Lançamentos
Radar: Harmless, The Flashcubes, The Beths, Japanese Breakfast, Westwell, Blood Orange, Technopolice
Descobrimos outro dia uma coisa da qual já desconfiávamos: o Radar faz sucesso. Os posts mais compartilhados do nosso Instagram, sem que a gente precise colocar impulsionamento nenhum neles, são os do Radar – até mais o nacional que o internacional, claro. Outro detalhe: quanto mais desconhecida a banda, mais as pessoas leem, compartilham e divulgam.
O fato é que nunca tivemos tanta certeza de que o Pop Fantasma está no caminho certo, e que tudo que vem por aí é bem legal para nós e para todas as bandas que divulgamos – seja ela uma banda de SP com mil seguidores nas redes, seja ela uma maravilha indie como o Japanese Breakfast, que dá as caras no Radar gringo de hoje. Alguma dúvida?
Texto: Ricardo Schott – Foto (Harmless): Alejandra Villalba García/Divulgação
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HARMLESS, “THE BLUFF”. Imagine a situação: você tem um empreguinho, ganha mal e um de seus melhores amigos, extremamente bem sucedido no mesmo ramo que você, costuma reclamar da vida o tempo todo – e ainda faz seu ouvido de penico, dizendo que “ainda não consegui isso, isso e aquilo outro, sou um infeliz, blá blá blá”. Nacho Cano, artista radicado em Los Angeles que usa o codinome Harmless, colocou essa situação em letra de música – e aí nasceu o indie rock onírico The bluff, cujo clipe foi gravado na Cidade do México, terra de Cano.
Cano diz que a história da letra é real e que o tal papo com o tal amigo foi, digamos, doloroso. “Ali estava alguém que, de muitas formas, tinha a carreira que eu gostaria de ter, me dizendo como tudo era ruim. Em algum momento no meio da conversa, me caiu a ficha: puta merda, eu sou isso pra outra pessoa. Quando percebi isso, perguntei: ‘Quando é que vai ser o suficiente?’, ‘Hã?’, ‘É, cara, quando vai ser o suficiente? Quando a gente vai dizer que já deu?’”, diz.
THE FLASHCUBES, “REMINISCE”. Essa banda de power pop de Syracuse (Estados Unidos) existe há uma pá de tempo: juntaram-se em 1977, gravaram dois singles entre 1978 e 1979 (um deles com o quase hit Christi girl), abriram shows para gente conhecida – fala-se até em Ramones – mas mudanças de formação alteraram os planos e o grupo logo acabou.
O “fim” não durou muito: foram voltando devagar a partir dos anos 1990, gravaram seus primeiros álbuns e estão agora com single novo, Reminisce. Uma música escrita pelo cantor Paul Armstrong há mais de três décadas, tocada uma única vez e guardada no baú do grupo – e uma homenagem aos primeiros tempos da banda. “Quem pode esquecer o som de uma Telecaster num amplificador Deluxe no volume máximo?”, diz o verso de abertura.
THE BETHS, “NO JOY”. Dá até pena de Elizabeth Stokes, a cantora do The Beths, no clipe de No joy, já que ela passa o tempo todo tristinha e entediada, enquanto seus colegas de banda dão sorrisos abertos e fazem palhaçadas. Só que depois que você presta atenção na letra e dá um confere nas entrevistas da cantora, percebe que o grupo arrumou uma maneira descontraída para falar sobre um assunto pra lá de sério.
“A letra é sobre anedonia, que, paradoxalmente, estava presente tanto nos piores momentos da depressão quanto quando eu me sentia entorpecida com meus remédios”, explica ela, referindo-se àquele estado em que nem mesmo as atividades de que você normalmente gosta conseguem gerar alguma satisfação. “Não era como se eu estivesse triste, eu estava me sentindo muito bem. Era só que eu não gostava das coisas que eu gostava. Eu não estava sentindo alegria nelas”. Straight line was a lie, próximo disco da banda, sai dia 29 de agosto.
JAPANESE BREAKFAST, “MY BABY (GOT NOTHING AT ALL)”. Uma balada simpática, doce e sonhadora, certo? Ok, mas o tema da música nova do Japanese Breakfast, a primeira desde o álbum For melancholy brunettes (& sad women) – resenhado pela gente aqui – é o pragmatismo no amor. A letra fala sobre como é estar apaixonada por alguém que não tem grana, justamente num mundo em que todo mundo só pensa em dinheiro e os boletos não param de chegar.
Michelle Zauner, “a” Japanese Breakfast, fez a música para a trilha do filme Amores materialistas, escrito e dirigido por Celine Song (de Vidas passadas), que fala dos rolos amorosos da casamenteira Lucy (Dakota Johnson), dividida entre um antigo amor (Chris Evans) e um novo romance (Pedro Pascal). Olha só a letra: “Encontre alguém que faça alguns números / de preferência alguém com muitos zeros / mas o único número que meu baby tem é o meu (…) / você está apaixonada / e não há como evitar”.
WESTWELL, “FLOWERS IN YOUR HAIR”/”IF I’M NOT WITH YOU”. Dupla formada por pai e filho (os compositores James e Gus Corsellis), o Westwell faz seu material direto de um estúdio na Zona Rural de Oxfordshire, na Inglaterra. O clima tranquilo com certeza favorece a vibe tranquila e a beleza do repertório do grupo. As nostálgicas baladas Flowers in your hair e If I’m not with you, mais novos singles do Westwell, vêm da mesma combinação de introspecção e delicadeza, inspiradas assumidamentes por bandas como The National e Fleet Foxes, e lembrando o começo do pós-brit pop. Flowers é “um lembrete gentil de que a pessoa que um dia você foi, ainda está viva e brilhando” – If I’m not… fala “sobre distância e ausência emocional”.
BLOOD ORANGE, “THE FIELD”. Três anos depois do último lançamento, Dev Hynes – ou Blood Orange, como você preferir – está de volta com The field. A faixa vem com um time de colaboradores que inclui Caroline Polachek, Eva Tolkin, Daniel Caesar, Tariq Al-Sabir e os veteranos do The Durutti Column. O clipe é dirigido pelo próprio Hynes.
Nesse meio-tempo longe dos lançamentos próprios, ele esteve bem ocupado: ganhou Latin Grammy com produção para Nathy Peluso, assinou trilhas para filmes e desfiles de moda, tocou em Virgin, disco novo da Lorde, e também em Never enough, novo do Turnstile. The field chega com aquele clima etéreo comum ao som de Dev. E anuncia seu próximo álbum, Essex honey, ainda sem data de lançamento, e cuja lista de convidados inclui Lorde, Caroline Polachek, Brendan Yates (Turnstile) e mais um turma bem grande.
TECHNOPOLICE, “SORTIR LE SOIR…” / “TANK”. Punk francês com riff malucaço de guitarra, e vibe de música feita para brigar no mesmo terreno de Ramones, Dead Kennedys e Buzzcocks. A diferença é que a faixa, curtinha (são só dois minutos), fala de uma festa e de uma rotina de saídas à noite que vai se tornando entediante e rotineira. Clipe filmado na praia, em clima de diversão e total zoeira. Chien de la casse, primeiro álbum desse grupo, sai dia 26 de setembro – e já tem outro single deles, Tank, rodando por aí, oscilando entre riffs e grooves.