Som
Dadabots: black metal criado por inteligência artificial

Já ouviu falar do Dadabots? Se você já está pensando “que grupo é esse que eu nunca ouvi antes?”, calma. Apesar de eles terem lançado um CD de black metal chamado Coditany of timeless, não se trata de uma banda. É uma plataforma para artistas artificiais que, por meio do método de “deep learning”, compôs as cinco faixas do álbum. Olha aí o disco do, er, grupo para você ouvir.
E como foram feitas as faixas? A plataforma pegou as músicas de uma banda de verdade, Krallice, lançadas no disco Diotima, de 2011. Tudo foi quebrado em 3.200 pedaços de oito segundos, que serviram para alimentar a rede neural artificial. Trata-se de um sistema de algoritmos que faz simulação da rotina dos neurônios humanos, e estabelece redes de conexões que respondem a estímulos externos e internos. Nisso, a máquina utilizou um processo matemático conhecido como Cadeia de Markov para prever a próxima nota musical baseando-se apenas na atual. Resumindo, como diz o The Outline, o tal algoritmo é burro musicalmente o suficiente para não conseguir sequer ganhar uma resenha negativa na Pitchfork, mas é inteligente o suficiente para capturar a estética do som.
Tá aí o disco que foi a fonte do Dadabots nesse projeto.
Já isso aqui é um disco chamado Deep the Beatles, que mexe e subverte com tudo na obra dos quatro de Liverpool. É como se um ser humano estivesse mexendo num dial de rádio e tentando achar os sons do grupo. É outro disco, er, curioso do Dadabots.
Isso aí é o que CJ Carr, um dos criadores do algoritmo, classifica como “revolução de aprendizagem profunda na arte”, na tal matéria da The Outline. Ele diz que no começo, os sons produzidos eram “muito barulhentos, grotescos e texturizados”, mas que fazendo suposições sonoras aos borbotões – foram cinco milhões ao longo de três dias – o som começou a se parecer mais com uma banda de black metal comum.
Crítica
Ouvimos: Vitoria Faria – “Vacas exaustas”

RESENHA: Vitoria Faria estreia solo com Vacas exaustas, disco que mistura forró, funk e jazz para falar de empoderamento, corpo, relações e dores do feminino.
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Acordeonista de São Paulo, Vitoria Faria estreia como cantora solo no álbum Vacas exaustas e aproveita para, em meio à farra de ritmos, mexer em feridas eternas do feminino. O forró experimental e eletrônico Elefante pelo cano tem letra cru e concreta sobre um relacionamento que não dá certo porque só uma das partes cede e tenta caber na vida da outra. Asas à cobra une funk, jazz e eletrônico pra falar de empoderamento. A faixa-título une jazz, tango e experimentação rítmica – ao lado de Flaira Ferro – em meio a versos como “sustentar na teta o peso do mundo de dose em dose”.
Já a percussiva Zap de família fala sobre piadas escrotas na mesa de casa e de escolhas fora do padrão que se transformam em assunto e fofoca nos Natais – ganhando certo clima de valsa quando a palavra “dança” surge na letra. No final, Sou mulher fala em “muito prazer / e esse prazer é só meu”, abrindo com vocais quase místicos, até que um acordeom e um piano elétrico transportam a melodia para a MPB de 1981. Em Dois centímetros, ela recebe Assucena para uma mescla de reggae, blues e forró, mantendo o clima experimental e rítmico do álbum. Gula, por sua vez, une experimentação de estúdio, empoderamento, sexo, tentação, dança, até que no final a própria gravação é “engolida”.
O som de Vitoria também chega perto do tecnobrega (unido com forró, funk e eletrônico) em Crise de amor, e margeia o som de Chico Science & Nação Zumbi e Planet Hemp em Gosto de fel, funk mangue com guitarras em wah wah e vocal-repente em clima de duelo dela consigo própria.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente / Tratore
Lançamento: 29 de maio de 2025
- Ouvimos: Marya Bravo – Eterno talvez
- Ouvimos: Josyara – Avia
- Ouvimos: Assucena – Lusco fusco
- Ouvimos: Flaira Ferro – Afeto radical
Crítica
Ouvimos: Samuel de Saboia – “As noites estão cada dia mais claras”

RESENHA: Disco de estreia de Samuel de Saboia mistura rock nordestino, MPB maldita, tropicalismo e pós-punk em um retrato intenso de desejo e identidade.
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As noites estão cada dia mais claras, primeiro álbum do pernambucano Samuel de Saboia, é um disco de rock brasileiro setentista lançado em 2025. Mas nada de Casa das Máquinas ou Made In Brazil. É uma estética de rock nordestino, influenciada por artistas malditos da MPB – a capa, com várias fotos, lembra o lay-out de Eu quero é botar meu bloco na rua, de Sérgio Sampaio, e o de Sweet Edy, de Edy Star – e que se utiliza de vibes e batidas latinas e ciganas em vários momentos.
O repertório de Samuel é construído em torno da força dos versos e dos vocais, como no clima épico de Vingança colorida (que prega: “vou mostrar como cobra pode voar”, em meio a violas e percussões) e na psicodelia espacial de Gira, evocando Paulo Diniz. Surge até algo de pós-punk em Deusa dos prazeres bobos – um dos melhores arranjos do disco, com metais simples e guitarra limpa lembrando Smiths.
Mesmo assim, a cara de As noites… é dada mesmo pela vibe tropicalista de faixas como Meteoros de haxixe (com andamento herdado de Taxman, dos Beatles) e Eu preciso de distância, ambas com vocais lembrando Edy Star e Gilberto Gil – a segunda é retomada ao fim do disco com uma releitura ao vivo.
Dando uma variedade maior ao disco, tem o clima quase soul de Amigo (que tem lembranças do já citado Sergio Sampaio), e a balada blues Rei de nada, que abre num clima parecido com o de Êxtase, de Guilherme Arantes, e vai mudando de cara. A força da voz de Samuel surge especialmente nos ecos e silêncios de Sangue, cheia de escalas árabes, e no beat nordestino, cantado em falsete, de Mainha.
As noites estão cada dia mais claras (definido por Samuel como um álbum de “desejo físico”) é repleto de descobertas e auto-descobertas. Ouça.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente.
Lançamento: 7 de maio de 2025
Crítica
Ouvimos: Marcos Lamy – “Braço de mar”

RESENHA: Marcos Lamy mistura forró, samba, rap e jazz com bom humor e criatividade no disco Braço de mar.
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O meio do ano chegou e, com ele, vão surgindo os discos legais para ouvir justamente na época das festas juninas. O maranhense Marcos Lamy, em Braço de mar, une o bom humor do forró a toques de outros estilos. Lá vem, logo na abertura, abre como forró-reggae e vai ficando mais ágil. O som parte para o forró marítimo da faixa-título, para a sacanagem de Mulecagem (com Lucas Ló) e para a união com samba de Passarinho (com os vocais de Clara Madeira).
Marcos lembra o desdobre universitário das sanfonas, triângulos e zabumbas em Dois beijos e, com Hermes Castro, acresenta um pouco da prosódia do rap em O que não é de mim, enquanto Virá traz um pouco da MPB setentista e lembra Caetano Veloso. Um lado mais experimental, por sua vez, surge em Baião dividido – com ritmo que vai ganhando intervalos pouco usuais até virar baião de vez – e no final, com o instrumental Olha o fole, Vinicius!, oscilando entre baião e jazz.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 22 de maio de 2025.
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