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Cultura Pop

E A Wizard, A True Star, de Todd Rundgren, fez 45 anos em 2018

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E A Wizard/A True Star, de Todd Rundgren, fez 45 anos em 2018

Sem A wizard, a true star (1973), quarto disco de Todd Rundgren, nada de Flaming Lips. Numa época em que o glam rock e as bases do punk eram o que havia de mais moderno, Todd ousava reposicionando a psicodelia no mercado, à sua maneira. E criando uma estranha trip lisérgica em forma de disco.

E A Wizard/A True Star, de Todd Rundgren, fez 45 anos em 2018

Se você nunca escutou, aumente o volume e pegue aí. Em nossa humilde opinião, é o tipo de disco cuja audição cresce mais se você usar caixas acústicas enormes, do tamanho de geladeiras. Ou fones de ouvido.

O conteúdo de A wizard, a true star era bastante desafiador. A começar pelo fato de o álbum, um LP simples, ter a espantosa duração de 55 minutos – só o lado A, dividido em 12 curtas faixas, trazia mais de 25 minutos. O álbum era dividido em dois movimentos, The international feel (In 8) no lado A e A true star no lado B. A primeira parte era alucinante, cheia de letras enigmáticas, pequenas vinhetas e temas viajantes, como a doidaralhaça International feel, a psicodélica Tic tic tic it wears of e Flamingo e as frequências altíssimas e vertiginosas de When the shit hits the fan/Sunset blvd, que chegou a ganhar uma versão single sem o “shit” do título.

E A Wizard/A True Star, de Todd Rundgren, fez 45 anos em 2018

A segunda parte trazia um estranho módulo de soul music (com músicas de nomes como Curtis Mayfield e Smokey Robinson) e, de modo geral, uma face mais bem resolvida como produto pop, cabendo os hits Sometimes I don’t know what to feel e Just one victory. Estava claro ali que Rundgren, se deixado à vontade, era um prolífico criador. Mas também poderia se tornar um daqueles músicos que precisavam de edição constante, na base do “encurta essa e alonga aquela”.

Hoje, Rundgren pode ser um nome até nostálgico no meio da música e da cultura pop. Nos anos 1970, ele vendia tantos discos que era um dos sustentáculos da indústria fonográfica. O sucesso de sua obra-prima Something/Anything?, de 1972, credenciou o músico norte-americano a fazer tudo o que bem entendesse no estúdio. A convicção geral era a de que tudo o que ele gravasse venderia a rodo.

“Antes eu era tido como a Carole King macho, mas essa coisa de cantor-compositor nunca me deixou confortável. Queria criar algo que, musicalmente, deixasse um legado”, relembra Todd numa entrevista de quatro partes em que ele destrincha os mistérios de A wizard/A true star. Olha aí.

https://www.youtube.com/watch?v=vIUb9J3wOx4

https://www.youtube.com/watch?v=n-Qmw9475cA

https://www.youtube.com/watch?v=Oid9Y2AvnYw

https://www.youtube.com/watch?v=xNRSUYWAaik

Todd recorda que chegou a um limite – evidentemente inspirado por drogas e ego inflado – em que ele não queria mais fazer canções de quatro minutos. Não queria fazer mais shows da maneira como se fazia. E não estava mais contente com as limitações técnicas. Queria fazer um show que envolvesse toda a plateia, e discos que por pouco não coubessem nos 40 minutos normais de um LP. Começou a construir um estúdio em Nova York chamado Secret Sound. Ele e o parceiro Mookie Clayman, ambos com parcos conhecimentos de carpintaria ou de como montar equipamentos, passavam os dias descobrindo sozinhos como instalar cada coisa no estúdio, ou construir salas de gravação.

Esse material era apresentado em shows extensos, com Todd vestindo roupas extravagantes e acreditando dar mais à plateia do que apenas a música. “É duro ter que dizer isso mas o que faço não é algo como música de verdade. No íntimo, quero algo maior que isso. Música é a maneira como aprendi a me comunicar mas eventualmente é preciso ir além disso. Percebi que não é a música que deixa as pessoas envolvidas, mas a atitude por detrás dela”, disse numa entrevista em 1973 (leia aqui).

A wizard, a true star trazia em suas primeiras edições um cartão postal para que os fãs enviassem seus nomes à produção de Todd. A ideia (que deu certo) era incluir os nomes de todos num pôster do disco seguinte, Todd (1974).

E trazia também um encarte em formato de band-aid (!) com um poema, Star fever, escrito pela então jornalista e posteriormente cantora, escritora e compositora Patti Smith, com quem Todd andava tendo um caso. Era o chamado “band aid poem”, como se tornou conhecido. Olha ele aí (aqui você confere o texto).

E A Wizard/A True Star, de Todd Rundgren, fez 45 anos em 2018

A música de A wizard... ajudou Todd a manter vínculos com a neopsicodelia. Recentemente, o cantor fez uma participação no novo disco dos Lemon Twigs, Go to school. Um álbum conceitual maluco sobre um chimpanzé que é adotado como filho por uma família – e que tem o autor de I saw the light como pai (!).

https://www.youtube.com/watch?v=9W1cUVp9BSw

Já a banda australiana Tame Impala, que chegou a ter músicas remixadas por Todd, mostrou toda sua admiração pelo músico relendo International feel, faixa de abertura de A wizard, a true star. Olha aí.

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Relembrando: Public Image Ltd, “The flowers of romance” (1981)

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Relembrando: Public Image Ltd, "The flowers of romance" (1981)

Keith Levene, guitarrista que se dividiu em vários instrumentos nesse The flowers of romance, chegou a afirmar que o terceiro álbum de estúdio do Public Image Ltd é “provavelmente o disco mais anti-comercial já entregue a uma gravadora”. Faz sentido: The flowers mal pode ser chamado de punk ou pós-punk. Está mais para uma aventura experimental e percussiva, com músicas compostas apenas de voz e bateria (a claustrofóbica Four enclosed walls), voz, percussão, sinos e ruídos (Phenagen), voz, bateria e sons orquestrais tirados com virulência punk (a faixa-título), voz, bateria brutal e ruídos (Under the house).

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O som vai do mais assustador e climático ao mais documental, com sons ciganos e flamencos unidos a uma espécie de “música de selva”, dada pelo som da bateria e pelos vocais de John Lydon. Hymie’s him, com sintetizadores, percussões e batidas de latão, soa “industrial” anos antes de tal termo ficar famoso. Banging the door é um quase reggae que destaca o uso de sintetizadores Moog. Francis Massacre é literalmente um massacre sonoro, trazendo vocais lamentosos, batidas tribais e sons de guerra. A associação com a música e o imaginário hispânico surgem já na capa, que traz Jeannette Lee, empresária, gerente e melhor amiga da banda (e hoje sócia da gravadora Rough Trade), com uma flor na boca, e ameaçando o fotógrafo (e o/a ouvinte do disco) com um pilão.

Curiosamente, mesmo sendo um disco tão anti-pop, The flowers of romance (o nome é o mesmo de uma banda cata-corno punk que surgiu antes dos Pistols, e da qual Keith Levene e Sid Vicious fizeram parte) acabou tendo lá suas dimensões pop. O som da bateria já foi elogiado por Phil Collins (que trabalhou depois com o produtor do disco, Nick Launay), e soa quase como se tivesse sido produzido para cinema, e não para um álbum.

Esse som cinematográfico não rolou por acaso. A turma do PiL (na época, os inimigos íntimos Lydon e Levene, mais o baterista Martin Atkins) aproveitou todos os recursos de um novo brinquedo do empresário Richard Branson: o estúdio The Manor, literalmente um estúdio de ponta construído numa mansão histórica. Antes de começar, foram sete dias (de um total de dez dias agendados) “curtindo” um bloqueio de compositor que travou toda a banda. Jah Wobble, baixista do PiL e sujeito cheio de ideias, saiu pouco antes da gravação, o que piorou um pouco as coisas – por acaso, só duas faixas de Flowers (Track 8 e Banging the door têm o instrumento.

The flowers of romance marcou um período de bons investimentos na banda ainda que não vendessem tanto – 1983 foi inclusive o ano do duplo Live in Tokyo, gravado no Japão, e que rendeu até um homevideo, mania da época. Daí para a frente, era o PiL virando algo mais próximo daquele som que pode até tocar no rádio, mas assusta. E muito.

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Relembrando: Vários, “O espigão – trilha sonora nacional” (1974)

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Relembrando: Vários, "O espigão - trilha sonora nacional" (1974)

Até os dez primeiros capítulos (que foi até onde assisti), O Espigão, novela das 22h exibida pela Rede Globo em 1974, e escrita por Dias Gomes, tem ritmo de série bem construída e passagens que lembram Os Simpsons. Por sinal, com a chance de cada personagem ali conseguir ser o Homer por alguns minutos, ou por alguns capítulos. Os três primeiros capítulos são tomados por um cavernoso engarrafamento no Túnel Novo – que divide Botafogo e Copacabana, na Zona Sul carioca – no último dia de 1972. Hoje dá para ver tudo no Globoplay, que resgatou a trama.

No túnel, os personagens vão aparecendo para, mais do que construir a história, dar uma baita sensação de caos. Isso porque parece que quase ninguém ali costuma ser ouvido ou enxergado de verdade. No caso do trio de bandidos interpretado por Betty Faria, Ruy Resende e Milton Gonçalves, nem eles conseguem enxergar sua própria falta de talento para roubar os outros, mas isso é apenas um detalhe.

Para quem passou a vida ouvindo as trilhas sonoras de O Espigão, a nacional e a internacional, lançadas pela Som Livre naquele mesmo ano, o mais legal é ver a utilização nos capítulos das faixas da trilha nacional (um perfeito disco pop-rock-MPB). Pela cidade, tema instrumental e quase progressivo do Azymuth, surge na primeira cena, com o assombrado Léo (Claudio Marzo) chegando de navio de Sergipe, passando pela Baía de Guanabara. Nessa hora, destaque para o estranho cromaqui marítimo e para as imagens das barcas Rio-Niterói em alto-mar.

Retrato 3×4, primeiro quase-hit de Alceu Valença, e segunda ou terceira tentativa de sucesso do cantor, antes da fama, surge nas cenas do assalto frustrado do trio de bandidos. Versos como “rasgue meu retrato 3×4/porque eles vão pintar o sete com você” dão a sensação de que a turma formada por Lazinha (Betty), Nonô (Milton) e Dico (Ruy) é bem mais robin hoodiana do que pode parecer. Na sombra da amendoeira, de Sá & Guarabyra, na voz do grupo niteroiense Os Lobos, dá vontade de visitar o tal casarão antigo que é, de fato, o tema da novela.

Alfazema, tema folk do hoje astrólogo Carlos Walker, surge inicialmente numa cena de total lesação e abandono na cidade grande (por sinal no fim da Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, Zona Sul do Rio, bem antes do excesso de bares e carros). Já o tema de abertura, o hard rock orquestral O espigão, de Zé Rodrix, vem da transição entre os álbuns I acto (1973) e Quem sabe sabe, quem não sabe não precisa saber (1974), os dois primeiros do cantor – que geraram um show apresentado no Rio em março de 1974, ao lado da banda Agência de Mágicos.

O repertório da trilha de O espigão ainda inclui um excelente e hoje cancelável samba-rock (Malandragem dela, de Tom & Dito, que tocou muito no rádio na época), uma música que surge como protesto à gentrificação no Rio, mas que tem mais a ver com a poluição em São Paulo (Botaram tanta fumaça, de Tom Zé), um tema clássico composto por Tuca (Berceuse), um samba antirracista com letra de Nei Lopes (Você vai ter que me aturar, com Sônia Santos) e um sambão triste composto e cantado por Benito di Paula (Último andar).

O espigão fez tanto sucesso que a trilha nacional voltou às lojas várias vezes. Volta e meia dá para achar um vinil a preço barato em loja de usados, mas o álbum foi relançado em CD na série Som Livre Masters, com remasterização comandada por Charles Gavin. Hoje é um caso raro de trilha de novela nacional dos anos 1970 que pode ser vista e ouvida.

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No nosso podcast, os primeiros anos do Soft Cell

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No nosso podcast, os primeiros anos do Soft Cell

O Soft Cell tá vindo aí pela primeira vez. A dupla de Marc Almond e Dave Ball se apresenta no Brasil em maio, e vai trazer – claro – seu principal hit, Tainted love. Uma música que marcou os anos 1980 e vem marcando todas as décadas desde então, e que deu ao Soft Cell um conceito todo próprio – mesmo não sendo (você deve saber) uma canção autoral. Era um dos destaques de seu álbum de estreia, Non stop erotic cabaret (1981), um dos grandes discos da história do synth pop.

No nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, voltamos lá no comecinho do Soft Cell, mostramos a relação da dupla com uma das cidades mais fervilhantes da Inglaterra (Leeds) e damos uma olhada no que é que está impresso no DNA musical dos dois – uma receita que une David Bowie, T Rex, filmes de terror, Kenneth Anger, sadomasoquismo e vários outros elementos.

Século 21 no podcast: Red Cell e Noporn.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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