Connect with us

Cinema

Graham Simpson, o baixista desaparecido do Roxy Music, ganha documentário

Published

on

Graham Simpson, o baixista desaparecido do Roxy Music, ganha documentário

Talvez só os fãs muito roxos do Roxy Music lembrem disso, mas no primeiro disco, o epônimo LP de 1972, a banda tinha um baixista, Graham Simpson, que desapareceu. Sim: semanas após o lançamento do disco, com uma turnê à vista, o músico praticamente desertou da banda.

Simpson não era um músico tão aleatório na história do Roxy Music assim, não. Pelo contrário: foi ele quem fundou o projeto junto com o vocalista Bryan Ferry, seu amigo de adolescência. Bryan pôs anúncio no jornal em 1970 recrutando músicos para tocar com ele e Simpson, e o que seria depois o Roxy Music começou dessa forma. Logo de cara, ao começar a trabalhar com Simpson, Ferry ficou impressionado com o gosto do amigo por jazz. Graham tinha uma coleção enorme de discos e era fã de Eric Dolphy.

Olha aí o baixista tocando numa Peel Session com uma das primeiras formações do Roxy Music, pouco antes da banda gravar o primeiro disco.

O que a banda não contava era que Graham fosse se tornar um sujeito cada vez mais ensimesmado e retraído com o passar dos anos, e que estivesse assim durante todo o ano de 1972 – que era para ser a época de virada da banda. Graham estava sofrendo de depressão por causa da morte da mãe por câncer. Acabou deixando o grupo.

Durante vários anos, pelo menos para os fãs mais ligados em fichas técnicas e formações de bandas, Graham se tornou um fantasma. Pouca gente sabia, porque ele ficou sumido por vários anos, mas o músico usou a grana dos royalties do primeiro álbum para viajar pelo mundo e conhecer diferentes culturas e religiões, em especial o sufismo. E também, diz Ferry, envolveu-se com drogas psicodélicas.

O Roxy Music, por sua vez, seguiu adiante com um pequeno rodízio de baixistas. Imediatamente assumiu o instrumento um cara chamado Rik Kenton, que só gravou o single Virginia plain e saiu da banda.

Voltando a Graham, o músico, além da depressão (que ele costumava chamar de “fadiga mental”) tinha problemas muito sérios. Em Marrakech, quando viveu por lá, tentou arrombar um cofre e chegou a ser preso. Em 1982 voltou a Londres e passou a levar uma vida modesta. Nem mesmo Bryan chegou a ter muito contato com ele desde então, e o próprio Simpson não sabe direito o que rolou para que ele tivesse vontade de sair. Chegou a dizer que estava doido demais para ter noção do que fazia. Morreu em 16 de abril de 2012, aos 68 anos, deixando mais dúvidas do que certezas. Pouco antes disso, estava internado numa clínica de saúde mental.

Uma novidade que pode esclarecer alguns mistérios em torno de Graham é que, após dez anos de produção, deve sair neste ano Mighty, documentário sobre o ex-baixista do Roxy Music. A diretora Miranda Little havia trabalhado num curta sobre ele, Nothing but the magnificent, ao lado de Sara Cook.

Partindo do material feito por Sara, Miranda está concluindo o filme, que ela garantiu (num post de Facebook) que sai esse ano. Bryan Ferry, que chegou a declarar que Simpson daria um bom personagem de Jack Kerouac, deu vários depoimentos ao filme, sempre exaltando o amigo. Olha aí o trailer.

O filme ainda está envolto em mistérios, mas sabe-se que Graham é retratado como uma lenda, ganhando elogios de vários amigos, apesar de ninguém entender direito porque é que ele deixou a banda. Colegas como Phil Manzanera, guitarrista do Roxy Music, contam que Simpson sempre foi um músico excepcional. Em cenas do trailer, Graham mostra-se bastante cabisbaixo a maior parte do tempo, mas esboça um sorriso quando observa antigos recortes de jornal e quando posa com o baixo. Um herói da música até o fim.

Cinema

Ouvimos: Raveonettes – “PE’AHI II”

Published

on

Ouvimos: Raveonettes - "PE'AHI II"

RESENHA: Os Raveonettes mergulham de vez no lo-fi e shoegaze em PE’AHI II, disco que soa mais próximo de uma transição do que de uma realização.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Raveonettes, aquela dupla que misturava distorções a la Jesus and Mary Chain, clima melodioso herdado dos anos 1950 e estética do filme Juventude transviada, lembra? Pois bem, eles guiaram o timão de vez para gêneros como shoegaze e lo-fi. Não é algo estranho ao som deles, vale falar. Climas “serra elétrica” sempre tiveram lugar nos discos de Sune Rose Wagner e Sharin Foo. PE’AHI II, novo disco, é a continuação de PE’AHI, disco de 2014 que já promovia suas invasões nessas áreas. Sem falar que 2016 atomized – disco anterior de inéditas da banda, 2017 – surfava essa onda.

Só que o Raveonettes de 2025 chega a soar experimental, mesmo quando abre o novo disco com uma balada nostálgica e melancólica, Strange. E na sequência, o ruído programado de Blackest soa como uma curiosa mescla de blackgaze e pop de câmara. Já Killer é uma nuvem de microfonias que lembra bandas como Drop Nineteens, só que com mais cuidado na melodia.

Entre as outras curiosidades do disco, estão o noise rock programado de Dissonant, a viagem sonora e distorcida de Sunday school e a onda sonora de microfonia (alternada com toques dream pop) de Ulrikke. O resultado final deixa um ar de EP, de mixtape, mais do que de um álbum completo e realizado dos Raveonettes. Ainda que PE’AHI II tenha momentos ótimos, soa mais como uma transição para o que vem por aí.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Beat Dies Records
Lançamento: 25 de abril de 2025

  • Ouvimos: The Raveonettes – Sing…
  • Ouvimos: Drop Nineteens – 1991
  • Ouvimos: Drop Nineteens – Hard light

 

Continue Reading

Cinema

Urgente!: Cinema pop – “Onda nova” de volta, Milton na telona

Published

on

Urgente!: Cinema pop – "Onda nova" de volta, Milton na telona

Por muito tempo, Onda nova (1983), filme dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia – e censurado pelo governo militar –, foi jogado no balaio das pornochanchadas e produções de sacanagem.

Fácil entender o motivo: recheado de cenas de sexo e nudez, o longa funciona como uma espécie de Malhação Múltipla Escolha subversivo, acompanhando o dia a dia de uma turma jovem e nada comportada – o Gayvotas Futebol Clube, time de futebol formado só por garotas, e que promovia eventos bem avançadinhos, como o jogo entre mulheres e homens vestidos de mulher. Por acaso, Onda nova foi financiado por uma produtora da Boca do Lixo (meca da pornochanchada paulistana) e acabou atropelado pela nova onda (sem trocadilho) de filmes extremamente explícitos.

O elenco é um espetáculo à parte. Além de Carla Camuratti, Tânia Alves, Vera Zimmermann e Regina Casé, aparecem figuras como Osmar Santos, Casagrande e até Caetano Veloso – que protagoniza uma cena soft porn tão bizarra quanto hilária. Durante anos, o filme sobreviveu em sessões televisivas da madrugada, mas agora ressurge restaurado e remasterizado em 4K, estreando pela primeira vez no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (27).

Meu conselho? Esqueça tudo o que você já ouviu sobre Onda nova (ou qualquer lembrança de sessões anteriores). Entre de cabeça nessa comédia pop carregada de referências roqueiras da época, um cruzamento entre provocação punk e ressaca hippie. O filme abre com Carla Camuratti e Vera Zimmermann empunhando sprays de tinta para pixar os créditos, mostra Tânia Alves cantando na noite com visual sadomasoquista, segue com momentos dignos de um musical glam – cortesia da cantora Cida Moreyra, que brilha em várias cenas – e trata com surpreendente modernidade temas como maconha, cultura queer, relacionamentos sáficos, mulheres no poder, amores fluidos e, claro, futebol feminino.

Se fosse um disco, Onda nova seria daqueles para ouvir no volume máximo, prestando atenção em cada detalhe e referência. A trilha sonora passeia entre o boogie oitentista e o synthpop, com faixas de Michael Jackson e Rita Lee brotando em alguns momentos. E o que já era provocação nos anos 1980 agora ressurge como registro de uma juventude que chutava o balde sem medo. Vá assistir correndo.

*****

Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes, que estreou na última semana, segue outro caminho: o da reverência, mesmo que seja um filme documental. Durante dois anos, Flavia seguiu Milton de perto e produziu um retrato que, mais do que um relato biográfico, é uma celebração. E uma hagiografia, aquela coisa das produções que parecem falar de santos encarnados.

A narração de Fernanda Montenegro dá um tom solene – e, enfim, logo no começo, fica a impressão de um enorme comercial narrado por ela, como os daquele famoso banco que não patrocina o Pop Fantasma. Aos poucos, vemos cenas da última turnê, reações de fãs, amigos contando histórias. Marcio Borges lê matérias do New York Times sobre Milton, para ele. Wagner Tiso chora. Quincy Jones sorri ao falar dele. Mano Brown solta uma pérola: Milton o ensinou a escutar. E Chico Buarque assiste ao famigerado momento do programa Chico & Caetano em que se emociona ao vê-lo cantar O que será – um vídeo que virou meme recentemente.

Isso tudo é bastante emocionante, assim como as cenas em que a letra da canção Morro velho é recitada por Djavan, Criolo e Mano Brown – reforçando a carga revolucionária da música, que usava a imagem das antigas fazendas mineiras para falar de racismo e capitalismo. Mas, no fim, o que fica de Milton Bituca Nascimento é a certeza de que Milton precisava ser menos mitificado e mais contado em detalhes. Vale ver, e a música dele é mito por si só, mas a sensação é a de que faltou algo.

Por acaso, recentemente, Luiz Melodia – No coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, investiu fundo em imagens raras do cantor, em que a história é contada através da música, sem nenhum detalhe do tipo “quem produziu o disco tal”. Mas o homem Luiz Melodia está ali, exposto em entrevistas, músicas, escolhas pessoais e atitudes no palco e fora dele. Quem não viu, veja correndo –  caso ainda esteja em cartaz.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Continue Reading

Cinema

Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Published

on

Urgente!: Filme "Máquina do tempo" leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.

As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.

E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.

Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.

O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).

Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.

A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.

Continue Reading
Advertisement

Trending