Lançamentos
Ratos de Porão: protesto contra o poderio religioso no Brasil em “Jesus nazifascista”

O Ratos de Porão acaba de lançar um single, Jesus nazifascista, independente e licenciado para o selo espanhol Beat Generation. O disquinho traz duas faixas gravadas nas sessões do álbum Necropolítica, de 2022, e cujas letras falam sobre a aproximação entre religião e política: Veneno cristão e Poço da escuridão.
Essa última, por sinal, é uma subversão de Hecatombe genocida, música gravada em 2020 pelo supergrupo Revolta, criado pela guitarrista Prika Amaral (Nervosa). Na releitura dos Ratos, o arranjo ganhou semelhanças com o de Testosterona, música do repertório do Kleiderman (projeto que Sergio Britto e Branco Mello, dos Titãs, criaram nos anos 1990). Na letra, versos como “necropolítica/narcisista/eugenia/assassina/perpetuando a morte/e a pobreza eterna/Jesus Nazifacista/protege a milícia”.
O Beat Generation já havia lançado em maio um outro disco do Ratos, o ao vivo Ratos de Porão al Kasal, “gravado em meados dos anos 90 do século 20 na tranquila ilha de Maiorca” na ocupação local conhecida como Kasal Libertari (diz o setlist.com que o show foi gravado em 11 de agosto de 1996, época em que a banda lançava o par de discos Feijoada acidente?).
Crítica
Ouvimos: Vitoria Faria – “Vacas exaustas”

RESENHA: Vitoria Faria estreia solo com Vacas exaustas, disco que mistura forró, funk e jazz para falar de empoderamento, corpo, relações e dores do feminino.
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Acordeonista de São Paulo, Vitoria Faria estreia como cantora solo no álbum Vacas exaustas e aproveita para, em meio à farra de ritmos, mexer em feridas eternas do feminino. O forró experimental e eletrônico Elefante pelo cano tem letra cru e concreta sobre um relacionamento que não dá certo porque só uma das partes cede e tenta caber na vida da outra. Asas à cobra une funk, jazz e eletrônico pra falar de empoderamento. A faixa-título une jazz, tango e experimentação rítmica – ao lado de Flaira Ferro – em meio a versos como “sustentar na teta o peso do mundo de dose em dose”.
Já a percussiva Zap de família fala sobre piadas escrotas na mesa de casa e de escolhas fora do padrão que se transformam em assunto e fofoca nos Natais – ganhando certo clima de valsa quando a palavra “dança” surge na letra. No final, Sou mulher fala em “muito prazer / e esse prazer é só meu”, abrindo com vocais quase místicos, até que um acordeom e um piano elétrico transportam a melodia para a MPB de 1981. Em Dois centímetros, ela recebe Assucena para uma mescla de reggae, blues e forró, mantendo o clima experimental e rítmico do álbum. Gula, por sua vez, une experimentação de estúdio, empoderamento, sexo, tentação, dança, até que no final a própria gravação é “engolida”.
O som de Vitoria também chega perto do tecnobrega (unido com forró, funk e eletrônico) em Crise de amor, e margeia o som de Chico Science & Nação Zumbi e Planet Hemp em Gosto de fel, funk mangue com guitarras em wah wah e vocal-repente em clima de duelo dela consigo própria.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente / Tratore
Lançamento: 29 de maio de 2025
- Ouvimos: Marya Bravo – Eterno talvez
- Ouvimos: Josyara – Avia
- Ouvimos: Assucena – Lusco fusco
- Ouvimos: Flaira Ferro – Afeto radical
Crítica
Ouvimos: Samuel de Saboia – “As noites estão cada dia mais claras”

RESENHA: Disco de estreia de Samuel de Saboia mistura rock nordestino, MPB maldita, tropicalismo e pós-punk em um retrato intenso de desejo e identidade.
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As noites estão cada dia mais claras, primeiro álbum do pernambucano Samuel de Saboia, é um disco de rock brasileiro setentista lançado em 2025. Mas nada de Casa das Máquinas ou Made In Brazil. É uma estética de rock nordestino, influenciada por artistas malditos da MPB – a capa, com várias fotos, lembra o lay-out de Eu quero é botar meu bloco na rua, de Sérgio Sampaio, e o de Sweet Edy, de Edy Star – e que se utiliza de vibes e batidas latinas e ciganas em vários momentos.
O repertório de Samuel é construído em torno da força dos versos e dos vocais, como no clima épico de Vingança colorida (que prega: “vou mostrar como cobra pode voar”, em meio a violas e percussões) e na psicodelia espacial de Gira, evocando Paulo Diniz. Surge até algo de pós-punk em Deusa dos prazeres bobos – um dos melhores arranjos do disco, com metais simples e guitarra limpa lembrando Smiths.
Mesmo assim, a cara de As noites… é dada mesmo pela vibe tropicalista de faixas como Meteoros de haxixe (com andamento herdado de Taxman, dos Beatles) e Eu preciso de distância, ambas com vocais lembrando Edy Star e Gilberto Gil – a segunda é retomada ao fim do disco com uma releitura ao vivo.
Dando uma variedade maior ao disco, tem o clima quase soul de Amigo (que tem lembranças do já citado Sergio Sampaio), e a balada blues Rei de nada, que abre num clima parecido com o de Êxtase, de Guilherme Arantes, e vai mudando de cara. A força da voz de Samuel surge especialmente nos ecos e silêncios de Sangue, cheia de escalas árabes, e no beat nordestino, cantado em falsete, de Mainha.
As noites estão cada dia mais claras (definido por Samuel como um álbum de “desejo físico”) é repleto de descobertas e auto-descobertas. Ouça.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente.
Lançamento: 7 de maio de 2025
Crítica
Ouvimos: Marcos Lamy – “Braço de mar”

RESENHA: Marcos Lamy mistura forró, samba, rap e jazz com bom humor e criatividade no disco Braço de mar.
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O meio do ano chegou e, com ele, vão surgindo os discos legais para ouvir justamente na época das festas juninas. O maranhense Marcos Lamy, em Braço de mar, une o bom humor do forró a toques de outros estilos. Lá vem, logo na abertura, abre como forró-reggae e vai ficando mais ágil. O som parte para o forró marítimo da faixa-título, para a sacanagem de Mulecagem (com Lucas Ló) e para a união com samba de Passarinho (com os vocais de Clara Madeira).
Marcos lembra o desdobre universitário das sanfonas, triângulos e zabumbas em Dois beijos e, com Hermes Castro, acresenta um pouco da prosódia do rap em O que não é de mim, enquanto Virá traz um pouco da MPB setentista e lembra Caetano Veloso. Um lado mais experimental, por sua vez, surge em Baião dividido – com ritmo que vai ganhando intervalos pouco usuais até virar baião de vez – e no final, com o instrumental Olha o fole, Vinicius!, oscilando entre baião e jazz.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 22 de maio de 2025.
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