Connect with us

Cultura Pop

Shangri-Las: show no CBGB’s e grupo “falso”

Published

on

Shangri-Las: show no CBGB's e grupo "falso"

(o texto abaixo, sobre as Shangri-Las, foi inspirado por um texto escrito pela Lia Amâncio, que você pode ler aqui, sobre como um hit delas virou meme no tik tok)

Formada por dois pares de irmãs, a girl band novaiorquina Shangri-Las teve sucesso bem curto – durou de 1964 a 1968. Mas deixaram vários hits, como Leader of the pack, Give him a great big kiss e outros. As meninas conseguiram seu primeiro contrato de gravação, com o selo Red Bird, quando ainda eram menores de idade (os pais assinaram). George “Shadow” Morton, produtor delas, inovou bastante nas gravações das garotas, inserindo orquestras, ruídos de estúdio (como as motos de Leader of the pack) e outros efeitos.

A imagem pública das Shangri-Las era igualmente original. Quando Mary Weiss, Elizabeth Weiss, Marguerite “Marge” Ganser e Mary Ann Ganser (os nomes delas) eram comparadas a outros grupos femininos pop, ficava nítido que elas pareciam mais “duronas” e vividas do que as adolescentes e jovens dos vários outros grupos da época. Usando vistosas botas de couro, as quatro cantavam músicas sobre morte (Leader of the pack é uma história de playboy motoqueiro acidentado e falecido), namoros que deram errado, autoestima baixa, dramas da adolescência e temas sombrios em geral.

Por acaso, as quatro costumavam fazer turnês com bandas de rock que estavam iniciando carreira (uns tais de Beatles e Rolling Stones, por exemplo). E tinham lá seus pés no pré-pré-pré-punk da época. Até mesmo bandas ruidosas como The Sonics e The Iguanas (uma das primeiras bandas de Iggy Pop) dividiram o palco com elas. Nunca faltou gente para dizer que as Shangri-Las foram punk antes do punk existir – e para ajudar na mística, elas vieram do Queens, região da qual saíram os Ramones.

>>> POP FANTASMA PRA OUVIR: Mixtape Pop Fantasma e Pop Fantasma Documento

No meio do caminho das Shangri-Las, havia uma série de problemas e desgraças. Betty Weiss deixou o grupo e elas viraram um trio. As meninas assinaram com a grandalhona Mercury Records mas o sucesso já tinha ido embora. Para piorar um pouco, ninguém se lembrou (oh deus) de registrar o nome Shangri-Las. Em 1968, em meio a vários processos e brigas, o trio restante terminou. A época era outra – George “Shadow” Morton, que produzia o grupo, estava cuidando dos discos da mais nova sensação do rock, os peso-pesados do Vanilla Fudge. Em 1970 uma tragédia aconteceria na vida das garotas: Mary Ann Ganser morreu de overdose aos 22 anos.

Só que o tempo iria passando e as músicas das Shangri-Las começariam a ser relançadas, em pleno início do punk novaiorquino. E – olha que máximo – elas foram parar no palco do CBGB’s, meca dos três acordes na cidade que nunca dorme.

Como isso foi acontecer? Bom, em 1977, os problemas jurídicos envolvendo o nome do grupo já tinham dado um tempo. E elas acabaram indo parar no estúdio, com o produtor Andy Paley, para gravar um LP que deveria sair pela Sire Records, o selo que lançara Ramones e Talking Heads. O disco nunca foi lançado, mas elas decidiram que queriam apresentar o repertório num palco. Paley procurou Hilly Kristal, dono do CBGB’s, e elas tocaram lá, ao lado do produtor na guitarra, de Jay Dee Dougherty na bateria e de Lenny Kaye no baixo.

>>> Saiba como apoiar o POP FANTASMA aqui. O site é independente e financiado pelos leitores, e dá acesso gratuito a todos os textos e podcasts. Você define a quantia, mas sugerimos R$ 10 por mês.

O retorno do trio foi bastante divertido para elas e para o público, formado por vários famosos da cena (Debbie Harry e Lou Reed estavam na plateia, aliás). Agora, parou por aí. Mary disse que, no papo com as gravadoras, percebeu que elas queriam transformar a banda num grupo disco, que era o som da moda. O que ninguém, principalmente as garotas, esperavam, era que um grupo chamado Shangri-Las, que não tinha nenhuma das integrantes originais na formação, começasse a se apresentar nas casas de shows dos EUA nos anos 1980. Olha aí o espanto delas ao dar de cara com a novidade, em 1989, no Entertainment Tonight.

Quem registrou o nome das garotas foi um produtor chamado Richard Fox. O sujeito fez uma consulta num INPI gringo e descobriu que o nome Shangri-Las não apenas não estava sendo usado como também nunca havia (oh deus) sido registrado. Aproveitando-se (muito) do vacilo das garotas e mandando qualquer dilema ético para a ponte que partiu, Fox registrou o nome. Em seguida, pôs um bando de meninas bem mais novas que as originais Shangri-Las para cantar os hits delas.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Naoko Yamano (Shonen Knife) fala com o POP FANTASMA sobre Nirvana, Ramones, videogames e pandemia

Pior: uma fita de vídeo de um show delas revelou para as originais Shangri-Las que as novatas não apenas cantavam as canções, mas comportavam-se no palco como se fossem as irmãs da formação original (dizendo coisas como “um dos nossos sucessos”, etc). No tal papo com o ET, Richard demonstrou ter sequestrado a banda: disse que lançara o tal cover mas que “se as meninas das Shangri-Las chegarem para mim e disserem que querem voltar… Ok, venham, vocês podem”. Seja como for, as três Shangri-Las restantes fizeram um show de comeback em 1989, mesmo com a concorrência fajuta. Mas depois, voltaram às suas vidas, famílias e empregos. E em 1996, aos 48 anos, Marge Ganser morreu.

Via Punk Girl Diaries

Cultura Pop

Relembrando: Public Image Ltd, “The flowers of romance” (1981)

Published

on

Relembrando: Public Image Ltd, "The flowers of romance" (1981)

Keith Levene, guitarrista que se dividiu em vários instrumentos nesse The flowers of romance, chegou a afirmar que o terceiro álbum de estúdio do Public Image Ltd é “provavelmente o disco mais anti-comercial já entregue a uma gravadora”. Faz sentido: The flowers mal pode ser chamado de punk ou pós-punk. Está mais para uma aventura experimental e percussiva, com músicas compostas apenas de voz e bateria (a claustrofóbica Four enclosed walls), voz, percussão, sinos e ruídos (Phenagen), voz, bateria e sons orquestrais tirados com virulência punk (a faixa-título), voz, bateria brutal e ruídos (Under the house).

  • Apoie a gente em apoia.se/popfantasma e mantenha nossos projetos e realizações sempre de pé, diários e saudáveis!

O som vai do mais assustador e climático ao mais documental, com sons ciganos e flamencos unidos a uma espécie de “música de selva”, dada pelo som da bateria e pelos vocais de John Lydon. Hymie’s him, com sintetizadores, percussões e batidas de latão, soa “industrial” anos antes de tal termo ficar famoso. Banging the door é um quase reggae que destaca o uso de sintetizadores Moog. Francis Massacre é literalmente um massacre sonoro, trazendo vocais lamentosos, batidas tribais e sons de guerra. A associação com a música e o imaginário hispânico surgem já na capa, que traz Jeannette Lee, empresária, gerente e melhor amiga da banda (e hoje sócia da gravadora Rough Trade), com uma flor na boca, e ameaçando o fotógrafo (e o/a ouvinte do disco) com um pilão.

Curiosamente, mesmo sendo um disco tão anti-pop, The flowers of romance (o nome é o mesmo de uma banda cata-corno punk que surgiu antes dos Pistols, e da qual Keith Levene e Sid Vicious fizeram parte) acabou tendo lá suas dimensões pop. O som da bateria já foi elogiado por Phil Collins (que trabalhou depois com o produtor do disco, Nick Launay), e soa quase como se tivesse sido produzido para cinema, e não para um álbum.

Esse som cinematográfico não rolou por acaso. A turma do PiL (na época, os inimigos íntimos Lydon e Levene, mais o baterista Martin Atkins) aproveitou todos os recursos de um novo brinquedo do empresário Richard Branson: o estúdio The Manor, literalmente um estúdio de ponta construído numa mansão histórica. Antes de começar, foram sete dias (de um total de dez dias agendados) “curtindo” um bloqueio de compositor que travou toda a banda. Jah Wobble, baixista do PiL e sujeito cheio de ideias, saiu pouco antes da gravação, o que piorou um pouco as coisas – por acaso, só duas faixas de Flowers (Track 8 e Banging the door têm o instrumento.

The flowers of romance marcou um período de bons investimentos na banda ainda que não vendessem tanto – 1983 foi inclusive o ano do duplo Live in Tokyo, gravado no Japão, e que rendeu até um homevideo, mania da época. Daí para a frente, era o PiL virando algo mais próximo daquele som que pode até tocar no rádio, mas assusta. E muito.

Continue Reading

Cultura Pop

Relembrando: Vários, “O espigão – trilha sonora nacional” (1974)

Published

on

Relembrando: Vários, "O espigão - trilha sonora nacional" (1974)

Até os dez primeiros capítulos (que foi até onde assisti), O Espigão, novela das 22h exibida pela Rede Globo em 1974, e escrita por Dias Gomes, tem ritmo de série bem construída e passagens que lembram Os Simpsons. Por sinal, com a chance de cada personagem ali conseguir ser o Homer por alguns minutos, ou por alguns capítulos. Os três primeiros capítulos são tomados por um cavernoso engarrafamento no Túnel Novo – que divide Botafogo e Copacabana, na Zona Sul carioca – no último dia de 1972. Hoje dá para ver tudo no Globoplay, que resgatou a trama.

No túnel, os personagens vão aparecendo para, mais do que construir a história, dar uma baita sensação de caos. Isso porque parece que quase ninguém ali costuma ser ouvido ou enxergado de verdade. No caso do trio de bandidos interpretado por Betty Faria, Ruy Resende e Milton Gonçalves, nem eles conseguem enxergar sua própria falta de talento para roubar os outros, mas isso é apenas um detalhe.

Para quem passou a vida ouvindo as trilhas sonoras de O Espigão, a nacional e a internacional, lançadas pela Som Livre naquele mesmo ano, o mais legal é ver a utilização nos capítulos das faixas da trilha nacional (um perfeito disco pop-rock-MPB). Pela cidade, tema instrumental e quase progressivo do Azymuth, surge na primeira cena, com o assombrado Léo (Claudio Marzo) chegando de navio de Sergipe, passando pela Baía de Guanabara. Nessa hora, destaque para o estranho cromaqui marítimo e para as imagens das barcas Rio-Niterói em alto-mar.

Retrato 3×4, primeiro quase-hit de Alceu Valença, e segunda ou terceira tentativa de sucesso do cantor, antes da fama, surge nas cenas do assalto frustrado do trio de bandidos. Versos como “rasgue meu retrato 3×4/porque eles vão pintar o sete com você” dão a sensação de que a turma formada por Lazinha (Betty), Nonô (Milton) e Dico (Ruy) é bem mais robin hoodiana do que pode parecer. Na sombra da amendoeira, de Sá & Guarabyra, na voz do grupo niteroiense Os Lobos, dá vontade de visitar o tal casarão antigo que é, de fato, o tema da novela.

Alfazema, tema folk do hoje astrólogo Carlos Walker, surge inicialmente numa cena de total lesação e abandono na cidade grande (por sinal no fim da Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, Zona Sul do Rio, bem antes do excesso de bares e carros). Já o tema de abertura, o hard rock orquestral O espigão, de Zé Rodrix, vem da transição entre os álbuns I acto (1973) e Quem sabe sabe, quem não sabe não precisa saber (1974), os dois primeiros do cantor – que geraram um show apresentado no Rio em março de 1974, ao lado da banda Agência de Mágicos.

O repertório da trilha de O espigão ainda inclui um excelente e hoje cancelável samba-rock (Malandragem dela, de Tom & Dito, que tocou muito no rádio na época), uma música que surge como protesto à gentrificação no Rio, mas que tem mais a ver com a poluição em São Paulo (Botaram tanta fumaça, de Tom Zé), um tema clássico composto por Tuca (Berceuse), um samba antirracista com letra de Nei Lopes (Você vai ter que me aturar, com Sônia Santos) e um sambão triste composto e cantado por Benito di Paula (Último andar).

O espigão fez tanto sucesso que a trilha nacional voltou às lojas várias vezes. Volta e meia dá para achar um vinil a preço barato em loja de usados, mas o álbum foi relançado em CD na série Som Livre Masters, com remasterização comandada por Charles Gavin. Hoje é um caso raro de trilha de novela nacional dos anos 1970 que pode ser vista e ouvida.

Continue Reading

Cultura Pop

No nosso podcast, os primeiros anos do Soft Cell

Published

on

No nosso podcast, os primeiros anos do Soft Cell

O Soft Cell tá vindo aí pela primeira vez. A dupla de Marc Almond e Dave Ball se apresenta no Brasil em maio, e vai trazer – claro – seu principal hit, Tainted love. Uma música que marcou os anos 1980 e vem marcando todas as décadas desde então, e que deu ao Soft Cell um conceito todo próprio – mesmo não sendo (você deve saber) uma canção autoral. Era um dos destaques de seu álbum de estreia, Non stop erotic cabaret (1981), um dos grandes discos da história do synth pop.

No nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, voltamos lá no comecinho do Soft Cell, mostramos a relação da dupla com uma das cidades mais fervilhantes da Inglaterra (Leeds) e damos uma olhada no que é que está impresso no DNA musical dos dois – uma receita que une David Bowie, T Rex, filmes de terror, Kenneth Anger, sadomasoquismo e vários outros elementos.

Século 21 no podcast: Red Cell e Noporn.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Continue Reading
Advertisement

Trending