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Jogaram Shop Shop, especial de TV “jovem” dos anos 1980, no YouTube

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Jogaram Shop Shop, especial de TV "jovem" dos anos 1980, no YouTube

Lembra do Shop shop? Não? Vamos por partes. Primeiro, você precisa saber que os anos 1980 foram o que se costuma chamar de “década perdida”, com hiperinflação, descontrole, pagamento de contas do milagre econômico e um verdadeiro saco de maldades, às vezes disfarçadas de bondades. Não era só isso: era uma época em que vender, vender, vender e vender era estritamente necessário, porque vendendo, as pessoas (duh) compravam e todo mundo seria feliz para sempre no mundo nada maravilhoso do capitalismo. Bom, economia não é nossa especialidade, mas recomendamos fortemente um google no assunto “década perdida”.

Aliás, quem tem entre 40 e 50 anos lembra: os comerciais de TV começaram a ficar cada vez mais vistosos e chamativos. Comprar era mais do que o ato de ostentar o cartão de crédito, um Cheque Ouro ou endividar-se para comprar uma peça de roupa, um carro ou um aparelho de som. Consumir era existir: o Jornal do Brasil inaugurou a seção Perfil do consumidor, outros periódicos fizeram seções parecidas, jornais de TV dedicavam espaços generosos a mostrar clientes fazendo compras a qualquer momento (o Natal, claro, era uma espécie de suruba consumista), bancos começaram a intensificar seus departamentos de informática para facilitar o saca-deposita e vender mais produtos. E, ah, o produto-assinatura daqueles tempos, o videocassete, era tão querido que havia até consórcio para quem quisesse comprá-lo.

Ao mesmo tempo, o ato de consumir coisas batia de vez até mesmo na indústria cultural, com vários cadernos “programa” circulando às sextas. Mais até do que nos anos 1970, todo mundo queria saber que filme iria ver, que show iria assistir, que atração internacional estava vindo ao Brasil (depois do Rock In Rio, elas vinham a rodo). Já quem queria só ficar em casa vendo televisão, por sua vez, esbarrava com um festival de merchans nas novelas. Eles eram bem mais indiscretos e provocavam indignação em alguns jornalistas e críticos de TV.

E foi nessa época que a Globo pôs no ar esse puro suco de cultura jovem, consumismo e cinema adolescente (à moda do brat pack, o grupo de jovens atores de Hollywood dos anos 1980) que era o especial Shop shop. Que alguém jogou no YouTube.

Criado por Euclydes Marinho, Leopoldo Serran e Antonio Calmon, Shop shop foi transmitido em 16 de dezembro de 1988. E era uma espécie de rito de passagem da TV brasileira para novelas como Top model (1989) e Vamp (1991) – opa, alguns atores do programa apareceram até mesmo nos elencos dessas novelas. O roteiro era bastante criativo, e aproveitava elementos de filmes como Clube dos cinco, Conta comigo e Os primeiros anos de nossas vidas. Nomes como Rodrigo Penna (Caixa), Pedro Vasconcellos (Dudu, o rebelde) e Carol Machado (Bete, a adolescente revoltada e negligenciada pelo pai) aparecem na TV pela primeira vez lá. A temática da época, só para avisar, não era a representatividade.

A Globo acertou bem na sacação de mercado: o principal dessa galera do especial era que todo mundo passava o dia inteiro no shopping – daí o nome Shop shop, claro. A turma adotava o mesmo comportamento dos adolescentes da época: entrava e saía de lojas, via todos os produtos, não comprava nada, ficava nas praças de alimentação (às vezes comendo, às vezes só ocupando as mesas). Em meio ao entra-e-sai de gente e aos letreiros de lojas, a turma do especial passava o dia vivendo infernos pessoais e conversando sobre problemas. Não por acaso, o logotipo do Barrashopping aparecia logo na abertura (e, impossível não notar, o logo de Shop Shop era igual ao do shopping). Havia a ideia do programa virar um seriado em 1989 – não aconteceu.

Jogaram Shop Shop, especial de TV "jovem" dos anos 1980, no YouTube

“O programa não é feito só para quem vai ao shopping. A ideia é contar as histórias dos adolescentes, para eles e com eles, por isso preferimos usar atores completamente desconhecidos”, pregavam Mario Marcio Bandarra e Antonio Calmon, os diretores, numa matéria sobre a série, escrita por Manya Millen e publicada no O Globo no dia em que a série foi ao ar. Os atores adolescentes, selecionados pelo professor e diretor de teatro Carlos Wilson, deixavam claro na matéria que não eram muito fãs de shopping. “Não gosto de lugar fechado e acho essa geração shopping center meio fora da realidade”, reclamava Rodrigo Penna (que depois virou DJ e criou a festa Bailinho).

Geração shopping center? Bom, os jornais realmente falavam muito no assunto. E o alegado consumismo dos jovens (além de comportamentos como os de circular o dia inteiro nos shoppings sem comprar nada e virar o caroço dos pobres vendedores) era motivo para várias matérias de comportamento – que por sua vez ocupavam páginas e mais páginas de revistas.

O Jornal do Brasil pôs a questão na capa de sua revista Domingo justamente em 1988, ano repleto de passeatas de adolescentes pedindo a diminuição das mensalidades escolares. E tentou lançar a ideia de que os shoppings tinham virado as antigas praças das cidades do interior. Bom, nem tanto: a galera também matava aula (ficou famosa a frase “shopping não é lugar de CDF”, proferida na matéria por uma então adolescente), ia ao cinema, lia revistas importadas nas livrarias e se entediava ao lado de amigos. Shop shop levou um pouco dessa (er) nova cultura jovem para a tela da TV. E deve ter enchido os cofres da emissora.

>>> O Jorge Wakabara, do blog Wakabara, falou de Shop shop aqui.

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Urgente!: O que teve de bom no final de “Vale Tudo”?

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E aí, o que teve de bom no final de Vale Tudo?

E aí, o que teve de bom no final de Vale Tudo?

Bom, o capítulo foi um belo discurso. Seo Bartolomeu defendeu as últimas melhorias do país (naquele papo com o Ivan). Fátima e Cesar mostraram que quem não presta pra nada vai continuar não prestando pra nada – esqueça essa patacoada de “discurso de redenção”, que é usada bastante em reality shows.

Mais: Odete Roitman sempre volta porque isso é o que acontece de tempos em tempos no Brasil e no mundo. Sempre tem um maldito que ganha o protagonismo. Odete volta porque Trump voltou, e porque o sonho de um certo ex-presidente inominável é voltar.

(Sobre os lados bons do último capítulo, aliás, vale ler também o que escreveu a Patricia D’Abreu, que me deu aula no curso de jornalismo)

O que teve de pior é que, já que a linguagem da novela foi definitivamente invadida pela publicidade, nada como usar a linguagem publicitária no roteiro da trama. Em vários momentos – e isso rolou no final – Vale Tudo foi usada mais para passar ideias e “entregar” coisas do que para contar uma história propriamente dita. Tudo isso aí de cima foi “publicado” como numa colagem mal feita.

Eu tento enxergar isso como uma tendência dos dias de hoje, mas: 1) a descoberta de que foi Marco Aurélio o assassino rolou sem emoção nenhuma (eu sou velho o suficiente pra lembrar do “eu matei Salomão Hayala!” da novela O astro, de 1977, e toda a perplexidade que veio depois); 2) Alexandre Nero parece ter sido sorteado como assassino num globo daqueles de bolinhas pra bingo – não houve emoção, pareceu marmelada e a expectativa de que “o assassino é alguém que ninguém imagina” foi pro cacete; 3) o final pareceu mais uma “entrega” do que um último capítulo – aliás tudo estava nesse mesmo clima desde a morte da Odete.

No mais, eu saí de Vale Tudo fã da turma que faz o comercial da Globo: aquela inserção da turma de Três graças assistindo o último capítulo foi ótima, os atores da novela fazendo propaganda de um aplicativo de entrega de bebidas que não patrocina o Pop Fantasma, idem. O problema é que novela não é só isso.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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Notícias

Urgente!: História da Nação Zumbi chega ao Canal Brasil nesta sexta (18)

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Pra botar na agenda e não perder de jeito nenhum: a série documental Nação Zumbi – No movimento das marés, de Aquiles Lopes e Leo Crivellare, que conta a história do grupo pernambucano, chega à grade do Canal Brasil nesta sexta-feira (18), às 19h30.

No movimento das marés é uma série curtinha e completa: são quatro episódios de 25 minutos falando da banda desde o comecinho, passando igualmente pela história de Chico Science (que criou a banda, você deve saber) e chegando aos dias de hoje.

A produção percorre cenários em Recife, Olinda, Rio de Janeiro e São Paulo, e há depoimentos de jornalistas, executivos de gravadora, músicos e todo mundo que lidou com a banda (Lorena Calábria, Arthur Dapieve, Roberto Frejat, Marcelo D2, Alice Pellegatti, Charles Gavin e Edgard Scandurra estão entre os entrevistados).

Urgente!: História da Nação Zumbi chega ao Canal Brasil nesta sexta (18)

No sentido horário: Marcelo D2, Frejat, Charles Gavin e Edgard Scandurra nos depoimentos da série (Todas as fotos: Canal Brasil/Divulgação)

A série começa com o episódio Hoje, amanhã e depois, que dá um passeio por várias fases da banda: traz a turnê pela Europa em 2017 e a gravação no estúdio Abbey Road, em Londres, mas volta lá atrás para contar a história desde o começo – e também para relembrar a tristeza com a morte de Chico, num acidente de automóvel, em 1997.

Os três próximos episódios vão ser exibidos pelo canal, nos dias 25 de julho, 1º e 8 de agosto. Se você perder algum deles, há horários alternativos aos sábados, às 13h30, e aos domingos, às 9h.

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Cultura Pop

Relembrando: Vários, “O espigão – trilha sonora nacional” (1974)

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Relembrando: Vários, "O espigão - trilha sonora nacional" (1974)

Até os dez primeiros capítulos (que foi até onde assisti), O Espigão, novela das 22h exibida pela Rede Globo em 1974, e escrita por Dias Gomes, tem ritmo de série bem construída e passagens que lembram Os Simpsons. Por sinal, com a chance de cada personagem ali conseguir ser o Homer por alguns minutos, ou por alguns capítulos. Os três primeiros capítulos são tomados por um cavernoso engarrafamento no Túnel Novo – que divide Botafogo e Copacabana, na Zona Sul carioca – no último dia de 1972. Hoje dá para ver tudo no Globoplay, que resgatou a trama.

No túnel, os personagens vão aparecendo para, mais do que construir a história, dar uma baita sensação de caos. Isso porque parece que quase ninguém ali costuma ser ouvido ou enxergado de verdade. No caso do trio de bandidos interpretado por Betty Faria, Ruy Resende e Milton Gonçalves, nem eles conseguem enxergar sua própria falta de talento para roubar os outros, mas isso é apenas um detalhe.

Para quem passou a vida ouvindo as trilhas sonoras de O Espigão, a nacional e a internacional, lançadas pela Som Livre naquele mesmo ano, o mais legal é ver a utilização nos capítulos das faixas da trilha nacional (um perfeito disco pop-rock-MPB). Pela cidade, tema instrumental e quase progressivo do Azymuth, surge na primeira cena, com o assombrado Léo (Claudio Marzo) chegando de navio de Sergipe, passando pela Baía de Guanabara. Nessa hora, destaque para o estranho cromaqui marítimo e para as imagens das barcas Rio-Niterói em alto-mar.

Retrato 3×4, primeiro quase-hit de Alceu Valença, e segunda ou terceira tentativa de sucesso do cantor, antes da fama, surge nas cenas do assalto frustrado do trio de bandidos. Versos como “rasgue meu retrato 3×4/porque eles vão pintar o sete com você” dão a sensação de que a turma formada por Lazinha (Betty), Nonô (Milton) e Dico (Ruy) é bem mais robin hoodiana do que pode parecer. Na sombra da amendoeira, de Sá & Guarabyra, na voz do grupo niteroiense Os Lobos, dá vontade de visitar o tal casarão antigo que é, de fato, o tema da novela.

Alfazema, tema folk do hoje astrólogo Carlos Walker, surge inicialmente numa cena de total lesação e abandono na cidade grande (por sinal no fim da Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, Zona Sul do Rio, bem antes do excesso de bares e carros). Já o tema de abertura, o hard rock orquestral O espigão, de Zé Rodrix, vem da transição entre os álbuns I acto (1973) e Quem sabe sabe, quem não sabe não precisa saber (1974), os dois primeiros do cantor – que geraram um show apresentado no Rio em março de 1974, ao lado da banda Agência de Mágicos.

O repertório da trilha de O espigão ainda inclui um excelente e hoje cancelável samba-rock (Malandragem dela, de Tom & Dito, que tocou muito no rádio na época), uma música que surge como protesto à gentrificação no Rio, mas que tem mais a ver com a poluição em São Paulo (Botaram tanta fumaça, de Tom Zé), um tema clássico composto por Tuca (Berceuse), um samba antirracista com letra de Nei Lopes (Você vai ter que me aturar, com Sônia Santos) e um sambão triste composto e cantado por Benito di Paula (Último andar).

O espigão fez tanto sucesso que a trilha nacional voltou às lojas várias vezes. Volta e meia dá para achar um vinil a preço barato em loja de usados, mas o álbum foi relançado em CD na série Som Livre Masters, com remasterização comandada por Charles Gavin. Hoje é um caso raro de trilha de novela nacional dos anos 1970 que pode ser vista e ouvida.

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