Crítica

Ouvimos: Hawkwind – “There is no space for us”

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RESENHA: O Hawkwind, pioneiro do rock espacial, lança disco novo aos 56 anos de estrada, unindo krautrock, eletrônica e psicodelia pesada e flutuante.

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“Nossa, o Hawkwind, aquela banda na qual o Lemmy do Motörhead tocava, ainda existe? Achei que tivessem acabado!”, você pode estar pensando – e pensando errado. Lemmy Kilmister tocou só por cinco anos na banda, o que é um tempo ínfimo se levarmos em conta que o Hawkwind é uma instituição do rock espacial que existe desde 1969 e já gravou 37 álbuns.

Na real, o grupo foi até mais importante para o criador do Motörhead do que Lemmy foi importante para eles. O baixista descobriu que era um músico de verdade tocando lá, e ainda chupou o nome de uma música que compôs para o Hawkwind, Motörhead, para batizar sua banda (roubou a música também, claro). Outro detalhe: apesar do grupo ter funcionado como uma casa-de-Noca psicodélica durante longos anos, o aglutinador sempre foi o compositor, cantor e guitarrista Dave Brock – o único fundador da banda a permanecer lá até hoje, perto de fazer 84 anos.

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Brock permaneceu guiando a nave mesmo quando o Hawkwind virou quase um pé de página da história do Motörhead e passou a ser visto como uma caricatura de banda doidona. Entre discos legais e outros nem tanto, o Hawkwind foi descoberto nos anos 1990 pela turma da música eletrônica e acabou até gravando um curioso disco techno cheio de samples (White zone, de 1995, tão diferente que acabou creditado a Psychedelic Warriors em vez de Hawkwind).

O Hawkwind que existe hoje, e que se apresenta em discos como o novo There is no space for us (ou o anterior Stories from time and space, que resenhamos aqui), é uma consequência de todas essas experiências, redescobertas, períodos de baixa e alta e mudanças. Tanto que o novo álbum ameaça, na abertura, ir mais para o lado da musica eletrônica do que para o rock progressivo ou espacial. There is still danger there, a primeira faixa, abre com teclados e programações, e acaba apontando mais para a faceta krautrock do grupo.

There is no space for us é um disco de oito faixas, todas longas, boa parte delas apontando para o Hawkwind futurista de discos como Warrior on the edge of time (1975). Changes (Burning suns and frozen waste) investe em pauleira progressiva, com clima hipnótico, teclados e guitarras duelando. A faixa-título é quase um stoner folk, sombrio, que se movimenta como uma cobra, até que ganha teclados, prossegue e emenda nas experimentações rítmicas de The outer region of the universe.

Essas fusões rítmicas, aliás, abrem um portal diferente em There is no space for us, já que Space continues (Lifeform), som espacial e eletrônico que lembra The Orb e Tangerine Dream, emenda numa curiosa batida de samba (!), que se repete também em The co-pilot, música em que as percussões evocam algo de Afrociberdelia, de Chico Science e Nação Zumbi. A long long way from home, música praticamente instrumental (a “letra” inclui só o título narrado no final), encerra o disco em clima doce, quase um easy listening fechando um disco flutuante e pesado.

A faceta lascada do Hawkwind reside apenas em uma música de There is no space for us. É Neutron stars (Pulsating lights), rock ágil, distorcido, quase falado e que parece um redesenho punk na batida de Bo Diddley. Na verdade, nesse momento, o Hawkwind chega a soar não como eles próprios, mas como um Motörhead espacial e com teclados. Fãs de quase todas as eras do grupo têm uma chance de saírem satisfeitos da audição desse disco.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Cherry Red Records
Lançamento: 18 de abril de 2025.

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