Connect with us

Cinema

R.I.P. Anita Pallenberg

Published

on

R.I.P. Anita Pallenberg

Nascida na Itália, Anita Pallenberg, que morreu nesta terça (13) aos 73, de causas não reveladas, foi bem mais do que apenas namorada de Brian Jones e, posteriormente, mulher de Keith Richards – ambos, você deve saber, dos Rolling Stones. Qualquer pessoa que conheça bem a história da banda sabe da influência que ela teve dentro do quinteto, seja levando vivência cosmopolita ao grupo (Keith ficou assustado quando conheceu Anita e viu que ela falava três idiomas e conhecia vários países), seja apresentando Mick Jagger e Keith Richards a seus conhecimentos de magia e paganismo (ela e o guitarrista por muito pouco não se casaram numa cerimônia pagã ministrada pelo cineasta Kenneth Anger – consta que Keith desistiu da ideia após Anger pintar a porta de seu apartamento de dourado, numa cerimônia ritualística, sem avisá-lo).

Antes de ingressar no circuito dos Stones, em 1965, tinha uma carreira como modelo e atriz. Em 1967, trabalhou em “A degree of murder”, do alemão Volker Schlondörff – que teve trilha feita por Brian Jones. E obviamente quem viu sua atuação um ano depois em “Barbarella”, de Roger Vadim (no qual contracenou com Jane Fonda), não esquece. E nesse mesmo ano fez “Performance”, de Nicholas Roeg e Donald Cammell, no qual contracenou com Mick Jagger, James Fox e Michele Breton. Alguém jogou o filme no YouTube, mas com som e imagem horrorosos (ele chegou a sair em DVD no Brasil).

https://www.youtube.com/watch?v=NYM-LqbkpNc&t=5586s

A história de “Performance” é um caso a parte. No filme, Jagger é Turner, um popstar decadente que mora com duas garotas (Anita e Michelle) e dá abrigo, por vias tortas, a um gângster (Fox), com quem começa um perturbador jogo de troca de identidades, regado a drogas e jogos psicológicos. O roteiro previa um threesome entre Mick, Anita e Michele, que pode ser visto pelo espectador e, digamos, soa bastante realista. Fotogramas editados por Cammell mostraram que houve sexo durante as filmagens – e “Performance” chegou a entrar num festival de pornografia em Amsterdam.

O filme abriu de vez a era de pinimbas entre Mick e Keith, muito embora Keith, Anitta, Mick e sua então esposa Marianne Faithfull tenham passado até o Natal de 1968 juntos (e no Brasil!). “E Keith passou uma noite com Marianne nessa época. Um filme sobre ‘Performance’ seria mais interessante do que ele próprio”, me contou certa vez Christopher Sandford, autor de “The Rolling Stones – A biografia definitiva”, lançado aqui pela Record. James Fox e Michele aparentemente endoidaram após o filme: o primeiro virou pastor protestante, a segunda está até hoje desparecida. “Performance” saiu apenas em 1970, depois de muita negociação dura com a Warner Bros, que financiara o filme.

Em 1968 ela esteve no Brasil, junto com Keith Richards, na famosa visita dele e de Mick Jagger ao país. Vieram para cá uma semana antes do Natal para supostamente tomar lições de magia negra, já que Keith chegou a declarar a um jornal inglês que vinham “encontrar um mago que pratica magia negra e branca, que tem um nome longo e difícil que não conseguimos pronunciar, e chamamos de Banana para encurtar”. Passaram o ano novo no Rio e depois, em janeiro de 1969, passaram uma temporada numa fazenda em Matão (SP), de propriedade do banqueiro Walter Moreira Salles. O documentário “Aliens 69: Quando os Rolling Stones invadiram Matão”, feito por formandos de uma turma de jornalismo de Araraquara, conta essa história. Veja aí.


Anita passou um bom tempo envolvida com heroína. Seu casamento com Keith foi até 1980 – ela é mãe dos dois filhos mais velhos do guitarrista, Marlon e Angela – e ela deixou as drogas só no fim da década, pouco após um escândalo daqueles: um rapaz de 17 anos suicidou-se usando uma arma que pertencia a Anitta, na casa em que ela morava com Keith – e na cama do casal.

Mais recentemente, estudou design de moda e retormou a carreira de atriz. Alguns de seus últimos papéis foram em “Chéri” (2009), de Stephen Frears, e “4:44 – O fim do mundo”, de Abel Ferrara (2011). Em 1999, chegou a participar de um clipe de Madonna, “Drowned world/Substitute for love”. Ela aparece em cenas rápidas numa festa, a partir dos 3:30. Confira aí embaixo.

 

Cinema

Ouvimos: Raveonettes – “PE’AHI II”

Published

on

Ouvimos: Raveonettes - "PE'AHI II"

RESENHA: Os Raveonettes mergulham de vez no lo-fi e shoegaze em PE’AHI II, disco que soa mais próximo de uma transição do que de uma realização.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Raveonettes, aquela dupla que misturava distorções a la Jesus and Mary Chain, clima melodioso herdado dos anos 1950 e estética do filme Juventude transviada, lembra? Pois bem, eles guiaram o timão de vez para gêneros como shoegaze e lo-fi. Não é algo estranho ao som deles, vale falar. Climas “serra elétrica” sempre tiveram lugar nos discos de Sune Rose Wagner e Sharin Foo. PE’AHI II, novo disco, é a continuação de PE’AHI, disco de 2014 que já promovia suas invasões nessas áreas. Sem falar que 2016 atomized – disco anterior de inéditas da banda, 2017 – surfava essa onda.

Só que o Raveonettes de 2025 chega a soar experimental, mesmo quando abre o novo disco com uma balada nostálgica e melancólica, Strange. E na sequência, o ruído programado de Blackest soa como uma curiosa mescla de blackgaze e pop de câmara. Já Killer é uma nuvem de microfonias que lembra bandas como Drop Nineteens, só que com mais cuidado na melodia.

Entre as outras curiosidades do disco, estão o noise rock programado de Dissonant, a viagem sonora e distorcida de Sunday school e a onda sonora de microfonia (alternada com toques dream pop) de Ulrikke. O resultado final deixa um ar de EP, de mixtape, mais do que de um álbum completo e realizado dos Raveonettes. Ainda que PE’AHI II tenha momentos ótimos, soa mais como uma transição para o que vem por aí.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Beat Dies Records
Lançamento: 25 de abril de 2025

  • Ouvimos: The Raveonettes – Sing…
  • Ouvimos: Drop Nineteens – 1991
  • Ouvimos: Drop Nineteens – Hard light

 

Continue Reading

Cinema

Urgente!: Cinema pop – “Onda nova” de volta, Milton na telona

Published

on

Urgente!: Cinema pop – "Onda nova" de volta, Milton na telona

Por muito tempo, Onda nova (1983), filme dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia – e censurado pelo governo militar –, foi jogado no balaio das pornochanchadas e produções de sacanagem.

Fácil entender o motivo: recheado de cenas de sexo e nudez, o longa funciona como uma espécie de Malhação Múltipla Escolha subversivo, acompanhando o dia a dia de uma turma jovem e nada comportada – o Gayvotas Futebol Clube, time de futebol formado só por garotas, e que promovia eventos bem avançadinhos, como o jogo entre mulheres e homens vestidos de mulher. Por acaso, Onda nova foi financiado por uma produtora da Boca do Lixo (meca da pornochanchada paulistana) e acabou atropelado pela nova onda (sem trocadilho) de filmes extremamente explícitos.

O elenco é um espetáculo à parte. Além de Carla Camuratti, Tânia Alves, Vera Zimmermann e Regina Casé, aparecem figuras como Osmar Santos, Casagrande e até Caetano Veloso – que protagoniza uma cena soft porn tão bizarra quanto hilária. Durante anos, o filme sobreviveu em sessões televisivas da madrugada, mas agora ressurge restaurado e remasterizado em 4K, estreando pela primeira vez no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (27).

Meu conselho? Esqueça tudo o que você já ouviu sobre Onda nova (ou qualquer lembrança de sessões anteriores). Entre de cabeça nessa comédia pop carregada de referências roqueiras da época, um cruzamento entre provocação punk e ressaca hippie. O filme abre com Carla Camuratti e Vera Zimmermann empunhando sprays de tinta para pixar os créditos, mostra Tânia Alves cantando na noite com visual sadomasoquista, segue com momentos dignos de um musical glam – cortesia da cantora Cida Moreyra, que brilha em várias cenas – e trata com surpreendente modernidade temas como maconha, cultura queer, relacionamentos sáficos, mulheres no poder, amores fluidos e, claro, futebol feminino.

Se fosse um disco, Onda nova seria daqueles para ouvir no volume máximo, prestando atenção em cada detalhe e referência. A trilha sonora passeia entre o boogie oitentista e o synthpop, com faixas de Michael Jackson e Rita Lee brotando em alguns momentos. E o que já era provocação nos anos 1980 agora ressurge como registro de uma juventude que chutava o balde sem medo. Vá assistir correndo.

*****

Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes, que estreou na última semana, segue outro caminho: o da reverência, mesmo que seja um filme documental. Durante dois anos, Flavia seguiu Milton de perto e produziu um retrato que, mais do que um relato biográfico, é uma celebração. E uma hagiografia, aquela coisa das produções que parecem falar de santos encarnados.

A narração de Fernanda Montenegro dá um tom solene – e, enfim, logo no começo, fica a impressão de um enorme comercial narrado por ela, como os daquele famoso banco que não patrocina o Pop Fantasma. Aos poucos, vemos cenas da última turnê, reações de fãs, amigos contando histórias. Marcio Borges lê matérias do New York Times sobre Milton, para ele. Wagner Tiso chora. Quincy Jones sorri ao falar dele. Mano Brown solta uma pérola: Milton o ensinou a escutar. E Chico Buarque assiste ao famigerado momento do programa Chico & Caetano em que se emociona ao vê-lo cantar O que será – um vídeo que virou meme recentemente.

Isso tudo é bastante emocionante, assim como as cenas em que a letra da canção Morro velho é recitada por Djavan, Criolo e Mano Brown – reforçando a carga revolucionária da música, que usava a imagem das antigas fazendas mineiras para falar de racismo e capitalismo. Mas, no fim, o que fica de Milton Bituca Nascimento é a certeza de que Milton precisava ser menos mitificado e mais contado em detalhes. Vale ver, e a música dele é mito por si só, mas a sensação é a de que faltou algo.

Por acaso, recentemente, Luiz Melodia – No coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, investiu fundo em imagens raras do cantor, em que a história é contada através da música, sem nenhum detalhe do tipo “quem produziu o disco tal”. Mas o homem Luiz Melodia está ali, exposto em entrevistas, músicas, escolhas pessoais e atitudes no palco e fora dele. Quem não viu, veja correndo –  caso ainda esteja em cartaz.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Continue Reading

Cinema

Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Published

on

Urgente!: Filme "Máquina do tempo" leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.

As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.

E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.

Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.

O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).

Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.

A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.

Continue Reading
Advertisement

Trending