Crítica
Ouvimos: Layse – “Música mundana” (EP)

RESENHA: EP da paraense Layse, Música mundana mistura tecnobrega, pop-rock e eletrônica com humor e sotaque paraense; quatro faixas curtas que soam inventivas e divertidas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 16 de outubro de 2025
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Usado bastante nos anos 1980, o termo “world music” (música do mundo, enfim) soava tão bizarro quanto o indesejável “música regional” para bandeirar artistas que não vêm dos epicentros do capitalismo fonográfico. A cantora e baterista paraense Layse meditou sobre o assunto da “música do mundo” e respondeu com o bom humor e a musicalidade de Música mundana. Um EP que dá uma cara local para a música eletrônica e para o pop-rock de rádio, em faixas como Brega da brincadeira (um tecnobrega com som de videogame e beat eletrônico simples) e Voando com o J Som (homenagem ao brega do Pará, com locuções robóticas na música, e teclados que soam como uma new wave zoeira).
- Ouvimos: Zaynara – Amor perene
- Ouvimos: Lambada da Serpente – Lambada da Serpente
- Ouvimos: Gaby Amarantos – Rock doido
Em Música mundana, Layse tocou de tudo (percussões, synths, teclas, baixos e violão) e chamou convidados para dividir as faixas. O disco é curtinho, o que corta só um pouco a graça da brincadeira: são só quatro faixas e um remix de Voando com o J Som. Tem ainda Som da muleca doida, mais roqueiro, com guitarra distorcida ao lado do clima tecnobrega e do rap de Bruna BG. A sofrência de Extrago é um ska-brega que fala do dia a dia de cantautora, apresentando a guitarra de Manoel Cordeiro e a mistura sonora do duo Lambada da Serpente.
Mesmo com a curta duração, Música mundana é dessas viagens sonoras que fazem o pop parecer de novo um lugar inventivo, divertido e cheio de sotaques.
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Crítica
Ouvimos: Maraudeur – “Flaschenträger”

RESENHA: O sexteto alemão Maraudeur une punk artístico, no wave e pós-punk nas faixas caóticas e inventivas do álbum Flaschenträger, tudo cheio de experimentação, humor sonoro e clima surreal.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Feel It Records
Lançamento: 14 de novembro de 2025
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“Maraudeur” é uma palavra bem antiga do idioma francês que significa algo como “ladrão errante”, o cara que viaja fazendo furtos. “Flaschenträger”, da língua alemã, significa “porta-garrafas”. Duas palavras que aparentemente nada têm a ver uma com a outra – mas aqui são respectivamente a banda (um sexteto alemão) e seu quarto álbum, que coleta músicas gravadas num porão em Genebra em 2023.
O próprio release oferece algumas chaves de leitura comparando o som com bandas como Kleenex, mas o negócio aqui está mais para um egg punk mais artístico e intencional – sem erros e glitches, porque parece que tudo aqui foi feito por gente acostumada a criar sons experimentais e com bom gosto para coisas inovadoras. As letras, que fazem brincadeiras com palavras, seguem o mesmo clima.
- Ouvimos: Optic Sink – Lucky number
Lise Sutter (baixo, vocal principal), Charlotte Mermoud (guitarra, percussão, vocal), Isumi Grichting (guitarra, percussão, vocal), Morgane Adrien (baixo, vocal), Bob Siegrist (sintetizador) e Camille Barth (bateria) lembram Cramps + Devo + no wave em faixas como EC blah.blah. Soam como uma Gang of Four + Magazine zoado em Syncope. E soam como tudo rodando ao contrário, ou algo propositadamente bagunçado – como num loop de fita, em La Jaguar, Ah e em 58141. Nesta última, um theremin parecido com o de Radio activity, do Kraftwerk, vai sendo acrescido de sons de guitarra e clima surreal.
O Maraudeur ataca também o punk francês chique e espacial em Robot machine. Além do pós-punk menos informal de Clever sneaker e de (Legacy) – esta última começando quase tranquila, bordada pela guitarra e pelo baixo, mais com cara de canção, até que vocais gritados tomam conta.
(tem uma entrevista com a banda aqui)
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Crítica
Ouvimos: Parque da São – “Ideograma”

RESENHA: Ideograma, estreia do Parque Da São, mistura experimentalismo, folk sombrio, eletrônica e atmosferas cinematográficas inspiradas em Apichatpong.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Seloki Records
Lançamento: 5 de novembro de 2025
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Talvez você nunca tenha ouvido falar do cineasta tailandês Apichatpong Weerasethakul – filmes dele como Tropical malady, eleito pela crítica o melhor concorrente da 28ª Mostra de Cinema de São Paulo em 2004, são um pouco mais populares. Arthur Bittencourt (violão, vindo de bandas como ente e Ovo ou Bicho) e Júlio Santa Cecília (synth, programação, criador também do projeto DJ Guaraná Jesus), os dois integrantes do projeto Parque Da São, conhecem bem o trabalho dele – até se inspiraram no cinema de Apichatpong para criar sua banda, e para montar o repertório experimental da estreia Ideograma.
- Ouvimos: Negro Leo – Rela
Dialogando musicalmente com outras referências – Negro Leo, Animal Collective – o Parque da São investe em faixas que, no fundo, são grandes imagens. Canção para Soytie, que abre o álbum, tem beat dançante, clima até bem solar – mesmo que experimental – e uma eletrônica quase clássica que vai ganhando ruídos e dá até certos sustos no ouvinte. Estados Unidos é uma canção meditativa, repleta de elementos de folk sombrio, além de ruídos externos que funcionam como uma interrupção na sensação de introspecção. Eco dos homens tem batida marcial, mas emenda com som folk e tranquilo – tem algo do lado folk do grunge e até da MPB mineira, que depois ressurge em Pira, só que de forma mais sombria.
No “lado B” de Ideograma, Água doce surge como respiro e tranquilidade, seguida pela bossa nova dream pop da faixa-título – na qual os teclados com eco dão uma ideia de paisagem. Cerimônia é um tema instrumental curto, que realmente lembra uma cerimônia, e que segundo a banda “representa o clímax da narrativa – o despertar da meditação transcendental”. No fim, Vazio tem quase seis minutos de som cerimonial e sombrio, que se torna algo bem fantasmagórico logo depois. Uma música de outros mundos e esferas.
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Crítica
Ouvimos: After Geography – “A hundred mixed emotions”

RESENHA: After Geography estreia com som repleto de referências de Beatles, Paul McCartney/Wings e David Bowie, além de psicodelia suave e power pop.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 10
Gravadora: KRML / Reptide
Lançamento: 3 de outubro de 2025
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Essa banda francesa é absolutamente inacreditável: um quarteto cujo som pode ser definido tranquilamente como power pop, mas é bem mais do que isso. As referências são os últimos discos dos Beatles, a fase pré-Rumours do Fleetwood Mac, algo dos Bee Gees dos anos 1960, bandas como Badfinger e Big Star, David Bowie, o comecinho dos Wings, o início solo de George Harrison. Tudo isso junto, forma o After Geography, que chega ao primeiro disco, A hundred mixed emotions, literalmente entregando o que promete no título do álbum.
Nem dá para esconder que Julien Meret, Nicolas Baud, Lalie Michalon e Arthur Blanc são fanáticos por Beatles. “After geography” foi uma piada criada por Ringo Starr quando a banda ia lançar o disco Revolver (1966), pouco depois dos Rolling Stones lançarem Aftermath, no mesmo ano – o batera brincou que depois do “além da matemática” (trocadilho literal com aftermath, “consequências” em português) viria o “além da geografia”. Hear me out, na abertura, tem clima de It’s all too much + Tomorrow never knows, soft rock psicodélico de fibra. A faixa-título é uma tristezinha com violão, cordas e metais, com heranças de Kinks e Hollies, mas sem negar as raízes beatlemaníacas.
A funkeada Feel alive deve a Bachman-Turner Overdrive da mesma forma que deve ao britpop. Lalala song e Gemma, por sua vez, são 100% Paul McCartney e Wings, ainda mais a segunda, com várias partes diferentes e clima quase clássico. Mirror of creed tem ares de lado-Z do Abbey Road, com cordas lindas – e uma parte final meio progressiva, que faz lembrar Pink Floyd. She’s magnetic, por sua vez, tem muito de bubblegum sessentista, mas ganha cordas patinantes que lembram a disco music e surgem combinadas com percussão.
O fim do disco combina climas herdados de Bob Dylan e George Harrison em Slippin’ away, e um combo Lennon + Harrison + Bowie na bela A certain elation. Se você chorava pelos cantos lembrando dos discos mais que perfeitos lançados pela sumida banda irlandesa The Thrills nos anos 2000, tá aí mais uma banda para você anotar no seu caderninho.
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