Crítica
Ouvimos: Sue, “Quando vc volta?”

- Quando vc volta? é o segundo álbum da multi-instrumentista Sue, que tem origem francesa e reside no Brasil. O disco tem participações de Dharma Jhaz (flauta e voz na faixa First steps, saxofone na faixa Alias), e Desirée Marantes (sintetizador na faixa Pulse).
- O álbum é formado por doze faixas instrumentais. “Muitas das estruturas das músicas nasceram de improvisos nos palcos e nas lives, e aos poucos a necessidade de ter um registro dessas canções e poder compartilhá-las se fez cada vez mais presente. Mas sendo mulher, artista e imigrante é difícil começar, imagine continuar?”, comenta.
Basicamente, dá para dizer que Quando vc volta?, álbum de Sue, é um disco de imagens, ou pelo menos de imagens sonoras. As doze faixas do álbum, mais do que serem instrumentais, são abstrações musicais, que dão notas, efeitos e beats a imagens e sentimentos.
Tudo às vezes resumido pelos títulos e pelos efeitos musicais das faixas, como o barulho de corda de relógio em Morning tears, o ritmo quase cardíaco de Pulse, o som quase mágico e (vá lá) new age de First steps, o batidão psicodélico e simultaneamente relaxante de Colo. E a colagem sombria, marcada por batidas orientais, de Vida morte vide. Muito embora Quando vc volta? deixe muita coisa a ser completada pela imaginação do ouvinte.
Uma curiosidade é que Sue, francesa de nascimento, segue um caminho pessoal no álbum, que pode ser vista justamente nos nomes das músicas, abrindo com o francês de Je fais ce que je peux (“eu faço o que posso”), e chegando às faixas com títulos em português, talvez aludindo a vivências dela no Brasil. O fusion eletrônico e étnico de Aliás, o som quase ASMR da viajante Araucária e os samples e batidas da percussiva Gigantesca, por acaso faixas que soam como trilhas sonoras, formam uma espécie de filme musical particular de Sue.
O material do disco soa como algo que, se reproduzido ao vivo, pode acabar ganhando uma cara multimídia, em imagens ou palavras – não por acaso, Sue é fotógrafa, o que com certeza influenciou no processo de criação.
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
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Crítica
Ouvimos: Ludmilla – “Fragmentos”

RESENHA: Disco novo de Ludmilla, Fragmentos é um lançamento de transição, em que o r&b aparece unido a elementos do passado – e não domina o álbum inteiro.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de novembro de 2025
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Ponto básico: não soma pontos pra ninguém fazer dueto com Luisa Sonza – mas Ludmilla parece duvidar disso e convidou a loura para soltar a voz em Calling me, a faixa mais fraca desse disco novo dela, Fragmentos. Outro ponto: Fragmentos está longe de ser um disco fraco (como alguns críticos apontaram). Também não é “o disco de r&b” de Ludmilla, apesar dela lançar músicas no estilo e de ter falado umas verdades sobre como o estilo é tratado no Brasil (não existe parada de r&b brasileiro, a cena eternamente parece espremida entre rap e funk, etc).
Na real, Fragmentos parece um disco de transição, em que Ludmilla não parece querer deixar de lado os fãs que conquistou cantando pagode. O estilo surge como subtexto até mesmo em faixas pop como Cheiro de despedida e A pior parte, na vibe trap de Whisky com água de choro e na baladinha chorosa Falta eu (cuja letra fala de amores lésbicos secretos e oprimidos). Não é à toa: o pagode dos anos 1990 surgiu no meio da nova onda de boy bands, e vários grupos tinham fotos de divulgação e capas de discos (e mapas de palco) próprios de artistas que cantam dançando. R&B e pagode, no Brasil, nunca foram tão separados assim.
- Ouvimos: Katy da Voz e As Abusadas – A visita
Em alguns momentos, dá pra imaginar que Ludmilla andou ouvido bastante Clairo e Billie Eilish – tem muita coisa em Fragmentos que parece com elas, só que numa linguagem de funk, trap, pagode e r&b. Rola no folk fofo de Tudo igual, no soul tristonho e bedroom de A pior parte. O r&b extremamente autêntico vai surgindo aos poucos no disco. Tem o pop romântico leve de Paraíso, o samba-pop Coisa de pele, os vocais criativos de Dopamina – mas o que fica mais na mente é o batidão violento de Energy, gravada com as rappers Ajuliacosta e Duquesa, mostrando que a mescla entre r&b e peso sonoro herdado do rap é um caminho mais legal para um próximo disco. Como rola também em Meu defeito, som de briga no estilo de Cardi B.
Uma curiosidade no disco é o final, com Textos longos – r&b em que Ludmilla, em tempos de zap zap, se empodera e diz que “nunca mais serei aquela mina que perde noites em claro no telefone esperando a sua ligação”. O pop nunca vai deixar de falar de frustrações amorosas e respostas que não vêm fácil – e às vezes fala da maneira mais clássica.
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Crítica
Ouvimos: Partido da Classe Perigosa – “Dízimo” (EP)

RESENHA: Dízimo, EP do Partido da Classe Perigosa, ataca falsidades religiosas com rap-punk pesado, críticas ácidas e faixas que vão do hardcore ao post-rock.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 7 de novembro de 2025.
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Saiu o EP gospel do grupo de rap-punk Partido da Classe Perigosa. Bom, quase isso: Dízimo é um disco que gira em torno de falsidades das religiões, bancada da Bíblia, igrejas que pedem salários inteiros como dízimos e coisas do tipo.
Línguas estranhas surgem na vinheta Evangelho, que abre o disco – e logo em seguida, a porrada sombria Bíblia e terno propõe o micro-ondas como solução para vacilões de terno, gravata e Bíblia debaixo do braço. “Jesus era um cara tão legal / não é possível que esse cara ia trabalhar pra sucursal / Jesus só andava com pobre e marginal / tocou o terror no templo, vinho e peixe pra geral”. Sucursal, hardcore-rap, tem os vocais de Glenda (808 Punks) e mostra a voz do “outro lado”, com a gravação de uma voz pedindo ao fiel que ofereça o dinheiro de seu aluguel durante um ano, todos os meses – para depois supostamente conseguir uma casa própria.
No final, o rap-post rock-metal La maison est tombée é o “a casa caiu” de uma turma que já esteve no topo da cadeia alimentar: “hora de arrumar tua zona / queimar estar notas frias e jogar fora o celular (…) / sete pragas vai ser pouco pro que vem de arrasta”. Porrada nos cornos.
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Crítica
Ouvimos: Sunflowers – “You have fallen… Congratulations!”

RESENHA: Sunflowers misturam garage, indie, surf e no wave num disco feroz: riffs à la Black Sabbath, barulho gelado, psicodelia suja e pancadas egg punk.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Fuzz Club
Lançamento: 7 de novembro de 2025
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Os Sunflowers vêm de Portugal, mas parecem saídos de alguma garagem ou sala de ensaios em Nova York. You have fallen… congratulatons! une garage rock, indie rock, surf music e mumunhas de no wave em poucos minutos. Chameleon kids, na abertura, tem algo de Idles e The Hives. I got friends é uma surf music gelada, com barulho à frente. Corpse light é porrada de verdade, com um riff que lembra Lord of this world, do Black Sabbath, emendando num som quase punk gótico, quase darkwave.
- Ouvimos: Biloba – Sala de espera
A therapist’s special abre com ruídos de guitarra – parece até que vem algo eletrônico ou industrial na sequência dos ruídos, mas é um rock com cara psicodélica, vira-lata e garageira. March of the drones também ameaça algo bem eletrônico e psicodélico – o que vem são lembranças do riff de Peter Gunn (Henry Mancini) envoltas em lembranças de Black Sabbath. Workworkwork é uma porrada quase egg punk, com sintetizador sujo. No final, as microfonias de You have fallen… e as distorções altas de Congratulations!, as duas faixas-título.
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