àquele resultado apenas ameçando botar os pimpolhos de castigo.

“FLO & EDDIE” – FLO & EDDIE (1973). Criadores da banda sessentista The Turtles (o hit “Happy together” apareceu até em comercial de margarina no Brasil, e não faz muito tempo) e vocalistas do Mothers Of Invention de Frank Zappa, esses dois malucos iniciaram uma carreira de astros do comedy rock nos anos 1970, quando Zappa foi jogado num fosso pelo namorado ciumento de uma fã em 1971 durante um show – o guitarrista se machucou seriamente e todos os músicos de sua banda precisaram criar outros projetos, para ganhar dinheiro. Esse segundo disco da dupla, produzido por Ezrin, levou os dois a abrirem shows da turnê “Billion dollar babies”, de Alice Cooper.

“DESTROYER” – KISS (1976). Fizemos um textinho sobre esse disco há uns meses. Ezrin e o Kiss não estavam necessariamente aos beijos no estúdio e o excelente resultado veio do atrito, já que o produtor desceu o remo na banda. Chegou a providenciar lições de música para o quarteto e a dar esporros trágicos em Paul Stanley e Gene Simmons. Ainda assim, nem o Kiss nem seu empresário estavam 100% confiantes em seu trabalho e, pelas costas, chegaram a pedir sua substituição. “Na época, considerei uma traição”, contou.

“THE WALL” – PINK FLOYD (1979). A produção desse disco foi uma batalha: Roger Waters, então principal compositor do grupo, estava num clima azedo com seus colegas e detestava tudo o que eles vinham fazendo para o disco. Ezrin diz ter praticamente obrigado Waters a escrever a letra para uma melodia de David Gilmour que viraria “Comfortably numb”. Depois da gravação, mais problemas: Ezrin deu uma entrevista reveladora sobre a produção de “The wall” para a revsta Circus e quase ganhou processo por quebra de confidencialidade. Mas o disco virou um clássico.

“NILS” – NILS LOFGREN (1979). Músico da E Street Band de Bruce Springsteen desde 1984 e ex-integrante do Crazy Horse de Neil Young, esse cantor e guitarrista americano manteve, após 1975, carreira solo paralela a de session man. Seu quinto disco, tinha Ezrin produzindo, tocando e compondo, e Lofgren fazendo parcerias com Lou Reed e Dick Wagner.

“TWO STEPS FROM THE MOVE” – HANOI ROCKS (1984). Primeiro disco dos glam rockers por uma major (CBS, hoje Sony), acabou se tornando o maior sucesso deles. O bom desempenho teve uma mãozona de Ezrin, que produziu, tocou teclados e compôs quase tudo ao lado do vocalista e guitarrista Andy McCoy. Ian Hunter (Mott The Hoople) coassina duas faixas.

“PEASANTS, PIGS AND ASTRONAUTS” – KULA SHAKER (1999). Sensação neopsicodélica do indie rock dos anos 1990, essa banda deu trabalho no segundo disco. Dois produtores (George Drakoulias e Rick Rubin) foram chamados e descartados – só produziram o single “Sound of drums”. Bob Ezrin foi convidado e completou o serviço. Poucos meses após o disco, o grupo se separou.

“SPEAK NOW WORLD TOUR – LIVE” – TAYLOR SWIFT (2011). O disco ao vivo em que a cantora misturava ao seu repertório versões de “Betty Davis eyes” (do repertório de Kim Carnes) e “I want you back” (Jackson 5) teve o dedo de Ezrin, mas só na mesa de mixagem. A própria Taylor se encarregou de produzir a peça.

“HOLLYWOOD VAMPIRES” – HOLLYWOOD VAMPIRES (2015). Supergrupo formado por Alice Cooper, Johnny Depp e Joe Perry (Aerosmith), com convidados como Zak Starkey (The Who), Paul McCartney, Dave Grohl (Foo Fighters), Slash (Guns N Roses) e vários outros – já vieram ao Brasil, no Rock In Rio. Claro que o cara mais indicado para produzir este clássico era Ezrin mesmo e estava acabado.

“BIG BOAT” – PHISH (2016). Essa excelente banda americana que existe desde os anos 1980 – e tem uma discografia que vale muito a pena a audição – teve dois discos produzidos por Ezrin. “Big boat” é o mais recente.

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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