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Cultura Pop

O primeiro disco do Blondie tá fazendo aniversário!

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Tinha muita gente, mas muita gente mesmo, que acreditava que o Blondie, lá por 1976/1977, seria a única banda a sair vitoriosa do CBGB’s – aquele clube de Nova York que na real, acabou revelando não apenas eles, mas também Ramones, Talking Heads, Television e muitas outras atrações. O Blondie era liderado por Debbie Harry (mulheres à frente de bandas eram caso raro naquele período) e, em plena era da cara feia punk, chamava a atenção por sorrir o tempo todo: os ensaios eram felizes, a música era alegre, o show era uma baita zona, o som era “divertido”.

Marty Thau, que contrataria inicialmente a banda para o pequeno selo Instant Records, achava que o grupo iria estourar no mundo todo. Bom, o livro Vidas paralelas, biografia do Blondie escrita por Dick Porter e Kris Needs, conta que Thau também havia falado o mesmo do New York Dolls – que, como é público e notório, não estourou tanto assim. Mas essa felicidade toda ajudou o Blondie a fazer um link musical que partiu do punk, chegou à new wave e atingiu até mesmo a disco music e o funk americano oitentista.

O epônimo primeiro disco do Blondie, que chega aos 45 anos no finzinho de 2021 (saiu em um dia qualquer de dezembro de 1976), foi meio “filho” de outra estreia epônima lançada havia pouco tempo – a dos Ramones. Craig Leon, que produziu o disco de Joey, Johnny, Dee Dee e Marky, co-produziu o disco de Debbie Harry (voz), Chris Stein (guitarra), Gary Valentine (baixo), Jimmy Destri (teclados) e Clem Burke (bateria), ao lado de Richard Gottehrer, produtor e compositor veterano dos anos 1960. Leon, aliás, levou o Blondie para gravar no mesmo estúdio em que o Ramones gravaram sua estreia – o Plaza Sound Studios, no Radio City Music Hall, em Manhattan, onde big bands gravavam na época áurea do rádio.

Se você nunca ouviu Blondie, o álbum, vai descobrir um som que corria o risco de parecer deslocado em 1976. Mas felizmente não foi o que aconteceu. Se os Ramones recauchutavam a surf music da década anterior, Debbie e seus amigos, em várias faixas do debute, davam aquele trato punk no som dos girl groups dos anos 1960. X offender, a primeira faixa, parceria da cantora com o baixista Gary Valentine, poderia ser uma faixa antiga das Ronettes, ou de Nancy Sinatra. Ou das Shangri-Las, que por acaso voltavam naquela mesma época com formação diferente e um show no CBGB’s.

O vespeiro ficava por conta do título e do tema originais da música. A canção se chamava originalmente Sex offender, e a letra falava originalmente da vez em que o Gary quase foi preso, aos 18 anos, por fazer sexo com sua namorada pouco mais nova que ele. O selo Private Stock, que topou lançar o disco (Thau queria um selo maior que a Instant para lançá-lo), pediu que o nome fosse trocado. Além do título, Debbie trocou a letra para algo mais “suave” – bom, Debbie preferiu falar, na letra, sobre o romance de uma prostituta com o policial que a leva para a cadeia.

O Private Stock era um selinho humilde, montado por um executivo chamado Larry Uttal, que sobrevivia basicamente da venda de singles a preços módicos e trabalhava com artistas nostálgicos e desconhecidos. Na prática, era como se a Legião Urbana, no Brasil dos anos 1980, fosse contratada pela Chantecler, e não pela EMI. Uttal, de todo modo, quando finalmente viu o Blondie ao vivo, achou aquele som até parecido com grupos doo wop dos anos 1960, como Rosie & The Originals.

Esse selo, pode acreditar, era a única esperança para o Blondie, que naquela época era considerado uma “porcaria” por todos os executivos de gravadoras – com direito a comentários do tipo “a banda é boa, mas a vocalista é ruim”, “a vocalista é ótima, mas a banda é horrível”. Ninguém entendia o Blondie, e olha que não era uma banda “cabeça”, como os Talking Heads ou o Television. Paralelo a isso, o próprio casal Debbie-Stein usava os New York Dolls como paradigma de “até onde a gente pode chegar”, já que não havia perspectiva de sucesso real.

Blondie, o disco, era uma zona – do bem, mas uma zona. O grupo gravou o álbum praticamente ao vivo, em agosto e setembro de 1976, com Goettherer se esforçando para manter a banda focada, já que o Blondie tinha várias influências e várias caras diferentes. O grupo passara por fases diversas até 1976: havia sido influenciado pelo glam rock, pelo rock britânico dos anos 1960, pelo começo da onda hard rock. E Debbie Harry ainda tinha passado por uma fase hippie que rendeu matérias na mídia e um disco com uma de suas primeiras bandas (você já leu sobre isso no POP FANTASMA).

No disco de estreia, o Blondie fazia surf music e proto-new wave (a animadaça In the sun), ameaçava uma mistura de krautrock e balada anos 60 (A shark in jets clothing) e encerrava o disco com uma microopereta punk de terror (The attack of the giant ants). Nomão do pop feminino dos anos 1960 e autora de canções para quase todos os girl groups da época, Ellie Greenwich fez vocais em Man overboard e In the flesh. Para a capa, a gravadora escolheu um clique de Shig Ikeida, com todo mundo sério na foto – mas era só aparência, estavam todos bêbados e Gary, em particular, estava quase caindo.

Com Blondie nas lojas, o grupo conquistou fama, e pouca grana – afinal a Private Stock era um selo pobre, mas logo logo o contrato da banda seria comprado pela Chrysalis, a gravadora de nomes como Jethro Tull. O grupo fechou 1976 com uma apresentação histórica no Max’s Kansas City, que chamou atenção não apenas pelo som, como pelo figurino dos integrantes: trajes na estica dos anos 1960 para os rapazes, e Debbie de vestido zebrado.

Por acaso, a partir daí, o Blondie brigaria diariamente para vender mais música do que imagem, e para não ser engolido pelo sexismo do mercado. Uma briga ao som de hits como One way or another, Hangin on the telephone, Call me, Heart of glass e vários outros.

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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