Lançamentos
Woodentops lança CD ao vivo no Japão, repleto de histórias

Os Woodentops, uma banda da qual a gente já falou no nosso podcast Pop Fantasma Documento, estão vendendo em seu site o CD duplo Live in Japan – lançado originalmente apenas no Japão, e que agora está à venda pela quantia de 75 libras. O disco ao vivo, gravado em 1988 no Nippon Seinenkan Tokyo, com repertório dos álbuns Giant (1986) e Wooden foot cops on the highway (1988) não está nas plataformas digitais. Se você buscar no bom e velho Soulseek, acha todas as faixas por lá, caso não tenha grana para garantir uma cópia importada.
Mais curiosas são as histórias em torno do disco, contadas por Rolo McGinty, vocalista e principal compositor da banda, no Instagram dos Woodentops. A banda já tem um álbum “oficial” ao vivo, Live hypnobeat live, lançado em 1987. O tal disco ao vivo no Japão era, originalmente, para ter sido feito a partir de uma fita DAT feita na mesa de mixagem do show, e cujo resultado desagradou a banda. “Era um mixagem de referência para ver como funcionava uma máquina DAT. Foi a primeira vez que nosso engenheiro de som ao vivo viu uma máquina DAT, em 1988. A gravação não teve nenhuma atmosfera trazida diretamente da mesa, nenhuma multidão ou ambiente do corredor, mais coisas silenciosas eram altas”, contou.
Muitos anos depois, Rolo recebeu um presente de um amigo que tinha ido ao show. O tal amigo tinha ido ao show no Japão levando o que era considerado um exemplo de tecnologia avançada em 1988: um walkman profissional Sony com fita de metal. E havia feito uma gravação pirata. “Ele guardou o ‘master’ até 2015 e me levou a fita. Emprestada”, diz, com um emoji de risadas.
“Joguei (a fita) direto no computador com uma máquina de qualidade, limpando os cabeçotes. Foi bem gravado, cheio de atmosfera e reverberação do hall, mas sonoramente muito pastoso. E infelizmente uma música seria cortada porque a fita virou automaticamente”, contou. Rolo então fez experiências em seu estúdio caseiro usando a DAT e a fita do amigo. “Sem sincronizar, não era audível, o DAT sozinho não era liberável, nem mesmo se você apenas adicionasse reverberação de salão. A guitarra elétrica estava muito quieta”, conta.
O resultado foi que, se Live hypnobeat live custou cerca de 30 mil libras, Live in Japan não custou nada ao bolso de Ginty. “Foi assim que o CD foi feito. Sem reparos na música, apenas duas mixagens estéreo, dois polos opostos unidos para formar um corpo funciona”, conta. Se conseguir o CD por aí, ouça no volume máximo.
Foto: reprodução da capa do álbum
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Lançamentos
Radar: Sleaford Mods, Nick & June, Twen, Kittenhead, Springworks

Quase não deu tempo de fazer mais um Radar nessa semana. Arrumamos tempo e tá aqui uma seleção de cinco sons internacionais que entraram para a nossa playlist particular – na real, são músicas que já deixaram a gente animado para que Sleaford Mods, Twen e Nick & June soltem logo seus novos álbuns, já devidamente anunciados para bem breve. Kittenhead e Springworks surgem aqui com singles e promessas de outros lançamentos.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Sleaford Mods): Nick Waplington/Divulgação
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SLEAFORD MODS feat GWENDOLINE CHRISTIE & BIG SPECIAL, “THE GOOD LIFE”. Tem disco da dupla formada por Andrew Fearn e Jason Williamson vindo aí: The demise of planet X chega às lojas (e às plataformas) em 16 de janeiro de 2026 via Rough Trade Records. Um disco mais do que distópico, feito sob o signo da pandemia, as guerras, genocídios, sequelas psicológicas da covid e outros assuntos, “enquanto as redes sociais se transformaram em uma forma grotesca e distorcida de engenharia digital”, diz o vocalista Jason. “Parece que estamos vivendo entre ruínas – uma abominação em múltiplas camadas gravada em nosso inconsciente coletivo”.
A tensa The good life fala sobre essa dualidade entre caos e vida tranquila, sendo que a banda Big Special e a atriz de Game of Thrones Gwendoline, convidados da faixa, atuam como uma espécie de coro grego da mente de Jason. “A música fala sobre criticar bandas e a alegria e miséria que isso me causa. Me pergunto por que continuo fazendo isso. Por que isso é algo recorrente em mim?”, pergunta o vocalista.
NICK & JUNE, “ANTHEM”. Essa dupla de Berlim, especializada em melodias e arranjos bem grandiloquentes, lança mais um single que adianta o álbum New year’s face, previsto para 5 de dezembro. Anthem é (já diz o próprio nome) um hino sobre como deixamos momentos importantes escaparem das mãos – uma música que lembra a melhor fase do Arcade Fire, ao mesmo tempo em que se alia ao pós-punk e ao cuidado melódico do rock britânico, com metais, efeitos, vocais trabalhados e clima levanta-plateias.
New year’s face, o disco que tá vindo aí, mostra um momento especial e delicado na vida de Nick & June: os dois são um ex-casal, mas continuam trabalhando juntos e realizaram o álbum pouco depois da separação. Uma lição de resiliência e de amor à música, digamos. A produção do disco é de Peter Katis (The National, Interpol, Sharon Van Etten, Stars).
TWEN, “TUMBLEWEEDS”. IA, por que choras? Esse grupo de Nashville, que prepara o disco Fate euphoric para o dia 5 de novembro, acaba de jogar no YouTube o clipe de seu novo single, o alegre e solar pós-punk Tumbleweeds. Nada de imagens artificiais ou coisas do tipo: a vocalista do grupo, Jane Fitzsimmons, dirigiu pessoalmente o vídeo e encarregou-se de que ele tivesse tanta energia rocker, que é quase impossível não criar várias expectativas em relação ao próximo disco.
No clipe, a banda toca num salão amplo, iluminado e espelhado, e de repente se vê cercada de fãs fazendo a coreografia da música junto com a carismática Jane. No final, os dançarinos têm seus nomes inseridos na ficha técnica do vídeo. Só diversão, nada de historinha ou conceitos complicados.
KITTENHEAD, “PURR (KISS KISS BANG BANG)”. Punk é punk mesmo: essa banda da Califórnia, formada por uma turma bem experiente está preparando um álbum e vem adiantando o disco com alguns singles. Purr, um dos mais recentes, é punk pop de festa, com diversão e sexo sem limites, tendo à frente a vocalista Kivi. O grupo já existe há uma década e a amizade entre os integrantes é mais antiga ainda: boa parte dos músicos do Kittenhead estudou junto no colégio e alguns deles já tocaram lado a lado em outras bandas. Som para ouvir e sair cantando.
SPRINGWORKS, “ULTRAVIOLET LULLABIES”. David Beaman e Ryan Rollinson são os únicos integrantes dessa dupla australiana, que tem um site muito bem detalhado (dá pra baixar tudo deles por lá e até comprar casacos e canecas do grupo – não testamos, é só um aviso). As informações sobre eles é que são bem raras: sabe-se que são dois músicos que se conheceram “dos lados opostos de um piano” e que a partir disso, decidiram formar uma dupla de composição – que vem durando até hoje. Ultraviolet lullabies está num single lançado em 16 de agosto, e o som é uma ótima mescla de chamber pop, glam rock e vibes pós-punk (nos comentários do YouTube, um fã achou referências de Joy Division no som).
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Crítica
Ouvimos: Clara Lima – “As ruas sabem”

RESENHA: Clara Lima entrega frases afiadas e boombap clássico em As ruas sabem, disco sobre corre, fé e vivência das ruas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 4 de julho de 2025
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Rapper vinda de Belo Horizonte, Clara Lima é ótima de frases: “queria que toda essa neurose fosse grana na minha conta”, “meu bairro me ensinou que você não pode abraçar o errado”, “onde tava escrito que você podia sonhar?” “se alguma mãe vai chorar, não vai ser a minha nem fodendo”. O repertório de As ruas sabem, seu sétimo álbum, é pura luta do dia a dia e vivência das ruas. O batidão do disco, por sua vez, surge ligado à onda clássica do boombap, mesmo quando flerta com estilos como r&b e com vibes latinas, ou com batidas mais lentas.
Trilhado no corredor da batalha, As ruas sabem já abre com Bom dia, que traz a gravação de um telefonema de banco (“sou Daniela do banco x / queremos oferecer um acordo de parcelamento da sua dívida”) – seguindo com a batida lenta de Tabuleiro e com o vocal rápido e grave de PHD, faixa sobre procedimentos e cobranças da vida, e sobre maturidade (“nada passa batido, a cobrança vai chegar / adestrei os demônios e aguardo a poeira baixar”). Nível profissional traz lembranças de injustiças e desigualdades da vida, falando da sorte de quem já sai de casa no privilégio.
- Ouvimos: Stefanie – Bunmi
As ruas sabem vai crescendo no ouvido de modo bem diferente dos vários discos de rap atuais – por acaso, uma característica que Clara divide com outro rapper mineiro, FBC, em seu recente Assaltos & batidas. Letras como a do rap gospel Praticando a fé e ganham um ar de manual do corre, mais até do que de relatório sobre inimigos e vacilões do meio artístico. O mesmo rola nos planos infalíveis de Corda bamba, na visão atualizada da fama em Um brinde aos reais e nos perrengues da pixação de Tinta na mão: “Fuga na viatura / sem medo de altura (…) / letreiro do submundo / doença sem cura / dos gueto oriundo”, emendando com: “foda-se seu discurso barato / foda-se seu bolsonazi”.
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Crítica
Ouvimos: Deekapz – “Deekapz FM”

RESENHA: Em Deekapz FM, a dupla Deekapz transforma o rádio em pista de dança e memória afetiva, misturando funk, pop, drum’n’bass e emoção.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de agosto de 2025.
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Projeto criado pela dupla Paulo Vitor e Matheus Henrique, produtores de música eletrônica, o Deekapz decidiu se transformar numa rádio em seu disco de estreia. Deekapz FM surgiu em nossos ouvidos bem na hora em que se noticia o fim da rede Transamérica. E o rádio, como memória afetiva do lançamento de músicas, e da descoberta de sons novos, recebe um baita golpe.
Paulo e Matheus não estão apenas lançando um disco, na real: estão prestando uma homenagem ao rádio e a toda a sua importância histórica – sem falar nas suas possibilidades, que nem de longe são cobertas pelas playlists e pelas plataformas de música. A faixa inicial, Dance, é uma dance music com narração e vinhetas, participação da Fat Family e anúncio da lista variada de convidados do álbum.
- Ouvimos: Cyberkills – Dedo no cue
Fica claro que Deekapz FM não tem apenas música. Tem companhia e curadoria, seguindo inicialmente com o funk sacana de Maui em Vem comigo, com a drum n bossa de Criolo, DJ Marky e Makoto em Onde anda o meu amor – com referência à música homônima de Orlandivo – e com o som dançante e autotunado de Luccas Carlos em Eu te entendo. Deekapz FM é também uma soma de tendências musicais, que seguem atrás da outra, como num daqueles programas de “festa pronta” que tocam no rádio no fim de semana à noite.
Num conceito de “comandar o melhor do que faz o seu corpo balançar” (como diz uma das vinhetas do álbum), Deekapz FM segue com o pop romântico de Kaike em Detalha, o samba drum n bass solar e desconcertante de Riscos (apresentando a boa voz de Bibi Caetano), o clima indie pop de Gab Ferreira (em Manias disfuncionais), a musicalidade do Tuyo (na celestial Repara), as ótimas participações de Urias e da rapper mineira Clara Lima – a primeira, ao lado de Maffalda no club-pop Bafora, a segunda na ousada e sombria Nóis é o trem, seguida pelo batidão de Nego Bala em Ego.
Ouvindo Deekapz FM você pode até trocar as bolas e achar realmente que está ouvindo rádio – inclusive porque tem uma “hora dos comerciais” no disco. Faz parte da viagem.
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