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Cultura Pop

Peraí, quem é Celso Zambel?

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Peraí, quem é Celso Zambel?

Recentemente, o cantor e compositor paulistano Celso Zambel foi informado por um amigo de que era ídolo no Japão. “Ele me falou: ‘Seu disco tá custando trezentos dólares lá. Os caras piram ouvindo seu disco!'”, espanta-se ele.

Peraí, quem é Celso Zambel?
Capa do disco “Espírito da noite”, de Celso Zambel (Reprodução da Internet)

Em sua casa no bairro de Interlagos, ele tem guardadas duas cópias de seu primeiro álbum, Espírito da noite, lançado sem muita repercussão pela Som Livre em 1979. Uma delas, tinha sido dada de presente por ele na época à sua mãe, já falecida. Caso resolva vender ambas no Mercado Livre, vai concorrer com vendedores que pedem até R$ 800 pelo mesmo álbum – um preço que surpreende quem nunca tinha escutado falar do disco.

Peraí, quem é Celso Zambel?
Celso em 2019: o disco e seus instrumentos (Foto: Keithy Zambel)

Espírito da noite também é um disco surpreendente – a começar por ter sido lançado pela poderosa Som Livre. Celso diz ter recebido um borderô da gravadora informando que 5 mil discos tinham sido vendidos. A contracapa traz a inscrição “também em cassete”, comum em LPs na época – o que já serviria para animar fãs novatos das fitinhas.

https://www.youtube.com/watch?v=t7PelTcN3Uo

“Nunca nem vi fita desse disco”, diz o cantor. A capa, com uma foto de Celso em preto e branco, engana: dá a impressão de um disco lançado pelo selo indie britânico Factory em 1979/1980. Quem ouvir, vai conhecer um lançamento tardio da psicodelia nacional, que chegou às lojas quando os artistas que estourariam no pop dos anos 1980 já davam os primeiros passos.

Rei do lugar, uma das melhores músicas do álbum, dá a impressão de uma mescla de Lou Reed com Arnaldo Baptista. Se é que isso é possível.

Espírito da noite, meio sombria meio psicodélica, lembra um pouco o que aconteceria com o rock brasileiro nos anos 1980.

Por acaso, o disco termina com uma faixa chamada Mágica dos anos 60.

ANTES Espírito da noite surgiu numa época especialmente produtiva para Celso, que em 1979 já acumulava alguns anos de experiência (e certa fama, por vias tortas) no pop brasileiro. Desde o começo dos anos 1970, Celso sonhava em gravar discos próprios e mantinha uma banda chamada Mona, da qual havia participado uma multidão de músicos de São Paulo – entre eles, André Geraissati (guitarra) e Albino Infantozzi (bateria). André, por sinal, é o parceiro de Celso em todas as faixas de Espírito.

Se você leu a biografia A divina comédia dos Mutantes, de Carlos Calado, deve se lembrar que, no auge da fase virtuosística da banda, todos foram à Aclimação conferir o som de uma banda chamada Mescla. O livro conta que o grupo era liderado por um sujeito chamado Bartô, “o mais maluco da turma”, que “chegava a dissolver lascas de LSD direto nos olhos”.

“Eu toquei com o Bartô. Ele morreu ainda nos anos 70, era tecladista também. Ele era gênio e tocava muito, mas exagerou no LSD. Íamos a casa dele pra ensaiar e compor mas com o passar do tempo a coisa ficou pesada. Um dia fomos lá e ele tinha sido internado. Quando saiu da internação, toda vez que íamos a casa dele o pai, preocupado e com razão, nos seguia pela casa com medo que alguém desse algo pro filho dele”, conta Celso. “LSD era líquido e muita gente usava no colírio, porque era mais puro. A Mama Cass (The Mamas & The Papas) fazia isso. As drogas recreativas estavam na moda na época, mas não era a nossa. A gente preferia os enteógenos”, completa o cantor, hoje com 67 anos, “mas com aparência de 66”, brinca.

Em 1973, de contato em contato, Celso foi convidado por Arnaldo Baptista (“o Syd Barrett brasileiro”, classifica) para participar de um festival de novos artistas da Philips, que aconteceu no Estúdio Eldorado. “Era o verdadeiro Phono 73, com platéia convidada e com todos os novos artistas com potencial nacional e internacional de sucesso. Depois disso é que criaram o festival do Anhembi”, recorda o cantor (Armando Pittigliani e Roberto Menescal, que estavam por trás do Phono 73, foram procurados pelo POP FANTASMA mas dizem não terem lembranças desse evento inicial).

Celso acabou contratado pela Philips, mas (como pedia o espírito da época) sugeriram que ele gravasse apenas repertório em inglês, como fariam também nomes como Fábio Jr, Jessé e Christian. Começava aí uma longa saga de cantor-brasileiro-disfarçado-de-gringo, que rendeu vários lançamentos e alguns hits. E, mesmo que seu trabalho como compositor ficasse obscurecido, rolavam algumas vantagens.

“A grana era fantástica. Pô, com 20 anos eu ganhava uma grana respeitável. Eram quatro compactos simples por mês”, recorda. Contratado por gravadoras como Tapecar (que lançava o selo Stax no Brasil), Philips e Som Livre, Celso usou nomes como Tim Andrews, Detroit Blues Band e o mais famoso deles, Paul Jones. Com esse nome, Celso estourou em 1976 com Those shadows, sucesso em toda a América Latina. E tema de abertura do Jornal Hoje por alguns anos na década de 1970.

https://www.youtube.com/watch?v=fN7IVMM2WUo

Em 1977, mais um estouro: Try to feel good tocava direto na rádio paulistana Excelsior. Foi parar na novela Dona Xepa. Como a trama não ganhou trilha internacional, a música saiu em compactos da Som Livre e no LP Excelsior – A máquina do som vol. 6. A novidade é que a música aparecia nos rótulos dos discos creditada a Paul Jones e Andrew Geraissat. Celso Zambel e André Geraissati, enfim.

O PORTAL E O PORTÃO. A origem de Espírito da noite está na paixão de Celso por assuntos místicos. “Eu sempre gostei de discos que funcionam como portais. É uma coisa mais espiritualista, você acha que é só um disco, mas ele te abre as portas para outra dimensão. Parece papo de maluco, mas isso acontece. O Axis: Bold as love, do Jimi Hendrix Experience, é um portal. Uma ou outra faixa dos Beatles, também. O POP FANTASMA fez uma matéria sobre o A wizard, a true star, do Todd Rundgren, não fez? Esse disco também é um portal”, conta Celso.

“Na época, uma grande parte da juventude brasileira achava esse tipo de assunto interessante. A ideia conceitual do disco foi toda do Celso, as letras são dele. Eu sou um músico até superior a ele, mas naquele disco eu estava subordinado ao Celso. Trabalhar com ele era um grande prazer”, lembra André Geraissati, na época já tocando (e gravando discos) com o grupo D’Alma.

Entre 1978 e 1979, época da elaboração de Espírito da noite, Celso fazia jingles com o Mona. “Pediam à gente: ‘Ah, faz uma música aí que misture música de cowboy com discoteca’. A gente pensava: ‘Putz, que bosta’, mas fazia. Dava grana”, recorda. Também acumulava trabalhos em edição de imagens, já que tinha moviola em casa desde criança. Acabou trabalhando numa empresa dirigida por ninguém menos que Goulart de Andrade, que editava programas como o Globo Repórter, para a Globo. “Trabalhei até no Comando da madrugada, anos depois”, recorda.

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Aquela vez em que erraram o nome do Celso nos créditos do “Comando da madrugada” (Reprodução)

Entre um trabalho e outro, em 1978, Celso montou uma banda – com integrantes do Mona e agregados – para trabalhar na trilha de uma peça chamada Portão dourado, escrita por Jurandyr Pereira com textos dele e de Hilda Hilst e Renato Haudy. O roteiro, datilografado, dava conta de que a peça era um “tragi-rock”, com a banda finalizada por Celso (cujo nome era Borgo Ni). Entre sombras e velas acesas no palco, Celso cantaria músicas com letras como “eu sei de uma nova maneira de viver/só me tocando de uma lança no meio do som/saca, é uma vida nova/vê se você se liga agora”.

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Script da peça (Foto: Celso Zambel)

“Era um musical feito para encaixar essas músicas. Entramos em estúdio para fazer um disco que seria lançado juntamente com a peça”, conta. O disco do Borgo Ni, no entanto, acabou sendo abortado por uma razão bizarra: algum funcionário do estúdio apagou a fita. Celso não sabe até hoje direito o que aconteceu, mas o acontecimento foi crucial para que ele chamasse Geraissati num canto e começasse a elaborar um novo projeto.

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Script da peça, com letra de música (Foto: Celso Zambel)

“Terminamos uma sessão de gravação numa quinta-feira, às 3h da manhã, e quando voltamos na segunda, a fita tinha apagado. Não rolou, mas aí eu iria arrumar o parceiro que eu quisesse, fazer o disco que eu quisesse. Não aguentava mais esse negócio de Paul Jones”, conta, rindo. “Eu gostava de ir no Chacrinha, dava pra me divertir. Mas o resto era um pé no saco”.

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Pintura de Leila, mulher de Celso, que seria a capa do disco do Borgo Ni que não saiu (Foto: Celso Zambel)

SOM LIVRE. Espírito da noite surgiu por uma negociação com a Som Livre: Celso poderia gravar o que bem entendesse, desde que depois voltasse a gravar como Paul Jones e abastecer as trilhas de novelas.

“Quando o disco ficou pronto, ouvi de alguém da gravadora algo como: ‘E aí, quando vai rolar um ‘pauljonesinho’?”, diz Celso, que se recorda de ter assinado contrato com a Som Livre por intermédio de nomes como João Araújo (presidente da gravadora), Toninho Paladino (diretor de repertório internacional) e Otávio Augusto (produtor da gravadora, também cantor sob o pseudônimo de Pete Dunaway). No bate-bola com a gravadora, Celso se deu até bem demais: conseguiu até horas de estúdio para regravar, com a mesma equipe, o tal disco perdido do Borgo Ni.

O disco começou a ser gravado por ele e André em julho de 1978, no mitológico estúdio Vapor, no Jardim Paulista. “O Vapor parecia uma nave espacial. Tinha 16 canais, era concorrente direto do Level (estúdio da Som Livre). Em termos de equipamento, de sintetizadores, não havia nada igual”, lembra Celso. O Vapor era um desmembramento do estúdio Prova, montado por José Scatena, criador do estúdio Scatena, onde álbuns de artistas como Ronnie Von, Gilberto Gil e Mutantes tinham sido gravados.

“A Prova foi nos anos 70 a maior e melhor produtora de filmes, trilhas, jingles e spots do meio publicitário brasileiro, fornecedora de criação para as grandes agências de propaganda. As madrugadas livres eram ocupadas com a gravação de discos, com a locação do estúdio”, conta José Pedro Scatena, filho do velho Scatena, e sócio do Vapor ao lado de César Castanho, Ricardo Corte-Real, Rodolpho Grani e Manoel Barenbein. “Do Espírito da noite, lembro até hoje do diferencial da produção com uma equipe mínima e ao ineditismo da produção independente em um mercado de feras multinacionais. E do grande prazer que esse trabalho me proporcionou. Me senti um revolucionário. Até hoje tenho lampejos daquela produção em meus sonhos”, completa Scatena.

EM ESTÚDIO. Na elaboração de Espírito da noite, André ficou com guitarras, violões e alguns teclados – o cantor tocou sintetizadores, bateria e percussão. Apenas os dois músicos no estúdio. “O Celso chegava, fazia os sons com a boca. Às vezes falava: ‘Não, André, não é isso, você não pegou o barato’. Eu via o Celso tocando através do vidro do estúdio. Quando a gente atingia o ‘barato’, via a cara dele mudando. Era muito legal. Foi tudo feito sem compromisso”, recorda Geraissati. Celso lembra que as músicas iam sendo criadas lá mesmo.

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Ficha de gravação do disco no Prova (Foto: Celso Zambel)

“Entramos sem nada composto. As músicas que a gente tocava com a banda não daria para a gente fazer. Lembro que o André falou: ‘Vamos nos aprofundar na história do ‘portal’, vamos fazer um negócio diferente. Começamos a fazer e saia um troço completamente diferente. Não dava nem para explicar muito, se explicar a gente vai pirar na batatinha. Nem eu nem ele esperávamos”, diz. A censura do governo militar, na lembrança de Celso, deixou a dupla compor em paz quase todo o tempo. “Só que em Notícia pra você eu precisei voltar no estúdio para regravar um verso que censuraram, era algo como ‘segura no gostoso’. E o disco já estava até prensado. Esse verso aparece nas primeiras edições”, recorda.

As encucações esotéricas da dupla entraram em canções psicodélicas como Divino Espírito Santo, Parada dos livres, o quase instrumental (cheio de vozes distorcidas no teclado) O mágico e a tensa Abmas. “O nome é samba ao contrário, a música tem um andamento de samba ao inverso”, conta Celso. “Quando entreguei o disco, ninguém na Som Livre entendeu nada”.

O tal projeto de “você grava o que quiser, desde que faça um disco em inglês” acabou não rolando. “Depois a gravadora conseguiu uma maneira de trazer fonogramas internacionais mais baratos para o Brasil e não fiz o disco como Paul Jones. Mas surpreendentemente fiz o Borgo Ni e a Som Livre me deu os direitos, além da fita”, conta Celso, surpreso até hoje com o que conseguiu.

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André e Celso na contracapa do disco (Reprodução)

PELADOS NA BOLHA. Se Espírito da noite fosse lançado de acordo com a concepção original de Celso e André, das duas uma: ou a censura embarreiraria o disco, ou provocaria um barulho dos diabos nas lojas. A ideia original era que Celso e André aparecessem na capa numa foto em dupla exposição, dentro de uma bolha de plástico, pelados – alcançando em 1979 um efeito mais aproximado das cabriolas psicodélicas do Flaming Lips, que só surgiria na década seguinte. A foto chegou a ser produzida.

“A Som Livre censurou, claro. Dava para ver tudo”, brinca Celso. O disco deveria ter sido assinado em dupla por Celso e André – que, na contracapa, aparece usando uma camiseta do São Paulo Jazz Festival, em que tocaria com o D’Alma em 1980. O lançamento em dupla acabou não acontecendo e o LP virou solo, com a tal foto em preto e branco na capa, além de imagens de André e Celso na contracapa. “A Hilda Hilst me disse que não me reconheceu na capa, ‘não é você ali'”, conta Celso.

“Lembro que essas fotos da bolha foram tiradas numa casa no Brooklyn. O Celso é um puta editor de vídeo, a Leila (mulher de Celso) também. Ele arrumou essa bolha, daquelas que as crianças brincam dentro. Minha lembrança é que a bolha furou, talvez tenha ficado meio feio…”, recorda André. “Mas devia dar para ver tudo dentro”.

Mais complexo ainda: o encarte deveria trazer uma “bula” para ouvir o disco, que incluía alusões sutis a drogas. Celso mandou fazer um modelo do encarte, que submeteu ao amigo Toninho Paladino, na Som Livre. “Não era tão explícito, mas a Som Livre não gostou”, lembra. O disco se tornou quase um lançamento independente dentro da Som Livre, sem propaganda na Rede Globo, clipe no Fantástico (honraria que até bandas como Mutantes e Casa das Máquinas tiveram) ou música incluída em novelas.

DUPLA. Espírito da noite mal teve show de lançamento. Celso lembra que André propôs a ele que montassem uma “dupla sertaneja de rock” tocando pelo Brasil, mas que não curtiu a ideia. “Acho que ele ficou até chateado comigo porque não eu quis fazer. O André falou: ‘Eu toco muito e você arranha, você canta e eu não canto nada. Vamos montar uma dupla sertaneja-pop-psicodélica e sair pelo Brasil'”, brinca Celso, explicando que o conceito era bastante ousado para 1979: os dois comprariam um gravador de 4 canais e levariam as bases das músicas gravadas para os palcos. Detalhe: na época, mal existia sampler. “Ele não se interessou muito. Mas sabe que até hoje eu penso nisso? Se no Brasil tivessem pego o country americano…”, recorda André.

E DEPOIS? André passou a gravar e tocar com o trio D’Alma e, no fim dos anos 1980, lançou uma série de discos de violão solo pela Warner. Celso, por sua vez, tomou outros caminhos, fazendo edição de vídeo para emissoras de TV como Record e SBT, além de comerciais. Continuou tocando e voltou a gravar em 2015, lançando um EP caseiro, Nu, cru e malpassado.

Espírito da noite nunca saiu em CD ou qualquer outro formato mais recente, e não chegou nem sequer a se tornar um disco cult – caminho que álbuns de nomes como Ronnie Von e Arthur Verocai tomaram. Eduardo Lemos, da loja paranaense Melômano Discos, acredita que o disco esteja sendo hoje “supervalorizado” por certos lojistas, embora recentemente tenha vendido uma cópia por R$ 100. Ele recorda que já viu uma meia dúzia de cópias na loja.

“Acho que circulou bastante em distribuição de rádio. Não é um disco raro. O disco é muito bom, é uma obra muito boa, lembra um pouco de Walter Franco, psicodelia, guitarra fuzz… Acho que ele sairia por uns R$ 200, de repente. Mas ele custar quase mil reais é só especulação. Tem muito comerciante que trabalha assim”, conta o lojista.

O POP FANTASMA conheceu Espírito da noite por causa de um post do colecionador campista Gustavo Landim Soffiati. Que conseguiu o álbum por um preço insignificante, embora tenha visto um amigo vendendo o LP por R$ 450. “O disco parece ter tido uma tiragem abaixo das normais do selo. Não sei bem o que justifica o preço”, afirma.

Celso, enquanto acompanha uma pequena onda de interesse por seu disco de 1979, faz planos para outro lançamento. “Vou lançar o disco do Borgo Ni ainda esse ano, e em vinil”, explica o músico. “A qualidade é excelente e temos músicos legendários ali: tem o Fábio Gasparini (guitarrista do Magazine, de Kid Vinil), Paulo Soveral (baixo) e a cozinha dos irmãos Pedro e Albino Infantozzi. Além de mim e do André”, conta. É esperar.

Peraí, quem é Celso Zambel?
Celso em 2019 (Foto: Keithy Zambel)

Agradecimentos: Fernando Carneiro de Campos, Silvio Atanes, João Pedro de Souza e Celso Zambel.

4 discos

4 discos: Elvis Presley no final

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4 discos: Elvis Presley no final

Ainda que o mercado de álbuns estivesse bastante fortalecido desde o fim dos anos 1960, isso não chamava a atenção de Elvis Presley (1935-1977), e muito menos a de seu empresário, o Coronel Tom Parker (1909-1997). O cantor não parecia se interessar muito por LPs, apesar de ter tido grandes vendagens de álbuns desde o começo. Muitas vezes, Elvis apenas gravava o que tinha vontade, e deixava que a RCA, sua gravadora, escolhesse capas, repertório e (o principal) como e de que maneira cada gravação seria aproveitada.

Nos anos 1970, com Elvis enclausurado em sua mansão e cada vez mais descontrolado (no apetite, nas drogas, na violência etc), o cantor ficou também cada vez mais desinteressado em gravar regularmente. Seus álbuns começavam a se tornar compilações de gravações, quase sempre feitas em etapas diferentes. Não era nem preciso que as sessões passassem pelos mesmos esquemas de produção, embora os álbuns pós-1966 do cantor tivessem todos o mesmo produtor. Era o ex-cantor Felton Jarvis, que chegou a lançar em 1959 um single cujo lado B era um tributo chamado Don’t knock Elvis.

O álbum That’s the way it is (1970), por exemplo, foi feito a partir de oito faixas gravadas do estúdio da RCA em Nashville, mas também entraram quatro faixas gravadas ao vivo em Las Vegas. Por sua vez, o restante dessas sessões de Nashville foi lançado gradativamente em singles e rendeu também o álbum Elvis country, de 1971. Era como se os álbuns do cantor, com raras exceções, já fossem compilações de out takes. E o que não falta é crítico de rock apontando para esse clima “alhos com bugalhos” na parte final da discografia de Elvis.

Pois bem, resolvemos revisitar quatro álbuns dessa última década da carreira de Elvis Presley – que, você talvez saiba, teria completado 90 anos no dia 8 de janeiro. E pode crer: quem deixou esses discos para trás perdeu muita coisa. Mesmo os mais alheios à obra do cantor, que o conhecem apenas pelos grandes hits, podem encontrar surpresas agradáveis. Porque, sim, por trás daquela fachada de decadência, havia música pulsante. Se você nem sequer desconfiasse que a vida de Elvis andava uma zona daquelas, poderia acabar achando que ele já estava rico o suficiente e havia resolvido só gravar o que quisesse, para quem quisesse ouvir, e problema dele.

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  • Este texto foi inspirado por um outro texto, da newsletter do músico Giancalrlo Rufatto

“ELVIS NOW” (1972). O nome desse álbum de Elvis podia indicar que se tratava de um disco ao vivo, de uma coletânea, de um álbum de sobras, de um cata-corno musical – enfim, Elvis now, como título, não quer dizer lá muita coisa. De qualquer jeito, é um dos mais brilhantes lançamentos do cantor em sua última década. Numa época em que Elvis parecia ter entendido mais ou menos para que serviam os álbuns e estava adotando estilos musicais diferentes em cada lançamento (gospel, country, baladas, etc), seu décimo-sexto LP era o que mais se aproximava de um “programa de música” (digamos assim), cabendo vários estilos musicais de maneira equilibrada.

Para manter um hábito do cantor na época, Elvis now não era um disco de “agora”. Havia uma faixa gravada em 1969 (a versão dele para Hey Jude, dos Beatles, feita nas sessões que geraram o disco Elvis in Memphis, daquele ano) e gravações de 1970 e 1971. Ou seja: era basicamente um cozidão de sobras com material ainda sem destinação. De qualquer jeito, lá você ouve, além de Hey Jude, Elvis interpretando canções de Kris Kristofferson (Help me make it through the night), da ativista e cantora Buffy Sainte-Marie (a canção de amor classe-operária Until it’s time for you to go), de Gene McLellan (Put hand in the hand), Gordon Lightfoot (Early mornin’ rain) e até um clássico gospel tradicional que, poucos anos depois, Raul Seixas e Paulo Coelho fariam questão de chupar (I was born ten thousand years ago).

“RAISED ON ROCK/FOR OL’ TIMES SAKE” (1973). Mais uma vez uma capa de Elvis traz uma foto praticamente idêntica dele (Elvis proibia que o fotografassem fora do palco), e o título lembra o de um álbum pirata ou coletânea caça-níqueis. Mas esse disco é tido como o último álbum de estúdio verdadeiramente rocker de Elvis, e tem quem o considere o melhor álbum dessa fase. O repertório veio de sessões no Stax Studios (Memphis, Tennessee), em julho de 1973, além de outras gravações feitas na casa de Presley em Palm Springs, Califórnia, em setembro de 1973.

Raised on rock tem esses dois títulos porque aproveitou os nomes dos lados A e B de um single de sucesso do cantor – o que dá a impressão também de “single expandido para álbum” e feito às pressas. Uma ouvida distraída revela pérolas como as próprias músicas-título, além de Three corn patches (da dupla Leiber e Stoller), Just a little bit (sucesso do cantor Rosco Gordon) e Find out what’s happenin’ (country gravado em 1968 por Bobby Bare). Muita gente implicou bastante com aquele papo de “criado no rock”, ate porque a canção fala de uma pessoa que foi criada ouvindo hits como Johnny B. Goode, de Chuck Berry, e nada menos que Hound dog, gravada pelo próprio Elvis (!) em 1956. Mas pula essa parte porque a gravação é ótima.

“ELVIS TODAY” (1975). A capa e o título não dizem muita coisa, mas Today é um dos discos mais saidinhos dessa fase final da carreira do cantor. O som une música pop e country, em vez de se concentrar apenas num estilo. E fica claro, pela escolha de repertório, que o álbum foi um esforço grande de Elvis em tentar entender o que estava acontecendo ao seu redor na música.

Havia o rock country de T-R-O-U-B-L-E, um dos últimos hits do cantor no estilo que o havia consagrado. Tinha uma regravação de Fairytale, das Pointer Sisters, indicando que a transição do soul à disco já tinha sido devidamente observada por Elvis e sua turma. E havia algumas regravações bem bacanas de faixas recentes, como I can help, de Blly Swan, e Pieces of my life, de Troy Seals – muito embora, justamente por causa disso, ficasse a impressão de que Today, mais do que resultado de uma gravação em estúdio, era o resultado de uma mexida em várias demos. Ainda assim, era uma mostra de que Elvis ainda se reinventava. Da maneira dele, mas rolava sim.

“FROM ELVIS PRESLEY BOULEVARD, MEMPHIS, TENNESSEE” (1976). O título desse disco lembra o de um álbum póstumo ou coletânea. É apenas o vigésimo-terceiro álbum de Elvis, feito numa época em que o cantor nem sequer queria sair de casa para gravar, e a RCA mandou instalar um estúdio na casa dele. Foi lançado pouco após a excelente coletânea The Sun sessions, e, diz o site oficial do cantor, trouxe músicas “comercializadas como se Elvis estivesse finalmente emitindo um convite aos seus fãs para entrarem pelos portões de Graceland”. Inclusive vendeu mais do que a coletânea, embora tenha custado mais aos cofres da RCA do que Sun sessions.

A capa informa que se trata de um “disco ao vivo”, mas a realidade é bem diferente: não há palmas, e basicamente o material foi feito “ao vivo” dentro da própria mansão de Elvis. O repertório é de uma força impressionante, com destaque para a balada blues Hurt, a romântica Never again e as baladas country Dany boy e Bitter they are, harder they fall, além da grandiosa The last farewell. From Elvis Presley Boulevard não é apenas um disco: é um retrato do Rei em um momento de fragilidade e reclusão, mas ainda capaz de emocionar como poucos.

 

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Cultura Pop

Grammy 2025: as apostas do Pop Fantasma

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Grammy 2025: as apostas do Pop Fantasma

Informações básicas sobre o Grammy 2025, que vai rolar neste domingo (2 de fevereiro), às 21h30, horário de Brasília, nos Estados Unidos. Vamos por partes:

  • É a 67ª edição da premiação.
  • Uma porrada de gente vai fazer show na premiação. Entre os confirmados, Stevie Wonder, John Legend, Janelle Monáe, Chris Martin, Cynthia Erivo, Brittany Howard, Brad Paisley, Herbie Hancock, Jacob Collier, Lainey Wilson, St. Vincent e Sheryl Crow. A Academia afirmou também que estarão no palco nomes como Benson Boone, Sabrina Carpenter, Doechii, Raye, Chappell Roan, Teddy Swims, Shakira e Charli XCX.
  • O comediante sul-africano Trevor Noah vai apresentar o prêmio – ele comanda o palco do prêmio desde 2021.
  • Tem Brasil na premiação, já que Anitta concorre a melhor álbum de pop latino com Funk generation.
  • O canal de TV TNT e o serviço de streaming Max vão transmitir a premiação aqui no Brasil.
  • Após discussões iniciais, foi decidido que os incêndios em Los Angeles não causariam o adiamento do evento – e decidiu-se também que o Grammy será um instrumento para angariar fundos para ajudar a cidade.

E enfim, ninguém convidou o Pop Fantasma para votar lá, mas nós resolvemos mostrar nossas apostas, divididas em quem a gente acha que leva os prêmios, e quem a gente adoraria que ganhasse. Confira aí e faça suas apostas. Não votamos em todas as categorias, claro – são 94 e não nos sentimos capazes de opinar em várias delas.

(na foto, Charli XCX, que a gente gostaria que ganhasse numas três categorias).

Música do Ano
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
Billie Eilish, Birds of a feather
Lady Gaga and Bruno Mars, Die with a smile
Taylor Swift featuring Post Malone, Fortnight
Chappell Roan, Good luck, babe!
Kendrick Lamar, Not like us
Sabrina Carpenter, Please please please
Beyoncé, Texas hold ‘em
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Taylor Swift
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar

Revelação do Ano
Benson Boone
Sabrina Carpenter
Doechii
Khruangbin
RAYE
Chappell Roan
Shaboozey
Teddy Swims
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappell Roan
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Ficamos contentes se a Chappell ganhar, mas enfim, tem o Khruangbin

Melhor Performance Solo Pop
Beyoncé, Bodyguard
Sabrina Carpenter, Espresso
Charli XCX, Apple
Billie Eilish, Birds of a feather
Chappell Roan, Good luck, babe!
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Sabrina Carpenter é a campeã de audiência em algumas plataformas digitais, e tem grandes chances,
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX

Melhor Performance Dupla ou Grupo Pop
Gracie Abrams Featuring Taylor Swift, Us
Beyoncé Featuring Post Malone, Levii’s Jeans
Charli XCX & Billie Eilish, Guess
Ariana Grande, Brandy & Monica, The boy is mine
Lady Gaga & Bruno Mars. Die with a smile
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Grandes chances para o dueto de Lady Gaga e Bruno Mars
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX e Billie Eilish

Melhor Álbum Pop Vocal
Sabrina Carpenter, Short’n sweet
Billie Eilish, Hit me hard and soft
Ariana Grande, Eternal sunshine
Chappell Roan, The rise and fall pf a midwest princess
Taylor Swift, The tortured poets department
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chappel Roan? Taylor Swift? Billie Eilish? Aí parece que TODAS podem ganhar.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE:
Billie Eilish

Melhor Álbum de Country
Beyoncé, Cowboy Carter
Post Malone, F-1 Trillion
Kacey Musgraves, Deeper Well
Chris Stapleton, Higher
Lainey Wilson, Whirlwind
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé

Melhor Performance Country Solo
Beyoncé, 16 Carriages
Chris Stapleton, It takes a woman
Jelly Roll, I am not OK
Kacey Musgraves, The architect
Shaboozey, A bar song (Tipsy)
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Chris Stapleton ou Shaboozey
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Beyoncé (ou, vá lá, também o Shaboozey)

Melhor Gravação Dance/Eletrônica
Madison Beer, Make you mine
Charli XCX, Von Dutch
Billie Eilish, L’amour de ma vie (Over Now Extended Edit)
Ariana Grande, Yes, and?
Troye Sivan, Got me started
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: talvez, quem sabe, Billie Eilish
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Charli XCX

Melhor Álbum de Pop Latino
Anitta, Funk generation
Luis Fonsi, El viaje
Kany García, García
Shakira, Las mujeres ya no lorran
Kali Uchis, Orquídeas
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Talvez a Kali Uchis
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Fernanda Torres no Oscar e Anitta no Grammy, já pensou? (mas Kali Uchis ganhando ia ser legal, Orquideas é um disco bacana).

Melhor Álbum de Rock
The Black Crowes, Happiness bastards
Fontaines D.C., Romance
Green Day, Saviors
Idles, TANGK
Pearl Jam, Dark matter
The Rolling Stones, Hackney diamonds
Jack White, No name
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Algo me diz que o primeiro álbum dos Stones lançado após a morte de Charlie Watts vai mexer com os jurados.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Jack White.

Melhor Performance de Rock
The Beatles, Now and then
The Black Keys, Beautiful people (Stay high)
Green Day, The american dream is killing me
Idles, Gift horse
Pearl Jam, Dark matter
St. Vincent, Broken man
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Beatles.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Em tempo de Trump na presidência dos EUA, Green Day cantando que “o sonho americano está me matando” seria um sonho (sem trocadilho). Mas dificilmente vai rolar.

Melhor Performance de Música Alternativa
Cage the Elephant, Neon pill
Nick Cave & The Bad Seeds, Song of the lake
Fontaines D.C., Starbuster
Kim Gordon, Bye bye
St. Vincent, Flea
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Nick Cave & The Bad Seeds
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon, com certeza.

Melhor Álbum de Música Alternativa
Nick Cave & Bad Seeds, Wild god
Clairo, Charm
Kim Gordon, The collective
Brittany Howard, What now
St Vincent, All born screaming
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: estou entre Clairo e Nick Cave
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kim Gordon

Melhor Álbum de Rap
Common & Pete Rock, The Auditorium Vol. 1
Doechii, Alligator bites never heal
Eminem, The death of Slim Shady (Coup de grâce)
Future & Metro Boomin, We don’t trust you
J. Cole, Might delete later
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR: Se bobear, Eminem leva essa. Ou o trapper Future.
QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Common & Pete Rock, que ainda por cima têm samples bem criativos de música brasileira (pegaram trechos de faixas de Chico Buarque, Ivan Lins & Vitor Martins e até uma faixa da banda de rock progressivo brasileira Karma).

Melhor Performance de Rap
Cardi B, Enough (Miami)
Common & Pete Rock Featuring Posdnuos, When the sun shines again
Doechii, Nissan altima
Eminem, Houdini
Future, Metro Boomin & Kendrick Lamar, Like that
Glorilla, Yeah glo!
Kendrick Lamar, Not like us
QUEM PROVAVELMENTE VAI GANHAR e QUEM A GENTE QUER QUE GANHE: Kendrick Lamar

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Crítica

Ouvimos: Bad Bunny, “Debí tirar más fotos”

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Benito Antonio Martinez Ocasio, o popular Bad Bunny, não veio ao mundo pop a passeio. Debí tirar más fotos, seu novo disco, é um passeio pela musicalidade e pela identidade portorriquenhas – e esfrega na cara do mercado fonográfico que ele não tem nenhuma vontade de soar mais “americano” (estadunidense, enfim) para bombar nas paradas.

Já era uma prerrogativa de Bad Bunny desde os primeiros tempos, até porque ele é um dos nomes mais conhecidos do rap de idioma hispânico, mas Debí, mergulhado no reggaeton e em sons caribenhos, é um disco de memórias e sensações. Nuevayol, uma referência à pronúncia hispânica de “Nova York”, traz BB requerendo sua posição de rei do pop, e homenageando a comunidade latina que vive na megalópole. Baile inolvidable, que parece uma trilha sonora, cita as diversões calientes de Porto Rico e traz alunos da Escuela Libre de Música Ernesto Ramos Antonini, de San Juan, tocando salsa. Weltita tem cara de samba-rap e narra uma proposta de date praiano, com as falas do homem (Bunny) e da mulher (Lóren, da banda portorriquenha Chuwi) na história.

Com duração de mais de uma hora, Debí soa irregular em alguns momentos, mas compensa no storytelling (cabendo momentos em que o discurso de Bad Bunny é interrompido para uma mudança rítmica ou a entrada de uma gravação) e na variedade. E em especial no lado mobilizado, definido pelo próprio Bad Bunny como sendo “uma carta a Porto Rico”. A bebaça e doidaralhaça Cafe com ron é pura variação rítmica, cabendo pelo menos três estilos caribenhos, e no fim, um house cubano.

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La mudanza é orgulho portorriquenho purinho (“fala pra ele que essa é a minha casa, onde nasceu minha avó/daqui ninguém me tira, eu não saio daqui”), com letra falada no início e destaque para a percussão (que ganha alguns segundos só dela no final). Lo que le paso a Hawaii é som marolado e cigano, com vocal grave, e letra pregando que não quer que Porto Rico torne-se mais dominada ainda pelos Estados Unidos. A romântica e praguejadora Bokete (que traz encartado na letra um protesto bizarríssimo contra os buracos nas ruas de Porto Rico) abre em clima meio psicodélico, graças a uma gravação de guitarra ao contrário, como num sampling invertido. Não falta diversão em Debi tirar más fotos, e não falta raiz musical.

No lado mais descontraído e menos mobilizado das letras, Debí é um disco que aponta para dois lados, er, complementares. Ou Bad Bunny encarna o fodão que apronta todas nas boates e ganha as gatas, ou ele está chorando pelos cantos – geralmente de arrependimento por alguma merda que fez. El club abre em clima de trap, falando de boates, mulherada, drogas, bebedeira, até que… “mas o que minha ex está fazendo?’. “Os caras acham que estou feliz/mas não, estou morto por dentro/a discoteca está cheia e ao mesmo tempo, vazia/porque meu bebê não está lá”, choraminga.

Se você acha que parou por aí, tem mais. Pitorro de coco, repleta de violões ciganos (e cujo título faz referência a um drinque popular em Porto Rico), é dor de corno etílica das boas. Turista, cheia de cordas e sons acústicos, é… Bom, haja sofrimento: “na minha vida você era turista/você só viu o melhor de mim e não o que eu sofri/você foi embora sem saber o motivo das minhas feridas” – embora o rapper esclareça que a letra fala também dos turistas que vão à Porto Rico e saem de lá sem conhecer os problemas locais. E tem a quase faixa-título, DTMF, um reggaeton que vira algo parecido com funk carioca logo depois, e que traz Bad Bunny chorando pitangas pelo leite derramado (é a do verso-meme “devia ter tirado mais fotos quando tinha você/devia ter te dado mais beijos e abraços quando pude”).

Nota: 8,5
Gravadora: Rimas.|
Lançamento: 5 de janeiro de 2025.

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