Cultura Pop

Relembrando: Thornetta Davis, “Sunday morning music” (1996)

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Cantora de blues urbano de Detroit, Thornetta Davis foi a primeira cantora não-ligada ao estilo musical costumeiro da Sub Pop a ser contratada pela gravadora. Ex-vocalista do Big Chief, uma banda que oscilava entre o funk e o hardcore, e que passou alguns anos na Sub Pop até conseguir um contrato com a Capitol, ela já tinha um EP solo pela gravadora, Shout out to the dishuffer (1994), quando a empresa decidiu investir em um (excelente) álbum inteiro.

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Sunday morning music foi um disco do mesmo ano em que a Sub Pop tentava desesperadamente crescer, a partir de uma joint-venture com a Warner que acabou separando os dois criadores da gravadora, Jonathan Poneman e Bruce Pavitt – o primeiro ficou lá, e o segundo, que apostava numa administração menos inchada, saiu fora. Não foi uma aventura das melhores para o selo, que perdeu tempo, dinheiro e contratados – e ainda deu abrigo a bandas como o Mudhoney, que se deu mal em sua aventura nas grandes gravadoras e voltou a gravar por lá.

Já o álbum de Thornetta, além de marcar pontos para a Sub Pop, trouxe um som que servia de ponte entre duas eras – a do grunge, e a do começo do neo-soul como revolução mercadológica. Mesmo que à primeira vista a união de blues, soul e rock de Thornetta não pareça associada à onda de Seattle, ela tem um lado flower power que faz todo sentido quando se recorda os anos 1990, e que surge em gravações como o blues-country Try to remember, o rock semiacústico de Sunset, o hard rock gritado The deal, e o funk de guitarras pesadas (quase à moda da James Gang) Helpless.

Boa parte das letras, quase todas escritas por Davis, falam de sua vida em Detroit, cabendo versos diretos como “porque meu passado nem sempre foi completamente limpo/o que eu pensei, você quer me rotular de prostituta” (Helpless), “alguém chora por um assassino?/aposto que ele é visto como um santo” (no soul sinistro Cry, que curiosamente lembra o Alice In Chains do disco epônimo de 1995).

Resenhas da época compararam Sunday morning music a discos setentistas de Faces, Rod Stewart e Rolling Stones. Bom, é a reapropriação de um estilo que não teria se desenvolvido sem a existência do soul e do blues – que vieram bem antes dessa turma toda aí. E é o que aparece também em músicas como Only one, no folk-gospel de Sunday morning, repleto de recordações, na releitura de You haven’t done nothin’ (Stevie Wonder) e numa balada falada, com instrumentação lembrando um Steely Dan mais pesado, Box of memories. No final, o som quase bugglebum de Come go with me.

Entre um trabalho e outro, Thornetta gravou pouco – só em 2016 foi sair Honest woman, seu segundo álbum. Sunday morning foi lançado com shows em casas de rock alternativo, o que parecia estranho a ela. De qualquer jeito, o álbum deu liberdade a Thornetta para começar a compor seu próprio material e abriu seu trabalho solo.

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