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Marthe Sessions: apresentando o novo som do Piauí

O Marthe Festival teve três edições físicas entre 2017 e 2019, com mais de 50 apresentações musicais em mais de dez espaços de Cultura de Teresina (Piauí). O evento volta em edição de bolso neste fim de semana, e – por causa do aumento de casos na pandemia – rola apenas online. O Marthe Sessions vai trazer cinco nomes da região: Bia e Os Becks, Caju Pinga Fogo, Florais da Terra Quente, Monte Imerso e Narcoliricista.
A ideia é ocupar espaços: no sábado (22, meio-dia) e no domingo (23, ás 15h) o evento rola em pré-estreia na TV Assembleia. A gravadora Hominis Canidae Rec, realizadora do evento, vai transmitir tudo no dia 29 em seu canal do YouTube. Além disso, vão sair EPs ao vivo com as apresentações, igualmente distribuídos pelo selo em todas as plataformas.
Batemos um papo com Diego Pessoa, produtor do evento, e ele contou um pouco pro Pop Fantasma o que tá vindo aí – e quais são os planos para esse 2022 ainda repleto de dúvidas seríssimas, ainda mais na área da cultura.
Como tá sendo fazer o Marthe Sessions online e como foi o preparo para isso?
Tá sendo uma parada muito mais cinema do que evento e música/ festival. O projeto é uma ideia até anterior a pandemia, mas o projeto era bem mais modesto do que acabou acontecendo agora. Sempre achei que seria interessante registrar em vídeos artistas daqui, inclusive em performances ao vivo realmente, nos espaços que fui nas vezes que vim aqui em Teresina antes de morar. Rolavam uns lances bem interessantes que surgiam meio que do nada.
Com a pandemia, bolei o projeto no intuito de apresentar um pouco da nova cena piauiense para o Brasil e também mostrar um ponto turístico ou um espaço bonito de Teresina pra quem é de fora e por que não da cidade. Teresina é extremamente espalhada, os moradores daqui nem sempre conhecem todos os espaços da cidade, então na minha cabeça era a forma de eu conhecer espaços e apresentar. Foi aí que surgiu o Parque da Cidade, um lugar enorme e arborizado que no dia lá da session, descobri que várias pessoas estavam indo lá pela primeira vez ou não iam lá a muitos anos. É um lugar que está meio abandonado pela população e pelo poder público, que eu espero que volte a ser mais vivo.
Houve um momento em que se acreditava, no fim do ano, que os eventos presenciais iriam voltar com força total, etc. Como estavam os planos de vocês nessa época? Havia a ideia de fazer uma edição presencial das sessions?
Eu sou biólogo e pesquisei e trabalhei com doenças virais durante boa parte da minha graduação e toda minha pós-graduação. Atrelado a isso, sempre estive envolvido com cultura, seja consumindo e indo em eventos ou produzindo. Eu estou trabalhando full produção cultural / jornalismo cultural desde o final de 2016/ início de 2017 quando vim morar por aqui em Teresina, então estou um pouco enferrujado na parte científica. Mas com a pandemia, comecei a ler diversos artigos no NCBI (Banco de dados internacional que era aberto na universidades de todo o brasil, por conta o governo Dilma), e a capacidade de se espalhar e de gerar novas cepas dessa doença eram bem impressionantes. Então juntando isso e o fato de que a cultura sempre é colocada de lado no Brasil, mais ainda em um período de governo acultural e não científico, nunca estive esperançoso nessa volta com força total.
Viveremos em ondas, acredito que é um momento para fortalecer cenas locais, e acho que será assim nesse ano e talvez no próximo, tudo para conter essa violência extrema do Covid. Então são shows pequenos, com artistas locais ou da região, exatamente para não ter uma bolha tão extensa. Eu acredito nisso e era nesse sentido que estava pensando fazer eventos nesse período de pandemia e pós.
O Marthe teve três edições físicas e todas as bandas que estão nesse projeto já se apresentaram na mostra em algum dos anos.
Qual o conceito do Marthe Festival? O que vocês tinham em mente quando o evento foi montado?
O Marthe Festival surgiu em 2017, quando comecei a me inserir na cena cultural da cidade como morador. Tinha chegado em Teresina em Outubro de 2016 e após virar o ano, comecei a fazer contato com pessoas que já conhecia aqui por conta do Hominis ou pelo fato de ter vindo aqui algumas vezes antes de vir para morar. Como falei, a cidade aqui é bem espalhada e grande, existem diversas cenas (sonoras e regionalizadas) distintas. A ideia era unir linguagens sonoras diferentes no mesmo palco. E não só musical, mas expandir para outros tipos de artes e se espalhar pela cidade.
Como eu tinha contato com o pessoal que organizava o Dia da Música e já tinha realizado palco dentro do evento, resolvi inserir a Marthe como sendo o primeiro palco do Dia da Música no estado do Piauí. O primeiro ano foi um palco no Espaço Cultural Noé Mendes, que fica na Universidade Federal do Piauí, com entrada franca e conseguimos apoio com a prefeitura de Teresina na época. Foram 10 shows com bandas de Teresina, Parnaíba (cidade do litoral do Piauí), Fortaleza e João Pessoa.
Em 2018, tivemos apoio da Prefeitura para palco e som do festival, mas zero apoio financeiro e mesmo assim tivemos o festival com diversas bandas de diversos estilos da cidade, 2 oficinas e palestras gratuitas, uma exposição da artista que fez a arte daquele ano e uma mostra de cinema e música. Tudo de graça com doação de quilos de alimento.
Em 2019 tivemos o nosso primeiro edital, que nos garantiu uma verba de R$ 35 mil reais que foi aplicada na realização de shows em vários espaços de Teresina, com bandas que nunca tinham passado pela cidade como Rakta, Curumim, Guitarrada Das Manas, niLL, Dj Buck, MC Nabru, Jair Naves, Lupe de Lupe, D_M_G, em pelo menos 5 palcos diferentes, se misturando com vários artistas locais e realizando palestras, oficinas e ações gratuitas nesse período, além dos shows com preços simbólicos. A ideia em 2019 foi abrir as portas da cidade para as bandas de fora e também tentar fazer mais bandas daqui conseguirem ir para fora, quebrando essa barreira geográfica. Infelizmente a pandemia atrapalhou tudo, mas surtiu efeito o evento a ponto da gente ter planejado algumas tours pelo nordeste e apresentação na cidade com 4 atrações que nunca tinham vindo aqui no primeiro semestre de 2020, o que obviamente não rolou.
Agora não sabemos se iremos voltar a fazer shows um dia, até por que não sabemos se temos condições de realizar isso.
Como foram selecionadas as bandas dessa session?
Eu gosto muito da proposta das 5 atrações da sessão. Gosto do som, gosto delas ao vivo, acho a mistura interessante e são projetos plurais e que mostram um pouco da identidade cultural do piauí e da mistura de som que é essa cidade. Monte Imerso é um indie rock psicodélico lo-fi aqui do bairro onde moro em Teresina, meninos jovens e cheios de talento. A Florais da Terra Quente é um coletivo de jovens artistas e músicos que escrevem e compõe muito bem e bebem na música regional e brasileira de outros tempos.
O Narcoliricista é meu MC favorito aqui do Piauí, tem uma marra bem hip hop, com uma sonoridade mais boom-bap que eu gosto mais e com boas letras e performance de palco. A banda de Pífanos Caju Pinga fogo é um pouco mais antiga que as anteriores e um dos caras da banda sempre esteve envolvido nos corres da Marthe nos outros anos. Fora que ao vivo é muito legal a mistura de regionalismo com modernidade que eles impõem, mesmo usando elementos tradicionais como pífano, rabeca e percussão. A Bia e os Becks tem dez anos de rolê já e só melhoram a cada apresentação que eu vejo. O som é bem pop e dançante, bem agitado ao vivo, então casou bem com o balanço da proposta.
A ideia era ter três atrações a mais, mas não sabia que o edital da Aldir Blanc de Teresina iria ter o corte total de imposto de renda de 25% do projeto, então tivemos um corte substancial no valor solicitado para proposta e reduzimos algumas ações. Mas tá bonito do mesmo jeito.
A ideia do evento é poder trabalhar com todas as plataformas? Vai rolar exibição na TV, no YouTube, EPs ao vivo.
Sim, a ideia é trabalhar o máximo de plataformas possíveis. Por que a ideia é divulgar a música autoral piauiense para o máximo de pessoas possíveis. Conseguimos colocar a session na TV Assembleia, numa pré-estreia em 2 datas para todo o Piauí na TV aberta. No sábado (22 de Janeiro), meio dia e no domingo (23), às 15h. Depois, o projeto será lançado dia 29 de Janeiro, às 20h, no canal do Youtube do Hominis Canidae. E em fevereiro iremos disponibilizar os sons que foram gravados por canais de forma profissional, mas mantendo aquela vibe que eu adoro de bootleg ao vivo em todos os streams pelo selo Hominis Canidae REC. Um EP de 3 faixas de cada uma das bandas, pra mais gente consumir a música piauiense no máximo de locais possíveis. Eu queria passar no cinema também, mas infelizmente não rola aglomerar no ar condicionado no momento.
Algum plano para 2022? Como estão as movimentações para o evento neste ano?
Por enquanto é trabalhar a session e sentir o terreno cultural brasileiro esse ano, mês a mês, semestre a semestre, com a ideia de shows menores e com atrações mais regionalizadas se possível. Aproveitar que é ano de eleição pra tentar fazer o país voltar para um momento mais cultural e humano e seguir se vacinando, mantendo a saúde em dia. É o que dá pra fazer e pensar no momento. E tentar pagar as contas e viver nesse momento distópico do Brasil, onde o problema é mais politico do que pandêmico, infelizmente. Mas bora mudar no voto esse ano, assim espero.
Lançamentos
Radar: Stereolab, Retail Drugs, False Advertising, Lianne La Havas, Strawberry Alarm Clock

Chegamos ao fim de semana e… sim, teve muita música boa nos últimos dias. Sexta é dia de novos lançamentos, então ainda tem muita coisa aí para ser ouvida. Chamamos a atenção em especial para os novos clipes do Stereolab, que transformou seu novo single em dois vídeos. E para a volta triunfal do Strawberry Alarm Clock, um clássico da psicodelia sessentista. Ouça e passe adiante.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Stereolab): Divulgação
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STEREOLAB – “FED UP YOUR JOB” / “CONSTANT AND UNIFORM MOVEMENT UNKNOWN”. Se você acha que o single lado A duplo lançado recentemente pelo Stereolab precisava de clipes… Não precisa mais, porque a banda já lançou clipes para ambas as faixas. O single duplo Fed up with your job / Constant and uniform movement unknown, que chegou às plataformas no dia 12 de setembro. A primeira faixas é uma mescla perfeita de pop elegante e krautrock, a segunda carrega mais ainda nas referências de pop francês e música dos anos 1960. Já os clipes são um primor de psicodelia, sobreposição de imagens, desenhos e… perigo para pessoas fotossensíveis (cuidado ao assistir).
RETAIL DRUGS, “ANTI-LONELY”. Projeto ruidoso criado pelo artista nova-iorquino Jake Brooks, o Retail Drugs tem um álbum novo pronto para sair, Factory reset (dia 5 de dezembro pela Angel Tapes / Fire Talk). Anti-lonely, single do álbum, ganhou também um clipe, daqueles que dão nervoso por mostrar a realidade de forma bem desorientadora. Na prática, é só Jake acordando, escovando os dentes e ficando de olho em tudo que acontece na internet, com o celular na mão. “Ele foca em como é difícil seguir as tendências online. A internet é um anjo que, no final, arranca minhas cordas vocais da garganta, levando minha voz embora”, conta Jake, que encheu a faixa de gritos e de climas perturbadores.
FALSE ADVERTISING, “THE SORRY WINDOW”. O que acontece se uma banda unir rock britânico dos anos 1980 e um certo clima grunge? No caso do False Advertising, de Manchester, o que surge é beleza e introspecção, além de muita nostalgia não apenas do passado, mas de chances que surgiram e foram perdidas com o tempo – tudo isso no single novo, The sorry window. Destaque para a voz celestial da vocalista Jen Hingley, e para o clipe da faixa, cheio de escapismo e saudade.
LIANNE LA HAVAS, “DISARRAY”. “Essa música me pareceu muito íntima, quase como um segredo só meu. Ela fala sobre vulnerabilidade, honestidade e sobre permitir que as pessoas tenham um vislumbre de um momento da minha vida”, conta Lianne sobre seu novo single, Disarray. E já que a música era uma experiência íntima, a britânica Lianne decidiu gravar tudo ao vivo, só ela e a guitarra, e nada mais, num clima de jazz e pop sofisticado. O lançamento inaugura o selo da cantora, Kalo Mina, expressão grega que significa “mês bom” e se refere a uma crença local de que a pessoa se renova no começo de cada mês.
STRAWBERRY ALARM CLOCK, “MONSTERS” / “WHITE LIGHTS”. Lenda nem sempre tão lembrada da psicodelia californiana dos anos 1960, marcada pelo hit Incense and peppermints, o Strawberry resiste até hoje, e – detalhe – com uma formação tão fiel às origens quanto possível. O grupo circula por aí com quatro integrantes que tocaram na gravação do primeiro álbum, também chamado Incense and peppemints (1967). Até mesmo Mark Weltz, principal compositor, vocalista e tecladista, ainda está à frente do grupo. E voltam agora com um single triplo, puxado pela música Monsters – um tema gotico-psicodélico que lembra uma mescla de George Harrison e Beach Boys com a fase Phantasmagoria do grupo punk The Damned.
O disquinho sai pelo selo Big Stir Records. Outro detalhe interessante: a faixa faz parte também de uma coletânea de Halloween do selo, Chilling, thrilling hooks ans haunted harmonies, cheia de temas assustadores e zoeiros. E o lado B do single, além do radio edit de Monsters, ainda tem uma espécie de progressivo stoner, a maravilhosa White lights.
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Lançamentos
Urgente!: Sex Noise tem sua primeira demo resgatada nas plataformas digitais

RESUMO: Selo Caravela Records lança demo de 1993 do Sex Noise nas plataformas, e vai reeditar aos poucos a discografia do grupo.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Eliane Bittencourt/Divulgação
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Os anos 1990 no Brasil eram uma época muito, mas muito louca – diria que assustadora de tão louca e ousada. Está aí a existência do Sex Noise, uma das bandas mais representativas do punk carioca da época, que não deixa ninguém mentir.
Franzino costela, único hit do grupo, acabou sendo também um raro hit do punk do Rio (era aquela do “meu pai me batia / com vara de vergalhão / vara de araçá e cabo de vassoura”). E o início da história da banda chega às plataformas, com o lançamento digital da demo Pultanovinzona, gravada em outubro de 1993 e vendida originalmente apenas no formato K7. O relançamento é do selo carioca Caravela Records, que pôs a demo no ar nesta sexta (3), e resgatou até a arte original da fita. E vai disponibilizar aos poucos a discografia da banda nas plataformas.
Pultanovinzona, cujo título é exatamente isso que você está pensando (e que refletia a maneira como o grupo se via naquele universo indie carioca), foi gravada pela formação inicial do grupo: Larry Antha (voz, letras), Alex Dusky (guitarra, e também autor do desenho usado na capa da demo), Mario Jr (baixo) e Henrique Santos (bateria). O repertório, além de Franzino, inclui músicas como Sacrossanto saco, Papai não me dava papá, O porco, Vovô Hemetério e Dia sem sol – esta, incluída depois apenas na coletânea de bandas novas Paredão, lançada pela EMI em 1996.
“Essa é primeira demo oficial da Sex Noise. Antes rolou uma demo-ensaio com quatro canções, que foram regravadas na Pultanovinzona, por isso a banda considera esse registro nosso debut”, conta Larry. Numa época em que não havia CD-R e o K7 era o único suporte para banda novas que ainda não haviam sido contratadas, o cantor recorda que o Sex Noise chegou a perder o controle das vendas das fitinhas.
“Lembro-me que fizemos num primeiro momento 200 cópias. Elas esgotaram rapidamente. E depois acho que ficamos fazendo cópias em casa mesmo. Havia também uma demanda de demos para resenhas em fanzines e revistas – Rock Brigade, Bizz, Roll – pelo Brasil”, conta ele. A banda começou a receber cartas de vários lugares do país, de gente querendo comprar a fita. “Tempos depois soube pelo Duda, ex-baterista da Pitty, que ele vendeu centenas de demos da Sex Noise em sua loja em Salvador”.
O Sex Noise era uma banda mais do que distante dos grandes centros: surgiu entre 1990 e 1991 em Inhoaíba, bairro da Zona Oeste do Rio, localizado entre Cosmos e Campo Grande. Os shows eram dados em lugares como Bangu e São João de Meriti, além do mitológico Garage Art Cult – este mais pertinho, na região da Praça da Bandeira. A gravação de Pultanovinzona foi feita em Vaz Lobo, bairro da Zona Norte do Rio. As cópias iniciais da fita foram feitas numa copiadora de K7s “que, se eu não me engano, era no Campinho, em Madureira”, conta Larry.
”Fizemos tudo em dois finais de semana no estúdio Quadrante, por indicação do Ronaldo Chorão, da (banda) Gangrena Gasosa. Na época todas as bandas da cena gravaram nesse estúdio”, conta o vocalista, lembrando que o processo de composição do grupo sempre foi bastante democrático. A única quase-regra era a de que a banda faria as melodias e ele as letras – mas segundo Larry, até isso surgiu por acaso.
“Nosso lance era tirar um som o mais sujo e cru possível, mas que tivesse ritmo e potência musical. Éramos totalmente influenciados por bandas como Joy Division, Bauhaus, Alien Sex Fiend, The Cure, Sisters of Mercy, Cocteau Twins, etc. Eu trouxe para a Sex Noise minha influência de bandas nacionais como DeFalla, Vzyadoq Moe, Smack, Mercenárias, Fellini. E isto fez a Sex Noise começar a ter uma cara própria”, conta.
Pulando de buraco em buraco no Rio, o Sex Noise acabou indo parar no Circo Voador, a convite de Marcelo D2 e do falecido Skunk, ambos em plena atividade com o Planet Hemp. Detalhe: a banda foi gritar “eu apanhava todo dia!” (refrão de Franzino costela) num show em homenagem a Jim Morrison, vocalista dos Doors. “Ninguém curtia The Doors. As bandas fizeram um show de massacre a banda. Eu xingava a plateia hostil com a pérola ‘The Doors de cu é rola!’. O Planet Hemp quebrou um quadro com a imagem do Jim Morrison que estava no palco”, conta.
Larry lembra que há anos ouvia de um amigo querido (justamente BNegão, do Planet Hemp e dos Seletores de Frequência) que deveria jogar a demo na web. “Ouvi-la hoje será quase uma viagem numa cápsula do tempo”, diz. O grupo lançou um álbum pelo selo indie Tamborete, de Rafael Ramos (hoje Deck) e Leonardo Panço, Uno palmo d’lacraya (1997) e depois fez outros álbuns independentes, mas acabou se separando. Franzino costela foi regravada pela banda punk paulistana Inocentes no álbum O barulho dos Inocentes, só de covers de punk brasileiro (2001).
Dudv Oliveira, um dos sócios do selo Caravela, lembra que conheceu a fita ainda nos anos 1990. “Acho que algum amigo do Colégio Pedro II me emprestou”, diz. Disponibilizar o material do Sex Noise é mais um passo da gravadora no resgate de material raro e inédito de artistas independentes. “Fizemos parecido com a demo da minha banda Fora De Lado (Demotape ‘93) e com um LP do paraibano Naldinho Freire, Lapidar (1995)”, conta ele, adiantando que no fim de outubro sai outra demo do Sex Noise. “Vamos relançar Psychedelic congolo, lançada originalmente em 1995”, diz.
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Lançamentos
Radar: Os Fugitivos, Rafa Militão, Lorena Moura, Janine Mathias, Abajur Always On

Hoje o Radar nacional está cheio de vozes femininas. Coincidência? Ou será que não? Talvez tenha sido, já que só fomos reunindo as melhores músicas que ouvimos durante a semana, e por acaso, todas apresentam mulheres cantando – até mesmo no caso de duplas ou grupos, como Os Fugitivos e Abajur Always On. Mas ainda tem as vozes solo de Janine Mathias, Rafa Militão e Lorena Moura na nossa seleção. Não ouça sozinha/sozinho: passe adiante.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Os Fugitivos): Thiago Mata e Nayane Ferreira/Divulgação
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OS FUGITIVOS, “ONDE ESTÁ VOCÊ”. Soul como antigamente, lembrando as primeiras gravações de Cassiano e Tim Maia, coisas da Motown e antigos grupos vocais – mas com texturas que você quase consegue pegar com a mão, e um ou outro detalhe que atualiza as gravações. É a onda da dupla alagoana Os Fugitivos, formada por Nayane Ferreira e Thiago Mata.
“Espero que as pessoas aproveitem ao lado de uma bela taça de vinho e um fondue de queijo”, brinca Thiago. Já Nayane destaca o solo de piano Rhodes: “É a minha parte favorita da música”, conta ela. Onde está você é um som romântico e caloroso, sobre amores e perdas, e que anuncia o próximo álbum da dupla, Sonhos & traumas, previsto para o ano que vem.
RAFA MILITÃO feat MARCIA SIQUEIRA, “HERANÇA”. “O Norte está vivo / O Norte é forte!”, sussurra a cantora, rapper, DJ e produtora cultural Rafa Militão, num tom que impõe movimento e foco a Herança, seu novo single. A faixa se abre como um rap pesado e veloz, mas logo se expande, absorvendo camadas de boi-bumbá, maracatu e guitarrada.
“Essa música nasceu do cruzamento das nossas vivências. É sobre mulheres reais, do Norte, que constroem com resistência e afeto. Me permito experimentar, cruzar linguagens e afirmar com ainda mais clareza quem sou e o que carrego comigo”, afirma Rafa, que divide a composição da faixa com a cantora amazônica Marcia Siqueira, cuja voz também surge na gravação. E Herança também ganha um curta-metragem com direção de Keila-Sankofa – que será exibido apenas presencialmente, em sessões com intérprete de Libras e público limitado, para que todo mundo viva a experiência junto, de verdade.
LORENA MOURA, “CARINHO”. Carioca, Lorena Moura apresenta hoje, pelo selo Cavaca Records, seu single de estreia, Carinho. A faixa transita entre o blues e o indie rock, equilibrando vocais delicados e solos de guitarra, romantismo e saudade, MPB e apelo pop. O resultado ganha ainda mais textura com as participações de Guilherme Lírio (guitarra) e Marcelo Costa (percussão).
A melodia de Carinho é de Lorena; a letra, dos poetas Luca Fustagno e Paula Reis Vianna. Parceiros desde 2020, Lorena e Luca iniciaram o trabalho em dupla justamente em Carinho. “Já era uma das favoritas entre os mais próximos e continuou assim nos shows”, conta a cantora. “Acho que representa bem meu trabalho. E é uma coincidência bonita nossa primeira composição em parceria ser também a primeira a ganhar o mundo”.
JANINE MATHIAS, “UM MINUTO”. O novo single da brasiliense Janine Mathias traz ecos da musicalidade de João Bosco, do início da carreira de Emílio Santiago e de João Donato. Um minuto é um samba que poderia embalar tanto um baile de samba-rock quanto uma gafieira: tem alma soul, guitarra marcante, piano cheio de balanço e um ritmo sustentado pelo diálogo entre voz, baixo e bateria. A faixa, composta e produzida por Rodrigo Campos, inclui ainda o histórico prato-e-faca na percussão. O single antecipa o próximo álbum de Janine, O rap do meu samba, previsto para 7 de outubro.
“Um minuto é sobre nossa vulnerabilidade amorosa, que também pode ser felicidade. Dor de amor é para ser reconhecida. A separação, com o tempo, desata os nós e transforma lembranças em um minuto capaz de traduzir a eternidade dos sentimentos que desejamos romper”, explica Janine, cuja voz amplifica a força poética da letra.
ABAJUR ALWAYS ON, “NO ALCANCE DE MIM”. Virgínia Perê (voz, guitarra, violão), Luís Feitoza (baixo, sintetizador) e Renato Marciano (bateria) vêm de Goiânia e fazem um art-rock delicado, que une belezas e sombras, entre a música brasileira, climas jazzísticos e detalhes do pós-punk e do post rock, trazendo emanações de bandas como Radiohead e Porridge Radio. As letras falam sobre “a complexidade do ser mulher e gente no mundo”.
O Abajur Always On é um grupo bem novo: o trio estreou nos palcos em setembro, na edição de 30 anos do festival Goiânia Noise, e lançou por lá seu introspectivo primeiro single, No alcance de mim. “Essa música reúne muito bem o que queremos fazer: uma música autoral disruptiva, com atmosfera própria, talvez indie, talvez pop, talvez rock”, diz a banda. Virgínia, na voz e na guitarra, soa às vezes como uma versão feminina de Jeff Buckley, com vocais surpreendentes e fantasmagóricos.
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