Crítica
Ouvimos: Justin Bieber – “Swag II”
RESENHA: Swag II, continuação de Swag – disco anterior – mostra Justin Bieber dividido entre fé, família e excesso criativo: poucos bons momentos de r&b e soul, mas também muita sobra esquecível.
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Tenho a ligeira impressão que, em algumas semanas, vai virar moda nas festas, bares e debates online defender Swag II, a continuação do Swag de Justin Bieber, que a gente resenhou aqui. Vale dizer que pela quantidade de músicas, e pela rapidez com que o material chegou às plataformas, não dá para não imaginar que pode haver algo de errado com esse excesso de produção. Justin Bieber não é um artista que sofre de incontinência criativa, nem sequer é um artista desligado da fruição que os fãs precisam ter de seu trabalho.
Dá para imaginar muita coisa sobre os bastidores de Swag II: 1) Justin está precisando focar em alguma coisa para distrair a mente; 2) Justin está levando bastante a sério a ideia de que em tempos de plataformas e algoritmos, é preciso sempre pensar em algo diferente para não sumir do Google e da IA; 3) Justin quis entregar um repertório no estilo “entendeu ou quer que eu desenhe?” em relação à sua fé em Cristo e seu amor pela esposa e pela família. O que dá para ter certeza: quem achava que o ótimo Swag seria um disco horrível pode ver agora boa parte de suas previsões se confirmarem.
Por acaso, Swag II começa com um r&b chamado Speed demon que parece um recado para as Candinhas de plantão, e para quem falava mal dele e acabou adorando o primeiro Swag: “eles tentam dizer que estou louco / mas agora eles estão cantando cada linha (das minhas músicas)”. É pop adulto, mas adulto para quem anda lá pelos 30 anos – e portanto, tinha uns 15 na época dos primeiros hits do cantor.
Nas letras do disco, Justin faz questão de mostrar que é um cara mudado, e que não vai fazer sua mulher sofrer (Better man), faz canções de redenção e autoestima (I think you’re special), louva seu filho (Mother in you) e homenageia toda sua família, dos pais aos cachorros, em Everything Hallelujah – teminha de violão que chega a lembrar Pais e filhos, da Legião Urbana, e ganha uma cara de soul gospel na sequência.
Por sinal, boa parte de Swag II aponta para uma espécie de gospel que não ousa dizer seu nome – até que Justin decide encerrar o disco com Story of god, uma narração de oito minutos sobre a história bíblica de Adão e Eva no Jardim do Éden. Fui dar uma olhada no que andam falando dessa faixa e Rob Shefield, da Rolling Stone, fez a melhor comparação: “Se você ouvir esta música neste fim de semana, significa que ficou tempo demais na festa e o anfitrião está apelando para táticas nucleares para expulsar os convidados da casa”. Na real, é só Justin esfregando na cara do/da ouvinte o que já havia em canções como Believe e Purpose – e vale recordar que o Swag I terminava com um gospel cantado por Marvin Winans.
Musicalmente, o que tem de imperdível em Swag II? Bom, Love song é um r&b com cara meio jazz, que vai crescendo na cara de quem ouve. Witchya é um soul com clima de doo wop atualizado, com beat abafado e textura que dá para pegar. Don’t wanna, com baixo estilingando, tem um ritmo que parece abraçar o ouvinte. Tem All the way, balada soul com cara anos 80, em que Justin tenta cantar igual a Michael Jackson (sem a menor competência, claro), além do clima psicodélico de araque de Safe space.
Não perfaz metade do disco, que é repleto de faixas que soam como pontes e deixam a impressão de algo mal colado, com sons que parecem desandar – como rola em faixas como Bad honey, Poppin’ my s**t e a bossinha tocada na guitarra Petting zoo, além de Dotted line, tentativa de soar lo-fi e despojado como no primeiro Swag, mas que acaba soando apenas como uma música chatinha, mesmo.
As letras, por sua vez, continuam o grande problema de Justin: sem ter a vivência, a autoridade e a capacidade para contar histórias de arrepiar, ele recorre a metáforas nada-a-ver, tentativas de parecer mauzão e machão (como em Petting zoo, na qual ele parece narrar uma briga com a esposa e chama a oponente de “cadela”), e a poemas de amor sem muita graça. Você precisa ser muito fã ou muito curioso/curiosa para encarar Swag II.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 5,5
Gravadora: Def Jam/Universal Music
Lançamento: 5 de setembro de 2025.