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Crítica

Ouvimos: Hellacopters, “Overdriver”

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Ouvimos: Hellacopters, “Overdriver”

Lembra do Sweet? A banda glam britânica está por aí, lançando discos e fazendo shows – mas largou o estilo que marcou sua história em prol de um hard rock meia-boca (resenhamos o disco mais recente deles aqui). Os escandinavos dos Hellacopters, por sua vez, levam sua carreira adiante de modo a que o Sweet possa ser quase sempre apontado como principal referência. Afinal, é glam rock básico, com influências dosadas de sons pesados oitentistas, e um glacê que aponta também para Kiss (bastante) e Be Bop De Luxe (muito, de verdade – inclusive as guitarras lembram as de Bill Nelson, guitarrista e artífice do Be Bop).

A sorte é que depois de tantos anos de carreira, o Hellacopters não largou nada de mão e continua fiel ao seu estilo – uma opção que, no caso de outras bandas, poderia parecer passadismo barato, mas aqui soa como um ferramental bem usado. O novo álbum Overdriver, em alto e bom som, remete a Sweet (Token apologies), Kiss (Don’t let me bring you down, Leave a mark), ABBA – em (I don’t wanna be) Just a memory – Status Quo (Wrong face on) e a uma cúspide entre punk e hard rock (Faraway looks, Doomsday daydreams). Do you feel normal remete a Slade e ao já citado Be Bop de Luxe – e também aos discos solo de Ian Hunter e Johnny Thunders. The stench dá uma derrapada: um blues-rock sombrio e chatinho sobre pé na bunda (“podemos remendar as rachaduras / melhorar tudo o que queremos / nos dar um pouco mais de folga / mas ainda estará lá”).

Uma curiosidade de Overdriver é Coming down, um hard rock que lembra uma fusão de Kiss e R.E.M., com instrumentação doce e clima próximo das baladas dos mascarados. Para garantir uma cara mais classic rock para o disco, os Hellacopters enchem Soldier on de climas que lembram Lynyrd Skynyrd e Led Zeppelin (este, bastante lembrado nos solos de guitarra). Um disco de rock com R maiúsculo sem deixar espaço para o reacionarismo e conservadorismo musical.

Nota: 8,5
Gravadora: Nuclear Blast
Lançamento: 31 de janeiro de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Lyra Pramuk – “Hymnal”

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Em Hymnal, Lyra Pramuk mistura voz, cordas e eletrônica para criar um som sensorial, experimental e introspectivo, entre o pop e o erudito.

RESENHA: Em Hymnal, Lyra Pramuk mistura voz, cordas e eletrônica para criar um som sensorial, experimental e introspectivo, entre o pop e o erudito.

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Norte-americana com base em Berlim, Lyra Pramuk é um pouco mais do que apenas uma artista multitarefa: é vocalista, produtora, compositora, DJ, artista performática e astróloga. Ela opera CDJs com gravações em seu trabalho, sampleia a própria voz e tem interesses bem diferentes do receituário comum do universo pop. Sua trajetória se parece com aquelas reportagens com pessoas de múltiplos interesses: ela estuda canto desde cedo, chegou a pensar em se tornar cantora de ópera, mas alternava a música clássica com escapadas às pistas de dança.

Hymnal é a soma disso aí tudo: é um disco “eletrônico” em que Lyra opera samples da própria voz e transforma vocais em melodia e ritmo, que vão achando seus espaços próprios em casa faixa, em meio aos arranjos de cordas de Francesca Verga e às improvisações orquestrais do Sonar Quartet. Nomes como Steve Reich e Laurie Anderson surgem como referência inicial para quem ouve, e até daria para dizer que se trata de um disco “minimalista”, não fosse o resultado final bastante elaborado e rico em detalhes.

Músicas como Rewild, Unchosen e Oracle trazem o eletrônico funcionando a favor do orgânico, quase sempre, dando a entender que algo mis dançante pode começar – quase sempre é uma dança do vento, das sonoridades em meio à estereofonia, com vozes sendo transformadas em ritmos e em uma música suave e experimental. Já faixas como Render, Incense, Babel e o loop vertiginoso de Meridian transformam essa sonoridade em algo sombrio, como algo bonito sendo encontrado em meio a uma bad trip.

Num papo com o site The Quietus, Lyra mostrou que tem uma visão bem peculiar de arte e de carreira artística – mais ou menos como Laurie Anderson já mostrou em algumas entrevistas. Lyra não pensava em fazer álbuns, não costuma ler jornalismo musical e não se considera alguém da indústria. Seu som tem mais a ver com um performance pessoal realizada no palco, que não se repetirá em outros shows porque vem do improviso, ou de uma vivência de DJ. Também já se considerou pop demais para mexer com música clássica, e um corpo estranho no universo pop.

Esse clima passa por todas as faixas de Hymnal, mas vai chegando a uma faceta quase progressiva em alguns momentos do disco, como no tom cigano de Gravity, no jazz erudito e sombrio de Swallow e Umbra, e no som despojado e quase roqueiro de Crimson, tocando uma guitarra que parece ter sua afinação mexida com efeitos de estúdio.

O lado acessível de Lyra aparece nos momentos em que o som de Hymnal, como pesquisa musical, poderia influenciar discos de indie pop. Reality, com seus vocais autotunados e intervenções rítmicas feitas com cordas, pode servir de inspiração para discos de trap e rap. A percussão sensorial de vozes e cordas em Solace e em Ending, que encerra o disco, idem. Hymnal é um disco que transforma a introspecção em espetáculo sonoro.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: 7K! / pop.solo
Lançamento: 13 de junho de 2025.

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Crítica

Ouvimos: A Filial – “Primeiro disco” (EP)

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Grupo de rap carioca, A Filial volta no EP Primeiro disco com beats simples e versos afiados sobre arte, redes, sobrevivência e dias estranhos.

RESENHA: Grupo de rap carioca, A Filial volta no EP Primeiro disco com beats simples e versos afiados sobre arte, redes, sobrevivência e dias estranhos.

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A Filial é um grupo de rap carioca que existe há mais de duas décadas – sendo que Edu Lopes, criador do projeto, vem de antes: foi um dos fundadores dos Funk Fuckers, banda de funk-rap-sacana capitaneada por BNegão. Quem menos tem é quem mais oferece, segundo disco da Filial (2006), é discoteca básica da música carioca de rua dos anos 2000, com clássicos como Verso versátil, Gosto tanto e o samba-rap Brilha o sol.

Primeiro disco, apesar do nome, é o quinto lançamento da Filial, e um EP que promove uma volta no tempo. O som foge da chuva de misturas sonoras do rap pós-anos 1990 e volta a uma época de simplicidade no estlo, com beats e riffs simples, e versos diretos. Qualquer qualquer tanto faz, que abre o EP, brota com samples e notas no piano, e emenda uma conversa sobre influencers, economia da atenção, bets e agressividade na internet (“a rolagem no feed agride minha capacidade de foco / sou a minha pior versão com o celular na mão”). Debaixo do sol, no fim do disco, encerra o ciclo comentando sobre os dias de hoje como se fossem civilizações de outros tempos.

  • Ouvimos: Don L – Caro vapor II – qual a forma de pagamento?
  • Ouvimos: Y3ll – Entre samples roubados & cerveja barata
  • Ouvimos: FBC – Assaltos e batidas

Uma parte boa de Primeiro disco une jazz, rap, trilhas sonoras e progressões musicais, como em A minha vernissage – um papo sobre hip hop e arte – e o inventário de batalhas de Tamo de pé (“eu não luto pra vencer, eu luto pra me manter fiel”, diz a letra), com participação de Matéria Prima. Que qualquer MC, com Daniel Shadow, narra cenas de rua em tom sombrio e com planos abertos. Haja teta, com Old Dirty Bacon, traz base de soul e versos sobre valorização dos artistas em tempos de IA (“fuck you, pay me, libera logo o faz-me-rir / esse filme é reprise, eu já vi”). Crítica, arte e sobrevivência em papos retos.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 28 de junho de 2025

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Crítica

Ouvimos: Vi Drumus – “Medor”

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Vi Drumus mistura rap e MPB em Medor, disco de estreia com clima melancólico, político e poético.

RESENHA: Vi Drumus mistura rap e MPB em Medor, disco de estreia com clima melancólico, político e poético.

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Entre altos e baixos, climas balançados e algumas sombras, o cantor e compositor Vi Drumus faz de seu disco de estreia, Medor, uma mistura bacana de rap e canção pop, sempre filtrada pela MPB a ponto de haver referências de Lilás (Djavan) e Diz que fui por aí (Zé Ketti), respectivamente, em Flerte e Ilusões.

Essa última, é uma faixa que fala sobre convivência com as dores e com as limitações do dia a dia (“pressuponho em sonho, madrugo e me canso / com o instante em que vou me acalmar / mas dinheiro é uma adaga, que fere, mata e te arrasta pra um bom lugar”). E que dá o tom de todo o repertório, ao lado da abertura, com o samba-rap-balanço O sonho anestesia, que soa como um inventário da Covid e do desgoverno da pandemia (“moléstia afeta só o operário / e o salafrário é quem tem o remédio”).

Medor se torna mais relaxante em faixas como a balada solar Sumindo em dois e a psicodélica Têm que ser no plural, música sobre liberdade e felicidade. No meio do caminho, surgem faixas como o r&b Leoa, dividido entre ele e Yeemi, e a vibe sombria de Dores não são flores, boombap lento sobre armadilhas da estrada e sobre o que cultivamos no dia a dia (“não importa se quem escreveu foi o melhor roteirista do mundo / o papel que eles nos oferecem é difícil demais, difícil demais / o texto que temos que interpretar é simplesmente impossível”).

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Independente/Tratore
Lançamento: 10 de abril de 2025

  • Ouvimos: 43duo – Sã verdade (EP)
  • Ouvimos: Araúnas – Relva
  • Ouvimos: Saturno Express – Tenho sonhos elétricos

 

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