Som
Lembit Funk ensina você a tocar o shenanigan

Em 2015, o humorista britânico Greig Johnson fez um vídeo com seu personagem Lembit Funk, em que ele mostrava (e ensinava a tocar) sua mais nova invenção: um instrumento chamado chamado shenanigan. O troço é uma mistura de guitarra, flauta, saxofone, kalimba e batedeira de bolo (!), além de vários outros instrumentos – inclusive de percussão. Além de falar com um falso sotaque escandinavo (se não entender nada do que ele diz, assista de novo com as legendas automáticas e morra de rir), Lembit toca com tanta emoção que começa a sangrar pelo nariz. Veja aí.
Notícias
Urgente!: E o Oasis e o Black Sabbath, hein?

Oasis e Black Sabbath, à primeira vista, parecem separados por um oceano. A banda dos Gallagher fez uma mistura eficiente de épocas do rock, mas não parece ter entre suas referências o monolito sonoro da banda de Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward.
(e claro que você já sabe que eu só escrevi esse texto porque o Oasis voltou nesta sexta para um show em Cardiff, no País de Gales – enquanto o Black Sabbath despede-se de seus fãs em sua terra natal, Birmingham, hoje, sábado, com direito à transmissão pela internet)
Uma ouvida mais de perto, e uma atenção dedicada às letras, mostra que nao é bem assim. O Oasis sempre foi, na verdade, o extremo oposto dos seus rivais do Blur – que são grandes contadores de histórias, têm referências do lado teatral de Who e Kinks, e têm um vocalista, Damon Albarn, que fez faculdade e precisou optar entre fazer música ou prosseguir na carreira teatral. Do Black Sabbath, o Oasis não tem o mesmo peso, nem a paixão por temas ocultistas. Mas as duas bandas partilham um compromisso assumido com a revolta.
- No nosso podcast, Oasis da pré-história ao começo da oasismania
- Ouvimos: Oasis – Definitely maybe – 30th anniversary
Pois é: se você achou que o principal do Black Sabbath era falar do coisa-ruim em suas músicas, se enganou. Quem fazia propaganda dos serviços do cramulhão era o Venom. Ozzy, Geezer, Tony e Bill são uns ingleses cascudos que mal tinham escolaridade, mal sabiam o que iam fazer da vida, e que perceberam que aquela história de “paz e amor” só tinha dado em bandas terminando, brigas de ego, gente importante morrendo, gente chamando Jesus de Genésio, e pior ainda, uma renca de paspalhos achando que Charles Manson era guru de alguma coisa.
Black Sabbath, a música, era um aviso de que as coisas estavam ficando bastante perigosas. N.I.B. era um conto de amor em que uma pessoa é cortejada por Lúcifer. Paranoid, a canção, só ganhou esse nome porque o autor da letra, Geezer Butler, não conhecia a palavra “depressivo”, que era o que ele realmente queria dizer. Músicas como Sabbath bloody sabbath e A national acrobat são pequenas crônicas sobre gente que tenta descobrir sentido na vida após conhecer os lados mais sombrios da existência. Por aí.
O Oasis, apesar de muitas vezes isso nem ficar tão claro nas letras deles, vem da mesma socialização, da mesma inadequação. Liam e Noel tiveram a estrutura familiar que lhes foi possível – a saber: um pai abusivo que espancava os filhos, uma mãe que não se separava do marido porque não teria como criar os rebentos sozinha, e uma vizinhança em Manchester cheia de botecos cospe-grosso e casas de aposta (lugares frequentados pelo pai). Liam começou a sonhar em estar num palco quando viu um show dos Stone Roses, a maior banda do fim dos anos 1980, vizinhos deles. Noel passou por uma fase rápida em que, inspirado pelo cenário da acid house, quis fazer música eletrônica.
- Blur entre 1993 e 1997 na volta do nosso podcast
- No nosso podcast, Stone Roses na fase inicial e na pré-história
Com o Oasis formatado, a conversa olho no olho com o ouvinte foi estabelecida de cara – Live forever bate fundo na desesperança do jovem britânico da época, com versos como “talvez eu só não acredite / talvez você seja igual a mim / nós vemos coisas que eles nunca verão”. Eles podem ser várias pessoas – mas quem ouve completa o discurso achando que eles são tudo aquilo contra o qual vale a pena lutar. Eles não, completamos nós.
Mais: Cigarrettes and alcohol diz que “vale a pena o incômodo de encontrar um emprego quando não há nada pelo que valha a pena trabalhar?”. Roll with me é quase tão aconselhativa quanto A national acrobat, do Black Sabbath: o personagem da letra “se perdeu por dentro” e diz que “você tem que seguir em frente / você tem que ter calma / você tem que dizer o que diz / não deixe ninguém ficar no seu caminho”.
Que esse final de semana é histórico para qualquer fã de rock, não resta a menor dúvida. Afinal, é Oasis voltando (em tese) e Black Sabbath terminando (igualmente em tese). Mas não apenas isso: a trilha sonora de várias batalhas pessoais eternas – inclusive de batalhas entre integrantes das duas bandas, mas pula essa parte – surge em dois palcos diferentes, a alguns quilômetros de distância um do outro, com algumas horas de diferença. Em altíssimo volume.
Texto: Ricardo Schott
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Crítica
Ouvimos: DJ Guaraná Jesus – “Ouroboros”

RESENHA: Em Ouroboros, DJ Guaraná Jesus funde memórias e beats acelerados em 20 minutos de nostalgia 32-bit, funk, big beat e eletrônica pop multitonal.
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“O álbum é uma homenagem a um passado não tão distante – uma fusão de memórias e futuros imaginados convergindo para o presente”. Criado pelo produtor Julio Santa Cecilia, o projeto solo DJ Guaraná Jesus reúne memórias, música e sons eletrônicos num álbum curto (são nove faixas em menos de vinte minutos!), que voa como se fosse apenas uma faixa dinâmica, evocando desde sons de jogos em 32-bit, até sons como Prodigy e Skrillex.
Não foi à toa que ele escolheu para o disco o título Ouroboros – que nada mais é do que o conceito do eterno retorno, da morte e reconstrução, simbolizado pela serpente mordendo a própria cauda. Na real, não deixa de ser uma maneira construtiva de se referir ao próprio universo pop e à sua mistura de épocas e desenhos musicais, que aqui aponta para sons acelerados como num dia a dia anfetamínico (Vitalwaterxxfly3 e XP), sem descuidar das surpresas melódicas. E prossegue com o batidão quase funk de Mercúrio retrógrado e a viagem sonora de Unidade de medida e D-50 loop – a primeira em tom meditativo, a segunda de volta à aceleração.
- Ouvimos: Skrillex – FUCK U SKRILLEX YOU THINK UR ANDY WARHOL BUT UR NOT!! <3
- Ouvimos: Papatinho – MPC (Música Popular Carioca)
Ouroboros parte também para o heavy samba eletrônico e ágil de Brsl, o batidão-de-caixinha-de-música de Hauss_hypa_vvvv e o big beat de Firenzi dolce vitta, encerrando com um batidão que remete ao samba-funk aceleradíssimo (Campari Devochka). Algumas faixas rendem mais do que apenas poucos minutos – ou até segundos – e poderiam ser esticadas. Mas Julio, com o DJ Guaraná Jesus e Ouroboros, quis aparentemente fazer um disco que pudesse acompanhar um passeio rápido no dia a dia.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Seloki Records
Lançamento: 16 de maio de 2025
Crítica
Ouvimos: Jonabug – “Três tigres tristes”

RESENHA: No álbum Três tigres tristes, Jonabug mistura noise rock, grunge e pós-punk com letras em inglês e português, guitarras ruidosas e identidade forte
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Vindo de Marília, interior de São Paulo, o Jonabug vem sendo incluído no rol do “emo caipira”, de bandas vindas de cidades pequenas, e que são influenciadas pela cena emocore do Centro-Oeste norte-americano. É isso, mas não só isso: o grupo de Marília Jonas (guitarra, vocal), Dennis Felipe (baixo) e Samuel Berardo (bateria) é um dos melhores exemplos atuais do noise rock brasileiro. Misturando inglês e português, fazem em Três tigres tristes, álbum de estreia, um som que está mais para grunge do que para shoegaze – mesmo que invista em paredes de guitarra e ruídos.
Esse é o som de faixas como Mommy issues, Além da dor, Look ate me e At least on paper my mistakes can be erased, misturas de vocal provocativo, guitarras cheias de riffs, certo balanço na batida e vibe sombria e confessional. Músicas como Fome de fugir e You cut my wings levam o esquema do Jonabug para algo mais próximo do pós-punk. A sua voz é o motivo da minha insônia e Taste everybody’s tears dispensam rótulos e lembram a vocação ruidosa e melódica dos anos 1990. E Nº 365 é um guitar rock falado, soando quase como uma trilha de filme.
No fim, Brown colored eyes traz mais um diferencial para o som do Jonabug: é quase uma balada guitar rock, com clima tranquilo e solo de guitarra com design sonoro oriental. O Jonabug escapa de qualquer caixinha e entrega um disco coeso, intenso e cheio de identidade própria.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 15 de junho de 2025.
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