Lançamentos
Radar: Caroline Polachek, Of Monsters And Men, Wavepool, Paprika, Astra Vaga, The Hives, Rod Stewart

Semana passada tivemos um Radar a menos, por causa de problemas de força maior (e bota força maior nisso) no Pop Fantasma. De volta, vimos que como sempre tem MUITA música legal saindo e ficamos aqui tentando não atrasar muito para dar tudo que a gente acha legal – afinal, a grande vantagem de um radar musical é fazer um raio X abrangente de lançamentos, cabendo ainda alguns destaques que a gente acha por aí. Caroline Polachek abre a seleção, Rod Stewart termina, e no meio, gente nova ao lado de gente já conhecida, como a gente curte fazer.
Texto: Ricardo Schott – Foto Caroline Polachek: Reprodução Bandcamp
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CAROLINE POLACHEK, “ON THE BEACH”. Esse single celestial de Caroline foi feito para a trilha de Death Stranding 2: On The Beach, sequência do game de Hideo Kojima que chegou há pouco ao público. A faixa é uma colaboração com Danny L Harle e o próprio Kojima, também coautor. Kojima diz ter ficado fã de Polachek após escutar algumas de suas músicas – e depois que postou sobre sua admiração no Instagram, surgiu uma amizade e a proposta da compositora, de fazer algo para o game.
On the beach é uma balada pop melancólica, cheia de reverberações e efeitos nos vocais – que ora soam etéreos, ora robóticos, embora sempre operísticos. A música chega após colaborações recentes de Polachek com These New Puritans e Caroline., e integra uma trilha sonora que também traz nomes como Woodkid e Ludvig Forssell. Um encontro curioso entre música pop e universo gamer.
OF MONSTERS AND MEN, “TELEVISION LOVE”. De volta após o EP Tiu (2022), o Of Monsters and Men lança Television love, single que fala sobre as transformações num relacionamento. Gravada na Islândia, a faixa mistura cordas, percussão intensa e os vocais marcantes de Nanna Bryndís Hilmarsdóttir e Ragnar “Raggi” Þórhallsson. A canção soa como uma conversa emocional entre duas pessoas ao longo do tempo. O clipe, dirigido por Erlendur Sveinsson e filmado em 35mm, acompanha o grupo ao redor de uma mesa que passa por vários cenários, simbolizando as mudanças da vida – entre caos, calma e conexões que resistem ao tempo.
WAVEPOOL, “TINY COWBOY”. Essa banda francesa faz dream pop convicto: o negócio deles é mesmo trabalhar com imagens de sonho, em letra, música e em clipe. Tiny cowboy, uma faixa sobre “solidão e a busca por conexão, que acaba se transformando em uma celebração silenciosa de autodescoberta”, é inspirada em bandas como Beach House e tem um vídeo que a banda jura ter sido feito a partir de imagens anônimas de férias nas Maldivas, encontradas em uma antiga câmera de vídeo (daqueles de fita VHS mesmo), comprada em um mercado de pulgas. O primeiro álbum do Wavepool já está a caminho e consiste de música filtrada por “máquinas de sonhos impossíveis”. Ouça e voe.
PAPRIKA, “SILVER NEEDLE”. Vindo de Asheville, Carolina do Norte, o Paprika mistura energia pós-punk e climas sessentistas – e decididamente, fazem um som que gruda na cabeça após poucas audições. O EP Splitting at the seams, lançado por eles em 26 de junho, foi gravado e mixado em casa por eles mesmos, e prensado em vinil praticamente na unha, destacando Silver needle como uma pérola beat, ótima de pista, e com vocais (femininos) que exploram escalas quase ciganas e hispânicas.
ASTRA VAGA, “COR DE ROSA”. Pós-punk made in Portugal: depois de estrear com o single/clipe Lamento, o Astra Vaga, projeto criado pelo músico Pedro Ledo, retorna com Cor de rosa, nova faixa que também já ganhou vídeo. Se no single anterior, Pedro – que durante anos conciliou a música com um trabalho em escritório – falava sobre a vontade de jogar tudo pro alto e viver só de arte, dessa vez ele aborda o adeus às inocências. A música tem baixo forte e marcado, synths viajantes, guitarras econômicas e bateria robótica, e joga todo mundo de volta para os anos 1980. Já o clipe, dirigido por Pedro Adelino, é pura videoarte vintage.
THE HIVES, “LEGALIZE LIVING”. Que ataque de bateria na abertura! E que clipe ótimo os Hives fizeram dessa vez. Misturando punk rock, filmagem p&b, climas sombrios, perseguição policial e um toque de psicodelia, o vídeo de Legalize living foi dirigido pela mesma dupla do anterior, Paint a picture, Filip Nilsson e Henry Moore Selder. E se você tem se sentido um pouco a cada dia como Michael Douglas no filme Um dia de fúria, a ideia da banda (na faixa e no vídeo) é comentar justamente a respeito disso.
“Governos ao redor do mundo têm, lenta mas seguramente, tomado medidas para tornar a própria vida ilegal. Pare de normalizar essa normalização! Junte-se ao The Hives na campanha pela legalização do direito de viver em todos os países! As coisas precisam mudar agora!”, avisa a banda. The Hives forever The Hives, o próximo disco, sai dia 29 de agosto.
ROD STEWART feat RONNIE WOOD, “STAY WITH ME”. Tem quem chame os shows do veterano roqueiro de “caça-níqueis”, por causa do largo número de hits. Nada mais imbecil, visto que Rod tem mesmo é uma baita mão para estourar músicas e um carisma absurdo, além de uma carreira que já dura várias décadas.
Em show no festival de Glastonbury neste ano, ele arrasou no palco e contou com convidados-surpresa – entre eles seu velho companheiro dos Faces, Ronnie Wood (que desde 1975, você sabe, pertence a outra banda veterana). O guitarrista subiu no palco para relembrar Stay with me, hit dos Faces, com Rod. A BBC liberou o vídeo, que é coisa pra ver mais de mil vezes sem cansar.
Lançamentos
Urgente!: Primeira demo dos Pixies volta às lojas em vinil, CD e K7

A Purple tape, primeira demo dos Pixies, gravada em março de 1987, já foi lançada na íntegra algumas vezes – e desapareceu em seguida. Oito daquelas músicas se tornaram o primeiro disco dos Pixies, Come on pilgrim (1987). O restante saiu no EP Pixies, lançado em 2002 pelo selo independente SpinART – e depois tudo foi saindo na íntegra em reedições da fitinha.
Pois bem, em comemoração ao National Album Day (dia 18 de outubro) todo o material da Purple tape vai voltar às prateleiras. O LP Demos – The purple tape ‘87 retorna em vinil, K7 e CD, com nova capa, além de liner notes explicando toda a origem da banda – tudo pelo selo Cooking Vinyl.
Quem quiser correr atrás de um exemplar, manda bala porque já está em pré-venda. Preço, claro, nem está em discussão (imagina o frete disso pro Brasil!). Além das músicas do Come on pilgrim, versões iniciais de Subbacultcha, Here comes your man e Down to the well estão lá, assim como o tema do filme Eraserhead, de David Lynch, In heaven (Lady in the radiator song).
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A história da Purple tape é cheia de detalhes pitorescos. Os Pixies (Black Francis, voz, guitarra; Kim Deal, voz e baixo; Joey Santiago, guitarra; David Lovering, bateria) eram uma banda louca a ponto de Kim Deal, a única a se candidatar ao cargo de baixista, nunca nem sequer ter pegado no instrumento antes do teste. O grupo já andava fazendo alguns shows por bares de Boston, quando foi notado por um produtor-olheiro chamado Gary Smith, que decidiu levar a banda pro estúdio.
O tal estúdio era o Fort Apache, administrado por músicos ligados a uma banda chamada Sex Execs – um deles, Paul Kolderie, foi técnico de gravação da Purple tape. O nome do estúdio foi inspirado no filme Fort Apache, The Bronx, um policial protagonizado por Paul Newman, que no Brasil se chamou Inferno no Bronx. Não era só uma brincadeirinha à toa: o estúdio tinha sido montado numa área barra-pesada de Boston, daí a referência (o Fort Apache ainda existe, mas funciona em New Hampshire, um dos seis estados da chamada Nova Inglaterra, nos EUA).
Apesar do local ter só uma máquina de oito canais, a turma do estúdio resolveu arrumar um gravador de 16 canais. Problemas: todo mundo teve que aprender a mexer no aparelho rapidamente, e o aluguel era caríssimo. Para baratear os custos, a Purple tape foi gravada durante seis dias e seis noites, com técnicos e musicos morrendo de sono e… de frio. Isso porque os aquecedores do estúdio eram tão barulhentos, que a solução era desligá-los durante as sessões. Se você sempre achou que os vocais de Black Francis eram desesperados demais em músicas como Levitate me, a explicação é essa.
Antes da gravadora britânica 4AD ouvir os Pixies e decidir lançar parte do material, houve algumas tentativas com outros selos. Kim Deal, usando o sistema de correio do escritório onde trabalhava, mandou a fitinha pra SST Records (Minutemen, Hüsker Dü) mas a gravadora não curtiu o som. Detalhe: Ivo Watts-Russell, dono da 4AD, adorou os Pixies mas relutou em contratá-los. Isso porque a gravadora já tinha no elenco os Throwing Muses – também de Boston, por sinal – e ele achou o som dos Pixies “roquenrol” demais para um selo que cujo catálogo tinha Dead Can Dance e Cocteau Twins.
Quem salvou os Pixies foi a namorada de Ivo, que era secretária do selo e convenceu o executivo. Ivo topou, mas lançou somente oito canções da Purple tape, por achar que o resto do material ainda era muito amador – e mandou remixar tudo. Nasceu então o EP Come on pilgrim e o resto é história (uma história aliás, que você conhece no episódio do nosso podcast Pop Fantasma Documento sobre os Pixies – ouça no Deezer, no Castbox e no Mixcloud).
Para satisfazer os fãs menos endinheirados dos Pixies, as músicas da Purple tape que não foram parar em Pilgrim estão nas plataformas. Não ajuda muito, mas…
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
Lançamentos
Radar: Christine Valença, John, Budang, Flor ET, Cleozinhu, SAMO, João Ramos

Tem mudanças vindo por aí no Radar para tornar a seção mais dinâmica – um negócio que ainda estamos desenvolvendo. Nossa playlist não só não vai parar, como ainda por cima vai ficar um pouco mais próxima dos lançamentos. Dessa vez, vamos do samba experimental da carioca Christine Valença ao pop do brasiliense João Ramos, numa viagem pelos novos sons.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Christine Valença): Divulgação
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CHRISTINE VALENÇA, “BUBBLEGUM STADIUM”. Christine Valença volta diferente e mais audaciosa em seu novo single: Bubblegum stadium é um samba torto, experimental, ou um “samba-rock alternativo”, como ela mesma conta. O clipe, dirigido por Juliana Colina, traz uma versão em vídeo da letra da faixa.
“Escrevi a música durante um longo período de experimentos, tentativas e erros, em torno da voz e do violão ritmado, ainda quando fechava as músicas que entraram no meu primeiro álbum autoral. Gostei dessa possibilidade que foi surgindo e me inspirei um pouco no jeito de cantar do Jorge Ben Jor, e do Gil, sempre grandes referências para mim”, diz.
JOHN, “PRECISO MUDAR”. John, não: Dr. Adael Jhonatan. Irmão de Jackson Pinheiro, um dos fundadores da banda Supercombo, John é advogado e chegou a exercer a profissão – trocada hoje definitivamente pela música. Seu álbum Na trave une indie pop e vibes brasileiras em faixas abertas e solares, que falam de relacionamentos amorosos como quem fala da vida lá fora. Preciso mudar, uma das faixas, já ganhou ate visualizer – aliás John está disponibilizando semanalmente um vídeo de cada uma das nove faixas.
BUDANG, “MAGIA/BUDANGÓL”. Preparando um primeiro álbum – a sair pela Deck – essa banda de hardcore de Floripa volta unindo som pesado, pressão, vocais guturais, um balanço próximo do funk e micropontos de psicodelia em seu novo single, Magia/Budangól. Na verdade, é um single meio duplo. “Budangól é como se fosse uma continuação de Magia e sempre são tocadas juntas, têm a mesma vibe. Ela fala sobre nós, tipo uma música de apresentação da gente e do rolê”, diz o guitarrista Vinicius Lunardi.
FLOR ET, “CANSADA”. “Tô cansada de provar o meu valor (…) / e lá vou eu levantar e encarar a batalha diária / peleiar na praça, mostrar que de onde eu vim a terra é fértil pra plantar”. Com a vigorosa Ada Bellatrix nos vocais, essa banda de Porto Alegre une protesto feminista e anti-capitalista, punk, ska, psicodelia e beats brasileiros em seu novo single, que anuncia o álbum Brazapunk – previsto para chegar às plataformas no dia 19 de setembro. O álbum foi produzido entre Rio Grande do Sul (por Alexandre Birck) e Minas Gerais (por Barral Lima) e é definido pela banda como “uma celebração à liberdade artística e uma provocação ao mercado.
CLEOZINHU, “DIAS FRIOS”. Integrante de bandas como Guandu, Manobra Feroz e Duo Chipa, Cleozinhu prepara novo álbum para 11 de setembro, Fragmentos de estrela, e adianta os trabalhos com Dias frios, single que une referências que vão do emo (na construção da melodia) ao trap (nos beats e na voz tratada eletronicamente). A instrumentação da faixa brinca com a noção de “instrumentos fake”: guitarra, baixo e bateria são simulações de instrumentos reais, tudo criado com midi. Já a letra é bem humana e real, falando de inseguranças pessoais e de perdas.
SAMO feat LAURA PADARATZ, “BEM VINDO À GANGSTA PARTY”. Vinda de Santa Catarina, a banda SAMO decidiu fazer de sua nova música – e de seu novo clipe – um manifesto ao humor ácido. Bem vindo à gangsta party mexe com os símbolos do gangsta rap dos anos 1990 e tem influências de nomes como Dr. Dre, Snoop Dogg e Tupac. A ideia da música é também contar um pouco da história do grupo, de maneira descontraída, sempre falando do lado festeiro da turma. Laura surge contribuindo nos vocais e também participa do clipe, feito de forma bem independente – Felipe Reis, o Dip, um dos integrantes da banda, dirigiu e roteirizou.
JOÃO RAMOS, “ONDA BOA”. Integrante de bandas como Caos Lúdico e Paranoia Bomb, João cai dentro do pop nacional e das misturas musicais em seu primeiro single solo. Onda boa, afirma João, “comemora a liberdade de sentir sem pressa, sem traumas, sem clichês, seguindo seu ritmo e confiando no tempo”. Rodrigo Txotxa (Natiruts, e ex-Plebe Rude e Maskavo Roots) toca bateria na faixa, que ainda traz Fellipe Souljah nos violões, Jorge Zulim Bittar nos teclados e na produçao, e Malu Cascardo nos backing vocals.
Crítica
Ouvimos: John Fogerty – “Legacy: The Creedence Clearwater Revival years (John’s version)”

RESENHA: John Fogerty, aos 80 anos, recupera direitos das músicas de sua ex-banda Creedence Clearwater Revival e relança vinte clássicos em versões idênticas às originais.
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Aos 80 anos, John Fogerty, ex-vocalista, guitarrista, compositor e déspota do Creedence Clearwater Revival, conseguiu ganhar finalmente todos os direitos sobre suas composições da época do grupo – sim, porque todos os hits autorais da banda foram compostos por ele. Para comemorar, o músico decidiu regravar 20 canções do CCR na base da “versão do John”.
Na prática, são substituições, e não versões. Em Legacy: The Creedence Clearwater Revival years (John’s version) Fogerty revisitou canções como Have you ever seen the rain, Born on the bayou, Proud Mary, Lodi, Who’ll stop the rain, Green river e Fortunate son em leituras quase 100% iguais aos originais – em timbres, arranjos, detalhes e até gritos e uivos. Facilita o fato da voz de John estar igualzinha a antigamente. Detalhe: até no Bandcamp as músicas novas estão – visão, o cara tem.
- Ouvimos: The Doobie Brothers – Walk this road
- Ouvimos: Faces – Faces at the BBC: Complete BBC concert and session recordings 1970-1973
Alguma diferença do original? Bom, Long as I can see the light teve uma pequena mudança de tom, Have you ever seen the rain teve mudanças discretas nas linhas vocais do refrão, e de modo geral todas as músicas ganharam mais peso na bateria e nas guitarras – mas praticamente tudo soa como os originais dos anos 1960 e 1970 remixados ou remasterizados.
De modo geral, não é um lançamento dos mais úteis para fãs antigos – serve mais como um demarcador de independência, já que John oferece aos fãs as versões gravadas por ele. O complicado é entender como se comportar diante de um lançamento que reembala o material oldies e apenas isso. Acaba tendo mais graça ouvir os antigos álbuns do Creedence.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: Concord
Lançamento: 22 de agosto de 2025
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