Crítica

Ouvimos: Moptop – “Long day”

Published

on

RESENHA: Após 15 anos, o Moptop volta com Long day, disco maduro, emocional e cheio de referências que vão do indie ao country e ao art rock dos anos 1980.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

O Moptop, a banda mais bem sucedida da onda indie-rocker brasileira dos anos 2000, espalha-se hoje em três continentes: América do Norte (o vocalista e compositor Gabriel Marques), Oceania (o guitarrista Rodrigo Curi) e América do Sul (o batera Mario Mamede e o baixista Daniel Campos). Long day, terceiro álbum, lançado após um chá de sumiço de 15 anos, foi gravado remotamente e chega às plataformas a bordo de um curioso cavalo-de-pau geracional: os Strokes, alta referência dos dois álbuns do Moptop gravados nos anos 2000, já viraram uma entidade referencial tão forte quanto o The Police era nos anos 1980.

Como assim? Explico: várias bandas indies (e até alguns artistas de indie pop) dos dias de hoje incluem batidas dançantes e guitarras em vibe Motown em suas músicas. Para quem tinha entre 20 e 30 anos em 2001, isso é basicamente “olha que legal, esses caras andaram ouvindo Strokes” – mesmo que os truques da banda norte-americana tenham sido chupadíssimos de grupos como The Clash, The Jam, Ramones e The Cure. Por outro lado, o Moptop que surge da audição de Long day é uma banda com uma biblioteca de referências bem mais rica do que há vinte anos.

  • Ouvimos: Pic-Nic, Volta
  • Entrevista: Pic-Nic: banda carioca fala sobre a redescoberta de CD gravado em 2007
  • Ouvimos: Manco Capac – Bom jantar (EP)
  • A Última Gangue: supergrupo lança EP ao vivo exclusivo no Bandcamp
  • Ack: banda punk carioca volta após 20 anos com EP e mini-turnê

O Moptop volta decidido a contar histórias e dividir vivências nas letras – como nos álbuns anteriores, mas com mais foco e direcionamento. Long day é um disco sobre as consequências do cenário onde a própria banda surgiu (o mundo digital) e seus estresses, relacionamentos cagados, vagas arrombadas e traumas do dia a dia. Musicalmente, o som invade áreas como a do rock britânico oitentista (Last time) e acrescenta elementos como a união entre anos 1980 e 1960 (Ghosts), power pop (Glow, Running) e algo entre Pretenders e Eurythimcs (Fear, com graça extra dada pelos metais). E, inesperadamente, um clima herdado do country surge em faixas como Falling e Long day, adornadas com slide guitars – a segunda chega a lembrar o Lulu Santos de 1982 no começo.

No single Tightrope, a união de referências chega a um ponto máximo: é um rock com design de tecnopop, baixo à frente executado como num loop, e uma guitarra com um inesperado aspecto blues. No final, One in a million é talvez a canção mais emocional do dsco, com estileira de pop adulto oitentista, efeitos de guitarra e metais. O Moptop ressurge mais voltado para o art rock, cantando em inglês e conectado com os truques de produção e e design sonoro de 2025.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Yeah Rock Records
Lançamento: 6 de junho de 2025.

Trending

Sair da versão mobile