Crítica
Ouvimos: Propagandhi – “At peace”
RESENHA: Propagandhi volta com At peace, disco pesado que mistura punk, metal e crítica social, sem perder a força política nem a veia alternativa de sempre.
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Formado nos anos 1980 no Canadá, o Propagandhi pertence a uma época em que não havia dúvida sobre o que tornava uma banda “alternativa” de verdade. No caso deles, a paixão pela militância, a origem no som para skatistas e a mistura de thrash metal + punk fez com que eternamente o Propagandhi fosse uma banda mais manjada do que vendida – muitas vezes mais conhecida pela trilha sonora de vídeos de skate do que pelo airplay das rádios.
Curiosamente, o grupo de Chris Hannah (voz, guitarra), Jord Samolesky (bateria), Todd Kowalski (baixo) e Sulynn Hago (guitarra) tem se tornado nos últimos tempos uma banda bem mais próxima do metal do que apenas do punk – ou pelo menos têm sido punks que se aproximam de outros estilos pesados. Daí At peace, o oitavo álbum e o primeiro desde 2017, é marcado pela variedade em torno do peso.
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At peace combina referências punk-metal em Guiding lights, ao mesmo tempo em que traz sonoridades próximas da surf music oitentista (No longer young), uma espécie de pós-punk com referência de Black Sabbath (Stargazing) e até metal cromado na onda de bandas como Danzig, Deep Purple e Judas Priest (God of avarice e boa parte da melodia de Cat guy). O grupo deixa baixar um pós-grunge rápido em Something needs to die but maybe it’s not you e traz algo próximo a bandas como Kiss, Alice In Chains e Motörhead em Prismatic spray (The Tinder date), Vampires are real e Benito’s earlier work.
A paz do título do disco é apenas figurativa – o que já se vê na capa. Nas letras, a banda une temas como guerras, desespero, morte, falta de fé na humanidade (Cat guy e Rented PA são dois hinos do tema), ditaduras sangrentas (Benito’s earlier work desenterra o fascista italiano Benito Mussolini) e hipocrisia religiosa (a ótima God of avarice). Já Something needs to die, por sua vez, encerra o disco investindo num lado esperançoso e espiritualista (“você foi enviado aqui com um presente / mas o reino em que existimos / busca deslumbrar, confundir / com cada ardil barato e espalhafatoso / até esquecermos o que é”). Um tom raro de contemplação em meio ao peso.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Epitaph
Lançamento: 2 de maio de 2025.