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Radar: Polly Noise and The Cracks, Luiza Carmo, Danilo Fiani, Miçanga e outras novas

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Quando você chegar no final deste Radar, vai com certeza se emocionar muito com a parceria de Gilberto Gil e Marisa Monte, ao vivo, relendo A paz (de Gil e João Donato). É um momento em que dois grandes nomes da MPB surgem aqui na seção, que é bem mais dedicada a gente nova e à turma indie – mas a sensibilidade da dupla fica aí como uma aula para todo mundo, e fica como demonstração de que estamos com os ouvidos atentos a tudo. Novidades de Polly Noise and The Cracks, Tauana Queiroz e Roberta Zerbini, Luiza Carmo, Danilo Fiani e do rapper Miçanga completam a lista. Rumo ao altíssimo volume!

Foto Polly Noise and The Cracks: Divulgação.

Texto: Ricardo Schott

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POLLY NOISE AND THE CRACKS, “KISS U”. Com ecos de A forest, clássico do The Cure, Kiss U é o novo single da Polly Noise and the Cracks, banda de São Bernardo do Campo (SP) formada por Fernanda Gamarano (Der Baum), Priscilla Fernandes (I.A.N.X) e Ian Veiga (Der Baum, I.A.N.X). Um verdadeiro supergrupo indie, o trio une peso estético e crítico em sua proposta sonora e visual.

Nos palcos, a Polly Noise transforma o show em manifesto: os integrantes se apresentam usando máscaras pretas, anulando suas identidades para questionar os padrões de representação da imagem feminina na cultura pop. Kiss U, por sua vez, mergulha em temas como desejo, ausência e o caos emocional que tudo isso pode causar — e vem acompanhada de um videoclipe com duplas e triplas exposições, misturando cenas urbanas de forma hipnótica. Veja e ouça no volume máximo (seguem clipe e lyric video, aliás).

LUIZA CARMO, “SECO SEU GELO”. Fã de r&b, a mineira Luiza Carmo vai muito além do gênero em seu EP Seco seu gelo, explorando sonoridades que passam pelo afrobeat e pelo indie pop. A faixa-título é um pop romântico e lento, com clima sonhador, e teve seu clipe gravado no icônico edifício JK, em Belo Horizonte.

A letra de Seco seu gelo fala sobre um casal enfrentando os desafios da vida adulta — esse labirinto sem mapa, onde a única certeza é a incerteza. “Me pega sempre em vara curta / e me diz / pra onde que vai esse meu bem estar?”, pergunta Luiza na canção. O conceito do frio e do gelo aparece tanto nesse clipe quanto nos demais vídeos e visualizers do EP — para combinar, Luiza tingiu os cabelos de louro platinado.

DANILO FIANI, “A SOLIDÃO”. Com um timbre inconfundivelmente cazuzesco e firmemente enraizado na tradição do rock brasileiro, Danilo Fiani estreia em carreira solo com a delicada e melancólica A solidão. A faixa aposta em um clima folk, embalado por violões de aço, guitarras slide e uma atmosfera que evoca nomes como Cat Stevens e George Harrison — este último, aliás, uma influência central para o artista carioca. Danilo é também integrante de projetos dedicados aos Beatles, como Blackbird, Blue Beetles e Harrison & McCartney Tribute.

Na canção, a solidão é mais do que tema: é personagem. “Ela se fantasia de liberdade pra gente cair no golpe”, define Danilo, que assume voz, violão e guitarra slide na faixa. Completam a formação Hugo Pilger (violoncelo), Mario Vitor (contrabaixo), Luiz Lopez (piano) e Luiz Otávio Braga, responsável pelos arranjos de violoncelo.

MIÇANGA, “TEU FUTURO É MEU PASSADO”. Um dos convidados do álbum Cybertrópico, da banda Disstantes (que resenhamos aqui), o rapper Miçanga – nome artístico de Tiago Malta – destaca-se com um álbum solo de inéditas, com título enigmático: Velhos rabugentos não falarão sobre Malk Espanca em 2099. A obra conta com participações de Angústia, Centopeia Sound System, Dranois7, Lucas Theremin e Vanessa Pifano — e é definida pelo próprio Miçanga como “uma celebração ao esquecimento e à impermanência”.

Logo na abertura, Teu futuro é meu passado mistura synthpop, distorção e provocação em doses iguais. “Teu futuro é tão ruim, mas meu passado é bem pior / por isso que os viajantes do tempo ficam aqui no presente jogando totó”, diz, antes de emendar outros assuntos e voltar ao tema do “presente”. “Voltando ao tópico do aqui agora / acho prudente você se focar nele / pois toda angústia vem de uma viagem do tempo mal planejada”, dispara Miçanga, mirando direto na ansiedade cotidiana e nos tropeços das nossas projeções temporais.

TAUANA QUEIROZ E ROBERTA ZERBINI, “CORPO”. Canção linda e sensível, resultado da união entre a piauiense Tauana Queiroz e a paulista Roberta Zerbini. Corpo nasceu do projeto feito em dupla Íntimo d’águas, em que Roberta (piano e voz) se une a Tauana (violão e percussões) em composições marcadas por feminismo e poesia.

“É uma canção que fala sobre a vida, a impermanência, o fazer parte, ser partícula de tudo que aqui existe”, diz Tauana, autora da letra. O texto inspirou Roberta a compor a melodia: “Quando li em voz alta a letra que a Tauana me enviou, imediatamente ela me trouxe um ritmo à mente — algo cíclico, sem começo nem fim, que me remeteu às claves rítmicas que Letieres Leite (1959-2021) descrevia como essência da música afro-brasileira”.

MARISA MONTE E GILBERTO GIL, “A PAZ”. Sim, você vai ficar sem palavras vendo esse vídeo – registrado ao vivo na estreia carioca da turnê Tempo Rei, na Farmasi Arena, no dia 29 de março. E não só pela beleza serena da canção ou pela presença imponente de Gilberto Gil: Marisa Monte traz uma interpretação tão pessoal e sensível que a gente fica se perguntando como ela nunca havia gravado a composição de Gil e João Donato antes.

A química entre Gil e Marisa é absoluta. Tudo flui com tanta leveza que é impossível não se deixar levar pela atmosfera pacífica da música. Mas vale acrescentar: a gravação ultrapop feita por Zizi Possi em 1987 – por sinal a primeira em que a canção, originalmente um tema instrumental de João Donato chamado Leila IV, surgia com a letra feita por Gil – continua sendo a definitiva. Ouça as duas em sequência (e seguem as duas aí embaixo).

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