Lançamentos
Radar: Os Fugitivos, Rafa Militão, Lorena Moura, Janine Mathias, Abajur Always On

Hoje o Radar nacional está cheio de vozes femininas. Coincidência? Ou será que não? Talvez tenha sido, já que só fomos reunindo as melhores músicas que ouvimos durante a semana, e por acaso, todas apresentam mulheres cantando – até mesmo no caso de duplas ou grupos, como Os Fugitivos e Abajur Always On. Mas ainda tem as vozes solo de Janine Mathias, Rafa Militão e Lorena Moura na nossa seleção. Não ouça sozinha/sozinho: passe adiante.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Os Fugitivos): Thiago Mata e Nayane Ferreira/Divulgação
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OS FUGITIVOS, “ONDE ESTÁ VOCÊ”. Soul como antigamente, lembrando as primeiras gravações de Cassiano e Tim Maia, coisas da Motown e antigos grupos vocais – mas com texturas que você quase consegue pegar com a mão, e um ou outro detalhe que atualiza as gravações. É a onda da dupla alagoana Os Fugitivos, formada por Nayane Ferreira e Thiago Mata.
“Espero que as pessoas aproveitem ao lado de uma bela taça de vinho e um fondue de queijo”, brinca Thiago. Já Nayane destaca o solo de piano Rhodes: “É a minha parte favorita da música”, conta ela. Onde está você é um som romântico e caloroso, sobre amores e perdas, e que anuncia o próximo álbum da dupla, Sonhos & traumas, previsto para o ano que vem.
RAFA MILITÃO feat MARCIA SIQUEIRA, “HERANÇA”. “O Norte está vivo / O Norte é forte!”, sussurra a cantora, rapper, DJ e produtora cultural Rafa Militão, num tom que impõe movimento e foco a Herança, seu novo single. A faixa se abre como um rap pesado e veloz, mas logo se expande, absorvendo camadas de boi-bumbá, maracatu e guitarrada.
“Essa música nasceu do cruzamento das nossas vivências. É sobre mulheres reais, do Norte, que constroem com resistência e afeto. Me permito experimentar, cruzar linguagens e afirmar com ainda mais clareza quem sou e o que carrego comigo”, afirma Rafa, que divide a composição da faixa com a cantora amazônica Marcia Siqueira, cuja voz também surge na gravação. E Herança também ganha um curta-metragem com direção de Keila-Sankofa – que será exibido apenas presencialmente, em sessões com intérprete de Libras e público limitado, para que todo mundo viva a experiência junto, de verdade.
LORENA MOURA, “CARINHO”. Carioca, Lorena Moura apresenta hoje, pelo selo Cavaca Records, seu single de estreia, Carinho. A faixa transita entre o blues e o indie rock, equilibrando vocais delicados e solos de guitarra, romantismo e saudade, MPB e apelo pop. O resultado ganha ainda mais textura com as participações de Guilherme Lírio (guitarra) e Marcelo Costa (percussão).
A melodia de Carinho é de Lorena; a letra, dos poetas Luca Fustagno e Paula Reis Vianna. Parceiros desde 2020, Lorena e Luca iniciaram o trabalho em dupla justamente em Carinho. “Já era uma das favoritas entre os mais próximos e continuou assim nos shows”, conta a cantora. “Acho que representa bem meu trabalho. E é uma coincidência bonita nossa primeira composição em parceria ser também a primeira a ganhar o mundo”.
JANINE MATHIAS, “UM MINUTO”. O novo single da brasiliense Janine Mathias traz ecos da musicalidade de João Bosco, do início da carreira de Emílio Santiago e de João Donato. Um minuto é um samba que poderia embalar tanto um baile de samba-rock quanto uma gafieira: tem alma soul, guitarra marcante, piano cheio de balanço e um ritmo sustentado pelo diálogo entre voz, baixo e bateria. A faixa, composta e produzida por Rodrigo Campos, inclui ainda o histórico prato-e-faca na percussão. O single antecipa o próximo álbum de Janine, O rap do meu samba, previsto para 7 de outubro.
“Um minuto é sobre nossa vulnerabilidade amorosa, que também pode ser felicidade. Dor de amor é para ser reconhecida. A separação, com o tempo, desata os nós e transforma lembranças em um minuto capaz de traduzir a eternidade dos sentimentos que desejamos romper”, explica Janine, cuja voz amplifica a força poética da letra.
ABAJUR ALWAYS ON, “NO ALCANCE DE MIM”. Virgínia Perê (voz, guitarra, violão), Luís Feitoza (baixo, sintetizador) e Renato Marciano (bateria) vêm de Goiânia e fazem um art-rock delicado, que une belezas e sombras, entre a música brasileira, climas jazzísticos e detalhes do pós-punk e do post rock, trazendo emanações de bandas como Radiohead e Porridge Radio. As letras falam sobre “a complexidade do ser mulher e gente no mundo”.
O Abajur Always On é um grupo bem novo: o trio estreou nos palcos em setembro, na edição de 30 anos do festival Goiânia Noise, e lançou por lá seu introspectivo primeiro single, No alcance de mim. “Essa música reúne muito bem o que queremos fazer: uma música autoral disruptiva, com atmosfera própria, talvez indie, talvez pop, talvez rock”, diz a banda. Virgínia, na voz e na guitarra, soa às vezes como uma versão feminina de Jeff Buckley, com vocais surpreendentes e fantasmagóricos.
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Crítica
Ouvimos: 808 Punks – “Bater cabeça e rebolar” (EP)

RESENHA: 808 Punks mistura punk, funk e metal com letras feministas e batidões explosivos, unindo Slayer com MC Carol.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Bonde Music
Lançamento: 26 de setembro de 2025.
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“Minha bunda é minha arma, bunda é a revolução / bate cabeça e rebola o popozão”. Criada por figuras conhecidas da cena underground carioca, a banda 808 Punks (o “808” é uma referência à mitológica bateria eletrônica Roland TR-808) mexe num vespeiro que já havia sido movimentado em outros tempos por bandas como MC’s HCs, Funk Fuckers e DeFalla: a união de punk, funk, metal, distorções e cultura underground. E por falar no veterano grupo gaúcho, o vocalista Edu K foi o produtor de Bater cabeça e rebolar – recentemente 808 Punks e Edu, inclusive, fizeram turnê juntos.
- Ouvimos: Nova Twins – Parasites & butterflies
Não chega a ser uma receita original, mas o 808 Punks, que tem três vocalistas – André Paumgartten, Prixxx e Glenda Maldita – acrescenta à união punk-funk uma boa massa sonora, letras mobilizadas (como no feminismo porradeiro de Respeita as mina e no skate-punk-funk suburbano de Levanta o moicano), e uma visão atualizada do funk como movimento e comunidade, e não como um efeito óleo-e-água do rock. Lembranças de nomes como Planet Hemp vêm à mente durante a audição de Bater cabeça e rebolar, e não é por acaso – a cozinha do 808 Punks é formada justamente por Formigão (baixo, Planet) e Robson Riva (bateria, BNegão e Os Seletores de Frequência).
Nessa onda, batidões e distorções invadem faixas como Bater cabeça e rebolar e Geral com a mão pro alto, ambas soando como o exato encontro entre Slayer e MC Carol. Lembranças de Thieves, do Ministry, e da versão de Tédio (Biquini Cavadão) feita pelo Mr Catra, invadem, respectivamente, Respeita as mina e Levanta o moicano. Já Show de porrada e TPM, no final, põem mais empoderamento e feminismo na roda.
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Crítica
Ouvimos: Duquesa – “Six.”

RESENHA: Duquesa lança Six., disco curto com faixas afiadas: rap incisivo, versos contra racismo e patriarcado, ostentação e coragem em cada rima.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Boogie Naipe
Lançamento: 29 de agosto de 2025
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Lançado pela rapper baiana Duquesa como um álbum – apesar das sete faixas e da duração de quinze minutos – Six. soa mais como uma mixtape recheada de bons momentos e bons versos, até pela presença de um remix da faixa de abertura, Fuso, feito por TZ da Coronel e colocado no disco como a segunda faixa, logo após a original.
Se fosse um álbum lançado de forma tradicional, talvez representasse uma baita quebra de sequência. No universo de Duquesa, significa de tudo um pouco – pode significar até que a rapper quer ter certeza de que a letra, uma confissão sobre sucesso, viagens de avião, shows lotados e haters brotando de onde nem se imagina, foi muito bem compreendida. Isso porque Six. talvez seja o disco de rap brasileiro recente mais compromissado em espalhar brasa e mandar mensagens certeiras.
- Ouvimos: Stefanie – Bunmi
No espaço exíguo de Six., Duquesa briga com o patriarcado, esfrega a cara de racistas no chão, enfrenta um odiador gordofóbico com classe de vencedora (“um hater me falou que eu tava grande / eu disse: engoli a cena”). O som dela é majoritariamente formado de pau nos inimigos, um cala-boca para as recalcadas e foco na prosperidade, com células de desenvolvimento pessoal na sombria Number one (“não fico confortável nem depois do pódio / não viro inimiga do meu inimigo / não arrisco, só fecho negócio”), na mescla de ostentação e vida bandida de No meu club e até no romantismo de Tão quente.
O fim do disco tem duas boas surpresas: a primeira é o rap punk de Toda garota como eu, gravada ao lado da banda emo Iorigun, com Duquesa encaixando seu flow no ritmo do grupo. A outra é a porrada séria de Quantas coisas cabem na minha bag?, dance music com ótimos versos, incluindo pancadas desferidas em figuras nada carimbadas do mundo da música (“quantos racistas cabem em um hotel chique? / o mesmo que cabem em um voo pro sul / o mesmo que cabem num backstage / eles ditando quem é a número 1”) e frases para anotar e lembrar (“é revolucionário saber falar de sentimento / falar o que te incomoda”).
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Crítica
Ouvimos: Debby Friday – “The starrr of the queen of life”

RESENHA: Debby Friday mistura eletrônica dos anos 1980-2000 com sombras e luz, criando synthpop, house e momentos experimentais em seu segundo álbum, The starrr of the queen of life.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Sub Pop
Lançamento: 1 de agosto de 2025
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Nascida na Nigéria e radicada no Canadá, Debby Friday tem uma carreira relativamente nova – suas primeiras gravações saíram em 2018 e The starrr of the queen of life é seu segundo álbum. Por outro lado, seu som tem muita memória, colocando música eletrônica dos anos 1980, 1990 e 2000 quase lado a lado – sem deixar de inserir uma vibe sombria, que é capturada em instantes de melodia ou de letra. Ou nos vocais mais graves de Debby, que surgem alternados com momentos mais luminosos.
1/17, na abertura, dá mais valor aos teclados que às batidas (surgida só lá pelo terceiro minuto da faixa) e tem um clima mais misterioso do que dançante. All I wanna do is party é um house festeiro que tem toda essa alegria no título e nos beats, mas inicia de forma eletrônico-industrial. O tom cigano-latino de Algeria e Higher e a atmosfera vaporosa de Arcadia lembram fases diferentes da história de Madonna – incluídos nessa lista de possíveis referências o balanço de La isla bonita, a dance music sonhadora de Vogue e Ray of light, e mais alguns flashes capturados em segundos.
Essa união de luz e sombra rende alguns momentos mais experimentais em The starrr of the queen of life: o interlúdio de PPP, o clima industrial e o beat pesado de Lipsync, a vibe robótica da vinheta tamanho-família Leave… E, no final, a estética quase dance-punk de Darker the better, um synthpop oitentista distorcido e maldito que acha nas sombras o melhor resultado estético e existencial.
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